O Sabujo
Não se lhe conhece uma ideia genuína, um pensamento original. Foi sempre aluno medíocre, cábula incorrigível não por opção, mas por ausência de alternativa. Aos 12 anos, a professora disse-lhe a frase que ele nunca esqueceu: "Mal sabes escrever, mal sabes ler, vais acabar como pedreiro." Contingências da vida fizeram-no jornalista. É quase igual. Talvez o pedreiro tenha mais honra.
Na mão, puseram-lhe um bloco e uma caneta. Faz-se importante, endireita a coluna e entra de cabeça erguida nas sedes dos clubes. Deixem-me passar, sou o senhor jornalista. Esqueceram-se de lhe moldar a consciência. Trabalho ingrato, impossível de realizar. Há gente que já nasceu torta.
Aos poucos, começou por fazer "serviços" ao seu clube. Notícias oportunas sobre transferências, publicadas em dias-chave, fosse para acalmar a turba sedenta de sangue directivo, fosse para enaltecer os heróicos esforços do senhor presidente para resgatar o jogador brasileiro das mãos dos rivais. Os colegas têm-lhe nojo, o editor olha-o com um misto de medo e subserviência. O rapaz tem contactos, tornou-se perigoso.
Uma coisa leva à outra, e começou a cobrar pelos "serviços" noticiosos. Fez uma escala de valores e ofertas, como um contabilista. Abriu o leque a outros clubes. Um homem não ganha nada se pensar só com o coração.
Os empresários adoptam-no. No seu posto, ele vale o peso em ouro. Uma notícia encomendada sobre o interesse de um clube num jogador de terceira categoria surte quase sempre o efeito. Os rivais indagam preços e condições. O preço sobe. Toda a gente ganha. Menos, claro, os cofres dos clubes, cada vez mais pobres, cada vez mais vazios.
O nosso homem, esse, mete a comissão no bolso. O passo lógico seguinte é a mudança de ramo. Um empresário conhecido, tubarão do sector, convida-o para a sua empresa de agenciamento, eufemismo para os engajadores modernos. Começa pelo futebol juvenil. Desencaminha jovens prodígios, enlouquecidos (pais incluídos) com a perspectiva de ter um empresário aos 14 anos. Um só destes meninos poderá pagar toda a operação. Inevitavelmente, começa a ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Muda o visual. Veste fato branco listado e sapatos pretos de bico. Enche o cabelo de gel, como viu os craques fazerem. O carro desportivo faz o bairro parar para ver. Escrúpulos não tem, nem nunca teve. Aconselha uns a romper contratos; outros a pedir mais. Os clubes temem-no. Os antigos colegas olham-no com respeito. Que querem que lhes diga? É um empresário do futebol português.
Qualquer semelhança entre este texto e personagens da vida real não fará mais do que realçar o escasso talento do cronista para ocultar a realidade.
9 Comments:
Vamos ver para onde vai agora que a "teta" secou.
Talvez para o clube do coração...
Não me admirava. Até estou espantado por ter demorado tanto tempo.
Parece-me que este Bulhão Pato, não sei se com tiques de anarquista se de neoliberal, não passa de um jornalista ressabiado que conseguiu chegar à reforma de muitos anos de baixo, em que alegou problemas de foro psicológico.
Contudo, não querendo entrar em polémica, digo-lhe desde já que o senhor a que se refere no texto conseguiu adquirir jogadores acima da média e em cinco anos ganhou mais títulos ao serviço do SCP do que triplos ele meteu ao serviço do "seu" SLB em vinte anos de basket
Caro Juveneno, há limites para a patetice. Não sou, nem fui, jornalista. Muito menos joguei basquet. Se me conhecesse, veria que não tenho envergadura para isso. Não questiono que o senhor em causa ganhou títulos. Mas também ganhou, e de que maneira, para o seu próprio mealheiro.
Caríssimo Bulhão Pato, passei a estar perfeitamente solidário consigo, depois de afirmar nunca ter representado o emblema do milhafre.
A partir de agora acho que vou virar as minhas agulhas contra o Sancho Urraco, esse caluniador, que me induziu em erro contra a sua pessoa.
Aceite as minhas desculpas, por tão baixo acto da minha parte, e afirmo-lhe a minha disponibilidade para o receber na minha mansão situada nos baixios do Casal Ventoso. Este convite é extensivo ao "Seus Lagartos Broncos", que volta a estar ausente deste espaço maçador, mas suponho que apenas por razões estritamente profissionais, já que a PT exige muito dos seus funcionários.
É claro que é do Carlos Freitas.
Havia tanto para dizer sobre o personagem... mas nem vale a pena, já se foi, felizmente.
Convites para ir a casa de um lagarto!?... Irra que é demais!
Bem vejo que andou às "apalpadelas" com trocadilhos mal concebidos de escrita, na procura do meu nome, mas como deve calcular, falhou redondamente. Já agora, veja lá se um dia destes não convoco uma reuniãosita de uns amigos meus benfiquistas (mais ou menos do calibre daqueles da estação de serviço) num certo núcleo (ou associação, nem sei bem como lhe chamar) de lagartos, ali para os lados da Escola Náutica...
Acerca do texto, acho que finalmente encontro o propósito desta coisa dos blogues: é que é muito fácil escrever aqui lindas "cantigas de escárnio e mal-dizer". Mas o Gil Vicente (e não me refiro ao clube) é lecionado a todos nós, e não é esquecido.
Nestes blogues maçadores alimentados por papalvos que deviam era escrever para as páginas dos patrões, só cá vem ler e responder quem quer, e daí as minhas prolongadas ausências! Tenho mais que fazer! As revistas não podem parar! E agora me lembro também, estão aqui, estão a fazer prosasinhas para o jornal do FCP, hein!?...
Bom, mas acima de tudo ó "506 fraco" gosto do tom de respeito com que escreve o meu pseudónimo em maiúsculas... e sempre revela alguma instrução!
E já agora, o SCP joga com quem para a Champions esta semana?
Que violência caro "Seus Lagartos Broncos", você é mau de mais, direi mesmo mauzão.
Que bela maneira de esconder o lado apaneleirado que há em si
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