Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sábado, setembro 26, 2009

Detesto ter razão nesta matéria...

... mas tive e voltarei a ter se a opção for repetida.

Já agora, se o Ricardo Peres, de facto, trincou a namorada do Duarte Gomes, devia ser do ordenado dele que saía o dinheiro para pagar as suspensões do Polga, do Veloso e do Paulo Bento. Era mais justo!
Se eu mandasse, resolvia-se assim:
Puto Duarte, dá um murro ao puto Ricardo. Pronto! Já estão quites.
Agora não fod** o Sporting, que não tem culpa nenhuma.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Inspirem-se, rapazes

Foi há 22 anos. Deu porrada de meia-noite. Mas valeu a pena. (aqui)

terça-feira, setembro 22, 2009

Carta aberta a Paulo Bento

Meu caro Bento,
És uma das mulas mais teimosas que já conheci. Isto é uma qualidade, atenção. Colocados na arena perante a ameaça do touro, há genericamente dois tipos de homem: o que perde o controlo do esfincter e treme como varas verdes e o que sente o sangue a gelar nas veias, mas arregaça as mangas e não se desvia um milímetro da besta. É por isso que há forcados que pegam o touro de caras e há outros que ficam para rabujadores. Toda a bancada reconhece que tu pertences ao primeiro grupo e o teu antecessor nem para o segundo servia.
Tens regras e códigos de conduta que cumpres escrupulosamente. Tens ideias e conceitos dos quais não abdicas. E tens uma filosofia que pode não ser popular, mas é coerente. Não tens porém aquilo que o Ângelo Correia definiu muito bem no “Sol” da semana passada: falta-te... mundo. Conheceres o mundo, saberes o que se faz noutras realidades e como se faz.
Teimas com a aposta na dupla Carriço-Polga desde Novembro do ano passado. Quanto mais a bancada protesta, mais tu fincas os pés na areia e marcas posição. É essa a dupla que te parece mais capaz e dela não abdicas nem que chovam picaretas. Já te chamámos todos os nomes e já te cuspimos, mas tu preferes quebrar a torcer.
Vou-te contar uma história. Em rigor, não fui eu que a inventei. Foi o Hemingway, que também percebia de touros, de whisky e de gajas (por esta ordem). Em “O Velho e O Mar”, há um pescador tão teimoso como tu. Chama-se Santiago e está em maré de azar. Nunca desiste, porém. Um dia, deita o anzol ao mar e captura o maior espadarte que já viu. O peixe morde, e puxa, e resiste. E o Santiago não larga a cana. O peixe puxa-o para o mar alto, quase afunda a embarcação. E o Santiago não larga a cana. Quer mostrar aos outros que tem fibra e convicções. Faz-te lembrar alguém?
O peixe enraivecido puxa o anzol. Leva o barco para o mar alto. As mãos do pescador já estão em sangue. O Sol inclemente queima-o. E o Santiago não larga a cana. Pelo caminho, aparecem tubarões. Rondam a presa. Debicam-na. E o Santiago não larga a cana. Com toda a força, puxa-a para terra, onde descobre que os tubarões lhe deixaram apenas a espinha do espadarte. Santiago ganhou a batalha da resolução, mas percebeu que há alturas em que é mais útil largar a cana.
Por amor de Zeus, desfaz a dupla defensiva. Senta o Polga ou o Carriço no banco ao teu lado. Coloca o Tonel em campo.
Larga a cana. Nunca levarás esse peixe intacto para terra.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Brilha luz ao fundo do túnel do Sporting?



Sim, é um comboio que circula na direcção contrária.

segunda-feira, setembro 14, 2009

“(…) Nos chamados macacos-jantareiros, à semelhança do que sucede nos idiotas, os sinais d'alegria aumentam quando a comida é de borla, ou em casos pagantes, quando o criado do restaurante errou a conta para menos. Mais: substituindo alguns dos pratos por palha, o animal dá profundos sinais d'irritação” – Fialho de Almeida

Tinha Mário Patrício, director-desportivo do Sporting com o pelouro das modalidades, como mais um dos macacos-jantareiros de que falava o Fialho, alguém que encontrara mais uma maneira de sugar do Sporting um ordenado e reconhecimento público. Chegou-me entretanto às mãos o livro “Casos de Sucesso em Marketing Desportivo” (Livros d’Hoje) onde foi incluído um ensaio de Patrício sobre o eclectismo. Como acontece com muita frequência a Pina Moura e a mim, mudei radicalmente de opinião. Há ali material para reflexão.
A argumentação assenta numa premissa curiosa: ao hiato futebolístico entre 1982 e 2000, a que em Alvalade chamamos o “período da Grande Fome”, não correspondeu uma quebra de fervor associativo, muito por culpa dos êxitos das modalidades. Patrício defende convincentemente que o Sporting não se desmembrou então porque o associado continuou a rever-se nos feitos olímpicos do atletismo e nacionais do ciclismo, do andebol e do hóquei. Ora, a extinção de três modalidades de pavilhão em 1995, o progressivo desinvestimento nas duas restantes (futsal e andebol) e a demolição do velho estádio e da Nave afastaram muitos associados do clube.
O Sporting futebolizou-se como nunca, e o jejum desportivo iniciado em 2002 é agora acompanhado pela desmobilização de adeptos que não têm praticamente mais nenhuma muleta de apoio. Por muito que respeitemos o ténis-de-mesa ou o futsal, ganhar troféus a agremiações de bairro como o Novelense, o Freixieiro ou o Benfica não tem qualquer relevância. É consensual portanto que falta recuperar as modalidades clássicas de pavilhão e dotar as respectivas equipas de meios para ganhar.
Aí é que a porca torce o rabo. Em Março, o Sporting encomendou um inquérito de opinião aos associados e descobriu que a maioria quer um novo pavilhão e perto do estádio; quer mais modalidades colectivas; aceita o princípio de que as modalidades devem continuar, mesmo sem patrocinadores. Mas recusa esmagadoramente que se sacrifique o orçamento do futebol em nome do eclectismo. Por outras palavras, queremos (sou um dos associados que respondeu ao inquérito) o jantar e não o queremos pagar.
Fica, pois, o paradoxo: numa altura em que as muito badaladas gameboxes do andebol e do futsal venderam menos de cem unidades, o que queremos do eclectismo? A relação do associado do Sporting com o ecletismo tornou-se um pouco como a relação do lisboeta com a Sé: ninguém lá vai, mas sentimo-nos todos um pouco melhor porque ela lá está.
No fundo, adaptando o Fialho, não somos mais do que “a turba acéfala, alternadamente feroz e sentimental (tarada em todo o caso), que faz as vezes de povo – uma força de inércia sem a menor consciência de si própria e que, no estado de bestialidade africana em que jaz, tão cedo não pode ter papel na marcha” do clube.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Limites do que posso dizer

Uma multidão de comentadores credíveis, perfumados e bem documentados, mais o Pietra e o Diego, questionaram as minhas motivações, alegando que escrevo sobre o Benfica genericamente com três intenções: por um lado, para sublimar uma tragédia antiga, que deixou cicatrizes profundas naquilo que Freud chamou o meu espírito humano (em rigor, Freud falou só do espírito humano dele, até porque não nos conhecemos bem e ficar-lhe-ia mal falar do espírito dos outros assim, sem mais nem menos). Em segundo lugar, alega-se que escrevo sobre o Benfica porque me roo de inveja de tudo o que se passa naquela casa, e gostava de ser como eles, e o João Gabriel tem a capacidade discursiva de Moisés na fase do mar Vermelho e mais não sei o quê. Por fim, escrevo sobre o Benfica porque – e cito de memória – sou um anormal. Para rebater estas teses, sobretudo a terceira, terei de ensaiar algumas ideias sobre a origem e função do humor. Prepare-se, pois, para um dos textos mais chatos que alguma vez lerá.

Imagine o cenário: à porta de uma igreja onde se realizam reuniões periódicas de grupos de auto-ajuda, alguém cola um cartaz com esta inscrição: “Nota para os participantes na reunião do Grupo de Apoio às Pessoas com Falta de Auto-Estima: usem por favor a porta das traseiras”. A mensagem, como qualquer outro texto, está sujeita a diversas interpretações. Pode ser uma formulação infeliz mas bem intencionada de um recado útil. Pode ser intencional, destinando-se a aliviar o constrangimento dos participantes. Pode ser intencional e maldosa, marcando a superioridade daqueles que não necessitam de ajuda. E pode não ser intencional, mas divertir na mesma pela sua incongruência e inadequabilidade. Peço portanto aos senhores que não generalizem a minha suposta velhacaria em função de um só texto. E todos os que o fizerem são parvos (só eu é que posso generalizar, está bom de ver).
Os políticos usam o humor no seu discurso com duas funções básicas: para unir a sua audiência em torno de uma causa ou para a separar da oposição, ridicularizando as suas posições. Se eu quiser juntar toda a gente que me lê — e nesta fase do texto, “toda a gente que me lê” estará reduzida a quatro pessoas que já não conseguiram comprar o “Público” e lamentaram não haver mamas na capa do “24 Horas” –, faço uma piada sobre o Queiroz. Se eu disser: “Uma vez iniciados, os discursos do Queiroz nas conferências de imprensa são a coisa mais parecida com a vida eterna que existe no Planeta”, tenho boas probabilidades de não chatear ninguém. Mas não o faço. Pela lei das probabilidades, deverá haver muito mais benfiquistas neste espaço do que adeptos de outros clubes. Logo, um texto sobre o Benfica é um acto de valentia. Também é cobarde porque me refugio num pseudónimo, privando os senhores da oportunidade de me açoitarem, o que, convenhamos, seria merecido, mas é uma espécie de valentia cobarde, como a do Guterres quando se pisgou para os refugiados ou a dos refugiados quando quiseram devolver o Guterres. E isso deveria ser sublinhado.
Por outro lado, as pessoas riem-se abertamente dos outros quando sentem uma certa superioridade. Rir da ignorância alheia é uma reminiscência do papel do bobo da corte, que educava os cortesãos através do riso, reforçando pela demonstração o que era, ou não, tolerável. Ora, como os adeptos do Sporting e do FC Porto bem sabem, somos muito superiores aos benfiquistas. E não me refiro só às questões de higiene ou ao conhecimento adquirido sobre a posição certa em que o ser humano deve conquistar o bidé. Somos um grupo superior, essa é que é a verdade. Num país grande como o nosso, com fronteiras sempre em mutação, onde se falam mais de cem línguas e dialectos e onde não há uma religião maioritária, é fundamental marcar as diferenças entre gente que vive a meia-dúzia de quilómetros uns dos outros.
Por isso, estigmatizo o inimigo, inventando características que ele seguramente não tem, como o bigode, os arrotos, os fatos-de-treino, o José Manuel Delgado ou o facto de terminarem quase sempre em terceiro lugar. Faz parte de uma estratégia pérfida para impedir o leitor de constatar a grandeza do Benfica.
Fica feito o esclarecimento.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Eu, na piscina do Sporting

Eu: Ó menina.
A recepcionista do Multiusos do Sporting: Humm?
Eu: Lembra-se me de ter dito que o meu relógio aguentava bem a água da piscina?
Ela: Humm?
Eu: Pois aconteceu uma de duas coisas.
Ela: Diga.
Eu: Na primeira hipótese, o relógio efectivamente parou. Estragou-se. Entregou a alma ao Criador.
Ela: O quê?
Eu: Na segunda hipótese, talvez mais perturbadora, o tempo, na concepção einsteiniana, tomou a mesma forma em todos os referenciais inerciais, tornando-se relativo como conceito operacional.
Ela: Não estou a perceber.
Eu: Sendo t o tempo de ida medido pelo observador em repouso em relação ao relógio que se afasta para a direita com velocidade v, a distância entre os espelhos, ct, permite antever que um intervalo entre dois acontecimentos que ocorrem no mesmo ponto de espaço, s e t, e o intervalo de tempo entre os mesmos dois acontecimentos que ocorrem em pontos diferentes do espaço, é variável. Ou seja, o tempo dilata.
Ela: Mas o que é que pretende?
Eu: Gostava que percebesse que o observador de s vê o tempo dilatado em relação ao tempo próprio medido em s’.
Ela: Mas eu não percebo nada do que me está a dizer.
Eu: Menina, ou o tempo parou à 1 hora e 40 minutos de hoje e isso quereria dizer que o futuro daqui para a frente será um eterno presente, ou a merda do relógio estragou-se com a água da piscina.
Ela: Ah! As reclamações são ali naquele balcão.

terça-feira, setembro 08, 2009

Eu vi um sapo


Há muitos anos, deixavam-nos fazer uma experiência bárbara nas aulas de Física. Tínhamos um tacho cheio de água ao lume e colocávamos no interior um sapo. Se aumentássemos bruscamente a temperatura, o sapo pisgava-se pela janela e, enquanto agitava as membranas interdigitais, quase jurava que proferia a frase “Eu é que não sou parvo!”. Mas se aumentássemos gradualmente a temperatura, o sapo imitava o Polga e não se mexia. Mais quente: 70ºC, 80ºC, 90ºC. Nada. O que acontecia aos 100ºC? Duas coisas: a água fervia e o sapo cozia. (se só adivinhou metade da pergunta, passe por favor nos recursos humanos e peça um livro bonito para colorir enquanto eu acabo de contar a história). O sapo ficava estupefacto com o que lhe estava a acontecer e não esboçava reacção. Não tinha nos genes resposta para uma degradação faseada do seu ambiente. Pois eu proponho aos senhores que os adeptos de futebol também não. Mas já lá vamos.
Conhecem-se por fim mais peças do enigma financeiro que constituiu o Verão do Benfica. Luís Filipe Vieira reconheceu ontem que os 25 milhões gastos no mercado durante o Verão foram concedidos por uma instituição financeira, que aceitou o contrato publicitário com a Sagres como garantia. Evoluímos do “são capitais próprios” e do “Benfica não precisa de se financiar” para uma tese mais verosímil. É como o Cergumil: custa um pouco a engolir, mas vai fazer bem.
Não é pecado, reconheçamos. Quando o Benfica olha para o espelho, vê nele reflectido uma caricatura do Real Madrid português, uma obsessão deslocada com um prestígio europeu em farrapos e uma supremacia interna que se instalou de armas e bagagens no Porto. E sonha, como os velhos latifundiários bolorentos da província, com o antigamente e com o respeito que se esfumou. Como o adolescente que cola posters de pop stars na porta do roupeiro, o Benfica quer ser o Real. Está disposto a imitá-lo, a exibir os mesmos comportamentos extravagantes se puder provar um trago do cálice da fama.
No Norte da Tailândia, a cultura Karen (sem relação com o Jardel) acredita há várias gerações que a divinização celestial pode ser obtida através do sofrimento terreno. Por isso, desde tenra idade, colocam-se aros dourados no pescoço das meninas, de forma a alongar o pescoço, deformando irreversivelmente os ossos à custa da pressão. A partir de determinada idade, as senhoras já não podem retirar os aros, pois os ossos do peito foram esmagados e o pescoço não aguentaria a ausência de sustentação.
Há duas lições a retirar desta aula antropológica. A primeira, obviamente, é que foi um gajo a inventar este ritual e foi particularmente engenhoso porque postulou, logo à partida, que os homens não precisam dessas merdas – a divinização celestial pode ser obtida a ver a SporTV. A segunda lição é mais profunda: pode-se fintar a natureza durante algum tempo, pode-se imitar o que não somos, mas chega sempre uma altura em que temos de nos apoiar nos alicerces – sólidos ou frágeis – que forjámos.
Quando retiram os aros, as senhoras tailandesas morrem rapidamente. E ao Benfica, quando retirarem o crédito, o que ficará?
E os adeptos: percebem ou deixam-se cozinhar lentamente, como o meu sapo?

(Informa-se a estimada audiência que, para a realização deste texto, foram queimados quatro sapos com particular selvajaria. Este projecto foi financiado pelo VI Quadro Comunitário de Apoio aos Verdugos de Anfíbios).