Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sábado, abril 29, 2006

O Meu Tio Augusto

Manda a tradicao democratica que, apos uma derrota eleitoral, se cumprimente o adversario e se elogiem as suas caracteristicas menos agoniantes, digamos assim. (A tradicao tambem manda que se escreva com os acentos proprios da lingua portuguesa, mas experimentem faze-lo num cyber-cafe rodeado de paquistaneses barbudos e com ar de quem prepara fatahs para o fim-de-semana! E se o Pacheco Pereira compoe um blog onde os acentos e a pontuacao parecem ter vida propria, parece-me pouco correcto que exijam outra coisa de mim). Sigamos.
E sem vergonha que concedo a derrota do meu candidato. E certo que, com um oceano pelo meio, o pescoco do Soares Franco parece menos perigoso do que um tijolo de adobe. Mas a verdade e que Soares Franco ganhou as eleicoes do Sporting, proeza de que nenhum tijolo de adobe se pode ainda gabar. Nao contando com a direccao do Amado de Freitas, naturalmente.
Em nome do Banco Espirito Santo, do Banco Comercial Portugues e da OPCA, felicito os... clientes do Sporting Clube de Portugal pela votacao tao esclarecida.
Em nome do milagroso fundo imobiliario, com sede nas Bahamas e que, aposto, vai pagar a compra do patrimonio nao-desportivo do Sporting com uma mala cheia de notas, aplaudo igualmente com vigor.
Em nome do Carlos Freitas, coitadinho, que vai ser forcado (aqui deveria ler-se forcado e nao forcado, mas o teclado prega partidas destas. Ainda assim, poderia ser pior: poderia ser enforcado) a continuar a comprar jogadores a custo-zero, o meu obrigado.
Em jeito de ameaca, falaremos daqui a tres anos. Eu, voces e o magnata-do-petroleo-russo-que-lavara-dinheiro-no-nosso-clube-limpo-de associados.
Bem hajam.
Tradicao democratica? Ja dizia o meu tio Augusto que a democracia so faz sentido se os derrotados destilarem veneno por todos os poros. O meu tio Augusto... Pinochet, bem entendido.

sexta-feira, abril 28, 2006

Estimados leitores...

... julgo que vos devo uma explicação. Este blog não tem actualização há uma semana porque:

Hipótese a) Andei à pera com o Sancho e ele deslocou-me o pulso direito, impedindo-me de escrever, ao passo que eu lhe desloquei a carótida, impedindo-o, enfim, de ingerir ar às golfadas.

Hipótese b) Eu sou o jardineiro senegalês da Junta de Freguesia da Pena, em Lisboa. E, nesse caso, não actualizei o blog porque estou a monte, depois de espetar um martelo da poda na cabeça do presidente da junta e respectivas funcionárias. Acreditem: se já não é fácil estar a monte, a vida torna-se muito mais difícil quando se é jardineiro.

Hipótese c) Eu fui forçado, no sítio onde trabalho *, a trabalhar mais do que o normal, porque três quartos dos funcionários são portugueses, gostam de juntar folgas, férias e feriados e basicamente... são portugueses.

* a saber, o departamento de Canteiros e Floreiras da Câmara Municipal de Lisboa

Agora decidam a opção mais provável.

quarta-feira, abril 19, 2006

Il cullo d'oro

Português que se preze tem duas caras perante os seus compatriotas. Aqui, no seio da piolheira, quando temos de os ver, de lidar com eles no trânsito, de os observar no shopping, de os cheirar – oh, senhores, de os cheirar a valer! –, dizemos deles raios e coriscos. Gente porca, gente suja, gente burra. Que pena já não haver colónias para arrebanhar algumas centenas e despachá-los para os confins da selva tropical.
Lá fora, na estranja, a abordagem muda. Muda sobretudo porque, por irónico que pareça, o estrangeiro tem a mania de lidar connosco como nós lidamos com os nossos. Que parecemos vagabundos. Que cheiramos a refogado. Que comemos com as mãos (quem não come as mãos pode deixar de ler a partir de agora. Também não estás aqui a fazer nada, ó finório!?!)… Enfim, o relambório do costume. Por isso, como qualquer ser rudimentar, a gente cerra fileiras. Na estranja, somos lusitanos, gente de fibra, que trabalha a terra à força de braços, que constrói estradas e casas com sangue, suor e lágrimas. O bedum emanado transforma-se no odor adocicado das especiarias finas. Os bigodes dos homes e os buços das Marias até são charmosos. São a nossa gente, que diabo!
Serve a introdução para explicar a peculiar relação que os portugueses têm com o futebolista Rui Costa. Comecemos pelo óbvio: há dois anos que Rui Costa está para o AC Milan como o primeiro esquadrão de norugueses desembarcados na Normandia esteve para o Dia D: carne para canhão, aperitivo para a cova do dente. Os noruegueses não duraram cinco minutos; Rui Costa terá esta época acumulado menos ainda de utilização.
Nada belisca, porém, o contributo do Rui. O Rui é imbeliscável. O Rui é do Milão. E, para ser do Milão, tem de ser muito bom. Ponto final. Comparado com o dogma de Rui Costa, o dogma da Imaculada Conceição é uma brincadeira de meninos. O Rui é bom – isso é imutável e não pode ser revogado.
É certo que a galhofeira imprensa portuguesa dá o seu esforçado contributo à causa. Se Rui Costa entra a dez minutos do fim para queimar tempo, teve “pinceladas de génio” e “laivos de classe”. Se joga 30 minutos, demonstrou “a classe e a arte a que sempre nos habituou”. Se porventura Ancelotti precisou de poupar jogadores realmente importantes e começou um jogo com Rui Costa no onze, o português foi o maestro, o regista da orquestra (o substantivo italiano empresta sempre dignidade ao relato).
Há um reverso tortuoso no processo. Por vezes, Ancelotti não utiliza Rui Costa. Corrijo: muitas vezes, Ancelotti deixa Rui Costa sentadinho a seu lado, onde, dizem, o seu experimentado traseiro (o de Rui Costa, entenda-se) aquece brilhantemente o banco de suplentes. Nem mais um grau. Nem menos um. A temperatura ideal gerada pelo verdadeiro, o único cullo d’oro do Milan.
Nesses dias, a gente indigna-se. A lata do mafioso: deixar o Rui no banco. Logo, o Rui, com as suas pinceladas de génio, a arte de regista. O Rui é um dos nossos. Lá fora, representa a piolheira. E a piolheira protesta quando ele é injustiçado.
Nestas coisas, faça-se justiça, o Record é mais cretino do que os restantes. Hoje, atribui a sua medalha de lata a Carlo Ancelotti que, pasme-se, a perder, lançou no “jogo dois defesas e um carregador de pianos. E com um ‘mágico’ ali à mão… Volta Rui Costa, o Milan não te merece!” Certo, certo! Mas, se o Rui voltar, acordamos já que ele volta a cheirar a refogado, está bem?

segunda-feira, abril 17, 2006

Ciao, Custódio

«Todas as equipas de topo têm pelo menos uma personalidade terrivelmente combativa, um touro de carga no meio campo, como Nobby Stiles. E têm-na pelo motivo óbvio de que os jogadores criativos só podem operar se dispuserem da bola.
Sempre considerei que Nobby Stiles era realmente a chave do meio-campo do Manchester United. Creio, aliás, que ele teve papel essencial na afirmação de Bobby Charlton na equipa e na selecção.
Charlton não tinha talento, nem vocação genética para perseguir a bola. Stiles fazia o trabalho sujo por ele. Lutava, batalhava, desarmava. E entregava a bola, cristalina, a Charlton. De certa forma, Stiles forneceu as balas para que Charlton pudesse disparar!»
John Giles, centrocampista do Leeds da década de 1970, extraído de “Forward With Leeds”

Haveria Bobby Charlton sem Nobby Stiles no Manchester United de 1968? Deco sem Costinha, no FC Porto de 2003? Barbosa sem Duscher, no Sporting de 1999/2000?
Por definição, para dominar um jogo, é preciso ter a bola. Batalhar por ela. Arrancá-la das garras do adversário e jogá-la com velocidade para o ataque.
Há três anos que me parece evidente que o meio-campo do Sporting tem lacunas neste capítulo. Custódio é, para mim, o elo mais fraco. Julgo que três anos são um período relativamente seguro para avaliar potencialidades e limitações de um jogador. Numa avaliação rigorosa, embora talvez cruel, Custódio subiu o máximo a que poderia aspirar. Falta-lhe capacidade de passe e ousadia ofensiva; não consegue rematar de fora da área; e não confirmou a aptidão cabeceadora que revelara na época passada.
Não esqueço que, na loucura colectiva que era o projecto futebolístico de José Peseiro, Custódio foi útil. Perdia umas, ganhava outras, mas mais ninguém defendia. E as limitações pareciam menos graves. Este ano, porém, num modelo de jogo que exige menos perdas de bola e transições muito mais rápidas, Custódio parece perdido. Refém de uma caixa de velocidades a que falta uma mudança. Prisioneiro de uma intuição que o impele sistematicamente para trás, quando recupera a bola.
Encontrar um substituto para Custódio: eis a prioridade para 2006/2007.

quinta-feira, abril 13, 2006

Conde d'Abranhos

As pessoas sabem que prezo Filipe Soares Franco como poucos. É difícil encontrar, no universo sportinguista, uma figura com a sua estatura e elevação. Sempre é um metro e noventa centímetros de estatura e elevação.
Alto e encorpado, os olhos azulados têm uma singular falta de expressão e de intenção. Porém, todos sabem, com incontida veneração, que, por trás daquele olhar parado, um mundo de ideias fermenta, com agitação.
Uma das virtudes admiráveis de Filipe Soares Franco é o culto que ele faz da mudança súbita de opinião. Os detractores chamam-lhe inseguro - mas por perfídia e inveja. Filipe Soares Franco tem a humildade de reconhecer que muda de opinião. Costuma fazê-lo cinco ou seis vezes por dia, como se quer de um dirigente moderno. Não encontrarão no universo criatura mais volátil, admito eu, com admiração muda. Mostrem-me, se a conhecem, em todo o dirigismo desportivo, personalidade igual!
Na sede da OPCA, empresa que ele dirige e que por fantástica coincidência funciona no edifício-sede do Sporting, os funcionários nunca sabem se o presidente virá trabalhar. Pode mudar de ideias. Pode arrepender-se. É porém uma calúnia infame dizer-se, como alguns opositores indecorosos, que Filipe Soares Franco não tem opiniões firmes. É para mim uma honra poder hoje destruir esse erro ultrajante.
Como pai extremoso, Filipe Soares Franco cedo percebeu que os associados, quais filhos irresponsáveis, erraram na última assembleia-geral. Solícito, prontificou-se a emendar a mão. Dará nova oportunidade aos fedelhos para votarem no sentido correcto. Repetirá a assembleia-geral as vezes que forem necessárias até atingir a maioria qualificada. Em face disso, chamaram-lhe prepotente. Antidemocrata. Palerma… Porventura, palerma não. Só antidemocrata e prepotente. Pobres almas! Confundem prepotência com pedagogia. Pressentem arrogância onde há apenas tolerância perante os erros gigantescos dos outros.
Filipe Soares Franco poderia ter respondido à letra, com aqueles chistes que, com justiça, o celebrizaram. Optou por tudo acolher em silêncio, com a mesma infinita bondade do Redentor na Via Dolorosa. Cedo vislumbrou que o sócio que todo o dia trabalha na fábrica de conservas ou na repartição das finanças e, à noite, depois do caldo de couves, dorme do sono brutal da fadiga física, não pode participar do governo da coisa pública.
Dele dizem que descobriu tarde o Sporting. Que todos os seus filhos são do Benfica. Que casou com a filha de um presidente do Benfica. Diatribes! A pluralidade de Filipe Soares Franco revê-se precisamente aqui: se nunca cuidou em falar do Sporting em casa foi precisamente para não molestar as escolhas irracionais da conjugue e das crianças. Ele sabe perfeitamente que, tal como lhe sucedeu há poucos anos, os rebentos verão um dia a luz e mudarão convenientemente de clube.
A grandeza de espírito de um homem vê-se nos momentos difíceis. No final da assembleia-geral, de onde saiu derrotado, prometeu, com o coração em chagas, que sairia para não mais voltar. Que compreendia os sinais enviados pela populaça analfabeta e mal guiada. Mas não podia ele prever a vaga de fundo que, do leito oceânico, se ergueu. Uma vaga paga a peso de ouro... que digo? Uma vaga que vale o seu peso em ouro e que o levou a escutar o coração e a esquecer a razão. Tocante quadro, este! Poucos conheço, aliás, que mais mereçam ser lançados na tela ou esculpidos no mármore.
Pois ele sabe que administrará genialmente o Sporting, mesmo desconhecendo que modalidades ali se praticam ou onde se situam os serviços principais. Filipe Soares Franco é homem que se orgulha de uma perfeita ignorância da história e figuras do Sporting, detalhes práticos que preocupam os espíritos subalternos, mas que teimam em toldar a mente aos dirigentes avisados e em desviá-los do seu frondoso caminho. Tanto a esta alma severa e forte repugnam as moles condescendências e as vãs piedades!
Votem neste homem, sportinguistas. Com Filipe Soares Franco, está garantido que o Sporting não terá um centímetro quadrado de património porque essa não é, sublinhe-se, a sua vocação. Filipe Soares Franco trará ao Sporting o conhecimento e a experiência do verdadeiro homem em chinelos e robe-de-chambre. E isso não tem preço.

quarta-feira, abril 12, 2006

Não Diguem Isso

Há quem faça colecção de selos, de postais ou de dedos decepados das vítimas de canibalismo desenfreado. Eu colecciono discursos do presidente do Benfica. Acho-os inspiradores. Românticos. Irresistíveis (ver aqui um exemplo). Esta semana, tive acesso às palavras moralizadoras de Luís Filipe Vieira na Casa do Benfica de Cebolais de Rabacinas (concelho de Sarnadas de Ródão), onde o presidente se deslocou expressamente para tentar vender kits de sócio. Não vendeu nenhum, é certo, mas já ficou apalavrado que tentará vender um na próxima saída precária do Nelinho Canhoto. Exemplo mais do que suficiente para constatar que o Benfica está vivo. Esmagado por um rolo compressor, mas vivo!

Benfiquistas,
Diguem o que disserem por estes dias na imprensa, a época do Benfica foi fantástica. Vaiam descansados para casa porque o futuro é nosso. Os jornalistas aqui presentes bem podem tentar tirar rabos da púcara que eu não direi mal do senhor Koeman. É verdade que as substituições têm sido sempre erradas e deixaram a equipa em papos de aranha. Mas o senhor Koeman percebe muito de futebol e a direcção não interefere com a gestão do futebol. Como diz o povo na sua infinita sabedoria, cada macaco no seu gay.
Os benfiquistas têm de perceber que querer ganhar a Champions é, como o poeta dizia, querer meter o focinho na Rua da Betesga. E por estranho que pareça, ele não cabe lá. [aplausos]
Lutando pelo campeonato e pela Champions, nós quisemos matar dois coelhos com uma queijada. Não conseguimos. Sobraram coelhos e faltaram queijadas! Essa é que a verdade que os jornais não diguem. [assobios de indignação].
Facem-me um grande favor, benfiquistas. Estou-vos a dizer-vos que, no próximo ano, ganharemos o Campeonato, a Taça e a Champions. Eu não me acredito que assim não seja. E luto todo os dias para que os benfiquistas não deixem de se acreditar disso. [aplausos]
Estou-le a dizer, amigo benfiquista, que não le quero vender banha de cobre. Uns andam com a pulga atrás da ovelha. Outros, como nós, sabem que não se fazem amuletos sem partir ovos. Os ovos já está partidos, benfiquistas. Para o ano, teremos amuletos. [ovação]
Deiam uma resposta convincente aos inimigos do Benfica. Ter sucesso no futebol português é como encontrar um pulha num palheiro. Mas eu quero aqui e agora assegurar que encontrarei esse pulha e esse palheiro. [muitos aplausos]
Meus senhores, muito obrigado.

terça-feira, abril 11, 2006

Toma, toma!

Gosto do Atlético de Madrid. Como também gosto do Partizan de Belgrado, do Colónia, do Club Brugge, do Celtic e do River Plate, por exemplo. Por oposição, o meu ódio visceral vai para o Real Madrid. Mas outros há pelos quais destilo um profundo desprezo: o Bayern de Munique, a Juventus, o Olympiakos, o Estrela Vermelha de Belgrado, o Anderlecht, o Glasgow Rangers e o Boca Juniors, por exemplo. Mas também prefiro o Vlaznia Shkoder ao SK Tirana e o Metalurgs Liepaja ao Skonto Riga.
As razões das minhas preferências são, muitas vezes, perfeitamente imperceptíveis e até eu próprio tenho a perfeita noção disso – umas vezes porque não gosto do emblema, outras porque gosto de determinado equipamento e algumas vezes porque não me agrada o tecido e a textura com que são fabricados certos calções e meias. Tudo é um pouco instintivo e, admito, a roçar a irracionalidade.
Gosto, verdadeiramente, do Atlético de Madrid – é nele que me revejo. O popular Atlético “é” o Sporting de Espanha. E, obviamente, o Real Madrid “é” o Benfica de lá. Como os Bayerns, os Arderlechts e as Juventus “são” os Benficas de cada país. Como sportinguista, não me custa admitir que o Benfica tem mais adeptos (no mínimo 6,5 milhões, no máximo dos máximos 450 milhões, metade dos quais chineses que aderiram à compra do cartão kit-sócio) e, indiscutivelmente, mais trofeus nacionais de futebol. Os Partizans, os Rivers, e os Club Brugges têm algumas coroas de glória, mas estão num patamar inferior em relação os seus rivais locais que acumulam mais títulos – São os Sportings de lá.
Herege, clamarão uns, traidor, gritarão outros. A estes, faço ouvidos de mouco. Nasci, sou e serei sempre do Sporting – e com enorme orgulho. Mas há coisas que só acontecem ao Sporting: os golos mais estúpidos do mundo são sofridos pelo Sporting, o clube mais azarado nos sorteios é o Sporting, as maiores injustiças são cometidas contra o Sporting. Em compensação, o Benfica marca golos das formas mais improváveis (os chamados golos à Benfica, em que a bola bate na barreira, ressalta num tufo de relva, vai à barra, ao poste, cai na cabeça do guarda-redes, esbarra no cotovelo do árbitro – ou do Luisão, dou as duas opções à escolha – e entra), é protegido pelos deuses da fortuna e pelos deuses do apito e, claro, tem a habitual “vaca leiteira” nos sorteios.
É por isso que eu e os restantes adeptos sportinguistas festejamos como se a vida acabasse no dia seguinte qualquer glória que o clube alcance. Um título de campeão, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, uma taça amizade, o trofeu de melhor marcador, um torneio nacional de tiro aos pratos – aqui, até temos uma medalha olímpica (tomem, tomem!). Principalmente, qualquer vitória sobre os “encarnados” sabe a pato (não é, Bulhão?). Pessoalmente, o dia de felicidade suprema seria aquele em que, na mesma época, Sporting, At. Madrid, Partizan, Colónia, Brugge, Celtic, River Plate, Vlaznia Shkoder e Metalurgs Liepaja ganhassem os campeonatos de cada país. Impossível? Nunca se sabe. Para já, fico muito contente se ficar em segundo lugar do campeonato e ter entrada directa na “champions”. Sobretudo, como adepto e sócio de um clube tão especial como o Sporting, por ficar à frente do Benfica. Isto é sinónimo de inferioridade e pequenez? Que seja, mas ficamos à vossa frente – entoem comigo a musiquinha... toma, toma!

Primeiro Candidato a Post do Ano de 2006

Relato arrepiante. Aqui.

segunda-feira, abril 10, 2006

No Alfa Pendular

Imagine-se no interior do Alfa Pendular Lisboa-Braga ou, se for bairrista, Braga-Lisboa. Como sabe, a viagem para sul é muito mais rápida do que para norte, uma vez que, evidentemente, o comboio vem a descer.
Um dos exercícios mais arrojados é tentar usar a cabine sanitária de acordo com os fins que os projectistas, um dia, sonharam. O chocalho do comboio em velocidade de cruzeiro perturba invariavelmente o direccionamento do jacto. As súbitas acelerações e o consequente atrito imposto pelo corpo em sentido contrário provocam danos irreparáveis na cabine e na auto-estima do passageiro. Invariavelmente, aquele que seria um acto de alivio transforma-se num acto de humilde contrição. Atrevo-me a reconhecer que só os passageiros com muitos quilómetros férreos nos gémeos dominam a arte. Os outros, os principiantes, imitam um aspersor de relva e fazem o melhor que podem.
A época do Sporting, perdoem-me os puristas, foi assim. Em Outubro, discuti sem complexos se esta seria, ou não, a pior equipa do Sporting dos últimos 30 anos. Não era – como a segunda volta inequivocamente o demonstrou. Mas Paulo Bento espremeu o limão até ao caroço.
Como na metáfora – parva, bastante parva mesmo! –, Paulo Bento, perante os solavancos do comboio, equilibrou-se o melhor que pôde e soube. Com a estação terminal à vista, peço-lhe apenas que não molhe as calças com os últimos chocalhos. Deus sabe que eu, na última quinta-feira, no Alfa de Braga, não consegui. Sabe Deus e sabe porventura a equipa sanitária da CP.

sábado, abril 08, 2006

Justo...

Têm melhor plantel. Fizeram melhor exibição. Não jogaram flagrantemente melhor, mas foram superiores. Mereceram mais. Quando assim é...

Para a semana há mais.

sexta-feira, abril 07, 2006

Receita para Sábado

Por uma vez, vamos todos apoiar um projecto do engenheiro Sócrates. Vamos tratar os onze jogadores do FC Porto como resíduos industriais perigosos e vamos CO-incinerar o ADRIAANSE.
Co-incineração amanhã, às 20h45. E não vale a pena chamarem o careca míope da Quercus.

quinta-feira, abril 06, 2006

No Início, Era o Verbo

Nós, país futebolístico, podemos não valer muito na Europa. Podemos ter o condão de transformar qualquer vitória medíocre num feito da gesta lusitana. Podemos albergar e suportar a imprensa mais patrioticamente tonta do hemisfério norte (há, no Congo, jornais muito piores). Podemos não ter outro remédio que não seja escutar os gemidos lânguidos do Paulo Catarro na estação pública. Mas na luta sangrenta do vocabulário ninguém nos ganha!
Há três anos, José Mourinho pôs o mundo a falar no autocarro estacionado à frente da baliza. Até os ingleses adoptam já a cretinice. Cunhámos uma frase e a Europa, impressionada, implementou-a.
Tenho esperança que o mesmo aconteça com a nova variante do autocarro. O promotor foi o linguista consagrado que é José Veiga. Mourinho cunhou a história do autocarro estacionado na área. Veiga explicou o desaire catalão com o autocarro desviado do percurso original.
Não terá o mesmo encanto, é verdade. Não é à toa que um assina contratos pelo Chelsea e outro está inibido de assinar o que quer que seja. Mas lá que a frase não é tonta, lá isso não é.

quarta-feira, abril 05, 2006

São Papoilas, Senhor

Uma rápida visita aos blogs futebolísticos mais emblemáticos revela o erro de percepção em que a generalidade dos bloggers, jornalistas e espectadores lavrou.

A verdadeira questão não trata de saber se Moretto defendeu muito ou pouco. Se Léo falhou redondamente à esquerda e Rocha à direita. Se a altura de Luisão é útil apenas para mudar lâmpadas e limpar o pó ao topo dos móveis. Se Anderson parecia uma marioneta descoordenada. Se Simão pareceu ainda mais pequeno. Ou se Koeman está mais bonacheirão desde que chegou à Luz.

A verdadeira questão gerada pelo jogo de Camp Nou é uma - e uma só: alguém reparou de que cor estava vestido o guarda-redes do Barcelona?

segunda-feira, abril 03, 2006

Levantai-vos, Vamos!

Tenho enorme dificuldade em tratar com sobriedade os temas fracturantes. O leitor não desconfia, mas, debaixo da carapaça do cronista imparcial e justo (sim, sim), vegeta um ou outro ódio de estimação. Como sabe, nos compromissos europeus dos clubes portugueses, os promotores deste blogue são tomados por um frenesim apaixonado pelas cores nacionais. Também são normalmente tomados por um frenesim copulador, como um grupo de efemerópteros insaciáveis [não um pelo outro, ó mal intencionados!], mas eu nunca lhe atiraria isso à cabeça, leitor. As proezas sexuais de cada um ficam remetidas para a privacidade que merecem: as páginas de um blog, de preferência com fotos picantes recolhidas com máquina fotográfica camuflada. Mas divagamos.
Faltam-me as palavras e embarga-se-me a voz quando lhe peço, leitor, intensa mobilização para o jogo da Catalunha. Neste post, tomei emprestadas as famosas palavras de incitamento que compuseram o título do dinâmico último livro do papa João Paulo II, ele também um bom líder da Curva, capaz de orquestrar belos tifos, como diria o Megafone. Levantai-vos, vamos! Façamos um cordão humano pelas cores nacionais.
Sim, é verdade, o Benfica está nos quartos-de-final fruto de um apaixonado acordo entre a Providência e a Fortuna. Sim, é verdade, este Benfica que empatou duas vezes com a Naval, não merece ganhar ao Barcelona. Sim, é verdade, dá volta ao estômago verificar que este Benfica andou à estalada no aeroporto por um guarda-redes que chumbaria seguramente no teste de código de estrada, tamanho é o desacerto a interpretar prioridades nos cruzamentos.
Mas peço-lhe, leitor, que esqueça tudo isso e se mobilize pelo Benfica. Porquê?, perguntará. Esta semana, no auge de uma discussão acalorada, comprometi-me a marchar em pelota pelo bairro da Bica nos santos populares se o Barça ganhasse por quatro ou mais golos! Convenhamos que nem eu, nem a cidade, estamos preparados para um desafio dessa grandeza (a palavra “grandeza” aplica-se aqui com invulgar propriedade). A Bica está ruim, lá isso está, mas não merece castigo tão grande.
Por isso, junte o seu grito ao nosso e peça clemência pelo Benfica aos senhores do Barcelona. Uma derrota por mais de quatro golos é castigo severo de mais. Para o Benfica, para Lisboa e... para mim! Era giro, mas terá de ficar para outra vez.

domingo, abril 02, 2006

Os Emprestados

Há poucas coisas mais irritantes do que sofrer golos de jogadores emprestados. Há quem diga que prender uma parcela relativamente grande do escroto no fecho éclair custa mais, mas eu não caio nessa. Sofrer um golo marcado por um jogador emprestado é a traição suprema, é fogo que arde sem se ver. Leva-nos à frustração de verificar que, afinal, os nossos dirigentes não são tão mafiosos como pensávamos. Não conseguiram, sequer, obrigar o menino em causa a simular uma lesão, como o FC Porto costuma fazer com os Brunos Vales e os Macieis.
Entendamo-nos: sou frontalmente contrário à ideia peregrina de um jogador emprestado jogar contra o seu clube empregador. Nem comecem com a treta da verdade desportiva e do moralmente correcto. Se eu quisesse ser moralmente correcto, tinha-me feito ajudante do sacristão na Igreja de Santo António dos Cavaleiros. Não fiz e agora já é tarde para usar a batina... a não ser que sirva para catrapiscar a Soraia Chaves. Aí já uso o que ela quiser.
Admito que a noção possa ser peregrina, mas eu gosto mais de ganhar do que perder. Por que diabo hei-de facilitar a vida ao clube que vai jogar contra mim? O empréstimo tem essa dupla função pedagógica: vemo-nos livres dos produtos fora de prazo que temos na despensa e dificultamos a vida aos nossos rivais directos quando eles jogarem com o clube contemplado com o empréstimo. Por rival directo, entendo naturalmente o FC Porto e o Nacional da Madeira.
Historicamente, o departamento de futebol do Sporting é o sector mais ingénuo de toda a Criação. Contra nós, não há gato pingado que não jogue. A maioria, coitados!, só faz asneira: não foi à toa que foram empurrados para fora do barco. Mas, de vez em quando, uns golitos do Silva ou do Wender dão que pensar.
Com a excessiva importância que normalmente costumo atribuir aos meus pensamentos originais, permito-me sugerir uma modificação protocolar: daqui para a frente, contratualizem com os clubes em causa cláusulas castradoras. Redijam acordos que blindem a utlização de jogadores emprestados e, já agora, que obriguem os clubes em causa a perder os duelos directos connosco. Não tenham problemas de consciência. O FC Porto e o Benfica fazem-no há anos.
Caso contrário, teríamos tristemente de concluir que seria mais proveitoso emprestar os jogadores excedentários a clubes de divisões secundárias portuguesas ou espanholas. É uma solução brutal – acusarão os leitores mais sensíveis. É verdade. Mas, ao longo do curso da história, o destino dos sensíveis e moralmente equilibrados foi sempre o mesmo: foram esmagados pelos brutos e irracionais. Como eu.