Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

segunda-feira, abril 30, 2007

Birmânia

Bangkok – Estive, nas últimas seis semanas, ausente do país em mais uma das minhas missões humanitárias. Tocou-me, desta feita, a antiga Birmânia, hoje em dia designada por Myanmar. Além das paisagens inesquecíveis, da cultura fortemente enraizada, da religiosidade profunda e da inesquecível alma das gentes locais, encontrei um país difícil: governado há várias décadas por uma junta militar déspota, autoritária e ditatorial, vi-me privado quase completamente do contacto com o mundo exterior. Ali, não há telemóveis, os telefones por satélite conta-se pelos dedos de uma mão – e estão ao serviço das autoridades – e a internet é um conceito muito vago. Todos os endereços electrónicos estão barrados, a honrosa excepção vai para o site oficial do governo. E, ainda por cima, totalmente escrito em birmanês, pelo que nem como distracção me serviu. Mas o que tem tudo isto a ver com futebol? Simples: antes de partir, já sabia que ia estar vedado a qualquer fonte de informação, não tendo acesso, sobretudo, ao “Mãos ao Ar”, o único meio isento dentro do panorama desportivo português. Fiz as contas em relação à data do meu regresso, apercebi-me dos jogos que iria perder e dos quais não saberia os resultados e cheguei à conclusão de que, quando chegasse, já tudo estaria resolvido e estariam confirmadas todas as previsões que a generalidade da imprensa e dos adeptos da bola apontavam então: o Benfica já era campeão a quatro jornadas do fim, que iria disputar a final da Taça de Portugal com uma outra qualquer equipa e que estaria, agora, a preparar-se para fazer em cacos o opositor que lhe calhara nas meias-finais da Taça UEFA. A única dúvida que me assaltou era se o Sporting estaria a disputar o terceiro, o quarto ou o quinto lugar e quem o teria eliminado da Taça de Portugal.
Quando saí de Yangon, estava ansioso para chegar a Bangkok, a capital tailandesa, onde, finalmente, iria ter acesso a informação. E foi num dos terminais do aeroporto que fiquei embasbacado a consultar os sites portugueses. Não é que o Benfica não só tinha sido eliminado da Taça de Portugal pelo Varzim como tinha sido afastado da UEFA às mãos do “colosso” Espanyol… Mas atónito fiquei quando consultei a classificação da I Liga e vi que os eternos campeões antecipados estavam em terceiro lugar. O que se terá passado? O que terá corrido mal? Estava embrenhado nestes pensamentos quando passaram dois passageiros que, vi logo, só poderiam ser portugueses: trauteavam “Ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, ode-lé-ri-o» e “Campeões somos nós». Ao princípio, estranhei, mas depressa deslindei a questão. O Benfica é e será sempre campeão independentemente da classificação e ninguém se atreverá a pará-lo – pelo menos no que diz respeito à arrogância. Isso é daquelas coisas nunca mudarão.

segunda-feira, abril 23, 2007

Mito Urbano

Depois de José António Lima, António Lobo Antunes, Férenc Meszaros e José Quitério, temos a honra de apresentar o quinto colunista convidado do Mãos ao Ar. É verdade que não lhes pagamos. Na maior parte das vezes, nem sequer agradecemos. Mas, mesmo assim, esta gente continua a aceitar escrever aqui. Terão seguramente um pirolito a menos, mas nós aproveitamo-nos deles sem um pingo de vergonha.
Sem mais introduções, a prosa que se segue é da responsabilidade do Visigordo.

«Já todos nós ouvimos falar em mitos urbanos, mais localizados ou mais globais, todos nos questionámos por uma vez se tal fenómeno, assim e assado, seria verdade ou não.
Há um em particular que me entusiasma, e por mais que consulte nos jornais as páginas de classificados, não percebo onde é que está a falta de veracidade nisto. Falo obviamente do mito urbano da existência de 7 mulheres para cada homem.
Outros há igualmente interessantes, como a combustão espontânea, o Blair Witch Project à portuguesa na Serra de Sintra, o Holocausto visto pelo Nacional-Socialismo, etc.
É um nunca mais acabar de coisas que qualquer um de nós, com maior ou menor capacidade criativa, poderá inventar, só ficando dependente da nossa convicção na hora em que tivermos de puxar pelo poder argumentativo. Se se quiser reduzir as doses na capacidade criativa, convicção ou poder argumentativo, posso adiantar-vos desde já, que terão de aumentar em sentido proporcional a capacidade selectiva da plateia que vos ouve. O Homem sonha, o mito urbano aparece.
O que isto tem de bom é que, volta, não volta, dá-nos tema de conversa entre imperiais e caracóis, possibilita-nos meter conversa no elevador com aquela secretária que trabalha no terceiro piso e pode-nos até chegar a servir de desculpa quando a esposa já nos espera a uma hora que nem nós sabemos qual é. O que tem de mau é.....bem, no fundo não é nada, não aquece nem arrefece.
Há no entanto um, e não querendo entrar em questões transcendentais, esotéricas, teológicas, e, nem no tarot da Maya, ao qual é impossível ficar indiferente. O Benfica!
Eu sei que o Benfica dos sextos lugares, do Vale e Azevedo, dos 7-0, dos 7-1, do Veiga e do Vieira, o Benfica que nada ganha, não é um mito, infelizmente ele existe. Assim como existe uma prova palpável, incontornável na arquitectura lisboeta, da sua existência, um bloco de cimento, vulgo mamarracho, a que orgulhosamente os seus adeptos chamam de catedral. Se acreditasse em Deus, de cada vez que se chama àquilo catedral, acredito que Deus diria “Valha-me minha nossa senhora!”.
Não falando de um estudante do antigo 9º ano de Art & Design, afinal não adiantaria grande coisa à prosa opiniões especializadas ( a conversa poderia tornar-se demasiado técnica), mas aos olhos, por exemplo, de qualquer moça nova aprendiz de bordados e bilros, aquilo não é mais do que um vómito de cimento que o bairro de Benfica teve, um protesto das entranhas da Terra que não estavam preparadas para deglutir um Colombo ali tão perto com uma sobremesa daquelas. O Al Gore bem avisa que é preciso preservar, mas parece que ninguém o ouve.
Não! Não falo desse Benfica. Esse é o Benfica que existe, de facto. Falo do outro, do mito urbano. Só que este é um daqueles mitos urbanos que chateiam, qual melga em noite de Verão, que, por mais que se sacuda, teima em largar o seu bzzzzz na nossa orelha para nos atormentar. Falo daquelas melgas que, já sabem que se chegam perto, apanham. Mas têm sempre, durante a noite inteira de fazer bzzzzz, nem que seja a uma distância em que, mesmo no escuro, não é possível provocar-lhes um traumatismo craniano.
Desde sempre que guardo na memória uma frase que ouvi repetidas vezes a um avô meu: “O que é demais, é moléstia!”.
Vem isto a propósito das demasiadas vezes que ouço: “campeões somos nós”; “somos os maiores do mundo”; “vivem em função de nós”; “se não fôssemos nós, vocês não existiam”, e a minha preferida, “contra tudo e contra todos”.
Nos últimos 10/20 anos, esta gente não ganha nem um décimo do que o que lhes permitiria tamanhas veleidades, no entanto, é vê-los por aí a comemorarem records do Guiness aos quais, os vencidos afirmaram nem saber existir tal coisa, não estarem minimamente preocupados com isso, porque mais do que isso têm eles, e isto sem contar com as gamebox lá do sitio vendidas este ano.
Nos últimos 10/20 anos, têm passado por enxovalhos atrás de enxovalhos e nem assim baixam a crista, comemoram a eleição do vigésimo clube mais rico do mundo (isto foi o que passou nos media, mas não foi do que se tratou), quando no dia seguinte pedem um empréstimo obrigacionista de 20 milhões para pagar um de 15.
Nos últimos 10/20 anos, queixam-se constantemente dos media e eu acho que nem Salazar, em Portugal, teve tão boa propaganda. Para os media, o Benfica também é o maior e o que os faz vender. O curioso é que quando há bronca no Benfica, as edições esgotam e tiram-se várias edições, afinal o povo gosta de rir. Quando não há...os resultados estão à vista, têm vindo por aí abaixo. Ou será um sinal de que cada vez são menos?
Nos últimos 10/20 anos, dizem ser 6 milhões, só em Portugal.. Pois serão, mas como é que chegaram a esse número? Através dos estudos que o seu presidente mandou fazer em que até conseguiu deportar alguns de cá para a Indochina? Expressem-no! Por exemplo, se o Sporting tivesse tamanha massa associativa, venderia a totalidade dos lugares do seu estádio no inicio de cada campeonato. O Benfica não o faz, porquê? Quando o Sporting está por baixo, nos jogos de campeonato, e não aqueles a meio da semana e a horas em que é suposto trabalhar-se, mete no mínimo 20.000/30.000 pessoas. Neste projecto de estádio da Luz já vi assistências que não deveriam ir além das 10.000. Trata-se de quantidade sem qualidade? (Quanto a esta, é simplesmente retórica).
Nos últimos 10/20 anos, chateiam tudo o que é gente adepta de qualquer outro clube e não têm a noção que se está tudo marimbando para eles. E é aqui que importa acabar com este mito urbano. Qual louco internado na ala esquizofrénica do Júlio de Matos, também eles deveriam ser internados.
Melhor, deveriam levar com um tratamento idêntico ao visionado no 1984 do Orwell, até concordarem que se estão a pôr em bicos de pés, e a seguir levavam com O Processo de Kafka, só até verem que também em Portugal existe mais do que um clube e nem todos queremos saber o que lá se passa. Ou pelo menos o que não seja para rir. Porquê, perguntariam? Lá está! Também eu passo pelo pelo mesmo Processo há imensos anos e pergunto-me porquê. Não entendo e custa-me a acreditar.
O curioso nisto tudo é que quando era pequeno e já ligava ao futebol, o Benfica até ia ganhando uma coisita ou outra e não me lembro deste constante zurzir do “campeões somos nós” existir.
A actual geração de fãs do Benfica é doentia, melhor, é doente e precisa de acompanhamento. Só vêm o Benfica campeão, gritam a plenos pulmões que ninguém os pára, quando é raro o borra-botas que não o faz, e já vêm o Barbas e o Jorge Máximo a serem canonizados.
Como tudo isto se passa só em sonhos, Carl Jung talvez conseguisse explicar.
Eu não.»

sexta-feira, abril 20, 2007

Novas Oportunidades


Este é o Mário que não foi à escola.
Como não foi à escola, o Mário não sabe ler e, por isso, não lê obras cretinas que reescrevem o passado sem pudor.
Também não teve aulas de geografia, pelo que não sabe indicar onde fica Timor, Moçambique ou Angola.
Como não frequentou a escola, também não aprendeu história e, por isso, faz-lhe uma grande confusão que exista gente que, em nome de um império que caiu de podre, queira espancar gente de outras cores.
Como não foi à escola, o Mário não precisa de ter em casa uma tira com 300 balas de metralhadora, nem soqueiras pontiagudas, nem armas de caça. Nem precisa de estar sistematicamente envolvido nas escaramuças que uma das claques do Sporting decide promover.

Imagine o que ele seria se tivesse ido à escola.

quinta-feira, abril 19, 2007

Esquizofrenia aguda. Prognóstico reservado

Yu Dabao fez ontem 19 anos. O avançado chinês que o Benfica recrutou para os juniores tem encantado o jornal “A Bola”, quanto mais não seja pelo inesquecível hat-trick contra o Portimonense, penúltimo classificado da Zona Sul do respectivo campeonato. De tão cristalino, o raciocínio da rapaziada da Queimada é incontestável: se Dabao marca três golos à equipa de juniores do Portimonense, ele é seguramente o novo Eusébio.
Como há por aí gente muito mal intencionada, o jornal lembrou-se de fortalecer a tese com mais dados irrefutáveis. E vai daí descobriu que Yu Dabao almoça no refeitório do Campus do Seixal todos os dias. Não é só às quintas, aos sábados e às segundas-feiras quando há guisado de ervilhas a 4,50€. É todos os dias.
Mais: tal como Eusébio, «Dabao é bom garfo, e as fotos não mentem!»
Mais ainda: «gosta de arroz», o que é particularmente estranho num chinês. Neste ponto, devo dizer-vos que as semelhanças com Eusébio são tão esmagadoras que chega a ser arrepiante.
O jornal acrescenta ainda que Eusébio tinha Flora, a mulher, para cozinhar para ele. Dabao não tem. Mas não deve perder a esperança: talvez Flora ainda esteja disponível para lhe fazer uma perninha. De frango, bem entendido.
Dabao vem de uma cidade conhecida pela sua cerveja. Eusébio... ahem... já não preciso de dizer mais nada!
A reportagem de “A Bola” testemunhou ainda que o prodígio do Seixal já consegue fazer-se entender e dizer “arroz”, “carne” e “peixe”. Nesse ponto, reconheçamos, Dabao leva vantagem devastadora sobre Eusébio.
Acrescento mais alguns dados que, talvez por descuido, o jornal omitiu e que acabam por cimentar a tese de que Dabao está prestes a suceder ao pantera negra:
1) Quando mastiga, Dabao usa a força devastadora dos molares para rasgar o alimento e os incisivos para os triturar. Eusébio, se tivesse dentes, também.
2) Dabao é especialmente devoto do padroeiro de São Brás de Alportel. Eusébio prefere moscatel.
3) Eusébio ficou um dia triste por ter ido a Roma e não ter visto a Torre de Pisa. Yu Dabao desconfia que Roma e Pisa não são no mesmo continente, mas não tem a certeza.
Evidentemente, a peça jornalística sobre Yu Dabao serve um propósito mais amplo. Visa demonstrar que, no futebol de formação do Benfica, também existem craques capazes de arrancar das bancadas uma… ovulação de pé. Até prova em contrário, tenham paciência, mas ainda têm muito para ovular.
Se o Sporting é o cérebro do futebol de formação português, o FC Porto é os pulmões, e o Boavista, o Belenenses e o Sp. Braga são a coluna vertebral. Ao Benfica resta o papel de tubo digestivo. Não é muito nobre, não senhor. Mas é o que se arranja!

quarta-feira, abril 18, 2007

Tens óculos? Vais à baliza!

Recue à infância.
Devagarinho, sem empurrar os outros, recue até à meninice. Apalpe o pulso à criança que você já foi. O pulso, caramba, o pulso! E essa menina com trancinhas que está a sair do Colégio Alemão não é seguramente a criança que você já foi. Vamos ter maneiras. Se é para rebaldaria, não contem comigo.
Acredito piamente que qualquer turma de escola revela já a personalidade dos futuros adultos em que os estafermos se vão tornar. Já em tempos vos falei do gordo, coitadinho, que sofre tanto às mãos dos outros. Há, claro, outros estereótipos. O bruto transformar-se-á, anos mais tarde, no recluso com pena suspensa por assalto à mão armada. O crânio vai, um dia, aperceber-se que os seus extraordinários conhecimentos matemáticos têm mais utilidade para burlar as Finanças e, se não fosse aquela inspecção fiscal, estaria seguramente noutro lugar que não na prisão de Custóias, a servir de almofada a um recluso que provavelmente nunca leu Camus. E, claro, o diferente, aquele que nunca quis jogar à bola com os meninos e preferiu sempre a ternura das bonecas, vai, um dia, soltar a franga. E terá enormes possibilidades de se tornar jogador do Benfica.
Sempre me interessou a figura do caixa d’óculos. Desajustado socialmente e ridicularizado pela natureza, o caixa d’óculos ocupa a terra de ninguém. É repelido pelos meninos, que se apercebem rapidamente da fragilidade do ser com dioptrias que os vê como manchas desfocadas. É afastado pelas meninas que, por maldade, não associam sensibilidade ao estigmatismo crónico. O caixa d’óculos tem duas utilidades na vida escolar: joga à baliza se faltar um jogador a uma das equipas e nenhuma das meninas quiser jogar. E faz de saco de pancada quando o gordo já foi espancado e o bruto precisa de se entreter.
Confesso que não sou grande especialista em puericultura. Admito, aliás, que até há pouco tempo cuidava que a puericultura fosse coisa para estudar as poeiras ou assim. Mas estou seguro que, em privado, o caixa d’óculos cultiva um ódio secreto contra os colegas. Roga-lhes pragas (Ah, se eu visse bem, eu contava-lhes!). E, quando todo o recreio se contorce em gargalhadas depois de ele esbarrar com estrondo pela milésima vez contra o portão, ele refugia-se nos amigos imaginários.
Fernando Santos é assim. Só é treinador porque mais ninguém estava disponível para o cargo e as meninas também não quiseram dirigir a equipa do Benfica. É saco de pancada de 10 milhões de portugueses, que acham fascinante que se consiga ser treinador do FC Porto, com Jardel a sério, e perder um campeonato. Que se consiga desperdiçar 9 pontos de vantagem em três jornadas quando se é treinador do Sporting. Ou que se realize a proeza de perder toda uma época em três dias, quando se é treinador do Benfica.
Enquanto o recreio ri em gargalhadas incontroláveis, Santos amaldiçoa os colegas. Protesta, em sussurro, que, se visse bem, não acumularia a duvidosa distinção de “único treinador português capaz de ser eliminado da Taça de Portugal por três equipas de escalões secundários”. E refugia-se no apoio de Vieira, o amigo imaginário. O problema, caro Santos, é que nem com a mais fértil imaginação Vieira cairá no erro de o reconduzir no cargo.
Com grande pena nossa.

P.S.: A título de adenda, sugiro a leitura de "A Matrafona". Aqui É verdade que o autor justifica alguma desconfiança, mas, como Cunhal em 1986, eu aconselho-vos: não vejam o nome, tapem os olhos, pensem noutra coisa. Mas até vale a pena.

segunda-feira, abril 16, 2007

Eh pá, façam o favor de ver isto.

No Sector B32. Aqui.

E depois os arautos da moralidade façam favor de me explicar quem é o Everson.

Aos poucos, fazem-lhe justiça

"Nenhum treinador me roubou tanta energia numa pré-época. Naqueles primeiros tempos, chamei-lhe todos os nomes possíveis e imaginários. Passados uns meses, tirei uma conclusão surpreendente: ele estava certo e eu errado. Extraiu o máximo de mim"
João Vieira Pinto sobre Laszlo Bölöni, numa entrevista (excepcional) no "Record" de hoje

sexta-feira, abril 13, 2007

Galhofa

É ponto assente que os comentários de ontem do Paulo Catarro foram muito divertidos, pois deram para matar saudades do estilo militante que só a RTP sabe emprestar à cobertura televisiva dos jogos de futebol.
Guardo, com emoção, a frase da noite: "Rui Costa parece que fala uma linguagem diferente dos restantes jogadores".
É natural.
Com 115 anos, fala seguramente português arcaico.
Phaz hum cruzamento, Symao.
Faredes bem si futasses à baliza, ome.
Samicas assy o merdae del engeneryi se fa de retrum.


Uma contemporânea.

E pluribus nulum...

Reconheço: foi injusto. Muito injusto, mesmo. Neste blogue, apesar de fervorosos, somos adeptos com sentido crítico e defendemos como verdade essencial que o futebol dispensa as palas à frente dos olhos. Importa reconhecer mérito a quem mais faz pela vitória e, hoje, confesso, o campo parecia inclinado.
Reconheço a custo - porque sou português e estas coisas doem muito, como sabem - que o Espanhol merecia ganhar. Deveria ter ganho por dois penalties não assinalados contra zero. Mas não se pode ganhar sempre.
Resta fazer o diagnóstico à época do Benfica. Validando a sabedoria do irmão Férenc, expressa aqui há cerca de dois meses, Fernando Santos foi capaz de promover a cobiçada peseirada, termo que vamos submeter em breve ao Wikipedia como sinónimo de "dois choques frontais no espaço de uma semana". Em três dias, o Benfica foi brutalmente despertado para a realidade e conquistou uma mão cheia de nada para a sala de troféus - E pluribus nulum, ou coisa que o valha.
Já lá dizia o Simba, no "Rei Leão": é o círculo de vida. Ou melhor ainda, tudo o que sobe invariavelmente tem de descer.
Mas escusava de ser com estrondo.

quinta-feira, abril 12, 2007

Comentador Soul Glo


Não consigo.
Já tentei, mas não consigo.
Quando vejo o comentador Rui Santos na televisão, desato a berrar o jingle do "soul glo" a plenos pulmões, independentemente do local onde me encontrar. Já aconteceu numa farmácia. Na repartição onde trabalho. E num velório.
É grave.

quarta-feira, abril 11, 2007

Mais uma ficha, mais uma volta

Duas das eminências que governam o Sporting – o presidente do Conselho Fiscal e o presidente da Assembleia-Geral – juntaram-se num apelo público aos adeptos para que não assobiem Nani e Custódio. Subscrevo. Posso garantir que nunca assobiei um jogador do Sporting. Não por falta de vontade, lamentavelmente. Por falta de jeito. Entre o vasto arsenal com que a natureza me dotou para lidar com a civilização (quem diz a verdade não merece o Postiga!), não consta o assobio estridente. É verdade que tenho educação superior, mas de que serve um curso na Independente se eu estiver a afogar-me no mar alto e tiver de assobiar para ser salvo? Posso sempre tentar explicar a teoria de Brock a um golfinho, como qualquer náufrago letrado faria, mas nem todos os golfinhos apreciam informática.
Segundo notícia do “Record”, as claques e outros adeptos são muito influenciados por um grupo organizado que, através de “mensagens espalhadas pela net, nomeadamente na vasta comunidade blogueira leonina, tem conseguido desestabilizar o Custódio e outros jogadores”. Estou estupefacto. Uma vez mais, há conspirações tecidas nas vielas mais esconsas da Internet e eu o Sancho somos mantidos à parte.
Em reflexão, porém, a ideia de ter uma vasta comunidade influenciável pelo “Mãos ao Ar”, presa a cada palavra que aqui debito, é muito agradável. Sinto-me tentado a sugerir-vos que mandem fotografias embaraçosas das vossas mais próximas – mães, irmãs, tias, netas, sobrinhas, avós, agentes de liberdade condicional. Todas! – para um endereço de e-mail, mas vocês, se calhar, já conhecem essa.
Parece-me também justo que se comece um culto da personalidade na caixa de comentários. Aos poucos, libertarei pequenas notas sobre o meu perfil biográfico que os leitores se encarregarão de transformar em capítulos de uma epopeia de grande fôlego. Para efeitos de construção do mito, posso dizer-vos hoje que, certa vez, encontrei um pobrezinho. E o pobrezinho não tinha nada para comer. E eu toquei ao de leve numa silva que crescia à beira da estrada. E a silva, como que por milagre, transformou-se num dragoeiro. E o pobrezinho precipitou-se, ávido, na direcção do dragoeiro e bebeu, bebeu, com gosto, a seiva, esse néctar dos deuses. Ao final da tarde, o pobrezinho foi internado nas urgências porque a seiva do dragoeiro é usada na tinturaria e parece que faz mal. Mas eu não posso saber tudo.
Uma vez que tenho esse poder ilimitado sobre os senhores, gostaria de combinar convosco as próximas intervenções porque isto de ser grupo organizado de protesto tem alguma ciência. Tem de se mudar constantemente de alvo. Caso contrário, cristalizamos como a CGTP. E eu ainda não tenho idade para usar pullovers com losangos.
Assim, no jogo com a Naval, sugiro que nos organizemos contra o Pedro Barbosa. Quero ver faixas com piadas sobre «croissants» e jogos de bastidores. No jogo com o Marítimo, gostava de ver no topo norte um «mix» de faixas sobre património, comissões de empresários e sinais exteriores de riqueza do Carlos Freitas. E, no jogo com o Beira-Mar, pode ser... hmmmm... contra o Alecsandro. Está gordo e custa muito dinheiro.
E agora, senhores presidentes do Conselho Fiscal e Assembleia-Geral? Tenho de meter alguma moeda para que se crie a espiral de protesto ou isto vai lá por si?

terça-feira, abril 10, 2007

Diz que é uma espécie de árbitro...

segunda-feira, abril 09, 2007

Ó comadre

Devesa Neto irritou-se. Devesa, recordo, era fiscal-de-linha, e dos maus! Formou quadrilha com Olegário Benquerença, espécie de Bonnie & Clide do futebol português, mas o par norte-americano tinha, ao que parece, bons fundos. Devesa & Olegário tinham bolsos sem fundo, o que não é bem a mesma coisa.
Há pouco mais de um ano, Devesa foi envolvido no Apito Dourado, o que pode ser muito desagradável. Nestas coisas dos processos judiciais, é preciso ter bons conhecimentos para não se deixar envolver pelos mais viscosos, mas Devesa, está bem de ver, caiu no alçapão da Justiça (se este blogue fosse um estádio, tinha ido agora abaixo com esta metáfora tremenda, tremenda! Mas não é. E eu só ando cá para poder ganhar uns tostões para pagar o colégio do miúdo. E o colagénio da mulher. Parece pouco, mas é melhor do que andar a róbar ou ser reitor da Universidade Independente).
O Ministério Público considerou pouco própria uma conversa de Devesa Neto com o anterior presidente da Liga de Clubes (a escuta não especifica se terá decorrido enquanto o major envergava o felpudo roupão da colecção Primavera, griffe 2003, que encantou o país e ainda lidera o top de vendas da Zara, logo seguido pela elegante Parka vermelha que Bibi revelou aos portugueses no Inverno anterior). Depois de auxiliar Olegário na condução de um Boavista-Sp. Braga, Devesa ligou ao major e contou-lhe: “A gente, na dúvida, decidiu a favor do Boavista. Pumba, percebe?”
Não vou debater se a frase era suficiente para levar o árbitro assistente a tribunal. Interessa-me mais discutir a provocação pública de Devesa a Olegário, agora que se libertou dos nós górdios da Justiça (clap clap, senhor leitor, clap clap). Devesa não gostou que Olegário tivesse dito que “não estranhava” a sua ligação aos dois arguidos da história (os dois Loureiros). E que Devesa era muito “mariquinhas”.
Ao “Record”, Devesa ripostou e utilizou a tirada clássica: “Ele que não me obrigue agora a vir dizer para a praça pública coisas que, se calhar, nem a UEFA sabe.”
A ameaça velada apaixona-me. Sou um estudioso do género e imagino que há poucas coisas mais nobres do que sugerir que um rival fez algo terrivelmente errado, mas não dizer o quê. Evidentemente, se necessário, Devesa pode ser criativo. Pode dizer que a UEFA não sabe que, na intimidade do balneário, Olegário veste roupa de mulher. Ou que utiliza as insígnias da FIFA como guardanapo. Ou que sonhava com uma carreira de decorador, como o Cláudio Ramos. Ou que teve posters da Marina Mota descascada.
Para já, Devesa não revela. Mas junta mais um pózinho de canalhice: “Que ele se lembre que eu tenho filhos e ele nem sabe o que isso é.” Fino! Sugere-se, sem o certificar, que Olegário pode não saber que um filho se faz por inseminação da mulher através da transmissão natural, ou de piruetas badalhocas, de fluidos corporais do homem. Ou de vários homens. Ou de uma ovelha, um transformista e uma tesoura para cortar sebes. Ou, em alternativa, através de um milagre de inseminação sem contacto físico, por obra do Espírito Santo – não é o do banco, ó marabunta, é o outro. Uma terceira e devastadora hipótese é a sugestão de que Olegário poderia gostar de fazer o chamado amor com os chamados marinheiros, numa prática que a chamada sociedade ainda tem dificuldade em aprovar.
Aqui há uns meses, sugeriu-se numa caixa de comentários deste espaço que a Olegário faria bem um saudável ensaio de pancada à antiga. Enganámo-nos. Bem pior do que perder momentaneamente o baço é ganhar esta fama – não confirmada, mas sussurrada por todos os estádios, por todos os adeptos, por todos os jogadores. Murmurada de pai para filho. De pastor para ovelha. De marinheiro para marinheiro. O Olegário é roto.
Aquele abraço, Devesa! Eu não faria melhor.

domingo, abril 08, 2007

... e dizem que o futsal é imprevisível!

Três vezes jogam com o Sporting durante a temporada, três vezes enfardam forte e feio.
É por coisas como estas que os pugilistas não querem combater sempre com os mesmos adversários. Parecendo que não, esmurrar sempre a mesma fronha cansa.

quinta-feira, abril 05, 2007

Por Decreto

Fez furor a declaração determinada de Fernando Santos: “No domingo, às 23 horas, vamos ser líderes!”. Ora, um dos problemas do recurso de frases «à José Mourinho» por gente que não é o José Mourinho é aquilo que os biólogos chamam de presunção saloia (é termo técnico).
Tomemos os babuínos como exemplo. São animais territoriais e conflituosos. As suas populações são extremamente estratificadas. Entre os babuínos, como entre os treinadores de futebol, não basta a um indivíduo subir a um planalto, inchar o papo e avermelhar o rabo para indicar aos outros que quer ser chefe. Sobretudo se o pretendente for o animal mais sensível e choroso de todo o grupo. O deus Osíris não se fez grande a choramingar pelas montanhas. Também é verdade que acabou esquartejado, mas o esquartejamento parece mais horrível do que realmente é. Se feito com elegância, pode ser muito agradável.
A frase fanfarrona encaixa mal no treinador do Benfica. Da mesma forma que ninguém espera que Mourinho, um dia, diga: “Que ganhe o melhor porque isto é só um jogo”, também ninguém leva a sério o Santos arrogante. Provoca a paródia generalizada e nem a imprensa alarve o leva muito a sério: prova disso é o destaque tímido que a frase acabou por ter nos jornais.
De Santos, espera-se que desfie o rosário sempre que fala: que não pôde contar com todos os jogadores. Que os avançados perderam tempo de mais para rematar. Que os defesas trocaram de posição sem instruções para isso. Que os golos do adversário foram muito felizes e aconteceram mesmo na altura errada. E por aí fora.
O estilo afirmativo, porém, tem tudo para vingar na instituição. Imagino que pode ser expandido para todas as áreas da gestão do clube, como um farol que alumia e indica rotas. Pode afirmar-se, com igual determinação, que a partir de sexta-feira já não há doping no Benfica. Que na quinta o clube volta a ter crédito na banca. Ou que o passivo desaparece a partir de sábado.
Acontece porque eu decreto que assim seja – o lema napoleónico adoptado no Benfica! É verdade que Luís Filipe Vieira não é exactamente como Napoleão Bonaparte. O imperador francês conquistou dois terços da Europa em oito anos. Luís Filipe Vieira conquistou, no seu primeiro mandato, o Troféu Amizade e uma medalha de participação na X Mini-Maratona EDP.
Napoleão tinha vastos conhecimentos de música e poesia, que surpreendiam os seus convidados em recepções protocolares. Luís Filipe Vieira faz bolinhas com excrescências do nariz, que cola diligentemente no verso do tampo da mesa.
Napoleão disse para a posteridade: “A bala que me vai colher ainda não foi moldada”. Luís Filipe Vieira, em contrapartida, legou-nos a célebre tirada: “Não diguem mal do Rui Nerei e deiam-lhe mais uma oportunidade!”
Cada qual a seu jeito, são insubstituíveis.

quarta-feira, abril 04, 2007

Infiltrado nos Diabos

Temeroso do vosso castigo, dirijo-me aos senhores como o lendário Egas Moniz.
Quais túnicas e cordas ao pescoço e mai não sei o quê? Apresto-me a lobotomizar-vos o lóbulo pré-frontal, isso sim. É procedimento que tem as suas dificuldades de organizar pela Internet, mas, em querendo, tudo se faz, já lá diz o Armandinho da minha rua, que está a juntar gente para fazer uma seita daquelas que combina suicídios colectivos e promete o fim do mundo se o Sócrates avançar com os excedentes da função pública. Ele diz que já juntou uma grande quantidade de gás sarilho, mas ninguém o leva muito a sério. Quando era pequeno, bateu com a cabeça no lavatório, como a mulher do Talon, mas ao contrário dela, ele diz que o empurrarem... ahem... empurraram.
Mas afastamo-nos do lóbulo pré-frontal, que aliás é nome que poderia perfeitamente ser adoptado pelo Mourinho naquelas crónicas idiotas que o “Record” publica. Se proferido com convicção, o lóbulo pré-frontal tem todas as condições para se tornar a “pressão alta” ou as “basculações” da próxima temporada. Anteontem, aliás, o Abel fez uma basculação do flanco direito para o centro, aproveitando a pressão alta do Sporting e surgiu no lóbulo pré-frontal em situação de remate.
Bom... mas vamos à confissão. Instigado por um primo da minha mulher, que é do FC Porto, fui à Luz no domingo comprar dois bilhetes na candonga. Em abono do Benfica, posso garantir que é extremamente difícil comprar bilhetes clandestinos para um jogo de lotação esgotada. Não porque não existam candongueiros nas imediações do estádio. Existem, e com fartura, benza-os Deus. Mas torna-se extremamente difícil distinguir o candongueiro do vulgar adepto do clube. À primeira vista, aliás, parece que os arredores do estádio foram tomados de assalto por candongueiros. Depois, com olho mais clínico, é possível distinguir o candongueiro do adepto: ao contrário deste, o candongueiro não parece tomado de súbita e incontrolável vontade de expelir o monco do nariz para o passeio.
Lá comprámos os bilhetes (tenho vergonha de confessar quanto paguei), achando muita graça ao comunicado da Liga de Clubes, que afiançou, no início da época, que os novos bilhetes, com código de barras e tudo, tornam a vida muito mais difícil aos candongueiros. Tornam, sim senhor, porque o candongueiro olha para o código de barras e pensa: “Isto, com código de barras, é capaz de ser crime. Vou só pedir 100 euros aos senhores!” (pronto, já confessei).
Sentado entre os Diabos Vermelhos, pensei que ia sofrer um bocadinho. Mas não. Os Diabos que eu conheci há alguns anos amansaram. Não gritam. Não ameaçam. Um fulano festeja o golo do FC Porto no meio deles e não o espezinham. Nem sequer se vê haxixe entre os tiffosi como antigamente e, para agravar o caso, ainda tiveram a lata de me pedir do meu.
Por respeito à tradição, eu diria que a claque deveria estar inscrita no IND como “Mafarricos vermelhos”. Mas, em rigor, os míticos Diabos do passado transformaram-se em meninos travessos, que só fazem diabruras quando a polícia não está a olhar. “Traquinas vermelhos” – eis o nome que proponho para a claque da porta 25.

segunda-feira, abril 02, 2007

Ay Karamba



A propósito do post "Forças & Fraquezas", vem o departamento comercial deste blogue informar que também faz previsões sobre a bolsa, meteorologia e investigações judiciais. Diagnosticamos varizes e pontas-de-lança perdulários. Curamos mau olhado e planos directores municipais indesejados. Traga-nos a sua esposa grávida e adivinharemos o sexo da criança (taxa de sucesso: 99%. Falhámos apenas com o casal Tamagnini).