Posso Entrevistá-lo?
Toda a gente sabe que o público português quer no seu jornal histórias de tragédia, onanismo * e futebol. De preferência, agregadas na mesma notícia, para não ter de ler muito.
Se a imprensa é má, o “Record” é, reconheça-se, o pior. “A Bola” é parcial e falha as notícias mais básicas, mas, como já tive oportunidade de escrever, “A Bola” é como o avô que diz as maiores patranhas enquanto liberta gases em público e se ri que nem um perdido. À “Bola” e ao avô perdoa-se (quase) tudo!
O “Record” é mais sombrio porque veste roupas mais caras. Assume ares de fidalgo para esconder as origens rústicas e risíveis. Surpreso, leitor? O “Record” é uma das melhores fontes nacionais de humor saudável. Para rir a valer, aliás, recomendo a leitura das entrevistas – qualquer uma – publicadas pelo jornal.
Quando eu era novo e ingénuo, pensava que os jornalistas preparavam as entrevistas e orientavam a conversa para um rumo relevante. Mais tarde, percebi que, no “Record”, há uma tômbola de perguntas possíveis para cada entrevistado. Antes de falar, o repórter gira-a e lê a pergunta que sai no cartão. Só assim se explica a desarticulação entre as respostas e as perguntas seguintes, como um saudável diálogo de surdos.
Creio que há muito de Cunhal nas entrevistas do “Record”. Independentemente do que o entrevistado disser, perguntaremos outra coisa para o apanhar com as defesas em baixo. Assim, o leitor segue as entrevistas com indisfarçável interesse, preso ao texto como a um bom romance policial, sempre à espera da surpresa seguinte.
A entrevista a João Rocha, há quinze dias, foi um notável exercício de autismo. Começou com uma pergunta sobre ginástica, passou para uma avaliação da presença de uma comitiva do Sporting na China há 26 anos (anteontem, portanto!) e concentrou-se depois no projecto Roquette. São irritantezinhos aqueles meninos do “Record”!
Com exemplos destes, é notável que alguma personalidade ainda aceda a ser entrevistada pelo jornal. Conceder uma entrevista ao “Record” parece-me bem pior do que participar no ritual masai de transição de menino para guerreiro. E deixem-me lembrar que o ritual implica cortar uma lasca considerável da linguiça do aspirante a guerreiro. Seguramente que não há filas de espera nas aldeias masai! Mas também ninguém faz fila para ser entrevistado pelo “Record”.
Se as entrevistas são grotescas, a recolha e atribuição de informação é penosa. Após intensa pesquisa, julgo que descodifiquei o mecanismo de designação de fontes. Se algum jornalista do “Record” ler estas linhas, agradeço que confirme a correcção do meu modelo. Antecipadamente grato.
1) Quando a notícia refere “fontes próximas do interessado”, quer dizer… que o repórter escutou conversas de outros colegas destacados para a mesma história.
2) Quando a informação é atribuída a “fontes bem colocadas”, o jornalista do “Record” quer simplesmente dizer que fez uma pesquisa no Google.
3) A menção “porta-voz do clube” implica que o repórter participou numa visita guiada ao museu do clube e citou o guia.
4) Por fim, a minha favorita: a menção “Informação ainda não confirmada” refere-se a algo que o jornalista do “Record” se lembra de ter sonhado na noite passada, mas não sabe ao certo o quê.
Seguro de ter cumprido uma missão de serviço público, despeço-me com consideração.
* Onanismo não tem nada a ver com o Nani. Ou até pode ter. Mas isso é lá com ele!
15 Comments:
Grande comentário! Best!
Já que te referes ao onanismo, no meu ver o Record costuma praticar masturbação verbal ou seja utiliza palavras soemente para ter prazer em ler-las!
Saudações leoninas
Record... esse jornal Anti-Benfiquista!
Com esta é que me lixaste? Sempre pensei que tu e o Sancho eram jornalistas do Record? Afinal, vocês são jornalistas ou não?
Jornalista do Record? Agora estás a ser desagradável, Jonathan!
Jonathan, estás a passar tão perto da verdade como o Polga de marcar um golo. A única relação que temos como jornalismo é de amor/ódio - não gostamos de jornais mas não podemos viver sem eles. Acredita, não somos mesmo do Record, mas perfilamo-nos como adeptos do verdadeiro onanismo jornalístico
Jonatahan.
Passo a informar-te que o Sancho é um velho ansião que se vai masturbar para o Parque, processo de que é arguido. quanto ao Bulhão, rapaz que até escreve umas coisas, tentou começar pelo jornalismo, chegando mesmo a estagiar no jornal do Sexo, mas questões mundanas levaram-no hoje a ser um striper no Maxime, uma lendária casa de putas lisboeta.
A Bola” é como o avô que diz as maiores patranhas enquanto liberta gases em público e se ri que nem um perdido. À “Bola” e ao avô perdoa-se (quase) tudo
AHAHAH! Muito bom texto!
Alto lá!, Juveneno. O Maxime ERA uma casa de putas. ERA! Agora que o Manuel João (também conhecido por "Candidato Vieira") tomou as rédeas ao negócio, é uma respeitável... bom, talvez o termo seja exagerado, mas é uma casa de espectáculos muito bem frequentada. Tanto em termos de público como em termos de artistas. Bom, dantes também era bem frequentada... Velhos tempos. Era eu um jovem e... Adiante.
Quanto à temática "Bulhão jornalista", tenho a dizer que o próprio já assumiu: escreve n'A Bola, embora contrariado - porém, ter uma família para sustentar obriga a determinados sacrifícios (não envergou ele já a Digníssima veste em tempos áureos da sua existência? Pois é, o dinheiro compra muita coisa). É à quarta-feira que a sua crónica brilha. Assina "José António Lima" e, se é exageradamente patético, é-o deliberadamente, com o propósito de denegrir o bom nome do pasquim e divertir os leitores com a sua prosa inadjectivável. Eu leio-o sempre.
Que grande rebaldaria que vai para aqui! Aposto que ao Gabriel Garcia Marquez ninguém diz barbaridades destas.
José António Lima, sei que lês estas linhas: não ligues, os gajos estão a brincar.
Mais uma coisa, só a talho de foice: se eu fosse, de facto, stripper, que mal haveria nisso? Que atire a primeira pedra aquele que nunca dançou agarrado ao varão.
Bem me parecia...
De qualquer forma, julgo que o termo "dançarino exótico" é politicamente mais correcto. Pelo menos, disseram-me que era assim que o Juveneno estava inscrito nas finanças.
hehehehehehehe!!!!
:) O bulhão está em forma, nos posts ou nos comentários aos mesmos está em grande nível! O home é o maior.
Eu não tenho duvidas nenhumas do porquê dessa desartuculação dos jornalistas do Record:
-Deviam estar internados na Casa Pia, nem enquanto entrevistam são capazes de deixar de pensar no onanismo, penso inclusive que gostariam de o praticar no entrevistado, até me surpreende como conseguem articular perguntas.
Vocês estragam-me com mimos.
Estragar é o termo certo...
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