“(…) Nos chamados macacos-jantareiros, à semelhança do que sucede nos idiotas, os sinais d'alegria aumentam quando a comida é de borla, ou em casos pagantes, quando o criado do restaurante errou a conta para menos. Mais: substituindo alguns dos pratos por palha, o animal dá profundos sinais d'irritação” – Fialho de Almeida
Tinha Mário Patrício, director-desportivo do Sporting com o pelouro das modalidades, como mais um dos macacos-jantareiros de que falava o Fialho, alguém que encontrara mais uma maneira de sugar do Sporting um ordenado e reconhecimento público. Chegou-me entretanto às mãos o livro “Casos de Sucesso em Marketing Desportivo” (Livros d’Hoje) onde foi incluído um ensaio de Patrício sobre o eclectismo. Como acontece com muita frequência a Pina Moura e a mim, mudei radicalmente de opinião. Há ali material para reflexão.
A argumentação assenta numa premissa curiosa: ao hiato futebolístico entre 1982 e 2000, a que em Alvalade chamamos o “período da Grande Fome”, não correspondeu uma quebra de fervor associativo, muito por culpa dos êxitos das modalidades. Patrício defende convincentemente que o Sporting não se desmembrou então porque o associado continuou a rever-se nos feitos olímpicos do atletismo e nacionais do ciclismo, do andebol e do hóquei. Ora, a extinção de três modalidades de pavilhão em 1995, o progressivo desinvestimento nas duas restantes (futsal e andebol) e a demolição do velho estádio e da Nave afastaram muitos associados do clube.
O Sporting futebolizou-se como nunca, e o jejum desportivo iniciado em 2002 é agora acompanhado pela desmobilização de adeptos que não têm praticamente mais nenhuma muleta de apoio. Por muito que respeitemos o ténis-de-mesa ou o futsal, ganhar troféus a agremiações de bairro como o Novelense, o Freixieiro ou o Benfica não tem qualquer relevância. É consensual portanto que falta recuperar as modalidades clássicas de pavilhão e dotar as respectivas equipas de meios para ganhar.
Aí é que a porca torce o rabo. Em Março, o Sporting encomendou um inquérito de opinião aos associados e descobriu que a maioria quer um novo pavilhão e perto do estádio; quer mais modalidades colectivas; aceita o princípio de que as modalidades devem continuar, mesmo sem patrocinadores. Mas recusa esmagadoramente que se sacrifique o orçamento do futebol em nome do eclectismo. Por outras palavras, queremos (sou um dos associados que respondeu ao inquérito) o jantar e não o queremos pagar.
Fica, pois, o paradoxo: numa altura em que as muito badaladas gameboxes do andebol e do futsal venderam menos de cem unidades, o que queremos do eclectismo? A relação do associado do Sporting com o ecletismo tornou-se um pouco como a relação do lisboeta com a Sé: ninguém lá vai, mas sentimo-nos todos um pouco melhor porque ela lá está.
No fundo, adaptando o Fialho, não somos mais do que “a turba acéfala, alternadamente feroz e sentimental (tarada em todo o caso), que faz as vezes de povo – uma força de inércia sem a menor consciência de si própria e que, no estado de bestialidade africana em que jaz, tão cedo não pode ter papel na marcha” do clube.
Ui...esta doeu.
ResponderEliminartouché.
ResponderEliminarSempre achei este blog extraordinário. Não é muito normal encontrar por aí adaptações de Fialho de Almeida ao futebol do século XXI, com graça e ironia. Parabéns!
ResponderEliminarPontapé direitinho aos genitais. Ui!
ResponderEliminarÉ possível ter todas as modalidades que tínhamos antes do Roquette. Com patrocínios. Com acordos de naming. Com parcerias. Com imaginação. Enganaste-te da segunda vez: o Mário Patrício é mesmo um dos jantareiros que pensavas. E está a enterrar o andebol do nosso amado clube
ResponderEliminarMário Patrício vem dizer que o projecto roquete liquidou o Sporting???
ResponderEliminarQue grande injustiça.
Toda a gente sabe que numa noite de nevoeiro um grupo de terroristas armados assaltaram a caixa forte do Sporting e levaram de lá cerca de 300 milhões, daí a nossa dívida.
Quanto às amadoras, nada mais simples do que o cumprimento da linha programática do presidente salvador do Sporting, um clube só de futebol, só com adeptos e sem sócios.
Este blog também está em falência técnica?
ResponderEliminarNem o chinês vem cá dar um bitaite...
Caro BP:
ResponderEliminarAinda bem que passou a silly season e o meu caro volta a escrever com regularidade porque já andava farto de andar a ler (e às tantas a escrever...) muitos disparates.
Sobre o tema:
Não conheço o Patricio, nem o Mário nem o Rui. Mas o Mário, pelo trabalho que faz nas modalidades, onde não há mesmo dinheiro, ao contrário do futebol, merece consideração. Parece-me.
Sobre a construção do pavilhão ela parece-me imprescíndivel (escrevi hoje sobre isso) mas não se pense que os Sportinguistas que se afastaram pelas razões sabidas, durante muitos anos,voltem de um dia para outro. Levarão o seu tempo mas voltarão a estar com as modalidades como sempre estiveram!
Abraço Leonino
Leão,
ResponderEliminarHá aspectos na gestão do Mário Patrício que me desagradam profundamente. Recordo a insistência tola no José Tomás como treinador. A incapacidade de renovar com algumas das figuras do futsal, que se pisgaram para Espanha ou, pior, para aquele de que não se deve dizer o nome. Até o próprio projecto do atletismo foi comprometido por uns Jogos Olímpicos fraquinhos, sem resultados dignos de nota... Mas é como diz: nas modalidades, não há mesmo dinheiro.
... para ser justo, porém, vale a pena lembrar o título europeu de pista coberta.
ResponderEliminar(parti a resposta em duas para gerar mais comentários, Pietra).
Oh Bulhão,
ResponderEliminarEm relação ao 'esmagador' o estudo diz isto:
63% não está de acordo que seja o futebol a pagar modalidades. Porém, 45% acha que ‘entre 20 a 30%’ da quotização deve ser canalizada para as modalidades. 23% acha que deve ser ‘30% ou mais’. Só 12% acha que deve ser ‘menos de 20%’.
Não sei se ajuda, mas sei que ter um pavilhão não faz mal nenhum à militância. Mas xiça, se ainda não há pavilhão querem vender muitas gameboxes é?! Um gajo sai da bola a dormir e vai arrebitar pro casal vistoso quando pode ir para casa ver o Del Potro a vergar o Federer? Não!
Com um pavilhão perto, com jogos no mesmo dia (e não à mesma hora) dos da bola já não fica um domingo mais composto?
SL
Bulhão, concordo com quase tudo, mas na caixa de comentários já começas a desviar o pé para o chinelo.
ResponderEliminarA não renovação do João, que é a quem eu acho que tu te referes das idas para Espanha, não se tratam propriamente de questões de incapacidade negocial. Ele foi, justamente, ganhar muito mais dinheiro, depois de recusar um contrato com aqueles de quem nunca se deve dizer o nome, e saíu de lá queimado, com um buraco no corpo, coitado do João.
Quanto aos que se pisgaram para aquele que nunca se deve dizer o nome, haja dinheiro! Nunca entrámos em loucuras, e eles até no futsal tiveram essa capacidade.
São campeões há um ano ou dois, mas pergunta-lhes se chega para pagar aquela equipa.
Aquilo, mais ano, menos ano, estoura.
O Gonçalo foi para o Glorioso porque pediram para baixar o ordenado e ele aceitou, e depois foram buscar um brazuca a receber rios de dinheiro, assim ele sentiu-se traído e mudou.
ResponderEliminarAssim, recebe mais, é campeão e sente o que é vestir a camisola do maior clube do mundo!!
Podemos daqui a algum tempo não ter dinheiro para manter aquela equipa, mas o pavilhão já ninguém nos tira...
(Bulho se quiseres também posso dividir o meu comentário em dois)
"Assim, recebe mais, é campeão e sente o que é vestir a camisola do maior clube do mundo!!"
ResponderEliminarNao percebi. Mas ele afinal nao está no Benfica?
PS: Mais um grande post, Bulhao. Tu tens emprego ou passas os dias a delinear estas prosas magníficas??
Eu sou um indigente que vive às custas dos outros, Petinga. Por isso, sobra-me tempo para estas palermices.
ResponderEliminarGiro, giro, era eu acabar a tese. Isso é que deixaria a minha velha mãe bem feliz...
Sardinhazinha, não sou eu que o digo, é o Guinness!!
ResponderEliminarPietra
ResponderEliminarNo Guiness so diz "clube com maior numero de associados pagantes em 2006".
Acho que dificilmente algum adepto de futebol nomearia um clube portugues como o "maior do mundo", seja la o que isso for. E seguramente nao um que ja nao participa na maior (essa sim) prova interclubes a nivel mundial desde 2005/06.
Ah, e nao e sardinha, e Petinga.
Bulhao, se a tua tese for escrita em moldes semelhantes eu quero uma copia!!! E porque nao uma dissertacao em formato blog? Hummmmm......
Sardinhazinha, já me chateaste, hoje à tarde o nosso Presidente vai apresentar mais 4 sócios pagantes... Eh eh eh
ResponderEliminarBulhão amigo:
ResponderEliminarO Patrício deixou a Direcção mas continua a mandar nas modalidades. Será remunerado para tão fraca prestação?
Tu tanto amaldiçoaste o José Tomás que parece que o homem abandonou o clube... O que pouparam terá ajudado no forte investimento na equipa sénior de andebol. Numa altura em que a Liga Profissional acabou, o Sporting aposta forte, se bem que de forma duvidosa: o Mitja, no jogo com o Porto, até caiu sozinho... E dois adjuntos para o Paulo Faria, viva o luxo!
Vamos aguardar para ver.
MULETA NEGRA