Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quinta-feira, março 30, 2006

O Autista

A esfera onde orbita a maioria dos comentadores desportivos portugueses é nebulosa e deveria ser analisada ao pormenor pelos simpósios de medicina psiquiátrica. Infelizmente, os especialistas evitam este promissor campo de investigação e preferem temas mais mundanos. Não havendo portanto peritos à mão de semear, resto eu para comentar. Posso não ter formação estruturada na área, mas sei reconhecer a esquizofrenia quando ela emerge em doses industriais. E em Miguel Sousa Tavares ela é um complexo fabril de grande envergadura.
Qualquer pessoa sabe que, em Miguel Sousa Tavares, uma galopante estupidez segue de braço dado com uma descoordenação entre a informação recolhida pelos sentidos e o sinuoso mecanismo de processamento e racionalização desses dados. Os motivos pelos quais jornais sérios (e, além desses, a “A Bola” e o “Expresso”) lhe pagam para escrever barbaridades continuam a ser insondáveis.
Submeto à respeitável audiência que Miguel Sousa Tavares sofre de autismo. Ele olha, mas não vê. Ele observa, mas não interioriza. A memória está lá, mas não grava. O cérebro tem a relevância de um guião numa peça de teatro da Cornucópia: não é usado.
Esta semana, o cronista defendeu a tese de que os dirigentes do Sporting nunca reconhecem mérito nas vitórias do adversário. Ao invés, atribuem a responsabilidade de todos os falhanços aos tentáculos escorregadios do polvo da arbitragem. É bem achado! Miguel Sousa Tavares toca num ponto essencial da discussão: com a legitimidade que advém do facto de ser adepto de um clube popularizado pelo fair-play com que as derrotas são sublimadas, Miguel Sousa Tavares concentra-se nos outros, os que não sabem perder. Touché, Miguel!
Diz mais: Co Adriaanse deu uma lição de desportivismo no último Benfica-FC Porto, ao reconhecer, sem papas na língua, a justiça da derrota. Miguel Sousa Tavares tem, uma vez mais, razão: Adriaanse leva vantagem – imensa vantagem – na gestão de derrotas em jogos importantes. Teve três décadas de carreira repletas delas. Derrotas sonoras, derrotas por margens ínfimas, derrotas esperadas, derrotas inesperadas, derrotas em dias de sol e derrotas sob inclemente temporal. Queira Deus que os restantes treinadores da liga possam, um dia, beber da mesma fonte e aprender a perder como Adriaanse. Não será para já – as coisas têm de ser assumidas frontalmente. Mas é sonho que muitos deverão acalentar.
Miguel Sousa Tavares argumenta ainda que não viu nada no recente FC Porto-Sporting que justificasse tamanho alarido. É justo que se diga que o comentador tem razão. As coisas têm de ser devidamente contextualizadas. Ao lado do horror de Bergen Belsen, a chacina promovida por Olegário foi comedida.
Miguel Sousa Tavares acha o coro de protestos um pouco lamecha. É bem visto! Esta gente protesta por tudo e por nada: que atire a primeira pedra aquele a quem nunca lhe foi espoliado um penalty, uma expulsão, mais outra expulsão, mais outra expulsão ainda e viu um seu jogador recolher injustamente ao balneário. Que diabo! Na semana passada, aconteceu ao Sporting. Para a próxima vez, acontecerá a... adivinhemos... ao Sporting, se calhar. Ou talvez ao Sporting. Ou mesmo ainda... ao Sporting.
Tenho em fase de aprovação um projecto na Fundação para a Ciência e Tecnologia destinado a estudar a avançada decomposição da capacidade cognitiva de Miguel Sousa Tavares. Interessa-me estudar o homem e a obra! Temo, porém, que grande parte do trabalho de campo será passado em vão, olhando para ele, enquanto o nosso cronista, sentado no chão, abana o corpo para a frente e para trás, as mãos tensas sobre o colo e a língua entaramelada balbuciando: “Só eu é que sei! Só eu é que sei! Só eu é que sei!”

terça-feira, março 28, 2006

A Piada da Noite

«A sorte não quis nada connosco» - Simão Sabrosa, comentando o Benfica-Barcelona.

Pequenote, a sorte não quis nada com os passageiros do Titanic, com o Corpo Expedicionário Português na I Grande Guerra ou com os arqueólogos amaldiçoados que descobriram o túmulo de Tutankhamon. Convosco, a sorte fez um pacto inquebrável ontem à noite. Parafraseando Paulo Portas (credo!), a sorte não foi só vossa madrinha. Foi mãe, tia, avó, irmã e periquito de estimação.

Provocações

Não esperava...
... tanto medo do Benfica.
... tantas oportunidades criadas e falhadas pelo Barça.
... tanta tremideira dos normalmente frios Luisão, Anderson e Léo.
... tantos receios do Koeman, mesmo na gestão das substituições.
... que o Rocha aguentasse 90 minutos sem ver um cartão.

Já esperava...
... a enxurrada de bolas mal resolvidas pelo Moretto.
... a falta de frescura física do Barça no último quarto de hora.
... o contributo nulo de Robert e Geovanni.
... o coro saloio dos comentadores patriotas.
... a permissividade do árbitro inglês.

Sugestão ao Paulo Catarro:
Passa o lance da mão na grande-área pela famosa máquina da realidade virtual. Pode ser que descubras também que, afinal, foi fora da área.

segunda-feira, março 27, 2006

O Sequestro

Já é mítica a tendência que o Bulhão tem em falhar os alvos. Para ele, é cada tiro cada melro. Não acerta uma. Houve até quem sugerisse, quem rogasse, para que ele não faça mais previsões e, muito menos, dê palpites sobre aquele clube (recuso-me a pronunciar o nome) que tem uma sede ali para os lados do "Bar 25" e um campo de jogos lá para os lados do Colombo. Os mais fiéis leitores, seguidores e curiosos do "Mãos ao Ar" podem ficar descansados: até ao jogo com o Barcelona, o Bulhão não vai escrever nada. Para já, porque está a recuperar da remoção de um dos seus testículos (não foi intervenção cirúrgica, foi com um leve golpe de corta-unhas) e, por fim, porque o amordacei, atei-o de mãos e braços e escondi-o num sítio tão difícil de sair como o labirinto de Cnossos. Está incontactável, no fundo de um poço e com dois pedregulhos atados aos pés - mas deixei-lhe uma daquelas palhinhas dos sumos às riscas verdes e brancas para poder respirar. Até ao fim do jogo do Barcelona, o único som que pode proferir é "brlup, brlup, brlup". Pode ser que, por fim, as coisas corram bem. Depois do jogo, liberto-o. Ou não. Depende do resultado.

domingo, março 26, 2006

Não Era Bem Isso...

Em Dezembro, num momento de demência temporária (ver aqui), comprometi-me a doar um testículo à ciência caso o ex-bracarense João Alves chegasse a marcar um golo com a camisola do Sporting. A oferta era, naturalmente, limitada ao stock existente.
O impensável aconteceu. Às almas caridosas que se apressaram a trazer o bisturi, agradeço com a voz embargada. Não se admirem se, daqui para a frente, este blog ecoar como um soprano impúbere.
De todo o modo, uma promessa é uma promessa (o prometido é de vidro, diria o presidente do Benfica). Terei de aprender a viver com apenas cinco testículos.

Mirone

Ele vem cá todas os dias. Entra, despe o sobretudo, deixa-se ficar uns minutos. Mira o ambiente - primeiro, desconfiado; depois, mais desenvolto. Por fim, desolado, acaba por verificar que o item procurado não consta do menu.
Intriga-me esta figura, quase tão complexa como uma personagem de Garcia Marquez. Nunca fala, não se pronuncia. Olha o mundo, mas a curiosidade alheia incomoda-o.
Imagino-o, perverso, numa estação de metropolitano, abrindo bruscamente o sobretudo para se mostrar ao mundo, como a capa de um álbum de José Cid.
Para ele - e apenas para ele - deixo uma questão: amigo... se anteontem não encontraste nada aqui que correspondesse à criteriosa pesquisa googliana digitada; se ontem o mesmo motor de pesquisa tornou a trocar-te as voltas; se hoje mesmo saíste frustrado com o engano... Por que diabo continuas a vir aqui TODOS OS DIAS à procura de "caboverdianas nuas"? Tentarei ser claro - e nota bem o carácter exaustivo da lista : este não é o tipo de blog que se presta a mostrar caboverdianas, mulheres nuas e/ou mulheres caboverdianas nuas.

Agora, se são asiáticas que procuras, venha de lá esse bacalhau (o aperto de mão, bem entendido). Chegaram-nos mesmo agora uns nacos do Laos.

sexta-feira, março 24, 2006

Marchar, Marchar, Marchar

Alerta aos sportinguistas: este post tem excertos eventualmente chocantes, não recomendáveis a quem me tem como ícone da irracionalidade desportiva. Vazia que ficou a sala, continuemos.

Era uma vez um atleta perfeito. Não, não era do Sporting (pontualmente, até foi). Lamento informar que ele fez escola no Benfica, apesar de ser sportinguista. Não era também praticante de futebol. Tanto quanto sei, até abomina a modalidade e o seu estatuto de excepção. O atleta em causa foi basquetebolista e chama-se Carlos Lisboa.
Lisboa nasceu para jogar basquetebol. Ponto. Se tivesse nascido objecto, teria sido uma catapulta. Nele, como em poucos outros, a bola era uma extensão do braço. O lançamento saía com irresistível naturalidade, como um gesto inato, intuído desde a nascença.
Sei que a ideia parece hoje chocante, mas, quando treinava, eu era o «Lisboa». Eu e todos os outros. Imitávamos-lhe a técnica de lançamento – estranho movimento, aquele, impulsionado desde a anca. Usávamos a camisola para fora dos calções como ele. Corríamos como ele, em marcha trás. Mas a melhor faceta do Carlos Lisboa era inimitável e é sobre ela que hoje escrevo.
Não esqueço que ele era um lançador empolgante. Vi reviravoltas tremendas em que ele levou a equipa toda às costas (e o Jean Jacques, acreditem, não era leve). Vi uma série de nove triplos consecutivos. Vi-o converter um lançamento em queda, quando tentava salvar uma bola que saltitava para lá da linha lateral. Vi adversários em pânico. Vi marcações reforçadas que, mesmo assim, não o impediam de marcar. Mas, apesar de tudo isto, a qualidade mais rara do Carlos Lisboa era a fibra…
Num jogo de basquetebol, como num de futebol, a estaleca de um atleta mede-se nos dias maus, quando os lançamentos – ou os remates – saem inexplicavelmente mal. Lisboa nunca quebrava. Falhava um, dois, três, quatro lançamentos. Continuava a tentar, impávido, surdo para os insultos da bancada e para os pedidos do banco, que lhe recomendavam contenção. *
Poucos sabem que, antes de sair de campo para o balneário, momentos antes do jogo, o pavilhão Borges Coutinho transformava-se no palco de um ritual. O Lisboa lançava de pontos aleatórios do campo e só saía depois de marcar três seguidos. Num jogo importante com o Real Madrid, vi o treinador Mário Palma empalidecer à medida que o Lisboa falhou dez (10!) lançamentos seguidos. Quando conseguiu, por fim, terminar o ritual, os árbitros, os colegas e os adversários estavam praticamente prontos para começar o jogo. Em campo, Lisboa falhou os dois primeiros lançamentos. Soaram assobios, mas talvez ele nem os tenha ouvido. Continuou a tentar com aquela arrogância dos predestinados. A bola começou a obedecer-lhe. A partir daí, seguiu sempre, ordeira, para o cesto. Lisboa acabou o jogo com 12 triplos convertidos e com o pavilhão rendido a seus pés.
Julgo que isso define os atletas de fibra – os special ones, diria o Mourinho. É na reacção à adversidade, quando o mundo colapsa com estrondo em seu redor, que um atleta tem de assumir o comando.
Falhaste um penalty, João. Cabe-te levantar a cabeça e mostrar que não nos enganámos. Que és mesmo um predestinado.

* No futebol, havia um futebolista parecido. Que Deus me perdoe, mas chamava-se Isaías e jogava no Benfica. Nunca vi coisa igual. Fazia dez remates disparatados: para a bancada, para a bandeirola, para a linha lateral, para os fotógrafos. Irritava os adeptos até à medula, mas não dava parte de fraco. Parecia até que gostava dos ambientes hostis. E, ao 11.º remate, a merd* da bola furava a muralha e entrava.

quinta-feira, março 23, 2006

Eu Só Precisava…

... de cinco minutos a sós com o Olegário.
Eu, ele e um bastão de basebol.

terça-feira, março 21, 2006

O Segundo Álbum

Diz-se dos grupos musicais que o segundo álbum é o decisivo, aquele que separa o trigo do joio. À partida, qualquer intérprete de pandeireta ou engolidor de sabres pode fazer um bom álbum. O primeiro é, por definição, aquele que teve mais tempo de concepção. Já o segundo distingue quem tem estaleca para continuar a criar e quem inevitavelmente fica pelo caminho e regressa à Tuna. Ou, no caso do Sancho, ao rancho folclórico de Sarnadas de Ródão.
Creio que a mesma lógica vale para o futebol. A primeira época sénior de um futebolista não costuma ser difícil. O público acarinha o "miúdo", os colegas perdoam-lhe a falta de tino, os adversários não lhe conhecem as manhas, nem as fraquezas. A segunda época, em contrapartida, é mais exigente: a fasquia está alta, a margem de erro é mais escassa. A rede desapareceu e quem cai só pára no solo.
Hugo Viana, por exemplo, teve estreia de luxo em 2001/2002. Entrou numa equipa bem oleada, integrou-se facilmente. Era (com Quaresma) o menino bonito, apadrinhado pelos colegas e adeptos, pelo treinador e pela crítica - sim, não nos esqueçamos do papel criativo ou destruidor dos (des)fazedores de craques. Saiu no Verão para Newcastle e, como as rosas de Malherbes, perdeu o viço de um dia para o outro. Na segunda época, pesou-lhe o ónus de ter sido uma contratação cara, que tinha de decidir jogos. Ao menino exigiu-se que fosse homem. E Viana falhou o teste.
João Moutinho está a entrar na derradeira recta da sua segunda época de profissional. Julgo que é legítimo dizer que já passou o teste. O pequenino é um gigante. Titular indiscutível, marca golos e caiu no goto de colegas e críticos. Custou, mas "A Bola" já acha que Moutinho é material de eleição, e João Querido Manha até já refez a teoria de que, com miúdos, não se ganham campeonatos (ver aqui). O número 28 do Sporting é como uma banda de dois álbuns consecutivos de sucesso.
Analisemos agora Manuel Fernandes. Para efeitos comparativos (e também porque me dá jeito para chegar a uma conclusão parcial. E ainda porque não tenho pudor em manipular abertamente factos e estatísticas), para efeitos comparativos, dizia eu, ignoro os dez jogos disputados pelo Manelelé em 2003/2004, sob as ordens de Camacho. Na época passada, ele fez um óptimo campeonato. Quando fraquejou, lesionado, o Benfica tremeu (perdeu em Penafiel e ganhou à justa ao Belenenses). Foi, sem favor, um dos gigantes da temporada. Ele, o cotovelo do Luisão e o apito do Paraty!
Este ano, Manuel Fernandes tem sido mais irregular. Demorou a ganhar a titularidade, perdida para Beto (!?!). Quando jogou, não impressionou. Que me lembre - e aqui, desculpar-me-ão, mas, nos jogos do Benfica, eu costumo seguir essencialmente a movimentação do árbitros e não dos jogadores -, fez dois jogos notáveis: em Villareal (que golo!) e em Liverpool.
Antes da chuva de pedras que a intifada encarnada inevitavelmente lançará sobre o autor destas linhas, permitam-me que diga que a prestação me parece escassa de mais para quem nele viu potencial para ser o novo isto, ou o novo aquilo. A percepção até pode vir ainda a ser alterada, mas, até ver, o Manelelé vale tanto como um álbum lamechas dos DZRT (blargh!) ou uma ladainha choramingas do João Pedro Pais (duplo blargh!). O que, parecendo que não, é bastante degradante.

segunda-feira, março 20, 2006

Moluscos

Parabéns. Você conseguiu a declaração da FIFA que o certifica como empresário de jogadores. Mas, num cantinho escondido do seu cérebro, vegeta uma dúvida inquietante: como saber se o meio em que agora está inserido já o vê realmente como empresário de pleno direito?

√ Olhe em volta, na sala de reuniões dessa SAD. É você o único que possui telemóvel por satélite, com ponteiro digital, auricular sem fios e que atende sistematicamente as chamadas dizendo “Prego, signor Moggi”?
√ Quando as pessoas em seu redor tecem comentários depreciativos sobre empresários, olham para si e dizem bruscamente “Sem ofensa”?
√ É você o único que não tira a laca do cabelo e os óculos escuros, mesmo quando entra na piscina?”
√ Quando entra na dependência do seu bairro fiscal, o segurança costuma dizer: “Olá, então outra vez por cá?”
√ No seu prédio, é você o único que recebe correspondência registada da Inspecção Geral das Actividades Económicas, da Unidade de Coordenação da Luta Contra a Evasão e Fraude Fiscal e do Caribbean Bank, das ilhas Turcos e Caicos?

Se todas estas perguntas merecem um categórico sim, eu seja ceguinho se o leitor não é já um empresário futebolístico credenciado. Parabéns. Queira passar pelo centro de saúde mais próximo para lhe removerem a coluna vertebral.

domingo, março 19, 2006

As Assembleias

Não fui à assembleia-geral do Sporting por motivos de saúde. Socorro-me por isso dos relatos de quem foi. Do muito que li, selecciono três perspectivas.

No Sociedade Leonina, escreve-se que 64% dos votos suportam a conclusão de que a maioria dos sócios assimilou a argumentação de Filipe Soares Franco. Aqui.

No Revisão da Jornada, aprova-se a venda de património e considera-se FSF moralmente obrigado a candidatar-se. Aqui.

No Sporting 100, aplaude-se a derrota à justa da proposta directiva. Aqui.

Por aqui, fiquei contente com o desfecho da assembleia. E formulo dois desejos:
1) Que se marquem eleições para depois do final da época do futebol.
2) Que a próxima direcção, qualquer que ela seja, respeite o resultado do sufrágio.

sexta-feira, março 17, 2006

Há Limites!

Que o jornal "Sporting" não se envolva na discussão pré-eleitoral do clube é defensável.
Que o mesmo jornal insista em martelar o mesmo modelo jornalístico de há 20 anos, sem ceder um milímetro à mudança, à renovação ou à actualização, percebe-se. Não se gosta, mas percebe-se.
Agora, ele há coisas que não lembram ao diabo. Aqui há tempos, o jornal criou uma nova secção. Chamou-lhe Vox Pop e definiu-a como um espaço onde quatro entrevistados de circunstância respondiam a uma pergunta por semana. Não foi propriamente uma inovação – já não há folha de couve neste país que não inclua uma entrevista a quatro melros por semana sobre os temas mais idiotas, mas, enfim, foi um salto em frente.
Ora, esta semana o jornal levantou a questão: Por que a razão a maioria dos recintos desportivos tem menos espectadores?
Não me interessam propriamente as respostas. É a identificação de cada um dos entrevistados que me deixa abismado.
Ao inquérito, respondeu uma senhora chamada Alzira Mamede que, por acaso, é casada com o ex-atleta Fernando Mamede e que por acaso trabalhou no clube durante três décadas. Foi identificada como "58 anos, Doméstica"!
Ao mesmo inquérito, respondeu o senhor Fernando Mamede, por acaso ex-recordista mundial e europeu de atletismo, campeão nacional de pista e corta-mato, campeão europeu de corta-mato. E, já agora, marido da senhora fotografada dez centímetros à direita. Foi identificado como "54 anos, Área Desportiva".
Escolhido foi, por fim, o senhor Fernando Mendes. Por acaso, este senhor venceu a Taça dos Vencedores das Taças em 1964. Foi três vezes campeão nacional. Só não foi "magriço" porque se magoou em jogo da fase de qualificação. Foi ainda "capitão" do Sporting durante meia década. O jornal "Sporting" identificou este senhor Fernando Mendes como "68 anos, Reformado".
Por menos do que isto, mandava-se alguém balouçar no pelourinho no tempo de D. Miguel. Apre!

quinta-feira, março 16, 2006

Custa muito, não custa?

Com o cotovelo, se ganha. Com o cotovelo, se perde.

quarta-feira, março 15, 2006

O Primeiro da Época

Foi oficializada, no passado fim-de-semana, a entrega da taça BES ao Sporting. O evento ocorreu antes do pontapé de saída do Sporting-Boavista e ficou assim assinalado o primeiro trofeu da época. Grande coisa, alvitrarão muitos, mas se já o outro dizia que um escudo é um escudo, então uma taça também é uma taça. Por mim, não lhe concedo especial relevo, assim como não nutro particular simpatia pela instituição bancária que apadrinha o galardão. O significado, porém, é importante, pois, ao contrário de anos recentes, o Sporting venceu o campeonato particular dos três “grandes”, e nós, aqui no Mãos ao Ar, sempre preferimos a taça BES a qualquer taça amizade – que o clube, aliás, conquistou brilhantemente na época transacta.
O facto de o Sporting ter ganho o supracitado trofeu a uma jornada do fim (falta o Sporting-FC Porto) pode ser um bom prenúncio para o que falta de campeonato. Oxalá o presságio se confirme – em nome do Pai, do Filho e do banco Espírito Santo, Amén.

O Herói Relâmpago

No sábado, nas páginas da “Record Dez”, João Marcelino postulou uma tese assombrosa: segundo o códex Marcelino, Ronald Koeman é um herói para consumo europeu, uma velha raposa nos palcos da Champions, que se transforma em cordeiro nos relvados portugueses. A solução, argumentou o jornalista, seria recrutar uma velha raposa nacional para a equipa técnica – um Cajuda ou um Álvaro Magalhães -, perito nas minas e armadilhas do futebol local. No fundo, alguém que conhecesse as manhas dos indígenas.
Acho esta ideia muito divertida. Idiota, mas muito divertida.
Não conheço mais nenhum treinador que tenha passado tão rapidamente e tantas vezes de herói a vilão como o nosso Ronaldo. Ganha ao Manchester? É bestial, a melhor coisa que poderia ter sucedido ao Benfica. Perde em Guimarães? Não é digno, sequer, de usar o mesmo quadro e ardósia de Trapattoni (assumindo que, com a tremideira, o velho decano ainda conseguia acertar com a ardósia no quadro).
Em abono da extravagante teoria, admito que Koeman dá ideia de encarar os adversários nacionais da segunda metade da tabela com sobranceria. O total desconhecimento dos rivais reporta-nos para os tempos em que se viajava no dia do jogo, se ignorava a estratégia do adversário e se olhava com desdém para todo o treino que não envolvesse corrida na mata e levantamento de pesos. Koeman não quer saber das navais, dos giles vicentes, dos guimarães. E pontualmente pica-se no arame farpado que não teve o cuidado de afastar.
Tenho, porém, uma teoria alternativa, que parece dispensar a peregrina solução do códex marcelino. Parece-me óbvio que Koeman, como todos os outros treinadores, preparou um pico de forma para uma altura crucial da temporada: o mês de Fevereiro, onde mediria forças com Liverpool e FC Porto. Aliás, em Dezembro, fazia sentido apostar nessa perspectiva. O holandês, porém, teve azar: quando lá chegou, já tinha perdido em Janeiro três jogos em quatro (Sporting, Leiria e Guimarães) e o campeonato estava seriamente comprometido.
Besta ou bestial, portanto? Um bom treinador, na minha opinião. Não é o messias de 2006 que “A Bola” cantou em Julho do ano passado e até errou bastante na planificação da temporada e na gestão dos reforços. Mas não é o ogre que agora se pinta, na inevitável caça às bruxas que se segue à perda do troféu mais importante da temporada. Pessoalmente, afeiçoei-me a este holandês anafado, que perde sempre contra o Sporting.
Há alguns anos que o Benfica procurava um treinador capaz de dar continuidade aos legados inesquecíveis de Pal Csernai e Ebbe Skovdhal. Julgo que a busca terminou, amigos. O Ronaldo dá conta do recado.

segunda-feira, março 13, 2006

Hasta la Vista, Baby

Vou revelar um segredo: ao construirmos de raiz este projecto literário (sim, é literário. Porquê o sorriso?), eu e o Sancho tínhamos uma secreta ambição. Era tão inalcançável que falávamos disso em sussurro, a medo, olhando por cima do ombro para garantir a privacidade. A ideia parecia tão quimérica que, se pronunciada em voz alta, poderia desmoronar-se numa avalancha incontrolável.
Hoje, creio, podemos revelá-la.
Este blog nasceu com o único propósito de superar o número de visitas diárias do “Fascismo em Rede” na listagem do Webblog. Na semana passada, após meses de perseguição, batemos os nossos rivais (um abraço de consolação para eles) e mordemos os calcanhares de outro colosso: o “Trenguices – Impressões de um Boticário”. (Se julgam que vos vou dar os url, tirem o cavalinho da chuva porque nos custou muito a chegar aqui e não queremos recomeçar a batalha outra vez).
Com a sua bizarra preferência, os cibernautas demonstraram que, entre discussão desportiva séria e imparcial e análise política divertida e galhofeira, preferiam a primeira. Assim se comprova que o público evoluiu: não quer humor requintado, como o do Fascismo em Rede. Quer debate, quer reflexão, quer esclarecimento equilibrado e completo – como o do Mãos ao Ar.
A tese, embora gratificante, tem um inconveniente. Se assim fosse, o “Pitas Nuas” não estaria em 6.º lugar e o “Aqui é só gatas” em 1.º. Querem ver que, afinal, nós (e o “Fascismo em Rede”. E o “Trenguices – Impressões de um Boticário”) teremos de começar a postar em pelota?
Se é javardice que vocês querem, não contem connosco… Mas não ponho as mãos no fogo pelo boticário.

domingo, março 12, 2006

A Luta Ainda É a Três

Não se iludam, meus senhores. O empate caseiro do Benfica não muda nada.
A luta pelo terceiro lugar, entre Benfica, Boavista e Sp. Braga, promete ser dramática. Vantagem, para já, do Benfica, que soube, e bem!, capitalizar com a derrota dos boavisteiros em Alvalade. Resta fazer figas para que o Sp. Braga tropece no Restelo.
Se “A Bola” for séria, amanhã trará a manchete: Benfica Ganha Quatro Pontos Nesta Jornada.

sexta-feira, março 10, 2006

E agora? *

* Ensaio bloguístico onde se tentará, a custo, não mencionar o Benfica

Muitos leitores perguntam-me o que penso sobre a substituição de Jorge Andrade na selecção. Há aqui uma falácia facilmente desmontável: nem eu tenho muitos leitores, nem ninguém me pergunta nada. Só me insultam. O que, parecendo que não, não é bem a mesma coisa. Mas, enfim, este é um arranque como outro qualquer.
Ironias à parte, creio que Scolari cometeu o erro de fechar a convocatória cedo de mais. Desde Setembro que o seleccionador convocou sistematicamente os mesmos jogadores e abdicou de fazer experiências.
Ora, a lesão de Jorge Andrade desequilibrou o lote de potenciais seleccionados. Na arca de Noé hermética do seleccionador, restam dois centrais (Carvalho e Meira), mais Caneira - globalmente elogiado pela sua polivalência, mas que se arrisca a ficar sem cadeira, à esquerda ou no eixo, quando a música deixar de soar.
Os jornais desta semana defenderam-se, listando praticamente todas as hipóteses possíveis de convocatória: de Humberto Coelho a Badaró, julgo que praticamente todos os portugueses foram ponderados (pessoalmente, até acho que o Badaró traria alguma coisa de novo à selecção. Sempre se mexe mais do que o Sim... Rghhn! Do que outros jogadores).
Quero, portanto, aqui deixar o meu contributo para o debate. Sei que, depois de eu propor o nome do «meu» defesa-central, a caixa de comentários transbordará (ou transpirará, no caso dos adeptos do Ben... Arrgh! Em alguns casos pontuais, de higiene duvidosa).
Rufam os tambores. A multidão acotovela-se (aqui, tenham paciência, não tem nada a ver com o Luisão!). A polícia carrega à bruta sobre os espectadores (só uma mente muito mal intencionada veria aqui qualquer associação ao Petit). Os leitores ficam presos ao solo, sem reacção (aqui, de acordo, haverá alguma associação possível com a atitude proactiva do Vítor Baía).
O meu candidato à vaga chama-se... Fernando Couto. Não me atirem já caricas, caramba! Esperem uns segundos.
Todos os anos, eu aposto que será desta que o Couto perderá o lugar na sua equipa. Todos os anos, ele começa a mal a temporada: não joga, não é convocado, faz asneira nos primeiros encontros. Chega Novembro, porém, e invariavelmente o Couto pega de estaca no clube italiano que representa (Parma-Lazio-Parma). É titularíssimo na série A, que não é propriamente o campeonato mais fácil do mundo. É chato, lá isso é. Mas é um bocadinho mais difícil do que o nosso.
É pendular. Não quebra. Não verga. E vai garantindo uns golitos por ano. Está velho? Aparentemente, ninguém lhe disse nada. E ninguém me dá mais garantias de que, caso seja necessário mexer no eixo Carvalho-Meira, haverá um suplente que não molhará os relvados alemães com excrecções urinárias nervosas.
Consideremos os planos B de Scolari: Beto, Tonel, Ricardo Rocha, Litos, Zé Castro ou Ricardo Costa. Há alguma janela aberta? É que fiquei com arrepios na espinha (sem qualquer relação com o Brokeback Mountain, ó mal intencionados).
Nenhum dos casos citados tem experiência internacional decente, nem rotinas com o grupo de jogadores que forma a selecção. Nenhum dá garantias de que, colocado de supetão num jogo decisivo do Alemanha'06, dará conta do recado. Couto dá! Não é uma ferramenta de precisão, não senhor. Mas, para espetar pregos na parede, basta um martelo. E eu pessoalmente até prefiro o martelho velho e gasto, que encaixa na mão como se dela sempre tivesse feito parte.

quinta-feira, março 09, 2006

Azia

Roubado indecentemente ao "Revisão da Jornada", aqui fica o pensamento do dia:

Ninguém pára o Benfica...
Excepto o Gil Vicente, o Sporting, o Manchester, o Sporting, o Guimarães, a União de Leiria, o Villarreal e o Braga. Mas o Liverpool não. Aqui.

terça-feira, março 07, 2006

Carta Aberta ao Treinador do Liverpool

Rafael... Posso tratar-te por Rafael? Não sou propriamente teu fã. Acho que as tuas equipas são mais enfadonhas do que o festival de curtas-metragens de Brejos de Azeitão. Não leves a mal, mas os jogos transmitidos pela televisão das tuas equipas deveriam conter a menção: não opere máquinas, nem conduza carros, enquanto vir este jogo.
Mas não é disso que te quero falar, Rafa. Posso tratar-te por Rafa? Tens pela frente um jogo que me interessa muito. Que faças asneira repetidamente na Premier League é lá contigo e com quem te paga. Agora, nos jogos com o Benfica, tem lá paciência, mas deves prestar-me contas. Porque, no dia a seguir às derrotas, sou eu que tenho de levar com eles. E a perspectiva, acredita, não é agradável.
Sei que tens um monte indefinido de peças que, só com muito boa vontade, se pode chamar equipa. Os teus jogadores têm a coordenação motora de uma manada de gnus desvairados. Apesar de tudo, porém, os gnus normalmente chegam ao destino, ao passo que os teus meninos dão ideia de nem com o túnel de saída para o balneário conseguirem dar, Rafa Baby. Posso chamar-te Rafa Baby?
Lembra-te que, só porque é possível levantar a bola para a área, não quer dizer que faças isso DURANTE 90 minutos. Quando vejo a tua equipa em campo, lembro-me sempre do Kaplan: dá um martelo a um menino e vais descobrir que tudo quanto ele encontra deve ser martelado. Lá porque podes fazer lançamentos em profundidade não quer dizer que os faças SEMPRE, com a breca.
Peço-te que trabalhes insistentemente a noção de concentração com os onze camafeus que vais colocar em campo. Diz-lhes que, nos cantos, convém que cada defesa fique com o avançado que está a marcar. É giro irem todos à bola, como um cardume de piranhas famintas, mas é um bocado mais chato quando o cardume falha a bola e sobram seis jogadores adversários isolados na área. Parece complexo, mas vais ver que até faz algum sentido.
Há quem diga que o Liverpool é muito inteligente a jogar à bola. Não faças caso, Nino (posso chamar-te Nino?). É uma mentira piedosa para esconder o óbvio: se todas as equipas da Champions League fossem instrumentos de uma orquestra, ao Liverpool caberiam os ferrinhos. Ou a pandeireta.
Da parte que me toca, não quero saber se é com o pé, com a cabeça ou com a mão que vais marcar golos. Mas marca-os. E pensa nisto: visto em que estado ficou o Sissoko, não viste? Não queres que te aconteça uma coisa ruim, pois não?
Lembra-te que não se consegue dizer "asno" sem passar pela palavra "ás". Mas, sem dentinhos, asseguro-te que não se consegue pronunciar nada. Pensa nisso... Rafa

Até tu, Brutus?

É uma desfeita, uma falta de consideração. "É claro que vou torcer pelo Benfica. Foi a equipa que nos eliminou, mas não lhe guardo qualquer mágoa por isso. É uma equipa de que gosto e espero que ganhe ao Liverpool". Ainda compreendo que Mourinho e Queiroz façam a defesa da sua dama, desejando que o SLB 1908 passe aos "quartos" da Champions, mas o discurso acima transcrito deixou-me sem pinga de sangue e horrorizado. O autor de tamanha barbaridade é Cristiano Ronaldo, logo ele, que me tinha deixado cheio de orgulho e com lágrimas nos olhos depois do gesto explícito que fez no estádio da Luz. Já não se pode confiar em ningém. Tal como Júlio César ficou surpreendido por um dos seus assassinos ser o próprio filho, também me é difícil aceitar tamanha traição. Até tu, Cristianus?

segunda-feira, março 06, 2006

Não Renoves, Sá!

Sei que a opinião não é maioritária entre sportinguistas, mas prefiro que Sá Pinto não renove contrato no próximo Verão. É herético, bem sei. Por menos do que isso, há quem seja queimado na fogueira.
Ninguém põe em causa que Sá Pinto deu muito ao Sporting. Foi o símbolo que Oceano nunca conseguiu ser e que Barbosa teimou em não confirmar. Ninguém melhor do que o Sá transmite energia vulcânica para as bancadas. O Sá é a nossa projecção no relvado – adeptos velhos ou adeptos novos, sócios sem posses ou endinheirados, revemo-nos nas explosões dele, protestamos como ele, insultamos como ele. Mordemos os lábios de raiva em face da injustiça, do azar, da azelhice. E alguns de nós choram como ele perante a derrota (aqui o vosso amigo soluçou como uma madalena depois da final da UEFA).
Todos sonhámos, nem que fosse por um dia, em sair da Luz como o Sá saiu – aos berros, exultando, rejubilando com o triunfo nas barbas do adversário. O Sá personificou o sonho de alguns milhões. E, por isso, estar-lhe-ei sempre grato.
Há quem se queixe de que este ano de centenário (real, nunca é de mais dizê-lo) não tem sido digno: não temos presidente à altura da ocasião, porventura não temos SAD digna dos 100 anos, o clube está em polvorosa e prepara-se para cortar com o modelo que vingou no primeiro século de existência. Mas numa coisa, creio, há unanimidade: temos o melhor capitão imaginável para o ano do centenário. Francisco Stromp ficaria orgulhoso do Sá, do que ele representa, do que ele aglutina, mesmo que ficassse chocado com a linguagem.
Todavia… o Sá deste ano (e pontualmente, o do ano passado) faz-me lembrar um animal dominante na iminência de perder o estatuto. Colegas e adversários pressentem que os sprints estão um décimo de segundo mais lentos. As pilhas já não chegam para 90 minutos de correria. As pernas pesam mais uns gramas. A técnica, a inteligência e o carácter estão lá, são inatos, mas o Sá, dobrado sobre a cintura, recuperando o fôlego, já não parece o mesmo. O guerreiro esgotou-se. É a ordem das coisas.
Em seu redor, perfilam-se já as gadanhas da morte desportiva, precipitando o fim. Para mim, porém, nada poderia ser mais doloroso do que o Sá arrastando-se no relvado mais uma época, sem força, sem velocidade, à mercê de qualquer Carlitos desta vida.
Bem sei que as sereias do costume vão murmurar as mais belas cantorias, tentando convencê-lo a dar mais um tiro na roleta russa. “É só mais um tiro, quase não há risco.”
Há, Sá! Tapa as orelhas como os marinheiros de Ulisses e esquece as sereias. Abandona no Verão e sairás de Alvalade em ombros. Lembra-te que, na roleta russa, acaba sempre por haver uma bala.

Coitus Interruptus

O post já estava escrito. Era um texto notável (a modéstia em excesso é a vaidade dos tolos), sublime, que levaria as quatro pessoas que me lêem a abandonar a fé católica e a criar uma religião inspirada em mim.
Mas eis que surgiu o golo que mudou tudo.
O feito de Miccoli não me preocupou desportivamente. São mais três pontos para o Benfica, mas esse, reconheçamos, é um problema para os adeptos do Braga e do Boavista. Ah! E do Nacional também, senhor engenheiro.
Cá em cima na tabela, onde o ar da montanha é revigorante, os ecos dessas coisas são atenuados. Chateiam como uma picada de mosquito, mas pouco mais.
Não, leitores, o que mais me chocou no golo de Miccoli foi a perda sofrida pela literatura. Pela cultura. Por todos vós. Vocês não sabem - nem saberão - o que estava escrito naquele post. E isso dói muito...

Arre porra, Sancho, quando é que escreves alguma coisa? Suspeito que os leitores já perceberam que somos mais superficiais do que a laca do cabelo do José Veiga.

Benfica Teve Olho...

... mais concretamente um terçolho. A aquisição de José Fonte ao V. Setúbal e posterior empréstimo do defesa ao P. Ferreira representam importante valorização do activo. É que Fonte já marcou. Mais concretamente um hat-trick! Aqui.

quinta-feira, março 02, 2006

Posso Entrevistá-lo?

Toda a gente sabe que o público português quer no seu jornal histórias de tragédia, onanismo * e futebol. De preferência, agregadas na mesma notícia, para não ter de ler muito.
Se a imprensa é má, o “Record” é, reconheça-se, o pior. “A Bola” é parcial e falha as notícias mais básicas, mas, como já tive oportunidade de escrever, “A Bola” é como o avô que diz as maiores patranhas enquanto liberta gases em público e se ri que nem um perdido. À “Bola” e ao avô perdoa-se (quase) tudo!
O “Record” é mais sombrio porque veste roupas mais caras. Assume ares de fidalgo para esconder as origens rústicas e risíveis. Surpreso, leitor? O “Record” é uma das melhores fontes nacionais de humor saudável. Para rir a valer, aliás, recomendo a leitura das entrevistas – qualquer uma – publicadas pelo jornal.
Quando eu era novo e ingénuo, pensava que os jornalistas preparavam as entrevistas e orientavam a conversa para um rumo relevante. Mais tarde, percebi que, no “Record”, há uma tômbola de perguntas possíveis para cada entrevistado. Antes de falar, o repórter gira-a e lê a pergunta que sai no cartão. Só assim se explica a desarticulação entre as respostas e as perguntas seguintes, como um saudável diálogo de surdos.
Creio que há muito de Cunhal nas entrevistas do “Record”. Independentemente do que o entrevistado disser, perguntaremos outra coisa para o apanhar com as defesas em baixo. Assim, o leitor segue as entrevistas com indisfarçável interesse, preso ao texto como a um bom romance policial, sempre à espera da surpresa seguinte.
A entrevista a João Rocha, há quinze dias, foi um notável exercício de autismo. Começou com uma pergunta sobre ginástica, passou para uma avaliação da presença de uma comitiva do Sporting na China há 26 anos (anteontem, portanto!) e concentrou-se depois no projecto Roquette. São irritantezinhos aqueles meninos do “Record”!
Com exemplos destes, é notável que alguma personalidade ainda aceda a ser entrevistada pelo jornal. Conceder uma entrevista ao “Record” parece-me bem pior do que participar no ritual masai de transição de menino para guerreiro. E deixem-me lembrar que o ritual implica cortar uma lasca considerável da linguiça do aspirante a guerreiro. Seguramente que não há filas de espera nas aldeias masai! Mas também ninguém faz fila para ser entrevistado pelo “Record”.
Se as entrevistas são grotescas, a recolha e atribuição de informação é penosa. Após intensa pesquisa, julgo que descodifiquei o mecanismo de designação de fontes. Se algum jornalista do “Record” ler estas linhas, agradeço que confirme a correcção do meu modelo. Antecipadamente grato.
1) Quando a notícia refere “fontes próximas do interessado”, quer dizer… que o repórter escutou conversas de outros colegas destacados para a mesma história.
2) Quando a informação é atribuída a “fontes bem colocadas”, o jornalista do “Record” quer simplesmente dizer que fez uma pesquisa no Google.
3) A menção “porta-voz do clube” implica que o repórter participou numa visita guiada ao museu do clube e citou o guia.
4) Por fim, a minha favorita: a menção “Informação ainda não confirmada” refere-se a algo que o jornalista do “Record” se lembra de ter sonhado na noite passada, mas não sabe ao certo o quê.
Seguro de ter cumprido uma missão de serviço público, despeço-me com consideração.

* Onanismo não tem nada a ver com o Nani. Ou até pode ter. Mas isso é lá com ele!

quarta-feira, março 01, 2006

Fogo Amigo

Folheio o jornal “Sporting” desta semana. Traz artigos de opinião de uma octogenária e de dois septuagenários. Os senhores do marketing enganaram-se claramente no início da época, quando apresentaram o inovador conceito do Sporting 3-G (3.ª geração).
Aparentemente, o clube (ou, pelo menos, o jornal) ainda está na fase 3-I.
A da Terceira Idade.