Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

terça-feira, outubro 21, 2008

Solidariedade com MST

O “24 Horas” traz hoje à estampa a notícia perturbadora de que a casa de Miguel Sousa Tavares (MST) na Lapa foi assaltada. Mais grave: os larápios levaram o computador portátil do comentador, onde repousavam dois romances semi-acabados, uma crónica de “A Bola” onde se registava ineditamente que fora ele o primeiro a ver genialidade no Quaresma, no Mourinho e no pastel de Tentúgal, e duas prosas para o “Expresso” descrevendo como “Setúbal é o sovaco de Portugal, mesmo ali por baixo do estuário do Tejo, onde está encafuada toda a sujidade burocrática e centralizadora de Lisboa”. Material inédito, portanto.
Sempre humilde, Sousa Tavares sugeriu que se tratava de um golpe “muito estranho”, talvez instigado por um escritor rival despeitado, desejoso de lhe criar mossa. Naturalmente, nós, os que temos pouco para fazer, imaginámos todos os suspeitos possíveis. Sabemos pelo relato que o assaltante terá descido em rappel do telhado para a varanda do apartamento de MST, o que, por um lado, talvez exclua José Saramago, que se costuma constipar quando pratica rappel. Por outro lado, um suspeito poderia ser o pescoço de José Rodrigues dos Santos, que se presta bem a essas acrobacias, embora normalmente venha agarrado a um papillon e a uma piscadela de olhos totalmente a despropósito.
Ocorreu-me também que, desde o desaparecimento do computador de MST, nunca mais ninguém pôs a vista em cima de Ramalho Ortigão, o que o torna um bom suspeito. É verdade que Ortigão está morto há 93 anos, o que dificultaria mais o roubo, mas essa hipótese não é menos rebuscada do que o enredo do “Rio das Flores”. E vendeu-se na mesma.
Como os senhores jornalistas, eu busco incessantemente o móvel do crime. Seria um aparador? Uma escrivaninha de cedro com embutidos de contraplacado? Poderia um móvel ser um móbil do crime? Ou seria este o maior erro da história contemporânea portuguesa desde que o Nicolau Breyner nos aconselhou a virarmos as costas à disfunção eréctil?
Espreitei por isso com cuidado a hipótese que me restava. Media-a bem. Avaliei-a rigorosamente. Espetei-lhe até um pau para garantir que ela não levantava a cabeça e me mordia (a hipótese, não a disfunção eréctil, ó grosseirões!).
Parece-me evidente que, apesar de todos os críticos, Portugal se desenvolve velozmente. O invasor de domicílio de antanho, tantas vezes leitor confesso de Sartre e preso nos labirintos do existencialismo tardio, é hoje mais educado. Não me custa a acreditar que, dentro de alguns dias, o computador será devolvido. E se houver justiça, MST agradecerá ao larápio que apagou as 400 personagens supérfluas do próximo romance, desengordurou os diálogos cretinos que não acrescentam nada e corrigiu as dezenas de erros factuais, que colocavam o arquipélago das Molucas ao largo das Berlengas e confundiam o marechal Carmona com Carmona Rodrigues.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Off topic - Caruncho



Nunca fui menino para produzir declarações bombásticas, nem vos quero alarmar excessivamente, mas há um jornalista da SIC Notícias que é feito de madeira [pausa para recuperar o fôlego].
Não vos censuro: se me contassem, eu também não acreditaria. Hoje, porém, à hora de almoço, depois de ter ouvido três vezes a pergunta da minha avó – Ó filho, mas se o Cristiano Reinaldo é tão bom jogador porque é que não meteu golos? –, pareceu-me melhor ligar a televisão. E ao ver o programa “Negócios da Semana”, da SIC Notícias, confirmei aquilo que apenas a administração da SIC e um carpinteiro de Mangualde sabem: José Gomes Ferreira é, na verdade, feito de madeira.
O boneco está muito bem feito, nota-se aliás que é trabalho de artista, mas, se repararem bem, a expressão dele altera-se quando alguém puxa uns fios de nylon que pendem do tecto. Aí sim, José Gomes Ferreira articula-se, a boca mexe como se falasse, embora, claro, com alguma rigidez, porque é extraordinariamente difícil imitar num boneco a riqueza da expressão humana.
Confesso que o boneco me provoca alguma apreensão. O próprio José Gomes Ferreira, se pudesse experimentar alguma das sensações humanas, talvez também sentisse medo desta figurilha. Mas não pode.
Em contrapartida, para a administração da SIC, parece-me uma óptima solução. Em primeiro lugar, vamos ser sérios, um boneco diz aquilo que a gente quer e dá muito menos despesa. Além disso, há cerca de um ano, foi apresentado um trabalho científico sobre o grau de incidência de várias doenças profissionais sobre os jornalistas, por força do desgaste da sua rotina produtiva. A lista incluía depressões, úlceras, cardiopatias, tendinites e alucinações agudas (no caso do José Manuel Delgado).
À primeira apreciação, José Gomes Ferreira está livre disto tudo. Eventualmente, e seria preciso muito azar, pode faltar a um ou dois de trabalho se for atacado pelo bicho da madeira. Tirando isso…


[se não acredita, veja um dos vídeos do programa aqui]

quarta-feira, outubro 15, 2008

Tributo

É nestas alturas que vale a pena parar para pensar. Reflectir um pouco. Pesar bem as consequências. Analisar o jogo da selecção tintim por tintim. Em jeito de tributo, este post serve para apresentar tudo o que o professor Carlos Queiroz sabe sobre futebol. Cá vai:






















.

segunda-feira, outubro 13, 2008

O Recorde do Filipe

Quando se lembram do seu presidente, imagino que os adeptos do Inter de Milão sorriam em função do passado interista da família Moratti. Não me custa a acreditar também que os adeptos do Bayern de Munique, quando se lembram do seu presidente, respirem de alívio por verem o clube nas mãos capazes de Beckenbauer. Nós, os adeptos do Sporting, somos diferentes: quando nos lembramos do nosso presidente, procuramos rapidamente pensar noutra coisa.
Filipe Soares Franco concedeu uma entrevista ao jornal “Record” de sábado. Chamem-me esquisito, mas, antigamente, as entrevistas publicadas nas páginas de futebol da imprensa desportiva eram sobre futebol. Actualmente, são sobre vemoques. Leu bem: Vemoques, ou VMOC, acrónimo de Valores Mobiliários Obrigatórios Convertíveis. Li três vezes para me certificar que o Sporting não tinha feito como o FC Porto, que em tempos também comprou um VLK, acrónimo de defesa-esquerdo checo com propensão para a barraca. Mas não. São mesmo vemoques.
Por isso, roam-se de inveja, portistas e adeptos daquele de quem não se deve dizer o nome: nós vamos emitir vemoques e vocês não. E, daqui a cinco anos, os vemoques vão converter-se em capital. Eu não percebo muito de vemoques, nem de finanças, nem de cash-flows, nem de passivos… Vamos ser francos: eu não percebo muito de quase nada. Mas gosto muito de capital. E se me dizem que o passivo, que era de 30 milhões em 1995 e agora é de 240 milhões, mas seria de 190 sem os vemoques e será de 140 com os vemoques, não esquecendo ainda que, sem o problema dos terrenos da câmara, poderia ser de 120, eu acredito. É por isso que o Filipe é membro do Clube dos Empresários e eu nem membro sou do Blockbuster.
Entretanto, porém, o Estádio de Alvalade deixou de ser a casa de 75 mil sócios pagantes, como era em 1995, para se tornar numa infra-estrutura, onde, pelo preço de um razoável carro desportivo, se consegue comprar um bilhete de época. É uma questão de perspectiva: antes, víamos os jogos apertadinhos, sentados no cimento; hoje, estamos à larga, com os pés em cima da cadeira da frente.
Intriga-me também o complexo de inferioridade do presidente do Sporting. Ao longo de seis páginas de entrevista, Soares Franco refere-se oito vezes ao Benfica. Dá uma média de 1,3 vemoques por página… humpf… de 1,3 Benficas por página. Nem nos piores tempos das décadas de 1980 e 1990 imagino um presidente do Sporting a inspirar-se tantas vezes no exemplo do rival. João Rocha, Amado de Freitas, o Outro, Sousa Cintra… Nenhum olharia duas vezes para a Luz. Este pateta ganhou quatro troféus em três anos, ficou três vezes consecutivas à frente deles, mas consegue encontrar naquela chafurdice exemplos de boa gestão. É obra!

segunda-feira, outubro 06, 2008

Este blogue...

... está fechado até o Rui Patrício visitar um oftalmologista. Ou o Grimi superar um exame de reflexos. Ou me passar a azia. Uma das três. Mas até lá não escrevo nada. Estou no meu direito. Foi para isso que fizemos Abril. Kiri kikiri. Kiri Kikiri. Não andámos de pullovers coçados, com cotoveleiras de camurça, em tempos de antena mal amanhados, para agora obrigarmos um escritor a produzir. E eu nem sequer tenho casa arrendada pela Câmara de Lisboa a 30 euros por mês como o Baptista Bastos. Pronto!
Deixem-me ganhar um jogo outra vez e eu volto a escrever. Até lá, riam-se do blogue do Guitarrista ou do Pedro Neto. Ou dos editoriais do José Manuel Delgado. Quem tem razão é o Manha, que diz que falta Marketing emocional ao Sporting. Isso, e um grande-redes, um defesa-esquerdo, um trinco com menos de cem quilos e um presidente sóbrio. Mas, tirando isso, não falta mais nada.