Pensar como "A Bola"
Reunião de redacção de “A Bola” em Julho do ano passado.
Chefe de redacção — Então, vamos lá ver: quem será o prémio Regularidade do jornal no final da próxima época? Quero ouvir propostas.
Jornalista 1 – E… E se fosse o Liedson?
Chefe de redacção – Se era uma piada, não achei muita graça. Não queres abrir a caixa que deu origem a todos os males, a caixa de Tandoori, pois não?
Jornalista 1 – Desculpe, chefe, não torna a acontecer.
Jornalista 2 – E se fosse alguém do Braga? O professor Jesualdo é tão amigo desta casa.
Chefe de redacção – Não é mal pensado, não senhor, mas o Benfica perdeu lá há pouco tempo. Não queremos premiar essa gente, pois não? Isso seria pior do que espetar uma trança em África.
Coro de jornalistas – Não.
Jornalista 3 – E se déssemos o prémio a alguém do FC Porto. É que – se calhar, eu vou dizer uma grande tolice – as pessoas podem desconfiar. Temos o prémio desde 1971 e nunca o demos a um portista.
Chefe de redacção – Se queres processos democráticos, vai para a Coreia do Norte. O regulamento do prémio proíbe-o explicitamente. Isso seria como a lenda do cavalo destroyer: estaríamos a meter o inimigo dentro das nossas muralhas.
Jornalista 3 – Mas já demos o prémio uma vez a um jogador do Sporting…
Chefe de redacção – É para veres o que dá a autogestão. Em 2002, fui tratar de um dente e, quando voltei, já tinham dado o caneco ao João Pinto. Organizei logo uma purga aqui dentro. Aliás, desde então, fiquei com uma purga atrás da orelha.
Jornalista 2 – Ó chefe. E se déssemos o prémio a um jogador do Benfica?
Chefe de redacção – Ora, ora. Não é nada mal pensado. Mas não pode ser o Simão outra vez. Lá diz o povo que não há bela sem Simão.
Jornalista 3 – E… E… E se fosse o Nuno Gomes?
Chefe de redacção – Muito justo. Gosto da tua maneira de pensar, rapaz. Façam constar aos repórteres que ele não pode ter abaixo da nota 7, mesmo que falhe três golos de baliza aberta. E digam-lhe que as apreciações individuais devem sempre designá-lo como “o Nuno”: O Nuno rematou; o Nuno correu; o Nuno teve pinceladas de génio. O Nuno, de tão rápido, provoca ilusões góticas nos defesas.
Jornalista 3 (baboso) – Bravo, chefe. Se me permite, é um prazer ter pessoa tão qualificada à frente dos destinos desta casa.