In flagrante delicto
Discriminados pela sociedade desde tempos imemoriais e incapazes de granjear o apoio político do Bloco de Esquerda, os adúlteros foram forçados a desenvolver requintadas técnicas de argumentação desde que saíram das cavernas. Usam-nas nos momentos em que são apanhados com a mão na massa por assim dizer, ou in flagrante delicto como diziam os romanos, feras versadas nestas coisas requintadas do apalpanço de material alheio.
Corro aqui um grande ao risco, mas revelar-vos-ei uma lista de velhos argumentos usados para redefinir com sucesso situações embaraçosas. São palavras sábias, passadas de pai para filho, de avó para neta ou de pastor para ovelha, como uma fórmula secreta. Aproximem-se pois do monitor. Vou sussurrar-vos algumas dessas expressões que vos poderão salvar a vida. Todos ao mesmo tempo, não! Um de cada vez. E de preferência encostando apenas um ouvido ao computador, que eu gosto pouco de festinhas. Infelizmente, no caso do Luís Filipe Vieira, não temos um monitor suficientemente grande para acolher uma das suas orelhas. Tentarei pedir emprestado um daqueles ecrãs gigantes dos cinemas que, pelos meus cálculos, deverá ser apenas um pouco menor do que o apêndice auricular do presidente do Benfica. Cá vai então.
“Isto não é o que parece!”, é a frase mais popular, o santo-e-senha que o adúltero deve proferir quando é apanhado com as calças pelo tornozelo. Costuma resultar, sobretudo se o adúltero encontrar uma explicação plausível para o facto de ter a Teresinha, da contabilidade, nua na banheira, depois de ter previamente anunciado ao cônjugue que precisava da noite para rever os procedimentos de cobrança da empresa.
“Eu posso explicar” – é outro argumento muito agradável, normalmente usado pelo adúltero surpreendido e amarrado com algemas à cama de dorsel, envergando uma peça de roupa semelhante à da Madonna na tournée do Vogue (Não pensem que isto não acontece. É muito habitual aqui para o Lumiar. Segundo ouvi dizer.)
Ora, no passado fim-de-semana, David Luiz cometeu uma falta evidente que originou uma grande-penalidade. O defesa do Benfica colocou no caminho da bola um braço, dois cotovelos e uma madeixa de cabelos aos folhos, caída em desuso desde o primeiro álbum da Tonicha. Foi uma das faltas mais claras da história, evidente para todos os que não foram injectados com ampolas de Avastin ou água-raz (consoante as teses).
Apanhado in flagrante delicto, David Luiz ofereceu mais um contributo para o arsenal do adúltero contemporâneo. “Eu nem sequer me lembro se toquei na bola, quanto mais se o fiz com a mão”, disse, sem se rir. Se o deixassem, David Luiz continuaria, argumentando que nem sequer se lembra se estava em Lisboa àquela hora, quanto mais se estaria na grande-área do Benfica. Não convenceu, mas divertiu, o que, nos tempos que correm, já não é nada mau!
David, sobe ao palco para receber o troféu. Em nome de uma minoria de adúlteros com pouco jeito para mentir, venha de lá esse abraço. Tu és um dos nossos.