Por norma, não tenho nada contra as virgens, as pessoas que fazem greve de fome e os açorianos. Perante a adversidade, reagem como podem, fazendo sacrifícios em nome de um bem maior. No caso das virgens, à espera do homem/mulher certo; no caso dos grevistas de fome, à espera de um hambúrguer; no caso dos açorianos, à espera do avião que os leve dali para fora.
Quando as coisas são bem explicadas, eu normalmente dou a mão à palmatória. Só a mão, naturalmente, que isto ainda é um blogue de boas famílias. Tem aliás a minha licença para, se daqui lhe pedirem para dar mais do que a mão, desatar a berrar repetida e freneticamente a palavra “Alerta”, enquanto olha, esgazeado, para o infinito e dá sonoras palmadas com a mão esquerda na sua própria testa. Não vai adiantar muito, pois ninguém sairá em sua defesa, mas sempre se ensaia uma daquelas cenas de teatro experimental que a minha mulher me obriga a ver, em que só está em palco um mau actor, sem cenário, com um pano preto em fundo e em que boa parte do tempo é consumido com gritos penetrantes que supostamente significam que a personagem está a descer à loucura, mas, na verdade, significam que os dez euros do bilhete poderiam ter sido utilizados com mais proveito para lavar o carro, observar uma parede de tinta a secar ou comprar um pobrezinho no Banco Alimentar. Mas adiante.
Margarida Menezes, de 26 anos, fundou o clube das virgens. Feliz por este marco na história do movimento associativo, a Margarida não só certifica que ainda ninguém lhe tocou como grita o facto a plenos pulmões. Ao “Correio da Manhã”, por exemplo, a Margarida disse que a sexualidade é tão importante que deve ser vivida como um momento definidor a dois entre a mulher e o seu príncipe encantado. Dada a publicidade da campanha, quer-me parecer que a Margarida tem razão. De facto, o seu momento definidor vai ser vivido só entre ela, o príncipe, duas estações de televisão e três jornais. Tudo muito privado, claro.
Ora, da última vez que espreitei, este era um blogue de desporto. Onde está o elo desportivo, perguntará o leitor que não deixa passar nada. Pois bem, desempregada mas com a virtude intacta, a Margarida enviou o currículo a todas as instituições meritórias de que se lembrou. Não teve respostas.
Começou então a mandar currículos onde sublinhava o seu papel na fundação do clube das virgens. Segundo o
“Correio da Manhã”, houve uma entidade, pia e pouco dada ao chavascal, que a aceitou. A Margarida é hoje a nova guia das visitas ao estádio do Sport Lisboa e Benfica.
Parece uma daquelas anedotas que começam por “havia um bêbado, uma virgem e um gajo de bigode”, mas não é. A virgem trabalha mesmo para o Benfica. E vai o dar o corpo ao manifesto.