Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

domingo, novembro 13, 2005

Ensaio Sobre a Teimosia

Luiz Felipe Scolari é teimoso. Indesculpavelmente teimoso. Nesse ponto, seguidores e detractores concordam sem reservas. É seguramente entre gente desta fibra que se recrutam testemunhas de Jeová ou vendedores de enciclopédias. Sem favor nenhum, Scolari daria um excelente vendedor porta-a-porta de “A Sentinela”. Parece que o escuto, pregando à mocidade:
«Pô, a orientação de Romanos 2:21 é para levar à letra. Não discute, não. Nunca aceitei transfusão de sangue na vida e não é agora, quando a imprensa toda pede, que eu vou aceitar.”
Scolari não cede um milímetro das suas convicções à pressão de adeptos, imprensa ou colegas de profissão. Diria até que retira das críticas indisfarçável prazer. Ele é o proverbial maquinista que avança numa linha onde os carris, por vezes, faltam, mas conduz a locomotiva movido pela fé suprema de que nada de mau lhe acontecerá. Não sei se isso faz dele um louco ou um profeta.
Antes do Euro’2004, fui a Aveiro assistir a um inenarrável Portugal-Grécia. Mimoseado com vaias contínuas, o seleccionador parecia agradado, satisfeito, como se retirasse força da contestação. Não o incomoda minimamente que um estádio em peso não queira Ricardo, assobie Miguel (agora, porque o Miguel, agora, já é mau!), prefira Nuno Gomes a Pauleta ou Petit a Maniche. Isso não é necessariamente negativo! Os iluminados de bancada não têm sempre razão – excepto quando, pontualmente, vaiam no mesmo sentido que eu. Aí já têm!
Scolari faz-me lembrar o meu velho instrutor de condução. Perante cada cruzamento, eu guinava para um lado, ele para o outro. Invariavelmente, aconteciam duas coisas: o carro obedecia ao técnico qualificado (protocolos!) e, ao fim da aula, parávamos na oficina para consertar a direcção. As escolhas de Scolari são dogmas irrefutáveis. Da mesma forma que Cristo, Alá ou Buda não se discutem, as opções de Scolari também não. Fica a pergunta: essa estratégia levará Scolari e os seus pupilos a bom porto? É que a mim não levou: espatifei o carro no primeiro dia encartado.
Eu admiro o seleccionador nacional. E não comecem já as más línguas a associar a minha preferência à exclusão de Vítor Baía ou à perda de titularidade de Simão e Nuno Gomes. É evidente que, com essas medidas higiénicas, Scolari calou fundo no meu coração. Mas nem é esse o meu argumento. Em oito décadas de história da selecção, foi raro o timoneiro que assumiu as suas opções e ignorou a crítica. Até à chegada de Scolari, o seleccionador nacional era, por definição, um homem de consensos, de meios termos, de cautelas e caldos de galinha. A escolha de convocados obedecia a quotas clubísticas. Você é do FC Porto e representa um milhão e meio de adeptos? Com certeza, tem direito a quatro internacionais «A» e cinco «sub-21».Você é do Sp. Braga? Oh, que pena! Só temos uma vaga na selecção de sub-17.
Para o melhor e para o pior, esse modelo acabou. Custou o lugar de Baía, Conceição e agora de Couto, mas acabou.
Não quer isso dizer que Scolari seja perfeito. Não é. É uma mula teimosa, obstinada, que guina o carro só pelo prazer de demonstrar que é ele que detém o volante. No consulado de Scolari, criaturas descoordenadas como Luís Loureiro, Ricardo Rocha ou João Alves ganharam honras de internacional. Frechaut e Rogério Matias? Servem apenas, e sob reserva, para escudo humano em bairros da periferia de Paris. Sob alguns ângulos, a selecção é tal qual uma repartição de finanças, onde cada funcionário tem direito ao seu lugar até ao fim dos tempos. E onde tudo depende do humor do chefe.
Mesmo assim, Scolari é o meu seleccionador. E venha o Mundial da Alemanha.

P.S.: Mais informações sobre testemunhas de Jeová podem ser encontradas na Sociedade Torre de Vigia. Ou junto de um dos simpáticos evangelistas porta-a-porta do seu bairro. Lembre-se: se Filipe estudou com o etíope, você também aprender connosco.

11 Comments:

At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Não concordo. Scolari é teimoso porque o deixam. O afastamento de Baía é completamente injustificável. E o apuramento foi fácil. Se calhassemos num grupo de jeito, nesta altura Scolari já estava de volta a Curitiba.

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Blogger Lars o Kirkdisse...

Olhe que não, olhe que não, sr. anónimo...

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Não me importava de o assobiar muitas vezes como treinador do Sporting

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Quem é o Filipe que estudou com o etíope?

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

A questão não está em saber se Scolari é bom ou mau treinador. Se foi campeão mundial e vice-campeão europeu parece mais ou menos pacífico que o homem, de facto, percebe da coisa. Mas tal não impede que se comporte como um atrasado mental na questão da escolha dos Guarda-redes da Selecção.
No que diz respeito às "quotas" a que cada clube tinha direito no passado, o que se passa hoje é bem pior - os maniches, os postigas, os meiras, os frechauts e os caralhos-que-os-fodam (especialmente estes) são sempre convocados independentemente da forma que atravessem. Entre convocar um tipo em forma porque é do Porto/Benfica/Sporting ou um que não anda a jogar a ponta dum corno mas que se chama José, Manel ou Jaquim e tem que jogar sempre, prefiro a primeira opção.
Voltando à questão dos guarda-redes, a questão é só uma: quem é melhor - Baía ou Ricardo? Quem acha que o frangueiro do Montijo merece ser titular da Selecção, das duas uma, ou é anti-portista primário ou anda a fumar qualquer coisa esquisita.

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Apesar de me custar, como sportinguista, eu acho que o Baía é infinitamente melhor do k o Ricardo.

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Não é só o Baía. O Quim, o Paulo Santos e até o Nuno Sampaio são melhores do que o frangueiro.›

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Para mim a opção de Ricardo têm toda a lógica. É o melhor guarda-redes português, está na idade ideal em que concilia capacidades fisicas com técnicas, ainda têm margem de progressão e principalmente é muito forte mentalmente. Ele sabe que é o melhor.

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

O Baía é melhor que o Ricardo, disso ninguém duvida, agora a ser verdade que o Scolari não o convoca por questões relacionadas com problemas ocorridos na Coreia em 2002, quem é que queriam para a baliza da selecção, o Rui Nereu?

 
At segunda-feira, 14 novembro, 2005, Blogger Lars o Kirkdisse...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At quinta-feira, 17 novembro, 2005, Anonymous Anónimodisse...

Essa teimosia que ele considera força, por romper com os consensos custou-nos um titulo europeu ao preterir o Campeão Europeu Baia por um frango consagrado.

 

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