segunda-feira, abril 19, 2010

A adepta fiel


Conheço uma pessoa que considera estupenda a gestão de José Eduardo Bettencourt (JEB). Bom, serão duas, se contarmos com o próprio JEB, mas, para efeitos práticos, concentremo-nos nesta primeira pessoa.
Para a minha mulher, JEB é o melhor presidente que o Sporting já teve. Mesmo as medidas mais controversas merecem o seu aplauso vigoroso.
O plano de reestruturação financeira do Sporting? Ela concorda.
O reforço da equipa de futebol? Ela subscreve.
A política de comunicação e intervenções públicas a despropósito? Ela aprecia.
A capacidade de devorar directores desportivos e treinadores? Ela apoia.
Se JEB decidisse vender o centro do relvado para ali instalar uma daquelas gengivas nucleares, ou lá o que é, ela aplaudiria igualmente.
Na verdade, em menos de um ano de exercício, JEB conseguiu uma proeza difícil de igualar: desmobilizou-me. Desde Dezembro que deixei de ver bola. Dizem-me insistentemente que o Benfica está à frente do campeonato e até já ganhou ao Sporting, mas pode ser só um rumor. Eu, pelo menos, não vi.
Por isso, agora vou ao teatro. Ao cinema. A exposições. Janto mais vezes na minha sogra... [note-se, nestes tempos de canibalismo voraz, que eu janto na minha sogra e não a minha sogra]. Já não digo palavrões na sala e até já tenho opinião sobre a Arte Contemporânea (sou contra!). Pode dizer-se que sou uma pessoa melhor graças ao JEB.
Nas eleições do ano passado, o proto-candidato Pedro Souto acusou JEB de nunca ter sido número 1 em lado nenhum do seu percurso profissional anterior ao Sporting. Em contrapartida, o presidente do Banco Santander lamentou “a perda de um extraordinário gestor”. Na altura, era difícil avaliar quem tinha razão. Hoje, se o leitor encostar o ouvido ao solo, como fazem os índios, ainda conseguirá ouvir as sonoras gargalhadas provenientes do conselho de administração do Santander. O JEB era o activo tóxico do banco.
A existirem, as ideias de JEB para o Sporting são um pouco como as escadas do MC Escher, que os leitores mais cultos (como eu) reconhecerão certamente como um representante da mesma escola artística do MC Hammer, do MC Snake e do WC Pato. Quando parece que as escadas estão por fim a chegar ao destino, volta-se ao início, num movimento que explora as possibilidades do infinito. E isso, parecendo que não, chateia aqueles que gostavam que a escada se definisse por algum destino.

13 comentários:

  1. Muito bom, Bulhão!

    E sabes, sê mais compreensivo com a tua senhora. Diz-se por aí que as mulheres têm mais dificuldade em questões de visualização espacial.

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  2. Como é possível se conseguir reunir tamanha incapacidade e incompetência em uma só pessoa?
    JEB consegue-o.
    Mas este senhor não tem de andar na rua, falar com pessoas, atar um atacador, levar comida à boca? É que eu não o imagino a conseguir fazer isso...

    O meu medo é toda esta atitude de JEB não ser nada ingénua...

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  3. Quais seriam as possibilidades de juntar Escher, arte contemporânea, o Banco Santander e o Sporting num texto harmonioso? Muito bom.

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  4. BP:
    JEB colhe muito apoio junto do público feminino.

    A minha mulher por exemplo quer que ele se torne presidente vitalício. Desde que me viu a chegar dos jogos do Sporting a dizer "dasse, não volto mais, chega desta merda" que esta ideia lhe começou a germinar e está a pensar em lançar uma petição. Até já me perguntou como se pode fazer um grupo no facebook...

    Aproveitando o embalo já me veio com a conversa que com o dinheiro das quotas podíamos dar entrada para um psiché que ela viu no IKEA, onde ela até me deixava guardar o cachecol e 2 azulejos 1 com aquela tirada do Oliveira - por cada leão que caia, etc - e outro com a última entrada para o almanaque das donas de casa sportinguistas:
    "quando alguma sportinguista tiver a infelicidade de casar com um benfiquista, tem o dever de fazer com que o filho continue a ser sportinguista. Este trabalho de sapa nas famílias é fundamental"

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  5. Elogio o JEB porque te fez voltar a escrever...

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  6. Não vejo qual a relação entre o JEB e o MC Snake!!! Apesar de reconhecer que o JEB é mesmo mau mas, no entanto o MC Snake conseguia avaliar o certo do errado e até sabia tocar marocas, coisa que o JEB não consegue. Em suma os jantares com a sogra tem-lhe provocado alguma amnésia.

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  7. Como sempre, grande texto.

    Na sequência do mesmo, ocorreu-me propor a criação do movimento "JEB a ministro da cultura de Myanmar, já!".

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  8. "o MC Snake conseguia avaliar o certo do errado"... LOL. Então o gajo não andou a fugir da polícia durante cinco quilómetros???

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  9. Delicioso. "(...) até já tenho opinião sobre a Arte Contemporânea (sou contra!)" - é passe de letra.

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