Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quarta-feira, março 15, 2006

O Herói Relâmpago

No sábado, nas páginas da “Record Dez”, João Marcelino postulou uma tese assombrosa: segundo o códex Marcelino, Ronald Koeman é um herói para consumo europeu, uma velha raposa nos palcos da Champions, que se transforma em cordeiro nos relvados portugueses. A solução, argumentou o jornalista, seria recrutar uma velha raposa nacional para a equipa técnica – um Cajuda ou um Álvaro Magalhães -, perito nas minas e armadilhas do futebol local. No fundo, alguém que conhecesse as manhas dos indígenas.
Acho esta ideia muito divertida. Idiota, mas muito divertida.
Não conheço mais nenhum treinador que tenha passado tão rapidamente e tantas vezes de herói a vilão como o nosso Ronaldo. Ganha ao Manchester? É bestial, a melhor coisa que poderia ter sucedido ao Benfica. Perde em Guimarães? Não é digno, sequer, de usar o mesmo quadro e ardósia de Trapattoni (assumindo que, com a tremideira, o velho decano ainda conseguia acertar com a ardósia no quadro).
Em abono da extravagante teoria, admito que Koeman dá ideia de encarar os adversários nacionais da segunda metade da tabela com sobranceria. O total desconhecimento dos rivais reporta-nos para os tempos em que se viajava no dia do jogo, se ignorava a estratégia do adversário e se olhava com desdém para todo o treino que não envolvesse corrida na mata e levantamento de pesos. Koeman não quer saber das navais, dos giles vicentes, dos guimarães. E pontualmente pica-se no arame farpado que não teve o cuidado de afastar.
Tenho, porém, uma teoria alternativa, que parece dispensar a peregrina solução do códex marcelino. Parece-me óbvio que Koeman, como todos os outros treinadores, preparou um pico de forma para uma altura crucial da temporada: o mês de Fevereiro, onde mediria forças com Liverpool e FC Porto. Aliás, em Dezembro, fazia sentido apostar nessa perspectiva. O holandês, porém, teve azar: quando lá chegou, já tinha perdido em Janeiro três jogos em quatro (Sporting, Leiria e Guimarães) e o campeonato estava seriamente comprometido.
Besta ou bestial, portanto? Um bom treinador, na minha opinião. Não é o messias de 2006 que “A Bola” cantou em Julho do ano passado e até errou bastante na planificação da temporada e na gestão dos reforços. Mas não é o ogre que agora se pinta, na inevitável caça às bruxas que se segue à perda do troféu mais importante da temporada. Pessoalmente, afeiçoei-me a este holandês anafado, que perde sempre contra o Sporting.
Há alguns anos que o Benfica procurava um treinador capaz de dar continuidade aos legados inesquecíveis de Pal Csernai e Ebbe Skovdhal. Julgo que a busca terminou, amigos. O Ronaldo dá conta do recado.

5 Comments:

At quarta-feira, 15 março, 2006, Blogger Diego Armésdisse...

Hummm... no meu tempo, os quadros eram feitos de ardósio e escrevia-se neles com giz. Agora já es escreve com a ardósia no quadro? Não me digas que o quadro é feito de giz.

 
At segunda-feira, 20 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Os nossos jornalistas são de facto brilhantes. Concordo com o post.

Guitarrista, és mesmo implicante! Tinhas que atirar com o giz, eu até acho que no teu tempo já não se usava quadro de ardósia...

 
At segunda-feira, 20 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Mas ele, NESTE CASO, tem razão, Helena. São as contingências de escrever um post num auditório cheio de gente, durante uma conferência chatíssima.
Mea culpa.

 
At segunda-feira, 20 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Pois tem razão Bulhão, o meu ponto de vista era de que escusava de ir por aí. Lapsos todos temos. Basicamente estava a fazer-lhe o mesmo que ele te fez... não sirvo de exemplo, portanto.

 
At segunda-feira, 20 março, 2006, Blogger Diego Armésdisse...

No fundo, no fundo, do que nós gostamos todos é de implicar uns com os outros. E fiquem sabendo que, no meu tempo de escola, ainda os quadros eram de ardósia, sim senhor. É bom não esquecer que, como benfiquista puro-sangue, só fiz o quarto ano do ensino básico e isto tudo durante a década de 80. Nessa altura ainda não tinham mandado demolir as escolas primárias do Estado Novo, substituindo-as pelos magníficos caixotes que hoje enfeitam as nossas vilas e cidades, pelo que o vetusto quadro ainda lá estava na parede. Sei muito bem o que é a ardósia! Ou não trabalhasse eu numa pedreira... Mas é só em part-time. De qualquer maneira, acrescento que nunca fui a nenhuma conferência, nem sei o que isso é e nem sequer gosto!

 

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