Imagino que já assistiram a documentários de exploradores intrépidos, daqueles que se aventuram pelo mais árido deserto e são forçados a comer o que está à mão. Invariavelmente, quando alguém nessas circunstâncias come carne de barata ou de rato, diz sempre que sabe a frango. É um padrão que se repete e que teima em não ser confirmado pela experiência. De certa maneira, é parecido com o dos vizinhos dos
serial killers, que nunca vêem nada e lembram invariavelmente que o estripador que com eles conviveu parecia tão calmo, e não era nada dessas coisas, pronto, lá teria as suas manias, e de facto, agora que penso nisso, nunca mais vimos a Dina do minimercado aqui no bairro, mas o sotôr não parecia dado a javardices, não senhor, quem imaginaria uma coisa destas, logo ele, que até tinha óculos, isto, menina, sabe o que lhe digo, os casados são os piores…
Bem sei que vos prometi que punha a tranca na porta da chafarica, mas em situações de alarme público, é missão do cronista sério e imparcial tomar as rédeas da situação e apascentar a multidão. À falta de um cronista sério e imparcial, vejo-me na obrigação de ser eu a denunciar um padrão que os media vão calando.
Recordar-se-ão da discussão sobre o serial killer de Santa Comba Dão (
aqui). Só este farol bravo e intrépido de moralidade que é o Mãos ao Ar foi capaz de lembrar então que o cavalheiro em causa, entre facadas e esventramentos performativos, lá arranjou tempo para assumir a presidência da Casa do Benfica de Santa Comba Dão. Disse a imprensa que o laço associativo seria um escape para a vida de perversão, mas é bem provável que fosse a pancada sexual o escape para os serões passados na Casa do Benfica. Livra! Sete noites por semana entre gente daquela levariam qualquer um a esventrar alguém só para espairecer.
Pois bem: começa a conhecer-se melhor o perfil do violador de Telheiras. É engenheiro do Técnico, soube-se no próprio dia da detenção. Coleccionava moedas. Trabalhava na assistência da Zon, o que explica seguramente o motivo pelo qual a minha Internet funciona aos repelões. Lá diz a minha avó: entretêm-se com porcarias e o trabalho fica por fazer.
Era o moderador de um fórum de numismática, indício mais do que suficiente para sugerir disfuncionalidades. E... ahum... era benfiquista,
conta o jornal I.
Começa a ser necessário abordar esta questão das taras sexuais pelo ângulo clubístico. Eu não quero meter o bedelho na casa dos outros, mas alguém vai ter o fazer. Quero acreditar que há pelo menos um adepto nessa bancada que não precisa de dar uma marretada na cabeça das meninas para levar a sua avante, mas os senhores não me estão a facilitar a vida.
Não sugiro com isto que todos os benfiquistas venham, mais dia, menos dia, a merecer o confinamento forçado numa cela de 4x4. Não quero insultar a inteligência dos leitores. Para falar verdade, nem me lembrei de presumir que a tivessem. Mas terão um dia de perceber que isto do jogo do engate não se ganha como os senhores estão habituados a ganhar no estádio, ao pontapé e infringindo as regras.
Eu próprio também tenho problemas de erosão, mas ando a tomar Viagra para ver se passa.
Post Scriptum: comenta o Virgílio, na caixa de comentários aqui de baixo, que o caso revela os fracos critérios de contratação da Zon. Concordo. Que contratem estupradores ainda vá que não vá. Que assinem contrato com benfiquistas... enfim, já não me parece tão bem, mas aceita-se. Agora, quando contratam numismatas, estão mesmo a pedi-las. Isso é brincar com o fogo!