Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A rábula do cuzinho

Há 20 anos, Raúl Águas, um dos muitos desgraçados que passou por Alvalade, chocou o universo sportinguista ao lembrar, naquele tom de voz de acólito lamechas, que equipas como a nossa não têm estaleca para mais do que uma competição. Para usar as palavras dele, o Sporting não tem "cuzinho para se sentar em duas cadeiras". Não tinha há 20 anos e muito menos tem agora, sobretudo quando as Uefas chegam à fase séria.
Em jeito de balanço, já ganhámos uns trocos, tirámos fotografias com o Messi e o Ribery e podemos concentrar-nos na competição da piolheira, esperando ganhar um número suficiente de pontos para poder sair da piolheira para o ano e ser espezinhados em mais algum estádio da Europa, em experiência que, estou certo, será revigorante. É injusto, porém, dizer que não ganhámos nada com a experiência: ganhámos milhas no Tap Victoria, o programa de passageiros frequentes da transportadora nacional.
Liev Tolstoi escreveu que as famílias felizes não têm história. Felizmente, o escritor não conhecia o Sporting ou juntaria material para mais 300 páginas do “Guerra e Paz”.
"Ricos em sonhos, mas pobres, pobres em ouro" - podia ser o lema da campanha das Gameboxes de 2009/2010. Eis como se juntam, na mesma prosa moralista, referências improváveis ao Raúl Águas, à Tap, ao Tolstoi e à Floribella.
Ai que falta ela fez naquele meio-campo! A Floribella, não o Tolstoi, entenda-se)

(P.S.: Recordei hoje a célebre entrevista do cantor José Crispim, ele mesmo o do duo "Ele e Ela", que é para os senhores verem que, na semana em que o país discute se a pintura do Courbet é arte ou porno, as referências culturais do Mãos ao Ar são ricas e recomendáveis. Pois o Crispim expressou o momento de viragem fundamental da sua carreira, dizendo: "Gravava muito valor, mas não vendia nada. Então, passei a gravar merda e as coisas compuseram-se!"
Bento, está na altura de deixares de gravar muito valor.)

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Ainda o derby

Ao longo de 133 jogos oficiais, o novo Estádio José Alvalade viu desfilar craques e asnos. Presenciou golos monumentais e frangos comprometedores Recebeu árbitros bons e outros menos bons. Viu jogar equipas matreiras e equipas assustadas. Abriu fileiras para treinadores com personalidade e treinadores amedrontados. Um estádio, ou melhor, este estádio, mesmo feito de pedra, é uma entidade viva, de carne e osso, capaz de expressar emoções como qualquer adepto. Respira de alívio quando os adversários falham. Suspira de tédio quando o Sporting foge à sua vocação ofensiva. E explode de júbilo quando um dos seus executa com perfeição.
Infelizmente, em tanta memória acumulada, ainda não deram ao novo Estádio José Alvalade o privilégio de assistir a um penalty assinalado contra o Benfica. Já lá vão sete jogos com o rival desde a inauguração do estádio em 2003, mas o privilégio ainda não foi merecido.
No sábado, houve quem explodisse de raiva quando o cotovelo de Maxi desviou o remate de Izmailov dentro da área. Eu não. Nos últimos 28 encontros com o Benfica em Alvalade, concederam-nos dois "penalties". Leu bem: dois. Em ambos, pasme-se, quando estávamos a perder (0-1 em 2001/2002; 2-6 em 1993/1994). Não fizeram particular diferença. É preciso recuar até Março de 1982 para encontrar um penalty assinalado a favor do Sporting susceptível de colocar o clube em vantagem no "velho derby".
Eu já vou nos meus trintas e perdi a esperança de voltar a ver outro lance igual, mas tenho educado o meu filho na esperança de que, com a dieta e exercício físico adequados, ele possa um dia, daqui a muitos anos, esfregar os olhos de espanto enquanto escuta o sibilo do apito assinalando um penalty contra o Benfica em Alvalade.
Provavelmente, com a personalidade que temos, ainda o falhamos.

sábado, fevereiro 21, 2009

Oferenda a Liedson

Não te conheço pessoalmente, mas, se da única vez em que cumprimentei o Manel Fernandes o tratei por senhor Fernandes, não me custa reconhecer que, daqui para a frente, ganhaste o direito a ser tratado por senhor Muniz.
Nos romances de cavalaria, os cavaleiros mais valorosos são sempre recompensados com os melhores cavalos, as melhores espadas ou as melhores propriedades do reino. Ora, não tendo eu cavalos nem espadas e sendo apenas proprietário de um desinteressante T1 na Ameixoeira, cuido que não tenho bens que te possam valer. É verdade que o T1 tem kitchenet e casa-de-banho com poliban, na qual inseri um vistoso tapete antiderrapante, mas, mesmo assim, é jóia manifesta escassa para tamanho feito.
Sendo assim, concentro-me no que ainda posso fazer por ti. Por manifesta incompetência minha e provocação de Alá, ainda não fui capaz de gerar uma filha, mas desde já garanto que, em Deus ajudando, vou gerar uma, cuja mão te vou ceder. A mão, os pés e o que bem entenderes como bem te aprouver.
Aliás, com os avanços da genética, tomo a liberdade de te enviar um catálogo de morfologias para que possas escolher se a queres loira ou morena, alta ou baixa, com a personalidade da Teresa Guilherme ou da Dulce Pontes e por aí fora.
Dá-me só dez minutos e vou tratar disso. Depois, volto ao contacto.
Agradecido pelo inesquecível serviço, mais um na galeria do mais espectacular avançado que já pisou o José Alvalade XXI.
Sempre teu,
Bulhão Pato (Sogro)

terça-feira, fevereiro 17, 2009

O Activo Tóxico


Declaração de interesses. Está na moda, e é chique, começar uma crónica com uma declaração de interesses, por isso, cá vai: não tenho qualquer interesse pelo Fábio Rochemback. Corrijo: declaro que tenho muito interesse que a bola gorda rebole rapidamente para longe do Sporting.
Agradeço que respeitem o facto de ter passado muito tempo na biblioteca a tentar documentar estatisticamente o fraco contributo do brasileiro. É verdade que dois terços do tempo foram consumidos a tentar descobrir como funcionava o computador de pesquisa. Mas depois também li jornais durante uns minutos.
***
Há um ditado espanhol que reza qualquer coisa como isto: éramos muitos na família, mas ainda foi à avó que pediram para parir! Não sei se o João Moutinho sabe falar castelhano, mas imagino que lhe passe igual frustração pela moleirinha das muitas vezes em que tem de voltar para trás a nove, correndo desalmadamente para compensar uma das muitas ocasiões em que o Rochemback se baldou. Ou falhou um passe grosseiro. Ou não teve pedalada para acompanhar um Diakité magrinho desta vida.
Recorrendo ao baú da memória, reconheço que nem sempre foi assim. No Verão de 2003, com o apoio do Custódio (que corria o que o Rocha não conseguia), a troca do Quaresma pelo Rochemback parecia promissora. Dotado de uma capacidade física empolgante e de uma rapidez de disparo digna dos melhores pistoleiros, o colosso adiposo valia o seu peso em ouro.
Como nas histórias românticas, lembro-me com precisão do dia do primeiro golo do Rocha pelo Sporting. Foi num Sporting-Belenenses, jogado a 23 de Agosto de 2003. Marcou de penalty, num épico 4-2. As redes quase se rasgaram com a velocidade e confiança com que o brasileiro rematou. O estádio veio abaixo de alegria. Os sportinguistas esfregaram as mãos, antecipando muitos momentos como aquele. E eu? Eu não estava lá. À mesma hora em que o meu ídolo marcava o golo, forçavam-me a cortar o bolo do meu casamento. Dizem-me que era de fios de ovos e chantilly. Soube-me a fel.
Desforrei-me uma semana mais tarde. Uma praia paradisíaca e deserta no Pacífico. Sol e água quente. A mulher dos meus sonhos. Com o dedo do pé, escrevi na areia a apaixonada mensagem de amor: ROCHEMBA… Não consegui acabar. Atacaram-me com uma geleira azul cheia de tupperwares com talhadas de melão. Tentei completar a mensagem mais tarde, mas é muito mais difícil manobrar o dedo do pé com uma tala.
Hoje, é com pena que reconheço que o Rochemback que o Middlesbrough nos devolveu no Verão passado é um produto defeituoso. Tornou-se o activo tóxico da equipa. Na verdade, de activo, já tem muito pouco. É o passivo tóxico do Sporting, se quiserem.
Desvalorizou-se e desvaloriza tudo em redor. Compromete a equipa com a sua lentidão exasperante. Obriga os colegas a esforço suplementar para vigiar as suas (largas) costas. E traz nada, ou quase nada, ao ataque. De memória, recordo apenas uma assistência na Reboleira.
Vejo-o em campo e suspiro pelo Bibendum, o popular boneco da Michelin, que sempre se mexia mais. O lance do Sporting-FC Porto, da Traça de Portugal (este ano, a Traça não tem qualquer relevância, bem entendido), foi paradigmático. O Hulk a sprintar e o Roca, esbaforido, suplicando-lhe que abrandasse, enquanto a pança funcionava como lastro. O Bibendum, estou certo, teria rebolado para cima do brasileiro do FC Porto.
Rochemback tornou-se deprimente. Talvez não tão deprimente como o dia em que o Luís Represas decidiu fazer rimar “Sagres” com “Sabes”, mas muito deprimente, de qualquer maneira.
Na semana do importante Sporting-Benfica, faço pois o meu primeiro apelo ao Paulo Bento: não uses o Rochemback no derby.
Já te ligo para dar o resto da táctica.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Recomenda-se

Leitura e autor recomendados. Aqui. Pelos vistos, já toda a gente trabalhou sob as ordens do Nunes.

Aparece, homem.

Vão de escada

Nos últimos dias, o Sporting enviou SMS aos associados com gamebox informando que alguns sectores foram anormalmente requisitados pela UEFA para o jogo com o Bayern. O clube não informa porquê, nem para quem. Aliás, o clube não informa.

Diálogo ao telefone:
- Podemos devolver-lhe o dinheiro.
- Não quero. Quero ver o jogo.
- Pode comprar no site e tentar para o mesmo sector?
- Somos três pessoas. Queremos três lugares seguidos.
- Então tem de vir à bilheteira.
- E garantem que há três lugares seguidos no mesmo sector?
- Hmmm. Não. É preciso ter sorte!
- Se não se importa, quando avistar o presidente Soares Franco, gostava que a senhora introduzisse o bocal do telefone na p**** do senhor presidente. Está bem? Pode ser? Era uma alegria que me dava.
- Piiiiiiii [som da linha desligada]

Espero que cedam o meu lugar a um alemão anafado que coma salsichas com chucrute no meu lugar e limpe os garfos ao banco estofado. Muito obrigado.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Babaca é parvalhão

"Temos de dar comer à vaca para ela não morrer", disse hoje o professor Carlos Queiroz. Imaginando que o seleccionador não estaria a referir-se à dieta do Fábio Rochemback, diria que o estimado professor aproveitou a conferência de imprensa da selecção nacional como tubo de ensaio para a criação de novos provérbios e aforismos da nossa rica língua.
Antecipo-me, pois, e contribuo com o meu quinhão, não vão depois dizer que foi daqui que partiram as forças de bloqueio.
Professor, anote por favor as sugestões:
Se perder na quarta-feira com os finlandeses: "Temos de limpar a água do aquário para os peixes não asfixiarem na sua própria imundice."
Se ganhar na próxima quarta-feira: "Quando temos um porco e um bisonte, mais vale comer primeiro o bisonte e congelar o suíno para mais tarde."
Se não vencer a Suécia em Março e, consequentemente, comprometer a qualificação para o Mundial: "Se pisar o dejecto de um cão, mais vale limpar ao lancil do passeio do que tentar esfregar com um escovilhão."
Como diria o Scolari (apropriadamente despedido há minutos e já desejado na Rua Braancamp), banco é caixa e babaca é parvalhão.

Post scriptum: notarão os mais perspicazes que não me refiro à jornada do fim-de-semana. Notarão bem. Faço como o Sócrates no caso do Freepork – não vi nada, não sei de nada, naquele dia nem sequer estava lá e, se porventura me viram lá, não era eu. Era o meu primo e o senhor meu tio. Bando de €$%%$‘ˇ÷¶÷¶‰.