Em 1843, o padre William Miller, um baptista (embora o tradutor automático do Google insista que era o padre William Baptista, um Miller), previu o regresso de Jesus à Terra rapidamente seguido do fim do mundo. Até ao dia 21 de Março do ano seguinte, de acordo com a previsão, o planeta implodiria.
Ora, um dos problemas da malta que prevê coisas apocalípticas como o fim do mundo, a destruição do planeta ou a nudez da Maya na capa da FHM, é a prova. No dia 22 de Março de 1844, Miller acordou a sentir-se ligeiramente tonto, mas, após olhar pela janela e avistar a manada de gente enfurecida que caminhava no seu encalço com forquilhas e tochas (uma espécie de congresso dos No Name Boys), fez como a Qimonda e prorrogou o prazo por mais um mês, até 18 de Abril. A 19 de Abril, voltou a adiar até 22 de Outubro. A 23 de Outubro, alguém lhe disse que era capaz de ser de mais e Miller concordou que o evento previsto tinha ocorrido no céu, e não na Terra. E era mais metafórico do que literal. No que toca a adivinhos, Miller provara ser o Nuno Gomes da equipa de Nostradamus. Após três falhanços escandalosos, pediu a substituição.
Compreensivelmente, alguns dos militantes que tinham aproveitado o Fórum TSF para expiar publicamente os seus pecados ficaram aborrecidos; outros, comovidos com as três previsões falhadas, fundaram uma fé sobre estes alicerces duradouros. E assim nasceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
O senhor da foto chama-se Ulf Buck. Segundo uma edição de 2003 do “Correio do Minho”, Ulf é alemão e é cego. Diz também que é parapiscólogo e consegue prever o destino de qualquer cliente desde que lhe possa apalpar a padiola. O “Correio do Minho” não diz, mas é evidente que Ulf tem outra qualidade para além de ser alemão e cego. Ulf logrou cumprir uma das aspirações mais antigas da humanidade: poder viver livremente da apalpação do rabo dos outros e ainda daí extrair rendimentos. Desconheço a designação profissional que Ulf inscreve nos ficheiros das finanças, mas é um trabalho honesto e alguém tem de o fazer. Há muito acidente escondido em pregas, fístulas e verrugas inconfessadas (Não leve a mal esta digressão pelos caminhos tortuosos da proctologia, eu sou como os malucos e digo a primeira coisa que me vem à cabeça).
Em Portugal, aparentemente, também há adivinhos, mas menos requintados. Submeto ao escrutínio dos senhores que João Gobern é o padre Miller dos nossos tempos. Todas as semanas, o cronista do “Record” lida igualmente com profecias escoradas em folclore e palermice e explora a ingenuidade dos tontos que o lêem. Como eu.
Há dias, na televisão, Gobern previu que o FC Porto tem 55% de probabilidades de ser campeão este ano e o Benfica 45%. Deu-me ideia de que se esqueceu de alguém, mas revi o vídeo e fiz as contas várias vezes. Com a certeza matemática que só um estudante de Letras pode garantir, afianço que os números de Gobern completam 100%. Pelo que há um dos três grandes que não tem qualquer hipótese de ser campeão.
Não posso, nem devo, entrar pelo insulto fácil. Gobern, a quem Pinto da Costa chamou em Junho o “cronista obeso do Record”, não o merece. Afinal, ele tem uma relação de peso com as forças do Alem. É o peso-pesado da adivinhação e vale o seu peso em ouro (prometo não abusar).
Ora, João Gordern (foi a última, prometo. Enfim, prevejo que prometo) apostou a avantajada reputação neste cálculo de probabilidades, após observar as pré-épocas dos dois rivais do Sporting. E como sucede com o padre Miller, a previsão terá alguns meses de validade até ser testada pela prova definitiva.
Com pena, não creio que alguém venha a estabelecer uma fé religiosa em torno de João Gobern: a fazê-lo, seria sem dúvida a Igreja Adventista do Sétimo Prato ou a Igreja Universal do Reino da Empada. Melhor seria que Gobern se tivesse dedicado à apalpação para adivinhar o futuro. Dá ideia que o prestígio jornalístico de Gobern é capaz de ter rabos de palha.