Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Era a Onda, Era a Onda

Nota prévia: partes desta evocação podem vir a ser desmentidas pelos visados e podem não corresponder totalmente à verdade. Mas seguramente que os leitores do Mãos ao Ar não buscam aqui a verdade, nem nada tão prosaico como o facto real. Para isso, têm – e muito bem – a zelosa e cumpridora imprensa desportiva nacional.

Há quem, no auge da bebedeira, se aliste na Marinha ou na GNR. Outros perdem-se de tal maneira que acabam a noite no Trumps vestidos de bailarina de flamenco (sim, Sancho, é para ti). A mim, não foi a bebida que me perdeu. Foi o Sancho. Mas comecemos pelo princípio.
O Sancho era membro de uma associação pacifista de adeptos chamada Onda Verde, que ocupava a lateral norte do velho Alvalade na década de 1980.
Ora, nas curvas da vida, há maus amigos que desencaminham os jovens petizes influenciáveis para a droga, para o tunning ou para o elenco dos Morangos com Açúcar. O Sancho desencaminhou-me para a Onda Verde.
Antes de me alistar, lembro-me especificamente que ele descreveu a claque como um grupo de gente "muita gira", que ia com o Sporting para todo o lado e tinha coreografias de "cortar a respiração". Nunca, em circunstância alguma, o Sancho mencionou que, para ser da Onda Verde, era preciso preencher dois requisitos:
1) Estar loucamente apaixonado pela Rita Vilas Boas, a coqueluche da Onda e a menina fogosa (ponham fogosa nisso!) da ginástica leonina.
2) Estar predisposto a apanhar em todos os estádios do país.
A Onda Verde era o saco de pancada do futebol português. As visitas a qualquer lado eram inevitavelmente marcadas por pontapé e estalada de meia noite. Éramos recebidos pelos rivais com o mesmo carinho que um palestiniano sente por um colono israelita. Mas, ao lado do que enfardámos em míticas viagens a Portimão, Antas ou Bessa, os palestinianos e os israelitas são uns meninos!
Há quem evoque os estádios já visitados guardando os bilhetes dos jogos. Nós assinalávamos cada visita com cicatrizes e escoriações. No Bessa, partiram-me a rótula. Na visita ao Calhabé de Coimbra, furaram-me um tímpano. Do Municipal de Guimarães, saí de muletas. No Inverno, lembro-me sempre de Braga e do São Luís, em Faro, quando as articulações começam a ranger. Graças à Onda Verde, conheci muito bem, por dentro e por fora, os serviços de urgência hospitalar desse nosso Portugal.
Curiosamente, na Luz, a Onda Verde não enfardava. Corajosos como éramos, tentávamos misturar-nos com a Juve Leo e normalmente safávamo-nos. Excepto, claro, se a Juve Leo se fartasse de nós. Aí apanhávamos a valer. Ah! Os loucos anos’80…
Todas as histórias têm uma moral e esta não foge à regra. Em primeiro lugar, a Rita Vilas Boas não justificava o sacrifício, como aliás, anos mais tarde, amplamente se confirmou (ponham "amplamente" nisso!). Em segundo lugar, ao fim de algumas semanas, a coisa começou a perder a graça. É que, parecendo que não, apanhar quinzenalmente no focinho pode ser maçador. E pouco recompensador.
Por fim, apesar de laico, perdi completamente o medo ao inferno. Quem passou por aquele fim de tarde nas Antas, depois de um golo do Mário ter qualificado o Sporting para a final da Taça de Portugal, já não teme o inferno. Não pode ser pior do que um corredor de trogloditas com camisolas do Guomes, rosnando e mordendo, espumando de raiva e distribuindo coices! Encurralados, fizemos o que qualquer pessoa solidária faria: fugimos a sete pés e deixámos o Sancho para trás. Creio que foi a partir desse dia que ele ficou taralhoco e nunca mais disse coisa com coisa.
Não se perdeu muito...

20 Comments:

At quinta-feira, 10 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Um único comentário me merece este post: Sancho volta depressa, porque o espírito leonino está a perder-se neste blog, entregue a um jovem leão que não conheceu as grandes glórias do nosso Sporting, e mesmo aquilo que lhe ensinaste está a ser perigosamente adulterado.

 
At quinta-feira, 10 novembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Por grande glória entendes a Rita Vilas Boas? Põe grande nisso!

 
At quinta-feira, 10 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Agora dou conta que, se calhar, aqui há uns anos dei-vos uns cascudos valentes à entrada ou saída das Antas. Aquele matulão que vos sovou com a camisola do Bibota era eu!

 
At quinta-feira, 10 novembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Falo por mim apenas, caro Norte Sereno. Eu só me deixava sovar por gente refinada, requisito que o meu bom e primitivo amigo não parece cumprir.

 
At quinta-feira, 10 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

AH AH AH AH AH! Eu bem me queria parecer que o Sancho Urraco era assim, como dizer, um bocado para o lento. Lol. Isso foi em que ano?

 
At quinta-feira, 10 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Foi em 1987, urso. O Sporting ganhou nas Antas por 0-1 e foi à final. Claro que a perdeu com o Benfica (2-1) - dois grandes golos do Diamantino e um golo do Marlon com a mão. Éramos grandes. Ainda somos maiores. SLB4ever.

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Como é bom recordar!! Quando eu era puto, já via no estádio de Alvalade a JL, a Força Verde e a Onda Verde que derivou da Força Verde se não estou em erro. A Força Verde era aquela que tinha o apoio da Sogás. ehehehehe

A Onda Verde situava-se de facto na Lateral norte, ainda na bancada nova e ainda me recordo de os ver no inicio dos anos 90 até depois se extinguirem ou incorporarem na Torcida verde. Mas ainda hoje tenho na memória algumas coreografias da Onda verde. Há uma contra o benfica fabulosa, para aí em 90 ou 91. Lembro-me ainda de ter visto nas bancadas de Alvalade a Forza leonina, o Império Verde e os Leões do Bairro Alto ou qq coisa parecida.

Em relação ao jogo nas antas em 87, eu ainda era miudo na altura, mas lembro-me de ter havido um arraial de porrada. Anos mais tarde, quando frequentava o topo sul, ouvia o pessoal dizer que esse tinha sido talvez o pior momento de violência em que as claques do Sporting estiveram envolvidas.

Ainda em relação à Onda Verde, sempre teve a fama de ser a claque dos meninos bem, surfistas. Por certo a aristocracia corre nas veias do Bulhão e do sancho. Apesar de já ter sido há imenso tempo, e com a ajuda de um primo meu que frequentou a Onda verde, gostava de saber se se recordam de algum destes nomes dessa claque: o Morato, o Falcão, o Paletas, ou o Americano? Confesso que eu não conheço nenhum destes fulanos mas confirmam-me que eram membros da Onda Verde ehehehehe

Abraços

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Blogger Peyroteodisse...

Bons tempos! Nessa altura não pertencia a claques e, em deslocações, apenas me lembro de jogos em Setúbal (um 3-3 com golos de Gomes, Careca e Balakov), em Belém (1-0, golo do Gomes) e um empate a zero em Viseu...Isto terá sido em 89/90 ou 90/91

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Mãos ao ar memórias
Não perca a nossa programação :
9h - Entrevista com os 5 violinos
9h5m - Reportagem sobre o sporting-alcobaça da época de 1979 (no qual relatamos os acontecimentos do peido do Fanan(membro da onda verde)que fez com que os jogadores parassem uma jogada a pensar que o árbito tinha apitado.
12h - transmissão integral do sporting 7 - Benfica 1
14h - Especial debate - lideres das claques onda verde, norte leonino e torcida verde debatem o porquê das mesmas terem acabado sem que ninguém desse pela sua falta.
14h5m - transmissão integral do record do mundo dos 10000 mts de Fernando Mamede
14h15m - desistimos de passar a transmissão integral do record do mundo do Fernando Mamede e voltamos a transmitir a vitória por 7-1 ao benfica
16h15m - Visita ao atelier de pintura de Rui Jordão
17h15m - tempo dos mais novos - resumo da carreira de simão sabrosa tragicamente interrompida aos 19 anos
17h30m - Rita Vilas Boas - Antes e depois(do jorge cadete)
20h - fados interpretados por Mário Moniz Pereira
21h - Grande transmissão do jogo Celta de Vigo - benfica
23h - 9h - emissão contínua de todos os golos marcados ao benfica

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Esse tipo de intimidação teve um resultado prático: passaram dez anos (1987-1997) até o Sporting lá conseguir ganhar outra vez. Golos de Beto e Barbosa (SCP) e Barroso (FCP). Durante anos, a deslocação às Antas era um filme de terror. Bastava que o jogo não lhes corresse de feição para arranjar um arraial de pancada. Por isso, hoje como antes, digo: AAAAARTMEDIA!

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

A Rita Vilas Boa não era a gaja gorda que trocou o Cadete pelo Andrade?

Quando essas duas cavalgaduras andavam pela luz, o ambiente estava engraçado...

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Disseram-me que nesse jogo das Antas(grande golo do Mário do lado da baliza onde eu me encontrava)o Bulhão foi levado pela mão pelo Sancho Urraco, com este numa atitude perfeitamente heróica a proteger o miúdo, enrolando-o numa bandeira da Onda Verde e entregando-o aos pais são e salvo.

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Isso é tão baixo, Juveneno. Esqueceste-te que o Sancho não teria possibilidade de levar quem quer que fosse ao colo por causa da espondilose.
Já agora: estando na bancada, estarias tu com uma camisola do Guomes sobre o lombo?

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Não Bulhão, quem estava com a camisola do Gomes sobre o lombo nesse jogo é um projecto de jogador dos lampiões que se chama Nuno, e que tem a alcunha de "Gomes".
Dedica-te mas é a promover o Canal Mãos ao Ar e convida o Conan para director de produção, deixando de lançar atordoadas (LFV dixit) sobre a minha pessoa, um sócio do SCP com muitos anos disto, a propósito eu e o Sancho vamos a Alvalade dia 19 receber o emblema, e tu onde é que andavas?

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Com esses anos todos de associado, Juveneno, não era na cerimónia de entrega dos emblemas que tu devias estar. Era numa loja de antiguidades para mobiliário com caruncho.

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Blogger Lars o Kirkdisse...

Apesar de bastante miudo, lembro-me bem ter ido, com o meu geadas, ver esse jogo. Pela primeira vez na minha vida ouvir o suave troar de tiros de revolver. Naquele dia, tal como hoje e sempre mantive-me fiel ao lema: "A bófia não manda aqui!" ... e não mandou...

PS. Dia 19 também lá estarei...

 
At sexta-feira, 11 novembro, 2005, Blogger Ruidisse...

Sector32,

O Morato (se é quem penso, ele pelo menos era da FV e derivou para a OV) conhecia, ele andava no Liceu Camões, eu conhecia mto pessoal desse Liceu.

A tanta distância não me lembro dos outros, embora o Americano não me soe desconhecido.

PS. A RVB era mesmo boas qdo andava na ginástica... depois passou-lhe um camião Tir por cima.

 
At quinta-feira, 17 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

A rita tb apanhava em grande?

 
At quinta-feira, 17 novembro, 2005, Blogger Bulhão Patodisse...

Não. A Rita era apalpada em grande, mas escapava relativamente ilesa.

 
At sexta-feira, 07 abril, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Eu também pertenci á Onda e lembro-me dessa malta toda. O Mourato era um ultra pirado que mais tarde, na JL, foi apanhado com coktails Molotov. Também havia um tipo grande e gordo tipo bud spencer sem barba que ainda hoje encontro em Alvalade. Isso de andarem sempre a levar porrada é tudo mentira porque nós até ficávamos em casa do pessoal das outras claques, era a vantagem de sermos poucos. Acho que a Rita Vilas Boas nunca foi da Onda Verde, saiu da Força Verde para a JL. O sectorb32 é desse tempo e deve lembrar-se disso.

 

Enviar um comentário

<< Home