Agora lembe!
Há quem coleccione selos. Outros preferem juntar borboletas. Outros ainda, como o meu tio Alberto, coleccionam pequenos pedaços de cadáveres mutilados a sangue-frio em festins pagãos na serra de Sintra, mas isso são histórias entre mim, ele e eventualmente a Policia Judiciária, que não dizem respeito a mais ninguém. Bom, é possível que os mutilados argumentem que a questão também lhes diz respeito, até porque lhes faltam pedaços significativos do abdómen e a gente só sente falta das coisas quando não as tem, mas não lhes façam muito caso. Isso são pessoas que dizem qualquer coisa só para aparecer.
Retomemos o fio à meada.
Eu colecciono corruptelas – palavras deformadas pelos falantes da língua que, por deficiência de audição, de pronúncia ou – o caso mais comum! – por mera cretinice, ganhem vida própria.… Ahem… Ganham vida própria. A circunstância parece gratuita, mas verão, no final da argumentação, que o autor não é tonto de todo. Enfim, tonto será, mas não tanto como os senhores gostariam.
Lê-se no “Record” de hoje que o Belenenses recolheu do Wikipedia a sua fundamentação jurídica para a queixa no caso “goal-average”. É bem achado! Há para aí uns patetas que pagam fortunas por pareceres de constitucionalistas quando a maior parte do Direito pode ser concentrada em três linhas escritas por qualquer pessoa num site de Internet. Aliás, é com gente prática como esta que se ganham intrincados casos jurídicos como o do Meyong no ano passado. Hmmm? Dizem-me, afinal, que o Belenenses perdeu o caso Meyong porque baseou a sua argumentação no site do professor Bambo, mas imagino que o desfecho terá sido um mero azar. Ou talvez o Belenenses não tenha usado correctamente o "marabout" (aqui).
O caso do “goal-average” tem feito correr tinta nos últimos quinze dias, provocando o caos no calendário competitivo nacional. Ora é o FC Porto, que diz que não joga em Alvalade se o Benfica não jogar no mesmo dia; o Sporting, que diz que não joga em Março porque não dá jeito; o Benfica, que diz que gostava mesmo de saber com quem vai jogar; o Guimarães, que está convencido que se apurou para as meias-finais; e o Belenenses, a quem o Wikipedia e o professor Bambo garantem que tem a razão toda do seu lado.
Na verdade, toda esta confusão pode ser imputada a uma única entidade. Não à Liga, coitada, que não tem culpa de escrever regulamentos nas costas de um guardanapo; nem à Federação, que treme de medo quando estas coisas lhe batem à porta e tem de decidir para algum lado quando a vontade é mandá-los todos à merda e fechar a porta do edifício na esperança de que as pessoas julguem que aquilo é uma delegação da empresa do primo do Sócrates.
O culpado é só um e deve ser punido. Rufam os tambores… O culpado é o Cparis, do blogue Briosa, que, no dia 19, resolveu ler os regulamentos da competição e alertou toda a gente para esta confusão (aqui). Como foi ele que destapou a caixa de Pandora e descobriu que o “goal average” é diferente do “goal difference” sugiro que seja ele a decidir quem deve jogar as meias-finais. Nem precisa de fundamentar nada. Ele escolhe a equipa que preferir e está escolhido. Como dizia a velha corruptela dos tempos de escola (cá está, o início da crónica não era tão tonto): fizeste asneira, agora lembe!
(já agora, se consultarem o professor Bambo, diguem-lhe... hrum.... digam-lhe que as letras azuis em fundo preto são tramadas para ler. Mesmo um "marabout" deveria saber isso)