Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sexta-feira, março 24, 2006

Marchar, Marchar, Marchar

Alerta aos sportinguistas: este post tem excertos eventualmente chocantes, não recomendáveis a quem me tem como ícone da irracionalidade desportiva. Vazia que ficou a sala, continuemos.

Era uma vez um atleta perfeito. Não, não era do Sporting (pontualmente, até foi). Lamento informar que ele fez escola no Benfica, apesar de ser sportinguista. Não era também praticante de futebol. Tanto quanto sei, até abomina a modalidade e o seu estatuto de excepção. O atleta em causa foi basquetebolista e chama-se Carlos Lisboa.
Lisboa nasceu para jogar basquetebol. Ponto. Se tivesse nascido objecto, teria sido uma catapulta. Nele, como em poucos outros, a bola era uma extensão do braço. O lançamento saía com irresistível naturalidade, como um gesto inato, intuído desde a nascença.
Sei que a ideia parece hoje chocante, mas, quando treinava, eu era o «Lisboa». Eu e todos os outros. Imitávamos-lhe a técnica de lançamento – estranho movimento, aquele, impulsionado desde a anca. Usávamos a camisola para fora dos calções como ele. Corríamos como ele, em marcha trás. Mas a melhor faceta do Carlos Lisboa era inimitável e é sobre ela que hoje escrevo.
Não esqueço que ele era um lançador empolgante. Vi reviravoltas tremendas em que ele levou a equipa toda às costas (e o Jean Jacques, acreditem, não era leve). Vi uma série de nove triplos consecutivos. Vi-o converter um lançamento em queda, quando tentava salvar uma bola que saltitava para lá da linha lateral. Vi adversários em pânico. Vi marcações reforçadas que, mesmo assim, não o impediam de marcar. Mas, apesar de tudo isto, a qualidade mais rara do Carlos Lisboa era a fibra…
Num jogo de basquetebol, como num de futebol, a estaleca de um atleta mede-se nos dias maus, quando os lançamentos – ou os remates – saem inexplicavelmente mal. Lisboa nunca quebrava. Falhava um, dois, três, quatro lançamentos. Continuava a tentar, impávido, surdo para os insultos da bancada e para os pedidos do banco, que lhe recomendavam contenção. *
Poucos sabem que, antes de sair de campo para o balneário, momentos antes do jogo, o pavilhão Borges Coutinho transformava-se no palco de um ritual. O Lisboa lançava de pontos aleatórios do campo e só saía depois de marcar três seguidos. Num jogo importante com o Real Madrid, vi o treinador Mário Palma empalidecer à medida que o Lisboa falhou dez (10!) lançamentos seguidos. Quando conseguiu, por fim, terminar o ritual, os árbitros, os colegas e os adversários estavam praticamente prontos para começar o jogo. Em campo, Lisboa falhou os dois primeiros lançamentos. Soaram assobios, mas talvez ele nem os tenha ouvido. Continuou a tentar com aquela arrogância dos predestinados. A bola começou a obedecer-lhe. A partir daí, seguiu sempre, ordeira, para o cesto. Lisboa acabou o jogo com 12 triplos convertidos e com o pavilhão rendido a seus pés.
Julgo que isso define os atletas de fibra – os special ones, diria o Mourinho. É na reacção à adversidade, quando o mundo colapsa com estrondo em seu redor, que um atleta tem de assumir o comando.
Falhaste um penalty, João. Cabe-te levantar a cabeça e mostrar que não nos enganámos. Que és mesmo um predestinado.

* No futebol, havia um futebolista parecido. Que Deus me perdoe, mas chamava-se Isaías e jogava no Benfica. Nunca vi coisa igual. Fazia dez remates disparatados: para a bancada, para a bandeirola, para a linha lateral, para os fotógrafos. Irritava os adeptos até à medula, mas não dava parte de fraco. Parecia até que gostava dos ambientes hostis. E, ao 11.º remate, a merd* da bola furava a muralha e entrava.

19 Comments:

At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Hoje não te vou moer o juízo. Está giro. E até mostraste que qd queres, até sabes ver bola.
Mas na maior parte das vezes continuas a ser uma besta.

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Comoves-me até às lágrimas, Jay Jay.

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Lamento informar-te caro Bulhão mas o Lisboa nunca jogou no Pavilhão Borges Coutinho. Esse pavilhão era só para o andebol e para o voleibol.
Que falta de conhecimento, antes de falares na tua paixões, o basket e o SLB, começa a ter mais rigor.
POORRRAA!

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Vou fingir que não li, Bulhão. Vou fingir que este texto nunca foi escrito.

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

O Lisboa sportinguista??? Deves ser louco

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

É impressionante a quantidade de alarvidades que aqui se colocam, para depois outros alarvos comentarem. Exemplos perfeitos disto são, obviamente o Bulhão e o inefável juveneno. Tão lagartos que são, e afinal, ambos veneram um dos ídolos benfiquista! E isso é que importa ressalvar, não o nome do pavilhão! Carimbotos!

E viva o Setúbal! A seguirrrr engolem os trrripeirrros!

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Alarve ainda vá. Agora carimboto???

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Diego Armésdisse...

Olha, eu gostei do post. Tu fazes-te...

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Isso foi o derradeiro beijo da morte, Guitarrista.
Vou passar a ser como o Vieira: ninguém me levará a sério.

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Desculpem a ignorância mas não sou poliglota, o que é um carimboto?

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Segundo o dicionário Houaiss electrónico:
substantivo masculino
Rubrica: história.
Regionalismo: Rio Grande do Sul.
Uso: pejorativo.
No Império, epíteto que os farrapos ('insurrectos') davam aos legalistas, membros do partido conservador

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Como fan de Basket, essa equipa do Benfas de facto dominou na sua era em Portugal.
Lisboa-Pedro Miguel-H.Vieira-Jean Jacques- o outro não me recordo.

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Migueldisse...

Rui Gomes, sem colocar em causa o avançado estado de demência do Bulhão (Isaías?? Minha nossa...), mais vale ficares calado do que falares do que não sabes...

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger !nsurrectodisse...

O Beto (benfica) tb é assim... joga sempre mal... depois... golo manchester...

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Piberman,
Sempre preferi a sobriedade do Henrique Vieira [outro sportinguista] ao Pedro Miguel. Junta-lhe o Mike Plowden e o Steve Rocha e indiscutivelmente o Mário Palma no banco.
Já agora: o Jean Jacques também era do Sporting. "O meu sangue é verde, pá. O meu sangue é verde!"

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Bulhão Pato said...
"Junta-lhe o Mike Plowden e o Steve Rocha"

Não me recordava desses

"indiscutivelmente o Mário Palma no banco."

Esse é que foi esperto, largou o barco quando afundava e foi para Angola ganhar em Dollars.

"Jean Jacques também era do Sporting"
Esse eu sabia.
Tenho a carteira no lado direito e o coração no esquerdo.
Não sabia do Henrique Vieira.

Vi mts bons jogos no antigo Pav. da Luz(entrava à borla,pq dar dinheiro aos lamps está quieto), contra o Real Madrid de Sabonis e Arlaukas, Olympiakos de Fasulas e Marcos Galis, Juventu de Badalona.

Porra tou velho...

 
At sexta-feira, 24 março, 2006, Blogger Rantasdisse...

Boa posta, Bulhão. Perfeita para acompanhar o voto de confiança ao grande Moutinho.

 
At domingo, 26 março, 2006, Blogger dandisse...

(! parece que o joão alves vai jogar de início ! (http://maosaoar.blogspot.com/2005/12/cavalgadura.html)

CUIDADO! MUITO CUIDADO!)

 
At segunda-feira, 27 março, 2006, Blogger Bulhão Patodisse...

Podes dar-me por favor a chave do próximo Euromilhões, Dan? Pontaria danada, hein?!?

 

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