Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Pensar como "A Bola"

Reunião de redacção de “A Bola” em Julho do ano passado.

Chefe de redacção — Então, vamos lá ver: quem será o prémio Regularidade do jornal no final da próxima época? Quero ouvir propostas.
Jornalista 1 – E… E se fosse o Liedson?
Chefe de redacção – Se era uma piada, não achei muita graça. Não queres abrir a caixa que deu origem a todos os males, a caixa de Tandoori, pois não?
Jornalista 1 – Desculpe, chefe, não torna a acontecer.
Jornalista 2 – E se fosse alguém do Braga? O professor Jesualdo é tão amigo desta casa.
Chefe de redacção – Não é mal pensado, não senhor, mas o Benfica perdeu lá há pouco tempo. Não queremos premiar essa gente, pois não? Isso seria pior do que espetar uma trança em África.
Coro de jornalistas – Não.
Jornalista 3 – E se déssemos o prémio a alguém do FC Porto. É que – se calhar, eu vou dizer uma grande tolice – as pessoas podem desconfiar. Temos o prémio desde 1971 e nunca o demos a um portista.
Chefe de redacção – Se queres processos democráticos, vai para a Coreia do Norte. O regulamento do prémio proíbe-o explicitamente. Isso seria como a lenda do cavalo destroyer: estaríamos a meter o inimigo dentro das nossas muralhas.
Jornalista 3 – Mas já demos o prémio uma vez a um jogador do Sporting…
Chefe de redacção – É para veres o que dá a autogestão. Em 2002, fui tratar de um dente e, quando voltei, já tinham dado o caneco ao João Pinto. Organizei logo uma purga aqui dentro. Aliás, desde então, fiquei com uma purga atrás da orelha.
Jornalista 2 – Ó chefe. E se déssemos o prémio a um jogador do Benfica?
Chefe de redacção – Ora, ora. Não é nada mal pensado. Mas não pode ser o Simão outra vez. Lá diz o povo que não há bela sem Simão.
Jornalista 3 – E… E… E se fosse o Nuno Gomes?
Chefe de redacção – Muito justo. Gosto da tua maneira de pensar, rapaz. Façam constar aos repórteres que ele não pode ter abaixo da nota 7, mesmo que falhe três golos de baliza aberta. E digam-lhe que as apreciações individuais devem sempre designá-lo como “o Nuno”: O Nuno rematou; o Nuno correu; o Nuno teve pinceladas de génio. O Nuno, de tão rápido, provoca ilusões góticas nos defesas.
Jornalista 3 (baboso) – Bravo, chefe. Se me permite, é um prazer ter pessoa tão qualificada à frente dos destinos desta casa.

domingo, fevereiro 26, 2006

Isto só lá vai...

... com outro very-light!

Pergunta de algibeira: que treinador é idiota ao ponto de, em 10 jogos com o Koeman, não ganhar nenhum?

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Benfica-FC Porto

Lembra-se do filme Dr. Strangelove? Havia um ex-oficial nazi, convertido por necessidade em patriota americano, que não conseguia suster o espasmo involuntário do braço. Por isso, de tempos a tempos, fazia, sem querer, a saudação nazi.
Não me ocorre melhor imagem para explicar o que sente um sportinguista na véspera do importante Benfica-FC Porto de domingo. A racionalidade (nos que a têm) sugere que a vitória do Benfica ajuda mais a causa verde e branca. Mas o inconsciente recusa-se a aceitar a ditadura da razão e faz barricadas no córtex pré-frontal, batendo-se pela fé na derrota do Benfica. Há portanto um princípio de guerra civil no cérebro (nos que o têm) dos adeptos.
Para os sportinguistas da minha idade, o FC Porto é um clube justiceiro, o mais parecido que conhecemos com a lenda de D. Quixote. Na longa e escura década de 1980, as principais alegrias desportivas chegaram das Antas: vitórias em série sobre o Benfica; títulos nacionais em catadupa; vitórias europeias amplamente festejadas; as bibotas do Guomes…
Tenho carinho pelo FC Porto sobretudo porque sempre vi à minha volta em Lisboa um profundo desânimo benfiquista com a recém-conquistada glória europeia dos «dragões». Por isso, o calcanhar de Madjer também foi meu. A epopeia de Tóquio também me enregelou. A derrota de Basileia também me marcou. Vivi as glórias do FC Porto com intensidade porque sabia que isso irritava profundamente a odiada massa encarnada. Confuso? Julgo que os psiquiatras chamam a isto esquizofrenia aguda. Mas já estou benzinho, graças a Deus.
Se o Benfica era o rufia que nos fazia passar um mau bocado no refeitório, o FC Porto era, repito, o justiceiro implacável, que repunha os desordeiros no seu lugar. Afeiçoei-me por isso ao FC Porto, com certeza que me afeiçoei.
Esta semana, porém, colocado numa inesperada e difícil posição, debato-me com o dilema: a razão solicita uma vitória dos cotovelos do Luisão. O inconsciente quer gritar a plenos pulmões: Ich bin ein portisten!
Após demorada reflexão, tomei uma decisão: que se lixe a razão! Quem bate palmas, é tripeiro! É tripeiro! É tripeiroooooo!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Uma mãozinha

Ó Odin, chefe dos deuses vikings e senhor do universo. Atrai a tua atenção hoje sobre o Estádio da Luz. Mais ninguém se não tu, filho do gigante de gelo Bor e da gigantesca Bestla, pode contribuir para o desfecho do jogo entre os infiéis, que professam uma fé menor, e os nossos, os descendentes dos nobres vikings.
Se por algum motivo estiveres ocupado, ó nobre Odin, dá uma palavrinha sobre o assunto aos teus manos Vili e Ve. Se não recorremos à família numa altura de aperto, vamos recorrer a quem?
Ainda te podia pedir para que fosse a tua senhora, a Frigg, a intervir, mas, caramba, o futebol é uma coisa de homens. Começamos a deixá-las adulterar um joguinho aqui e outro acolá e quando damos por ela já somos nós que passamos a ferro. E aí não há Valhala que nos valha! Deixa, pois, a Frigg na cozinha.
Aí, em Asgard, chegará a Sportv? Se não chegar, tenho um amigo, que em tempos desafiou o gigante primitivo Ymir, e ele sabe quitar boxes. Não será seguramente por dificuldades tecnológicas que não intervirás no jogo.
Peço-te que, por maior que seja a tentação, não faças o árbitro à tua imagem. Bem sei que pode ser chato ter só um olho, mas se os ladrões do apito já gamam indecentemente com dois olhos, imagina um camafeu zarolho. Se me permites uma opinião muito pessoal, pareceu-me um bocado estúpido abdicares de um olho para ganhar a Sabedoria. Acho que foste levado: tens menos um olho e não pareces muito mais sábio. Mas, enfim, são opções.
As más-línguas dizem que tu ficaste frouxo com a idade. É evidente que é um mito, mas tens de te renovar, ó Odin. Isto de avançar com uma lança na mão não convence a miudagem. Pareces um campino, caramba! Não me obrigues a recorrer ao Thor, que resolve tudo com um martelo e um cinto mágico que duplica a sua força. Isso, sim, são instrumentos de um super-herói!
Voltando à súplica, ó nobre Odin. Dá lá um jeitinho no jogo de hoje – se não, ninguém os cala. Eu não te quero ameaçar, ó Odin. Mas consta que a tua segunda senhora, a Freya, deu umas voltas com o Nuno Gomes. Não deverá isso ser punível com uma lança no esterno? O rapaz anda carente, desde que o João Pinto lhe meteu aquele golo em casa, mas isso não é motivo para cobiçar a mulher dos outros. Não deves querer que eu divulgue essas cavalgadas da Freya, pois não?
Por isso, dá lá uma mãozinha. Um golito gamado; um penalty do tamanho da torre de Asgard; um ou dois lampiões pendurados de cabeça para baixo numa árvore (no caso do Petit, é um bocado mais difícil saber onde estão os pés e onde está a cabeça – mas usa o olfacto). Antecipadamente grato, ó nobre Odin.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

O Diário de Simão

Em exclusivo nacional, o Mãos ao Ar teve acesso à crónica do Guimarães-Benfica afixada no site de Simão Sabrosa. Com a devida vénia, reproduzimos a singela prosa do jogador.

Uma vez mais, a equipa decepcionou os seus adeptos. Defraudou-os. Não foi justa. Como um guerreiro alado, Simão esteve sozinho no campo de batalha. Uma lança na mão, uma pena na outra. Simão foi grande, único, sublime. A sua entrega foi poética, galvanizadora. Desta têmpera se fazem os heróis, aqueles a quem os trovadores dedicam loas e que fazem as senhoras prender a respiração. Mas a equipa não o soube ver, não o soube servir. Os colegas não são dignos de respirar o mesmo ar, de pisar o mesmo solo. De envergar o mesmo jersey. De viver na mesma latitude.
O único jogador com capacidade para decidir o jogo pelo Benfica foi esquecido pelos colegas. Ostracizado. Simão não confia que a maioria deles saiba sequer sentar-se de forma correcta num tampo de sanita, quanto mais que o consiga servir em condições. Simão precisa de génios ao seu lado e não de trauliteiros. Simão é um piano delicado que tem de ser carregado pelos restantes dez grunhos. Simão é uma fina orquídea, que tem de ser tocada ao de leve, como uma gentil carícia de Primavera. Simão não é um arbusto silvestre, como Ricardo Rocha, ou um pedaço de tojo, como Petit. Ou um pedaço ferrugento de ferro torcido, como Moretto.
Generoso como poucos, Simão chegou a correr para trás da linha de meio campo para recuperar duas bolas durante o jogo. Numa das ocasiões, chegou a sujar os calções na lama suja e porca ao escorregar numa poça. Que mais querem, que diabo!, que mais querem?
Estava frio. Chovia a cântaros. Mas Simão não se refugiou no balneário, como o seu estatuto justificava. Com a volúpia criadora de Pigmalião, Simão jogou – e de calções – como que dizendo à tempestade: aqui estou, faz o teu pior.

domingo, fevereiro 19, 2006

Ecos da Província

Não aconteceu, mas poderia ter acontecido. O Apre deu uma ajuda à BBC. Aqui.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Mas Quais Notáveis?

Aviso prévio I: este post usurpa indecentemente um conceito expresso no Eis o Meu Sporting. Mas, se pensarmos bem, o plágio é a forma mais sincera de admiração.
Aviso prévio II: Abusei da sua credulidade, leitor. De forma alguma seria possível incluir a Soraia, o Juary, o Eskilsson, a PT e transgéneros no mesmo post. Está cientificamente provado que não é possível. Considere-se, pois, enganado. Queira reaver o seu dinheiro à saída.

Não é que eu queira insultar a imprensa desportiva. Quer dizer: até quero. Mas hoje limitar-me-ei a ser mordaz. Amanhã, conto ser veemente. Ou, mesmo, irónico, se me chegar a mostarda ao nariz.
Há um conceito, nos clubes e nos partidos, que me faz espécie há muitos anos: os notáveis. Ninguém sabe ao certo quem são, de onde chegam ou de que forma se notabilizaram. Sabe-se apenas – e isso basta – que são notáveis. Vêmo-los de peito feito nas assembleias-gerais e eleições. Rebentam de orgulho como se gritassem a plenos pulmões: sou notável. E tu não és!
Ora, o conceito em si intriga-me. Pense no Benfica. Manuel Boto é sempre identificado como notável do clube. Tenho pensado bastante sobre isso. Notável, notável, só estou a ver a gaguez do senhor, que o torna muito divertido a discursar. Mas parece-me pouco, que diabo!
"O Jogo" de hoje identifica, na lista provável de "vices" de Soares Franco, vários notáveis: Diogo Vaz Guedes, José Maria Ricciardi, José Silva Costa e, especialmente, Filipe de Botton. Humildemente, leitor, reconheço que não sei quem são estas criaturas, nem porque são notáveis do meu clube. Parece-me que o conceito foi um tudo-nada esticado. Filipe de quê???
Até aceito que Vale e Azevedo seja tido como notável. De certa forma, ele deu corpo a uma administração ímpar na história do Benfica. Mas a imprensa insiste em não o escutar como notável. Digam o que disserem, Vale, tu, para nós, serás sempre o notável.
Como o leitor adivinha, eu não tenho a chave para este enigma, pelo que me coloco como Egas Moniz nas mãos da audiência que, porventura, poderá ter resposta para questões que me atormentam:
- O defesa José Fonte foi contratado ao Setúbal e recambiado para Paços de Ferreira sem ter jogado, um minuto que fosse, pelo Benfica. Ora, isso é bestialmente raro. Será Fonte um notável do Benfica?
- Diz que João Rocha está incontinente. Nas palavras, está de certeza - provou-o ontem ao Record. Na bexiga, só ele saberá. Mas essa dupla incontinência, a registar-se, merece seguramente um estatuto especial dentro do Sporting. Será Rocha apenas notável? Não haverá título mais categórico (ocorrem-me alguns adjectivos para qualificar o senhor)?
- Certa vez, ao serviço do Benfica, consegui partir as duas unhas dos dedos grandes do pé no mesmo jogo. Ora isso, reconheçam-no, é pouco vulgar. Chegará para eu ser um notável do Benfica? (credo!)
Ajuda, precisa-se.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Memória

«Estou de acordo com o projecto apresentado por Filipe Soares Franco. Se há instabilidade financeira e há que encontrar soluções, está é viável [a venda do Alvaláxia, do Health Club, do Edifício-Sede e da Clínica CUF], até porque as infra-estruturas do estádio não são importantes. Importante é a Academia
José Roquette, 15 de Fevereiro de 2006, jornal “A Bola”, pg. 9

«Seria de um enorme risco pensar em construir unicamente infra-estruturas [para lá do estádio] se não houvesse a capacidade de as gerir, se não houvesse a capacidade de as dinamizar, se não houvesse a capacidade de as fazer funcionar em termos dos objectivos com que foram criadas.»
O mesmo José Roquette, Abril de 2003, Revista “Eis o Futuro”, editada pelo jornal “Sporting”, pg. 23

Apropriadamente, a entrevista de 2003 tinha como título… O Sonho Não Acaba Aqui

E, depois deste post, prometo que não volto a falar da situação directiva do Sporting até à assembleia-geral. Amanhã, queira deus, afixarei um post que juntará transgéneros, a OPA da PT, o Eskilsson que foi do Sporting, o Juary que foi do FC Porto e a Soraia Chaves. Não perca.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

De Penalty em Penalty

Ok. Um penalty assinalado contra o Sporting até é charmoso. É giro, rimo-nos todos com vontade. Passamos um bom bocado.
Dois penalties ainda são engraçados. Já não são tão histéricos, é verdade, mas ainda têm um certo humor clássico, como um sketch do Raúl Solnado ou um livro do José Rodrigues dos Santos (embora, no caso deste último, não tenho absoluta certeza de que o humor seja voluntário).
Três, quatro ou cinco penalties já passam claramente das marcas. São um sintoma de que os badamecos do apito perderam nitidamente o medo. Escuso de lembrar que, no último mês de competição, assinalaram-se cinco penalties em seis jogos contra o Sporting. Cinco em seis! Que me importa se houve, ou não, falta nos lances em causa? É o princípio que me assusta: começam a marcar-se penalties contra o Sporting e qualquer dia o Benfica já não beneficia de dois golos irregulares por jogo! É assim que começam as revoluções. Devagarinho. Um penalty aqui. Um golo marcado com um jogador do Penafiel estropiado no relvado. Uma mutilação perdoada ao Petit Outro penalty acolá.
Mas, dizia eu, há aqui uma questão de princípio. Há evidências de falta de respeito, de perda de medo. Vi suficientes filmes de mafiosos para perceber que isto é o princípio do fim: um dia, Dom Giuseppe fica de mão estendida para cumprimentar Alberto e Piercarlo; no outro dia, jaz, inerte e crivado de balas, no chão do seu restaurante, com a boca ainda cheia de spaghetti carbonara.
De maneiras que… o que nos resta fazer? Podemos optar pela solução iraniana: espancamos o primeiro árbitro que encontrarmos (não empurrem, meus senhores, chega para todos!), escavacamos aleatoriamente um bairro da cidade (pode ser a Madragoa que é sempre um inferno para lá estacionar!) e culpamos a globalização, os cartoons dinamarqueses e o bigode da Ana Drago.
Mas nós somos um clube diferente, lembram-se? Resta-nos, pois, um único recurso digno: choramingar que temos sido gamados semanalmente e que a gracinha, qualquer dia, ainda nos custa pontos. A estratégia pacifista, aliás, tem tido um resultadão desde 1982.

Ódio de Estimação

De um novo blog, de um velho amigo desta casa, recupero um dos meus ódios de estimação. Vale a pena ler, em Eis o Meu Sporting, o link: Notável.

Com vénia.

domingo, fevereiro 12, 2006

Que Sporting É Este?

Não gosto de Filipe Soares Franco. Nunca gostei. Representa tudo o que odeio numa certa ala do Sporting: presunçosa, elitista, incompetente. Julga que o mundo lhe pertence, servido numa bandeja de prata, pela opulência do berçário que o viu nascer.
Vi-o pela primeira vez em Leiria, em Abril de 2000, no dia de um empate (1-1) entre a União e o Sporting. Lembram-se desse jogo? O Sporting esteve a ganhar até aos descontos, sob chuva inclemente. Um frango do Schmeichel deitou tudo a perder. Os adeptos do Sporting saíram da bancada cabisbaixos, naturalmente preocupados com a perda de pontos face ao FC Porto. Passámos em cortejo pela bancada central da União. E eis que vemos Soares Franco, soltando gargalhadas ao telemóvel, contando a um amigo as peripécias do jogo. Nunca mais tive dúvidas: este bardamerdas não é do Sporting.
Dizem que a grandeza de carácter se vê no momentos difíceis. Naquela noite penosa do ano passado, em que Peseiro e Dias da Cunha bateram com a porta, Soares Franco foi chamado pelo presidente. Foi-lhe pedido que assegurasse a transição até às eleições com uma única condição inegociável: que ele não fosse candidato. Duas semanas depois, Soares Franco assumiu a candidatura. Quod erat demonstrandum! Tem boa espinha o menino.
Faltam doze dias para a data provável de uma assembleia geral decisiva na história do Sporting. No dia 23, vão ser colocadas a voto duas opções estruturais que mudarão o clube para sempre: a venda do Alvaláxia e do Edifício-Sede, por um lado, resumirão o património do Sporting ao estádio. Nem mais um metro quadrado. A adopção do princípio de que, no clube, só continuarão as modalidades lucrativas matará o Sporting ecléctico. Não se iludam, meus senhores. É todo um modelo que irá a votos.
Dirá o leitor que uma direcção de gestão recorrente não tem autoridade para tomar opções estratégicas. Plenamente de acordo. Uma direcção de gestão corrente tem por missão navegar à vista e levar o barco até ao estaleiro para reparações. Não lhe cabe, de forma alguma, tomar opções que condicionem a gestão da próxima direcção, ela sim, legitimamente mandatada. O desrespeito pelos estatutos e pela vontade dos sócios é apanágio desta nova gente que governa o clube desde meados da década passada.
Enquanto o dia da assembleia não chega, o que faz o presidente substituto?
Recolhe apoios na sociedade civil?
Elucida grupos de associados?
Participa em fóruns?
Escreve artigos? Não.
Reúne com membros das claques para angariar apoios. É de homem!
Ao recusar legitimar as claques e os mentecaptos que maioritariamente as dirigem nos tempos que correm, Dias da Cunha cometeu um erro crasso. Erro que Soares Franco, avisado, não quis repetir. No dia da assembleia, não estranhem se, de cada vez que quiserem intervir, forem ameaçados e insultados pela guarda pretoriana do presidente substituto. É assim o Sporting do centenário: democracia à chilena, contabilidade criativa e jogos rasteiros. No campo, a equipa vai ganhando. E os resultados do futebol escondem tanta coisa…

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Até ao meu regresso

Mais ou menos por motivos profissionais, vou ter de me ausentar durante três semanas para paragens longínquas. Por um lado, vou satisfeito por ir para um local paradisíaco, algures no hemisfério sul, onde o sol de Verão faz sentir os seus efeitos; por outro, tenho certa pena de deixar Portugal, mais concretamente o Portugal futebolístico, logo agora que o Sporting se aproximou temerariamente dos seus opositores e, nalguns casos, até os ultrapassou.
Tudo isto para desmentir a calúnia de que fui alvo por parte do Bulhão Pato, dizendo que sou eu, melhor, que a minha presença é nefasta para o Sporting. Já disse e volto a repetir que comemorei quatro campeonatos, 3 taças de Portugal, algumas supertaças e, com muito orgulho, diversos taças amizade. Mais – vi, alguns deles “in loco”, todos os jogos da segunda volta e, que me tenha apercebido, não fui agoiro. Será que, afinal, sou talismã? Não acredito muito nestas coisas da sorte e das superstições, não sou como o Bulhão que acredita que se subir a avenida Padre Cruz ao pé coxinho e a descer num carrinho de rolamentos é premissa obrigatória para assegurar uma vitória do Sporting. Só espero, quando regressar, que o Sporting esteja, no mínimo, na mesma posição e à mesma distância pontual do “Fê-Cê-Pê”. Até lá, vou seguir com o coração numa mão e um copo de caipirinha na outra, os jogos com Vitória de Setúbal, com o Paços de Ferreira e com a Académica. Que a força esteja connosco e que os árbitros não estejam “contranosco”.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Vitória

O título pode induzir em erro. Não, não me estou a referir à garbosa e, nos últimos tempos, depenada águia que costuma esvoaçar sobre o estádio da Luz a pairar sobre as débeis cabeças dos frequentadores daquele espaço lúdico, nem, tão-pouco, à onda vitoriosa que está a acompanhar o Sporting. O título, justiça lhe seja feita, refere-se mesmo ao Vitória Sport Clube, mais conhecido nos meios futebolísticos por Vitória de Guimarães.
Simpatizo com o Vitória, tenho por ele o mesmo sentimento que nutro por outras colectividades que, sem explicação plausível, ocupam 0,000000001 por cento do meu coração leonino – o Idanhense, a Associação Desportiva da Estação, o Sp. Covilhã, o Desportivo de Castelo Branco, a Associação Desportiva e de Acção Cultural de Sarnadas de Ródão, o Futebol Benfica, o Oeiras, o Celtic, o Celta, o Werder Bremen e o Metalurgs Liepaja.
Primeiro que tudo, o Vitória tem sócios, adeptos e aficcionados que são mesmo do Vitória de Guimarães. Aliás, são só do Vitória de Guimarães. Os bracarenses, por exemplo, são mais do Benfica do que do Sp. Braga, os leirienses são mais do Sporting do que da União de Leiria. No Porto, vá lá, vá lá, ainda há mais portistas do que adeptos de outros clubes, mas apenas no Porto-cidade. Na região do grande Porto já é diferente. É certo que quando há confusão nos jogos, quando há pancadaria nas bancadas e quando as equipas adversárias são intimidadas, a maior probabilidade de tal acontecer é em Guimarães. Mas isto porque os seus adeptos são fervorosos, apaixonados e tão aguerridos que facilmente podem ser comparados às hordas hunas de Gengis Cão – só não gosto, mesmo, é quando armam um 31 contra o Sporting. A propósito de 31... (Pronto, ok, não vou cair na graçola fáciliedson).
É espantosa a prova de fidelidade que deram no último fim-de-semana, quando três mil adeptos (muitos mais que em muitos jogos da primeira liga) compareceram no treino antecedente ao jogo com o Belenenses. O Guimarães é assim: arrasta multidões para outros campos do país e, no D. Afonso Henriques, as bancadas estão sempre muito bem compostas.
Pessoalmente, tenho mais razões para admirar o Vitória: já tinha um belo complexo desportivo e boas infra-estruturas até ser erguida a Academia de Alcochete, o Centro de Treinos do Olival e a solitária pedra do Centro de Estágio do Seixal-Cruz de Pau, e nunca ninguém deu o devido valor à obra deixada por Pimenta Machado.
Por fim, e independentemente do facto de ser o berço da nacionalidade, Guimarães é uma cidade lindíssima – o largo do Toural, o largo da Oliveira, a praça de Santiago, o Padrão do Salado, a rua de Santa Maria, o Paço dos Duques, a capela de S. Miguel, o castelo. Se Portugal tinha de nascer em algum lado, ainda bem que nasceu aqui. Desejo sinceramente que o Vitória de Guimarães saia da posição em que se encontra. Tem uma bela equipa, óptimos jogadores, joga bom futebol, tem um treinador capaz. Não me levem a mal, mas só espero que, com o Sporting, continuem a ter os mesmos resultados dos últimos anos.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Planeamento

Estimado leitor. Já se encontrou seguramente na situação de ter de entregar uma amostra de urina para análises médicas.
O cérebro ferve de entusiasmo enquanto preenche o boião. Caramba! Eles vão ver de que massa são feitos os heróis!
Preenche o espaço colocado à sua disposição com um sorriso travesso. Dava para dois, senhores, dava para dois, pensa, com uma ponta de orgulho.
Atarracha o frasco com o sentido do dever cumprido, mas aí começa verdadeiramente o problema. Se tiver um mínimo de consciência, iniciará com os seus botões uma dialéctica promissora. E agora, como transporto a carga?
Pela sua mente tortuosa, passa a ideia ousada de transportar o frasco às claras. Ná. Talvez para a próxima. Não vale a pena dar um passo maior do que a perna. Você, nas Avenidas Novas, segurando a prova do seu esforço para pasmo dos transeuntes. O horror! A vergonha!
Decide, por isso, acondicionar o pacote. Mais dilemas, mais escolhas. E se o saco se rompe? E se o boião abre e verte? E se a amostra tomba? E se um solavanco do carro provoca salpicos? É certo que o carro ficará marcado como o seu território, mas é provável que nunca mais venha a dar boleia. O que fazer, caramba? Tantas escolhas. Tantos obstáculos. Um simples pormenor pode deitar tudo a perder.
A reflexão, se for séria, levá-lo-á a um único desfecho: você levará a amostra como se ela fosse o sudário de Turim, acondicionando-a como um recém-nascido. Protegendo-a. Acarinhando-a. Coordenará matematicamente a operação para que nenhum salpico o embarace.
Isto, leitor, é o trabalho árduo de reflexão, planeamento e execução que uma amostra de urina exige. Agora coloque-se na pele do Koeman e tente escalar o onze do Benfica, seleccionando entre o Beto e o Manuel Fernandes, o Moretto e o Quim, o José Fonte e o Marco Ferreira. Não é fácil…

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Maldito Espectómetro!

É engraçado como a certeza científica chega ao futebol e pára. Detém-se como se visse um monstro. Na politica, na economia ou na universidade, espera-se pela validação científica e tomam-se decisões baseadas nas conclusões dos homens da ciência. O futebol, pelo contrário, é um campo de minas, uma zona desmilitarizada, pior do que a terra de ninguém que separa as duas Coreias.
Nuno Assis dopou-se. No final do jogo com o Marítimo, alçou da minhoca e urinou para um frasquinho. Não contente com isso, tornou a fazê-lo para outro frasquinho. Os frasquinhos foram selados e enviados para o Laboratório Nacional Anti-Dopagem (LNAD), um dos 23 centros mundiais certificados para este tipo de análise.
No LNAD, alguém pegou nos frasquinhos (com luvas, bem-entendido) e submeteu-os a testes. Decompôs todas as substâncias presentes na amostra, desde o rissol que o jogador comeu de véspera no Hotel Carlton do Funchal aos sprays milagrosos que o Rudolfo Moura utiliza para levantar os lesionado.
Uma das coisas engraçadas sobre os espectómetros de massa é que eles, vá-se lá saber por que artes, não se enganam. Não costumam identificar 19 norandroesterona quando ela não existe, nem tendem a ser mal intencionados. É certo que há espectómetros de massa muito convencidos, os estupores!, mas a maioria trabalha e cala.
Confrontado com o resultado da análise aos seus frasquinhos, Nuno Assis foi pouco original. Não tomou nada. Não viu nada. Não sabe de nada. Isto é um terrível equívoco. Por uma vez, gostava que um jogador apanhado nas malhas do doping mostrasse um sorriso malandro e dissesse: “É verdade! Dopei-me que nem uma doida! Não tenho feito outra coisa. Anfetaminas, esteróides, betabloqueantes, hormonas de crescimento. Tomo tudo. Faço cocktails destas coisas com mais arte do que o Tom Cruise na “Cor do Dinheiro” Já nem sei o que é jogar sem estar mamado.”
A lengalenga de Nuno Assis foi, repito, pouco original. Numa coisa, porém, o jogador do Benfica está absolutamente correcto: a notícia caiu que nem uma bomba. Mais concretamente, uma bomba de 19 norandroesterona.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Mourinho, o Pensador

José Mourinho foi agraciado na embaixada portuguesa de Londres com a Ordem do Infante. As reacções não se fizeram esperar:

No Benfica, Luís Filipe Vieira congratulou-se pela extraordinária honra que representa «a Ordem do Elefante entregue a um ex-treinador do clube».

O opinion maker Manuel Serrão apressou-se a lembrar que o Infante D. Henrique nasceu «na cidade do Porto e só foi reconhecido quando começou a devastar Alcácer-Ceguer e outras estrebarias mouras». Mourinho, por sua vez, «nasceu numa estrebaria moura e só teve valor quando veio para o Porto devastar outras cidades».

De Mourinho, ouviu-se pouco. Consta que o treinador do Chelsea estava vexado e, aos mais próximos, confidenciou: «Não percebo porque tenho de ser eu a receber a Ordem do Infante e não o Infante a receber a Ordem do Mourinho! Este embaixador já está a pedi-las. Não tarda nada e rasgo-lhe a camisola.»
Depois, mais calmo, o treinador discursou:
«Olhando para a importância desta figura histórica, é justo reconhecer que foi uma personalidade que marcou o seu século. Há poucos heróis que deixem uma marca tão vincada na história e nas gerações futuras. É sem exagero que digo que se trata de um dos principais pensadores de todos os tempos, um líder que provoca comoção nos seus seguidores. É uma das principais figuras da história portuguesa e da história da humanidade.
Mas basta de falar de mim. O infante D. Henrique também foi importante…»