Pareos, Belenenses e Camacho
Quase que aposto que, entre os milhares e milhares de leitores deste incomparável recanto da blogosfera, não há um – um só – que olhe para aqueles varões de inox dispostos nas carruagens de metropolitano e não se imagine a rodopiar com volúpia agarrado ao dito cujo [ao varão, senhores, ao varão. Ao resto, agarram-se se quiserem, mas cada um agarra o seu, que isto ainda não é o blogue do Belenenses e eu não quero cá poucas vergonhas – os 14 adeptos do Belenenses podem considerar a referência como uma gentileza própria de cavalheiros, por causa do jogo de domingo].
Imaginar-se-á provavelmente vestido com uma ousada tanga de pele de leopardo ou com um moderno pareo polinésio, como o meu amigo Henrique, que gosta de fazer a lide da casa com o maillot grená da classe de aeróbica. Apesar de todos os mimos e constrangimentos que a sociedade vos impõe, asseguro-vos que isso é absolutamente normal e sadio. Quer apenas dizer que o Mãos ao Ar não tem um único leitor heterossexual. Isso é muito natural. Muito natural.
As coisas são como são, não vale a pena tentarem fingir que esta perspectiva do varão rodopiante não é apelativa, porque não convencem ninguém. Eu bem vi como o vosso sorriso se iluminou… Onde é que ia? Hummm, pois, o fingimento. O fingimento é uma doença atroz que mina languidamente o futebol português.
No FC Porto, Jesualdo tenta à viva força fingir que ganhar jogos é muito natural para ele – logo ele que construiu carreira meritória fazendo-se espezinhar em quase todos os campos do país.
No sorteio europeu da Suíça, o representante do Belenenses esforça-se por fingir que aquelas andanças são muito naturais para o clube – logo eles que, da última vez que lá foram, ainda havia Taça das Cidades com Feira e o Belenenses não podia calhar com equipas de Leste porque o almirante Tomaz não gostava de jogar com comunas.
No Benfica, Camacho protagoniza a maior das farsas: esforça-se por acreditar no Zé Manuel Delgado, que insiste que ele é um génio da táctica, o mais prolífero inventor de livres directos da história e, sobretudo, um devorador insaciável de troféus. Em 20 anos de carreira, o espanhol barrigudo acumulou o espólio de… Somemos tudo desde o início… Noves fora e vai um… A raiz quadrada de dezasseis são quatro… o espólio de uma Taça de Portugal e, mesmo essa, conquistada num jogo em que o FC Porto fez rodagem para a Liga dos Campeões.
Confuso com o entusiasmo gerado por duas exibições miseráveis, narradas como o mesmo detalhe com que Políbio relatou as guerras púnicas de Aníbal [não é esse, é outro!], o anafado espanhol sente-se tentado a acreditar na lenda que em seu redor foi construída. Que é, afinal e contra todas as evidências palpáveis, um ganhador nato.
Com tanto ar, aviso já que a aterragem no solo vai custar um bocadinho.