Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

A Odisseia dos Sete - Parte 3

(estranho e peculiar ensaio sobre o nariz de John Mortimore)
(ocasião também para honrar os vencidos. Ou nem por isso...)

John Mortimore tinha um nariz descomunal. Julgo que a proeza nunca foi documentada de forma rigorosa e científica, mas nunca vi nariz maior no futebol português. Nem antes nem depois. Não me interpretem mal: o treinador do Benfica era realmente senhor do seu nariz. No caso concreto, era senhor de pelo menos dois metros quadrados de nariz.
É certo que na história das artes e das ideias não é invulgar encontrar seres extremamente dotados, mas castigados pela natureza com narizes desproporcionais. Pinóquio teve o destino que se conhece. O lobo mau foi desmascarado pelo preconceito do capuchinho vermelho, que lhe descobriu um nariz maior do que os padrões da época. Cyrano de Bergerac tinha o bom senso de se esconder – a si mais à sua disforme chaveta. Mortimore, porém, saía à rua. E torcia o nariz aos críticos.
Naquela tarde concreta de 14 de Dezembro, Mortimore ficou nitidamente com nariz de palmo e meio. Tal como os jogadores da sua equipa, o treinador paralisou e ficou de nariz à banda perante o furacão que varreu Alvalade durante a segunda parte. A acção precipitava-se ali, a poucos metros do seu nariz, mas Mortimore, (con)gelado, não reagia. Tirou Shéu Han (Hã? Shéu Han. Hã? Shéu Han. Hã? Etc, como compreenderão, no interesse da legibilidade do post) e colocou Nunes, também ele um estudo de caso para os anais da rinoplastia nacional. Substituiu Diamantino por César Brito. Mas as mudanças não passaram de narizes-de-cera.
O revisionismo histórico do Benfica fez saber que, depois desse jogo, o treinador se fechou no balneário com a equipa, de tal forma que os dirigentes «encarnados», quando lá chegaram para pedir satisfações, bateram com o nariz na porta. Que se fossem embora e que não metessem o nariz onde não eram chamados, mandou o inglês dizer. Que, aliás, não era flor que se cheirasse.
Com toda a honestidade, pouco me importa que o Benfica tenha sido campeão nessa temporada ou que o Sporting não tenha ganho nenhum dos seis jogos seguintes. O triste cenário da Bancada Norte a arder lentamente, alimentada por pequenas fogueiras dispersas, é uma das imagens mais reconfortantes da minha vida.
Creio, porém, que é justo dizer que os benfiquistas foram solidários com a faceta mais saliente do seu treinador. Nesse dia, não houve adepto encarnado que não experimentasse a mostarda a subir-lhe ao nariz. Mortimore, esse, ficou para sempre convencido de que, no Benfica, havia macaquinhos no sótão.

4 Comments:

At quinta-feira, 15 dezembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Simplesmente brilhante! Cheirava-me que havia de vir ai um post sobre este tema...

 
At quinta-feira, 15 dezembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Tem o olfacto apurado, Agoiro jr. Como se dizia na época: se Mortimore fosse um animal, seria seguramente um macaco-narigudo do Bornéu.

 
At quinta-feira, 15 dezembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Ahhhhhh, o revivalismo daquelas fogueiras de cartões de sócio lampiões tb para mim são das imagens mais reconfortantes, valem mais que uma vitória por 14-1, mas sem fogueiras!!!

 
At quinta-feira, 15 dezembro, 2005, Blogger Peyroteodisse...

Muito bom! :)

 

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