sexta-feira, setembro 11, 2009

Limites do que posso dizer

Uma multidão de comentadores credíveis, perfumados e bem documentados, mais o Pietra e o Diego, questionaram as minhas motivações, alegando que escrevo sobre o Benfica genericamente com três intenções: por um lado, para sublimar uma tragédia antiga, que deixou cicatrizes profundas naquilo que Freud chamou o meu espírito humano (em rigor, Freud falou só do espírito humano dele, até porque não nos conhecemos bem e ficar-lhe-ia mal falar do espírito dos outros assim, sem mais nem menos). Em segundo lugar, alega-se que escrevo sobre o Benfica porque me roo de inveja de tudo o que se passa naquela casa, e gostava de ser como eles, e o João Gabriel tem a capacidade discursiva de Moisés na fase do mar Vermelho e mais não sei o quê. Por fim, escrevo sobre o Benfica porque – e cito de memória – sou um anormal. Para rebater estas teses, sobretudo a terceira, terei de ensaiar algumas ideias sobre a origem e função do humor. Prepare-se, pois, para um dos textos mais chatos que alguma vez lerá.

Imagine o cenário: à porta de uma igreja onde se realizam reuniões periódicas de grupos de auto-ajuda, alguém cola um cartaz com esta inscrição: “Nota para os participantes na reunião do Grupo de Apoio às Pessoas com Falta de Auto-Estima: usem por favor a porta das traseiras”. A mensagem, como qualquer outro texto, está sujeita a diversas interpretações. Pode ser uma formulação infeliz mas bem intencionada de um recado útil. Pode ser intencional, destinando-se a aliviar o constrangimento dos participantes. Pode ser intencional e maldosa, marcando a superioridade daqueles que não necessitam de ajuda. E pode não ser intencional, mas divertir na mesma pela sua incongruência e inadequabilidade. Peço portanto aos senhores que não generalizem a minha suposta velhacaria em função de um só texto. E todos os que o fizerem são parvos (só eu é que posso generalizar, está bom de ver).
Os políticos usam o humor no seu discurso com duas funções básicas: para unir a sua audiência em torno de uma causa ou para a separar da oposição, ridicularizando as suas posições. Se eu quiser juntar toda a gente que me lê — e nesta fase do texto, “toda a gente que me lê” estará reduzida a quatro pessoas que já não conseguiram comprar o “Público” e lamentaram não haver mamas na capa do “24 Horas” –, faço uma piada sobre o Queiroz. Se eu disser: “Uma vez iniciados, os discursos do Queiroz nas conferências de imprensa são a coisa mais parecida com a vida eterna que existe no Planeta”, tenho boas probabilidades de não chatear ninguém. Mas não o faço. Pela lei das probabilidades, deverá haver muito mais benfiquistas neste espaço do que adeptos de outros clubes. Logo, um texto sobre o Benfica é um acto de valentia. Também é cobarde porque me refugio num pseudónimo, privando os senhores da oportunidade de me açoitarem, o que, convenhamos, seria merecido, mas é uma espécie de valentia cobarde, como a do Guterres quando se pisgou para os refugiados ou a dos refugiados quando quiseram devolver o Guterres. E isso deveria ser sublinhado.
Por outro lado, as pessoas riem-se abertamente dos outros quando sentem uma certa superioridade. Rir da ignorância alheia é uma reminiscência do papel do bobo da corte, que educava os cortesãos através do riso, reforçando pela demonstração o que era, ou não, tolerável. Ora, como os adeptos do Sporting e do FC Porto bem sabem, somos muito superiores aos benfiquistas. E não me refiro só às questões de higiene ou ao conhecimento adquirido sobre a posição certa em que o ser humano deve conquistar o bidé. Somos um grupo superior, essa é que é a verdade. Num país grande como o nosso, com fronteiras sempre em mutação, onde se falam mais de cem línguas e dialectos e onde não há uma religião maioritária, é fundamental marcar as diferenças entre gente que vive a meia-dúzia de quilómetros uns dos outros.
Por isso, estigmatizo o inimigo, inventando características que ele seguramente não tem, como o bigode, os arrotos, os fatos-de-treino, o José Manuel Delgado ou o facto de terminarem quase sempre em terceiro lugar. Faz parte de uma estratégia pérfida para impedir o leitor de constatar a grandeza do Benfica.
Fica feito o esclarecimento.

30 comentários:

  1. Que grande injustiça fazes as lampiões ao caracterizá-los desta forma... De facto, só esta má vontade pérfida nos impede de admitir a incrível grandeza do Benfica...

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  2. Em metedianabol.blogspot.com, pode ler-se num texto de Abril de 2006 o seguinte (é capaz de haver uma ou duas palavras desactualizadas):

    "Ladainha

    Os lampiões são burros, analfabetos e cheiram mal da boca. As lampionas são gordas, desdentadas e não se rapam nas virilhas. O Simão não é pai da Mariana e já foi comprado três vezes - 3! - pelo Liverpool, pelo Chelsea, pelo AC Milan e pelo Barreirense. O Vieira é alérgico à gramática, ao bom gosto, à lei, às finanças, à palavra de honra e aos pêlos de cão. O Veiga tem chatos e já foi presidente do Luxemburgo ou do folcuporto ou lá o que é foi que eles andam sempre a dizer e usa laca, capachinho, rabo de cavalo, caspa exótica, óleo de cedro e pente - leram bem, um pente! - para ter aquele cabelo assim sempre tão arrumadinho. A APAF tem sede no estádio da Luz ou se não tem há, pelo menos, túneis de acesso que vão do balneário do Benfica, por aí fora, por ali abaixo, segue segue segue segue e aquilo está tudo ligado, são assim uns com os outros, unha com carne, o Cunha Leal faz jeitinhos, dá ordens, tira bolas de dentro da baliza, manda bilhetes, sms's, cobradores de fraque, pitbuis treinados para matar e coisas ainda piores que nem me passam pela cabeça só para obrigar os árbitros a enganarem-se, a distraírem-se, a limpar o suor da testa, a ter uma desconcentração, um deslize, um falta de chip na bola, uma falha de memória que oblitera o discernimento e ajuizamento dos lances em consonância com as leis do jogo, para usar os termos do Jorge Coroado, que é doutorado em: sabedoria, conhecimento, certeza e sem-dúvida-nenhuma, para além de zonas mamilares. O Luisão anda sempre a mandar cotoveladas em toda a gente, marca golos assim, faz assistências, cortes de carrinho, até a cabecear ele cabeceia com a testa do cotovelo, o que não lhe dá jeito nenhum porque tem que torcer os braços todos, a testa toda, o pescoço, a cervical, a traqueia, o cerebelo e a cana do nariz, é uma chatice, uma confusão, um transtorno, mas o futebol é mesmo assim, a bola é redonda, há duas balizas, acidentes do terreno, relevo, a relva que estava escorregadia, o fiscal-de-linha que andava a pensar na mulher que não lhe dá troco e nisto a bola sai e ele não vê, mas a culpa é, foi e será sempre sempre sempre sempre do sacana do Luisão que dá cotoveladas ao coitadinho do Ricardo, que é tão bom rapaz e, azar dos azares, tem uma vozinha assim, a lembrar um benfiquista de refugo, sem pinta nem para um terceiro anel daqueles mesmo lá em cima com a cabeça a bater na pala. Acho que não me esqueci de nada."

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  3. Continuo a sublinhar que o texto do sapo do Bulhão (no ofense) tinha os seus méritos. E, repito, se o tal Renaul 5 (esta analogia ficará para a história) vos satisfaz e se o BMW é a porra que se vê, para quê tanta preocupação com o, digamos assim, panorama automobilístico? Agora, se a função é fazer o humor, então deixo aqui alguns tópicos, para que não vos foqueis nas barrigas, bigodes, coiratos e garrafões de tinto benfiquistas: http://www.zerozero.pt/equipa/portugal/sporting/actual/ficha/0/default/16. É só escolher por onde querem começar.

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  4. Chiça, que susto. Ao ver a página, lembrei-me de repente que o Grimi ainda faz parte no plantel.
    Xô, mau olhado

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  5. Já nem me lembrava do Cunha Leal, Diego. Mas de facto o texto (brilhante, aliás) cobre quase tudo. Deixa-me recapitular: bigode, check; Vieira, check; cotovelo do Luisão, check. Está tudo!

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  6. Pronto, é uma opinião!
    Intriga-me aquela palavra "chocolate" no miolo do texto.

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  7. Bulhão, também não te teria ficado mal confessar que a "mãozinha operária" nem sempre funciona, porque também ela tem a sua sensibilidade.
    Quanto ao comentário anterior, acho-te graça pores em causa a palavra "chocolate", mas nada dizeres sobre o motel.
    A mim o discurso parece-me coerente e bem fundamentado.

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  8. Pensei que o "Motel" te intrigasse mais do que o "Chocolate".

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  9. Chocolate e Motel combinam muito bem para os verdadeiros apreciadores da vida, pelo que só posso concluir que se trata de um adepto Sportinguista na China (será Japão?), que também os há.

    Já os outros, os lampiões, combinam com pernas de sapo, bigode, fatos de treino, t-shirts com nódoas e dedos engordurados, mas desengane-se quem pensa que têm o exclusivo do arroto, porque esse é um prazer a que me entrego com frequência.

    Quanto ao resto Bulhão, confesso que sou um dos que, para além de te admirar, tem pena que não haja mamas na capa do 24 horas, do Expresso, do Sol e também entre as minhas mãos, neste preciso momento.

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  10. E chamo ainda a atenção para, o ano passado vi-o, juro a pés juntos, junto a uma das nossas roulottes Bentley, está bem que era uma roulotte da Mercedes o que lhe transmitia um mais à vontade, um piqueno daqueles de cachecol vermelho capaz de comer uma sandes de caviar com as mão.
    Ouvi-o inclusívé a dirigir-se ao tirador de champagne que só queria dois dedos de espuma.
    Se o Sporting mandasse neste projecto de país, isso nunca seria permitido.

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  11. Então, o pequenino era eu. Tinha ido fazer xixi ao Alvaláxia e deu-me a fome a seguir.

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  12. Diego:

    Fizeste bem. Antes na casa de banho limpinha do Alvaláxia que na piscina do Glorigozo.

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  13. Só um reparo, Diego, enquanto adepto da agremiação, tu não fazes xixi, tu mijas.

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  14. Sim. Quando estou à espera do autocarro e vou ao Alvaláxia, mijo. De resto, tem vezes que urino e há outras em que faço xixi. Quando senhoras bem-postas do sportém pagam bem, também faço chuva dourada. Mas não é para todas as carteiras. E escusas de afiar o dente, é produto exclusivo e selecto.

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  15. Finíssimos. Vê-se que estamos entre cavalheiros.

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  16. Ok, Diego, agradeço a informação desnecessária.
    Saíste do tom, conseguiste entrar no ordinário e fica-te lá então com isso.

    Seja como for, fica aqui mais um registo que é capaz de trazer muita gente ao "Mãos ao ar" através do Google, a chuva dourada.
    Repito e insisto. Chuva dourada.

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  17. Em meu nome e do Diego (posso?) agradeço ao Bulho o destaque no seu post.
    Já podes falar do Sportem outra vez, pois conseguiram ganhar. Um aplauso para o novo jogador que enviou um estrondoso remate, (a)o Angulo. Ah ah ah ah
    A vossa equipa é um fartote, não esquecendo o presidente, que já começou a chorar.
    Bulho acho que devias apoiar o vosso presidente agora que está tão triste, só e abandonado.

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  18. Pietra:

    Deixa-te lá ficar na piscina do Glorigozo. Sempre tens um ambiente húmido mais de acordo com o teu habitat, incluindo claro está, a chuva dourada do Diego.

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  19. Malta finésse: eu não ando aqui para defraudar as vossas expectativas.

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  20. Diego, tu não andas aqui é para nos insultar discretamente.
    Fá-lo às claras e às direitas, que é como qualquer lagarto te trata.
    Não andes armado no iluminado lampião que descobriu que os estigmas criados à volta de quem apoia o quê foram agora descobertos pela primeira vez.
    A primeira vez que convivi com isso já foi há mais de 20 anos atrás e não metia chuva dourada nem nada que me tentasse ofender.

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  21. Visigordo... Parece que estás parvo. Mas ando aqui a ofender quem? Desculpa lá, estás a ser ridículo. Mas fica registado, seja feita a tua vontade: contigo foi a última vez que troquei umas bolas.

    Cumprimentos.

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  22. Diego, isso não é nada que não possa ser resolvido com meia dúzia de mines..... para começar.

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  23. É... depois tenho de ter cuidado com a língua senão o menino amua...

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  24. Meu caro, não se trata de nada disso e aceita este meu comentário como sincero.
    Considero-te dos poucos bloggers lampiões com uma capacidade extraordinária ao nível da escrita. Deixa-me adiantar que não só nos blogs, como também na tua banda.
    Essa capacidade de escrever que tu tens, inclui a escrita criativa, a forma como a usas para fazer critica nas causas próprias e, principalmente, a forma mordaz sem passar pelo ordinário como o fazes.
    Ora, dominando tu essa técnica, o teu discurso anterior não se enquadra, nem pouco mais ou menos, nisso. Nem parece teu. Roça a boçalidade que o post pretendia estigmatizar do que é ser lampião.
    Tu sabes tão bem quanto eu que este blog está noutro registo do que é a vulgar troca de galhardetes entre lagartos e lampiões useira e vezeira na maior parte dos casos.
    A ti, e só a ti e mais meia dúzia que escrevem por aí, fica-te mal.

    Cumprimentos!

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  25. Visigordo, a ver se nos entendemos... Isto está a ficar um bocadinho delicodoce... hum-hrum.

    Não deves confundir - e a gente já troca galhardetes há uns tempos - uma piada brejeira num determinado contexto com um insulto e, muito menos, tomar a coisa como ofensa. Não só não é o meu estilo como, felizmente, por aqui nunca senti esse impulso, nunca ninguém me destratou. Nem tão pouco o dono desta casa. Portanto, peço-te que não dês demasiada importância a algo que, de facto, não a tem. Ok?

    Quanto ao meu comentário anterior, sobre o "amuo", há que lê-lo como piada, não como acusação.

    De resto, só tenho a agradecer a tua consideração. E esperar que estejamos esclarecidos quanto a este assunto.

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  26. Perfeitamente, Diego, até porque, eu não diria que isto está a ficar um bocadinho delicodoce, está a abichanar mesmo.
    Venham de lá as mines antes que tenhamos de chamar um forcado para por ordem nisto.

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