Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

terça-feira, novembro 14, 2006

Dos Professores e dos ex-Jogadores

Há um debate muito curioso nas profundezas das bancadas dos nossos estádios. Como todas as polémicas realmente nobres, chega em surdina aos jornais, subvertida em nome do célebre contraditório. Mas é entre os adeptos que o monstro ganha forma e se torna agressivo, susceptível de gerar uma boa cena de pancadaria se tivermos a sorte de juntar na discussão dois pólos de carga oposta.
Em linhas gerais, a controvérsia esgrime-se em torno das aptidões para treinar equipas de futebol – de um lado, movem-se os puristas, mais conservadores, que defendem a inegociável necessidade de recorrer a ex-jogadores para a função. Do outro, emergem os liberais, apóstolos da formação científica. Estes advogam a urgência de recrutar profissionais formados nas faculdades e calejados na arte da metodologia do treino e do treino de rendimento.
Os leitores conhecem-me. Sou menino de fortes convicções, mas de escassa bagagem intelectual. Até há muito pouco tempo julgava que a Oikos era uma associação de suinicultores e não de solidariedade social. Sobre nível literário, estamos, portanto, conversados. Mas talvez na pobreza do espírito saloio resida algum elemento válido para o debate.
O primeiro elemento da discussão é, lamento reconhecê-lo, de foro olfactivo. Os puristas querem fazer crer que um treinador que não conheça o “cheiro do balneário” não pode ser bem sucedido. O cheiro do balneário, está bem de ver, é indefinível. É etéreo. Ou se tem ou não se tem. Confesso que já estive em muitos balneários, e afianço que alguns tinham de facto cheiros vigorosos, mas escapa-se-me a relação entre o nariz capaz de reconhecer o perfume genuíno do balneário e a competência técnica. Mas eu sou, repito, um leigo.
Segundo elemento argumentativo: a arte do pontapé. Os puristas não toleram que os Peseiros, os Pontes, os Castros e outros que tais não saibam armar um pontapé ao ângulo. Acrescentam que a incapacidade de domar a bola lhes reduz a margem de manobra no balneário, a capacidade de liderança. E ditam lei: quem nunca jogou à bola não pode absorver as manhas dos artistas, nem pode compreender as especificidades de um relvado enlameado, de um campo de galinhas como o Adelino Ribeiro Novo ou de um piso sintético como o Luzhni de Moscovo.
Terceiro e decisivo argumento: o falhanço estrondoso do professor dos professores, do vilão que abriu a porta de Tróia e permitiu a invasão dos letrados. Se Carlos Queiroz, com as condições que lhe deram, falhou em tudo o que remotamente teve relação com o futebol profissional, os restantes cairão com igual estardalhaço.
Pressente-se a alegria de cada vez que um Vítor Pontes, um Jesualdo ou um Luís Castro desce de divisão. Os professores falharam. Quando um Zé Peseiro sai do Sporting imolado pela turba, adivinha-se a efusão. Há todo um recalcamento social, feio, viciado, sofrido, que vem à tona: o professor, o licenciado, o “perito” sai manchado da experiência. O professor não presta. Pois se o homem até rematava de bico, queriam que o plantel o respeitasse?
Há, porém, uma espinha cravada na garganta dos anti-professores: chama-se Mourinho. Não se lhe conhece experiência decente de jogador. Queiroz ainda foi guarda-redes do Ferroviário de Manlhagalhene, ou coisa assim. Mourinho nem a sénior chegou. Não inspirou o cheiro de balneário. Não creio que consiga parar uma bola com o peito, até porque o livro de cheques, no bolso da camisa, dificulta a recepção da bola. E enquanto outros jogavam à bola, ele tirou o curso no ISEF.
Com um piparote retórico, os anti-professores defendem-se. Mourinho não é professor. Ele inspirou o cheiro de balneário acompanhando o pai, ele sim, jogador digno de registo. Cantam-lhe loas ao seu percurso no futebol de formação, como se o Zé de Setúbal pudesse ter sido um aspirante a Dasaev. E, pasme-se, descobriram que ele foi um aluno medíocre na Faculdade. Enquanto cábula, o agora treinador do Chelsea estaria a preparar gigantesco golpe simbólico na credibilidade do sistema de ensino universitário. Certo, certo…

P.S.: Não tenho, repito, opinião firme na matéria. Reconheço bons treinadores formados nos bancos da faculdades ou nos bancos de suplentes. Não creio porém que se possa traçar um círculo de giz, à maneira de Brecht, separando os bons dos maus. Agora, se alguém ousar aventar o Peseiro, o Queiroz, o Jesualdo, o Pontes ou o Castro para o Sporting, contem-me já entre os anti-professores. Mais não, obrigado.

24 Comments:

At terça-feira, 14 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

De nada.

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

E o prof. Neca? Eras capaz de dizer não ao prof. Neca???

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Brecht, hein? Quem diria que aqui se fariam citações destas?

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Queira desculpar, não volta a acontecer.

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Professores para os bancos... mas da escola.
De todos estes profs que citaste, o pior é mesmo o Queiroz, que o único cheiro a relva que respirou antes de entrar no futebol foi dos dos jardins lá da terra dele.
Quantos aos outros, mal ou bem, já que nem todos são craques, ainda andaram por aí a jogar e a recolher ensinamentos.
PS) O Pontes é professor? Acho que não, caro Bulhão. consulte os books.

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Blogger Férenc Meszarosdisse...

O Pontes realmente não entra bem neste molho. O Homem foi guarda-redes durante quase 20 anos e um dos maiores aquecedores de banco da história do U. Leiria. Andou ainda pelos bancos de Guimaraes, Nacional da Madeira, Tirsense (suplente do Goran!) e fez parte do fantástico banco do ELvas.

Não inviabiliza a tua análise, mas abre as portas para uma nova linha de discussão: Maus jogadores/ bons treinadores e vice-versa. Apesar de, curiosamente, no caso concreto do Pontes nenhuma delas se aplicar...

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

É verdade Jay Jay, consegui andar na escola, afinal um caso normalíssimo entre a comunidade leonina. Outros não poderão dizer o mesmo.

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Blogger Sirdisse...

Se aquele era mesmo o mail, deves ter correio.

 
At terça-feira, 14 novembro, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Eu avisei que era leigo, Ferenc.
Desconhecia totalmente o percurso do Pontes.
Na minha perspectiva, o homem ainda tinha a salvação de ter investido na educação. Assim, é um borra-botas. Que vá para a segunda divisão... Alto lá, isso foi para onde ele atirou o Vitória.

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Bulhão, não foste tu, há alguns meses, que defendeste que mourinho era um bluff? (coisa que eu concordo)
A que se deve esta inflexão discursiva? (para os benfiquistas, mudança de opinião)

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Blogger Visigordodisse...

Sempre gostei do estilo de Pinto da Costa a treinar equipas. Professor? Jogador? Há quem diga, pelo menos o Marinho Neves, que já jogou andebol, mas um gajo que mexe daquela forma nas equipas, deve entrar na categoria dos mestres. E essa o Bulhão não realçou! Grandes mestres, grandes treinadores. Por exemplo, olhemos para um discipulo, Veiga. Olhou, aprendeu, apreendeu e foi apreendido.
Há alguns anos que eu digo que Veiga era a melhor coisa que podia ter acontecido ao Benfica.
Dostoievsky, nem tu tens final para uma destas!! Nem tu, e posso-te adiantar que a versão do Saramago só te dá pistas, nem os escritos do Vale enquanto espancado pelos verrugos do Felipe.

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Doistoevski, explica-se pela minha bipolaridade. De manhã, tenho impressão que o Mourinho é válido e, à tarde, já o tenho como um cretino.
Aliás, olhando para a lista de sintomas indicados pela Associação de Doentes Maníaco-Depressivos, eu vou riscando, um a um, os vários de que padeço:
1) Irritabilidade extrema; a pessoa torna-se exigente e zanga-se quando os outros não acatam os seus desejos e vontades – CHECK.
2) Alterações emocionais súbitas e imprevisíveis, os pensamentos aceleram-se, a fala é muito rápida, com mudanças frequentes de assunto – CHECK
3) Reacção excessiva a estímulos, interpretação errada de acontecimentos, irritação com pequenas coisas, levando a mal comentários banais – CHECK
4) Aumento de interesse em diversas actividades, despesas excessivas, dívidas e ofertas exageradas – CHECK
5) Grandiosidade, aumento do amor próprio. A pessoa pode sentir-se melhor e mais poderosa do que toda a gente – CHECK (E DE QUE MANEIRA!!!)

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Blogger Nuno Moraes Bastosdisse...

1. Parece-me demasiado evidente que o sucesso ou insucesso de um treinador depende de algumas características, de entre as quais destacaria a capacidade para contar até onze.
1.1. A raridade de tal aptidão no mundo da bola explica, por si mesma e à saciedade, o extenso rol de descidas e maus (muito maus, por sinal) treinadores que pululam pela nossa Liga.

2. Este post levanta, todavia, algumas questões que gostaria de ver respondidas:
2.1. Será que o facto de Peseiro não se ter insurgido contra aqueles bonitos versos do Rochemback tem que ver com o facto de ser Prof?
2.2. Será que um ex-jogador fanhoso pode, alguma vez, vir a treinar com sucesso?
2.3. E um treinador cronicamente bêbado (JayJay, não sei se lhe ocorrem alguns) e que, por isso, confunda os diferentes aromas, pode treinar uma equipa decente ou tem de se ficar por um clubezeco de Carnide?

3. Deixo-Vos com estas questões.

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Clubezeco de Carnide... ai, ai, o que a inveja faz... já nem o livro dos recordes do Guinness conta...

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Blogger Felizberto Desgraçadodisse...

Mas a Oikos não é a Associação de Suinocultores do Oeste...??!!

 
At quarta-feira, 15 novembro, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Eu também julgava que sim.
Oinkos, oinkos.
Mas diz que não.

 
At quinta-feira, 16 novembro, 2006, Blogger Nuno Moraes Bastosdisse...

Pietra,

As minhas penhoradas desculpas: o Graeme Souness e o Toni são grandes apreciadores é de sumo de groselha...

 
At quinta-feira, 16 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Espero que o Scolari não tenha razão em relação ao Queiroz.
Era mesmo o regresso da MERDA, porque a porcaria já foi reciclada e transformou-se num nome mais agressivo.
O adjunto do Sir é mesmo um fracassado com o cú virado para a lua, que tem andado anos a fio a enganar grandes clubes, sem ter o mínimo sucesso em lado nenhum.

 
At quinta-feira, 16 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Tanto ódio, Juveneno. Terá o professor Queiroz sido incorrecto para si?“…

 
At quinta-feira, 16 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Só de falar no Peseiro fico com pesadelos.Muita teoria, pouca prática e carisma para liderar.

 
At quinta-feira, 16 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Não é ódio caro anónimo, é só uma constatação de factos mais que evidentes.
Apresentem-me o currículo desse senhor a nível de futebol sénior, e há quntos anos ele anda nisto, e chegamos à bonita conclusão de que o homem é um verdadeiro fiasco

 
At quinta-feira, 16 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

nmb, podem só ser desculpas, porque como já venderam o pequeno património que tinham, não precisam de ser penhoradas...

 
At sexta-feira, 17 novembro, 2006, Blogger Nuno Moraes Bastosdisse...

"só ser"?

O meu amigo também chegou forte na groselha hoje, não?

 
At sexta-feira, 17 novembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

não, já vendi a groselha... era património não-desportivo.

 

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