quinta-feira, agosto 13, 2009

A metáfora dos lemingues


O jogo era estúpido e visualmente básico, mas entreteve uma geração de jovens com borbulhas e pouco dinheiro para consumir pornografia consagrada internacionalmente. Buscava inspiração no mito dos lemingues – a tese segundo a qual estes estranhos mamíferos do Árctico se lançam por precipícios abaixo quando verificam que consumiram numa só temporada todo o alimento disponível, inviabilizando os recursos para as gerações seguintes.
Colocado perante o desafio de encontrar outros ecossistemas ou sucumbir à adversidade, o mito diz que o lemingue toma a opção mais fácil: embebeda-se até ficar num torpor eufórico, consome tudo o que resta e suicida-se depois de um exercício inútil de psicanálise e de um telefonema para “As Tardes da Júlia”, na TVI. Os leitores mais atentos notarão que esta etapa da ecologia da espécie não costuma fazer parte dos manuais de biologia. É nesta altura que eu peço a esses leitores para abandonarem a sala. Ena, são tantos! Muito obrigado. Não empurrem. Há tempo para todos. Os quatro que ficaram podem aproximar-se do palco para ficarem mais quentinhos. Vamos lá continuar.
Ora, no jogo de computador, podia-se optar entre o lemingue escavador, o construtor, o trepador, o pára-quedista e por aí adiante. Havia depois o lemingue bombista, que se imolava (por favor, não ler “simulava”, que ainda não comecei a falar do Aimar) com uma bomba. E o mais importante deles todos: o lemingue-travão, que se sacrificava pelos restantes. A sua missão era travar a enxurrada enquanto deixava um ou dois construtores montarem as escadas de acesso à saída. Depois, não restava ao remédio ao jogador que não fosse imolar o valente e deixar a multidão salvar-se pelo caminho já desbravado.
Descontando o facto de o jogo ter sido seguramente concebido por um jihadista radical, havia uma moralidade escondida. Cá vai ela: na vida de uma organização, é tão fundamental aquele que constrói vias de fuga como... o que se auto-destrói com uma bomba amarrada ao cinto. Humm? Não, não era esta a moralidade escondida. Esperem, deve ser esta: é tão importante o chico-esperto que se oferece para ir à frente e pisgar-se logo pela calada como o totó que é voluntário para deixar os outros fugirem enquanto ele se condena ao suicídio. Humm? Também não? Enfim, estou certo de que havia uma moralidade escondida, mas alguém a escondeu bem de mais.
Não preciso de dizer aos senhores que, para mim, a estratégia do Benfica para esta temporada personifica o ciclo de vida dos lemingues. É um jogo de roleta-russa, que pode correr bem, mas tem muitas probabilidades de falhar. Admito que a tese é controversa. Basta dizer que “O Jogo” tem defendido que o Benfica caminha a passos largos para o suicídio enquanto o “Record” aposta que serão conquistados todos os troféus da época, mesmo aqueles em que o Benfica não participa. Já “A Bola” não conseguiu produzir um comentário em tempo útil, uma vez que não tinha ainda recebido do Benfica instruções sobre a opinião que deverá debitar.
À partida para mais uma época (que, para os mais distraídos, começa só amanhã. Ou, por outras palavras, só se começam a dar pontos às vitórias a partir deste fim-de-semana), a curiosidade reside em saber em qual dos cintos vão ser amarradas bombas se chegar a altura de carregar no botão de auto-destruição.
Eu aposto no Rui, da Damaia.

Não perca a crónica de amanhã, intitulada: “Esconde as ampolas, Jorge. Vêm aí os homens do controlo!”

17 comentários:

  1. Ahahah! bela associação! o problema é que para os lemingues vermelhuscos parece sempre haver a possibilidade de fazer reset do jogo...Ainda não se lembraram de introduzir acções no Monopólio, senão até essas podiam usar...

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  2. A parte final está muito boa. Anda ali, ninguém dá por ela, mas diz tudo. E quando há jogo dos juniores é assim: "Esconde as ampolas, João. Vêm aí os homens do controlo!"

    Os mais famosos mestres das bombas estão lá!!!

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  3. Até um idiota passa por sábio quando fica calado ...

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  4. Caro Bulhão será possivel verificar se o IP deste último comentário anónimo vem da Damaia.

    Aposto o Manic Miner que sim.

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  5. LMGM,

    Acho que o anónimo se referia ao Orelhas.

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  6. Várzea do Lemingue Bettencourtsexta-feira, 14 agosto, 2009

    Já estás a tremer!!!...
    Saudações.

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  7. Bem, cada um tem as suas convicções.

    E, malgré tout, eu respeito imenso as do Bulhão.

    Mas cá para mim é mais o Nacional que é, ou vai ser, bom.

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  8. Uma palavra apenas:

    Excelente!

    Para o comment anterior, lampioes e afins:

    Há 4 anos que andam a dizer a mesma coisa, e há 4 anos que ficam em 3o ou 4o lugar... nao haverá maneira de aprenderem? Quantos anos mais precisam de falhar para perceberem e aceitarem a verdade? Água mole em pedra dura...

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  9. Lindo!

    Só tenho medo que o nosso presidente "lemming tiros no pés" e o nosso mister "lemming travão" já se tenham auto-destruido antes da catatrósfica avalanche vermelha.

    E aí só podemos esboçar um sorriso irónico, como muitos fizeram após o golo de Enshede, que nem conseguiram festejar. Outros há que continuam com comichões faciais após o golo do ... de quem foi mesmo?

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  10. «Havia depois o lemingue bombista, que se imolava (por favor, não ler “simulava”, que ainda não comecei a falar do Aimar) com uma bomba»
    AHAHAH, este parentesis é de um humor refinado, é que o homem este ano está particularmente dado a mergulhos mirabolantes...

    Excelente post, parabens pelo humor de qualidade e muito certeiro...a brincar a brincar...

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  11. Parabéns pelo vosso Blogue Sportinguista! Pena seja, que apenas fale do Glorioso Benfica. Já sugeri ao LFV que arranje lugares cativos para os Anti-Benfiquistas sempre poderão extravasar melhor esse sentimento de inferioridade. Saudações

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  12. Pedro Silva é mega craquedomingo, 16 agosto, 2009

    Referido um ponto interessante pelo último comentário.
    Penso que uma boa opção para os lagartos em geral seria a extinção da sua equipa de futebol - que exceptuando a ocasional excepção não lhes dá alegrias nenhumas - e anti-apoiarem o Benfica.

    No fundo continuavam a fazer o que agora fazem: ver os jogos do Benfica, ler avidamente as noticias do Benfica torcendo para que tenham a alegria da sua derrota sem aquela chatice de ver onze marretas de verde e branco a jogar à bola.

    Convenhamos que é muito mais fácil torcer para que o Quim deixe mais um furo que esperar que o Djaló marque.

    Nestes tempos de dominio total do Porto, o vosso complexo de inferioridade é tão facilmente alimentado como o Rochemback numa mesa de rodizio (perdoem-me a má metáfor mas não tenho o jeito do Bolhão)

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  13. Renovem até 2019 com o Pedro Silvadomingo, 16 agosto, 2009

    Pedia a vossa atenção para a magnifica construção frásica do meu comentário: exceptuando a ocasional excepção.

    Obrigado

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  14. E pronto, o balão começou a vazar!!!

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