Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

terça-feira, abril 20, 2010

Conselhos para suportá-los

Estimado leitor,
Aproxima-se a festa do título daquele de que não se deve dizer o nome. Até há quem sugira que a pluma de cinzas que assola a Europa foi criada pelo pó dos cachecóis cheios de naftalina. Das prisões aos reformatórios, não faltam pois adeptos desejosos de festejar. Muitos quererão seguramente partilhar a alegria consigo. Não se misture. Lembre-se do provérbio indonésio: basta um pouco de veneno para estragar o leite todo. Deixo-lhe por isso algumas sugestões criativas para evitar olimpicamente aqueles que se aproximarão de si nos próximos dias, desejosos de um abracinho. Se seguir à risca estes conselhos, garanto-lhe que ninguém o aborrecerá.

A abordagem artística

Coloque a combinação da avó na cabeça, emita o piar de uma coruja-das-neves e finja ser uma instalação da Joana Vasconcelos. Tenha particular atenção e recuse todas as ofertas de aquisição do Joe Berardo.

A abordagem tecnológica

Quando alguém se cruzar consigo, queixe-se insistentemente que está sem rede.

A abordagem discursiva
Diga que o “título”, o “futebol” e o “Benfica” são meros signos da semiótica peirciana, utilizados como significantes em relação à realidade física a que se referem, que é o significado, ou o referente, e que as relações entre significantes e significados tanto podem ser denotativas como conotativas, pressupondo um código que estabeleça, dentro de uma dada comunidade, a totalidade das relações entre significantes e significados, por forma a tornar possível a interpretação dos signos. Persiga os seus interlocutores pela cidade entoando a plenos pulmões o capítulo 3 da obra de C. W. Morris.

A abordagem gímnica

Desloque três vezes por dia o esternocleidomastoideu esfenóide e diga que isso se pega.

A abordagem Armando Vara
Diga que não sabe de nada, que desconhece os factos por completo, que é a primeira vez que ouve falar do Benfica e que, mesmo que alguém o tenha escutado a dizer o contrário, desconhece por completo. Diga ainda que a essa hora nem sequer estava em Lisboa. Aliás, em reflexão, nem tem a certeza se Lisboa será uma cidade real ou um produto da sua imaginação.

A abordagem Manuel Godinho
Distribua caixas de robalos em troca de silêncio.

A abordagem bifidus activo

Diga que é o decapitador de São Marcos e que está a gozar a primeira liberdade condicional desde que enfiou a cabeça da mamã no congelador e guardou o resto do corpo encasulado em espuma de poliuretano para comer à merenda.

(aceitam-se soluções adicionais para aumentar a oferta deste post)

segunda-feira, abril 19, 2010

A adepta fiel


Conheço uma pessoa que considera estupenda a gestão de José Eduardo Bettencourt (JEB). Bom, serão duas, se contarmos com o próprio JEB, mas, para efeitos práticos, concentremo-nos nesta primeira pessoa.
Para a minha mulher, JEB é o melhor presidente que o Sporting já teve. Mesmo as medidas mais controversas merecem o seu aplauso vigoroso.
O plano de reestruturação financeira do Sporting? Ela concorda.
O reforço da equipa de futebol? Ela subscreve.
A política de comunicação e intervenções públicas a despropósito? Ela aprecia.
A capacidade de devorar directores desportivos e treinadores? Ela apoia.
Se JEB decidisse vender o centro do relvado para ali instalar uma daquelas gengivas nucleares, ou lá o que é, ela aplaudiria igualmente.
Na verdade, em menos de um ano de exercício, JEB conseguiu uma proeza difícil de igualar: desmobilizou-me. Desde Dezembro que deixei de ver bola. Dizem-me insistentemente que o Benfica está à frente do campeonato e até já ganhou ao Sporting, mas pode ser só um rumor. Eu, pelo menos, não vi.
Por isso, agora vou ao teatro. Ao cinema. A exposições. Janto mais vezes na minha sogra... [note-se, nestes tempos de canibalismo voraz, que eu janto na minha sogra e não a minha sogra]. Já não digo palavrões na sala e até já tenho opinião sobre a Arte Contemporânea (sou contra!). Pode dizer-se que sou uma pessoa melhor graças ao JEB.
Nas eleições do ano passado, o proto-candidato Pedro Souto acusou JEB de nunca ter sido número 1 em lado nenhum do seu percurso profissional anterior ao Sporting. Em contrapartida, o presidente do Banco Santander lamentou “a perda de um extraordinário gestor”. Na altura, era difícil avaliar quem tinha razão. Hoje, se o leitor encostar o ouvido ao solo, como fazem os índios, ainda conseguirá ouvir as sonoras gargalhadas provenientes do conselho de administração do Santander. O JEB era o activo tóxico do banco.
A existirem, as ideias de JEB para o Sporting são um pouco como as escadas do MC Escher, que os leitores mais cultos (como eu) reconhecerão certamente como um representante da mesma escola artística do MC Hammer, do MC Snake e do WC Pato. Quando parece que as escadas estão por fim a chegar ao destino, volta-se ao início, num movimento que explora as possibilidades do infinito. E isso, parecendo que não, chateia aqueles que gostavam que a escada se definisse por algum destino.