Onde se Fala dos Outros
Sempre que vejo o FC Porto de Co Adriaanse a jogar penso no Iran Costa a gritar “É o bicho! É o bicho!”; penso nas milícias sandinistas avançando com forquilhas contra as metralhadoras governamentais; penso no exército português em Alcácer-Quibir (embora tente não pensar nos êxitos musicais de José Cid – ora aí está uma contradição de termos). E também penso na Isabel Figueira, mas é mais raro.
A equipa é maçadora, enfadonha. O jogo é mastigado, lento, pausado. O Ibson como maestro aborrece-me mais do que duas projecções seguidas de cinema português. Hugo Almeida é mais estático do que o défice de Estado. E os centrais são como as represas que protegiam Nova Orleães: rompem por todos os lados.
Arthur Conan Doyle postulou que quando estiver excluído o impossível, tudo o resto, mesmo o mais improvável, deve ser verdadeiro. A máxima aplica-se ao FC Porto. O quadro de jogadores não tem paralelo no futebol português. A organização do clube e a articulação entre futebol de formação e futebol profissional é o exemplo que todos seguem. As infra-estruturas (embora pagas por todos nós, indirectamente, moremos ou não em Vila Nova de Gaia) são do melhor que temos em Portugal. A capacidade de inserção de trabalhadores imigrantes na estrutura do clube é lendária, pois o FC Porto é um farol na integração de brasileiras, moldavas, ucranianas, caboverdianas no mercado de trabalho. Qual é então o elo que quebra? Adriaanse, sem dúvida.
As dispensas de Jorge Costa e agora Postiga são grotescas. Bruno Alves e Ricardo Costa são tão compatíveis como uma banheira cheia de água e um secador ligado à corrente (acreditem em mim, rapazes, não experimentem isto em casa). Dispensou-se Sandro mas Ibson ficou. McCarthy é o melhor ponta-de-lança do plantel, mas fica sentado no banco ou no hotel à espera das cabeleireiras. Quaresma é utilizado a conta-gotas em benefício de Alan!
Admito que, em Julho, pensei que o FC Porto acertara em cheio, mas eu também não sou exemplo para ninguém. Também pensei que o vocalista dos Trabalhadores do Comércio seria o ícone musical dos anos 1980. E que as letras do Rui Reininho faziam sentido no contexto político dos 1990. Ou que Rui Baião seria o novo Rui Costa, da mesma forma que Akwá fora o novo Eusébio.
Senhor presidente do FC Porto, sei que lê avidamente estas linhas. Só há um treinador de gabarito que poderá amenizar o seu balneário, conciliar os jogadores com as suas posições naturais e equilibrar as prestações da sua equipa de semana a semana. Chama-se José Vítor dos Santos Peseiro e sei que está livre no mercado.