Follow the money
É dos livros que o género humano foi avançando inexoravelmente, na grande marcha de evolução como lhe chamou o poeta, que nos levou da savana africana até aos corredores do Lidl, onde procuramos desesperadamente as diferenças entre o detergente da roupa e o leite em pó para o miúdo (Esse erro, garanto, já não cometo outra vez, mesmo que o miúdo volte a pedir aquela papa que o fez ver grandes monstros psicadélicos nas urgências do hospital).
Mas, dizia, do Australopithecus para o Homo habilis, do Homo habilis para o Homo erectus, do Homo erectus para o Homo sapiens, do Homo sapiens para o Omo Multiacção Active Clean (com opções de lixívia em pó ou concentrado), tem sido uma jornada entusiasmante. Infelizmente, porém, é uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos. A frase, compreenda-se, não é minha. É de Shakespeare e, quando ele a escreveu, não imaginava que a literatura agora estivesse a cargo de pivots de televisão e lunáticos com a mania das grandezas. E isto só para referir José Rodrigues dos Santos.
Tenho medo do jogo de amanhã. Corrijo: tenho muito medo. Há semanas que ando a marinar um plano e quem me conhece sabe que me custa muito marinar. Normalmente, é tarefa que deixo para o Oceano Cruz, pois é ele que a tem em casa e eu até me dou mal com farinheira. Continuando: preciso de encontrar uma forma de não sofrer amanhã. E há uma forma disponível que só me custará a alma. Nada mais.
Cá vai: entrei no site da Bwin, registei-me e apostei 150 euros na vitória do Benfica (2,15 euros por cada euro investido). Custa um bocadinho, mas há um racional por detrás disto. Caberá aqui porventura abrir um parêntese: ( ). Já está. Continuando. O racional é o seguinte: tenho um colega a quem chamarei Henrique, em boa medida porque é esse o seu nome próprio. E o Henrique, e outros como ele, estão insuportáveis. E falam em goleadas. E em humilhações. E em desistências por falta de comparência.
Pareceu-me que chegara a altura de pôr o dedo na Frida [Kahlo]. Até agora foi a vez do Diego Rivera, mas está na altura de passar o testemunho, até porque ela já não vai para nova. Nem para viva.
Investindo na vitória do Benfica, ganho de qualquer maneira. Se o Sporting ganhar, serão os 150 euros mais úteis que já gastei e nem penso mais nisso, excepto se a mulher descobrir. Nesse caso, contrariado, terei de voltar a pensar nisso. Se o Sporting perder, enquanto os Henriques deste mundo gritarem, e esbracejarem, e festejarem, e arrotarem, e se engasgarem, eu estarei a contar os meus 322,50 euros, preparando já nova aposta encarnada no jogo de Barisov. Tanto mais que, pelo andar da carruagem, o bom povo português estará entretido a contar tostões até ao fim do mês e a fazer o tradicional passatempo para ver o que acaba primeiro – o mês ou o dinheiro. E eu estarei mais próspero.
Falta-me só uma lógica para superar um indigesto empate.