De acordo com a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher criada no mundo. Fosse porque Zeus quis punir os homens pela ousadia de Prometeu, que roubara o segredo do fogo, fosse porque os deuses começavam a fartar-se de rabos peludos, a verdade é que lá se decidiram a fazer uma senhora. Como em todos os chavascais, toda a gente quis meter a colher: Hefestos moldou-lhe a forma; Afrodite cedeu-lhe beleza; Elpís deu-lhe gases; Apolo concedeu-lhe talento musical; Deméter ensinou-a a cultivar; Atena deu-lhe habilidade manual; Hermes deu-lhe um apalpão; Poseidon fez como eu faço no Natal quando fico desesperado e comprou-lhe um colar de pérolas caríssimo; Zeus deu-lhe a personalidade e uma caixa. Epmeteu não lhe deu nada e não percebeu por que motivo toda a gente ficou ofendida.
Mas falemos da caixa. Na caixa, concentravam-se todos os males do mundo: a velhice, a doença, a inveja, a mentira, a guerra, a unha encravada e o penteado do Rui Santos. Estava ali, de certa forma, uma minidirecção do Sporting.
Depois de lhe terem dito que não podia abrir a caixa, Pandora, naturalmente, não resistiu. Um fluxo destes males irrompeu pela caixa com tal velocidade que Pandora rapidamente a fechou. O penteado de Rui Santos emaranhava perigosamente para fora do recipiente, e os restantes males expandiram-se pela atmosfera como o passivo do Sporting. Apenas uma das tormentas permaneceu fechada na caixa: o mal que acaba com a esperança. É esse o tema da discussão de hoje.
Submeto à apreciação dos senhores que, se Pandora tem mantido a caixa aberta, hoje não haveria adeptos do Sporting. Mas ela fechou-a. E bem podem subir o preço do leite, manter o Purovic em campo, fingir que abatem o passivo, contratar chineses para os juniores ou abrir academias em Pretória, que nós temos esperança para dar e vender. Esperamos e sonhamos com a glória. Em sonhos, aliás, vejo-me com a Taça UEFA. Com a Taça de Portugal. Com a Taça da Liga. Com a Liga BWin. Também me vejo com a Linda Evangelista, mas é mais raro.
Há fundamentados motivos para ter esperança. Em primeiro lugar, porque já batemos no fundo e agora será sempre a subir. Em segundo lugar, porque o Derlei está quase bom e isso só pode querer dizer que só voltaremos a ver o Purovic quando for preciso substituir aquela barreira metálica ferrugenta que serve para treinar livres nos treinos. Em terceiro lugar, porque o Jesualdo, desde que começou a carreira de treinador, no final do Jurássico Intermédio, nunca ganhou em Alvalade.
Com tanta canalhice que anda pelo futebol, a malta, às vezes, esquece-se que ainda há gente boa. O Jesualdo é uma dessas almas pias. Mal entra em Alvalade, abre o cabaz e enfarda. Enfarda pela Académica, pelo Alverca, pelo Estrela, pelo Braga, pelo Benfica e agora, benza-o Deus, enfardará pelo FC Porto.
Verdade seja dita que o Sporting também não tem fama de ingrato e não são poucos os adversários que este ano já agradeceram a amabilidade de uma equipa que não pressiona, não corre e remata só em caso de absoluta necessidade.
Mas já que estamos a falar disto, importa dar a palmatória e reconhecer que não há gente no futebol português mais carinhosa do que a do Belenenses.
Esses, para além de serem bonzinhos, até oferecem pontos.
[post # 400 do Mãos ao Ar]