Tenho um pesadelo recorrente em que estou prestes a sucumbir por motivos que nunca consigo entender, mas que estarão seguramente relacionados com os rendimentos que não declarei em 1994 e que, por manifesta estupidez, não regularizei em 1996 com o Plano Mateus, e agora é tarde, valha-me Deus, Coitadinha da velha, Um dia, eles apanham-te pela calada, filho, Ó mãe, aquilo são favas contadas, E por que diabo não escreves uma frase com menos de seis linhas que toda a gente entenda?, Não sei, diz o narrador de Saramago, que sabe sempre tudo mas não consegue interromper uma oração com um ponto final, nem repetir provérbios que toda a gente conheça, excepto os desgraçados que nasceram na Azinhaga do Ribatejo, O que meu for de Pilar se tornará?, Mau, este parágrafo parece o metropolitano – já tem gente a mais, Precisavas, Bulhão, de uma daquelas operações de coração aberto, como está na moda, Não é de peito aberto que se diz?, Não, estas são com amizade, com o coração aberto ao infeliz que está na marquesa, Qual marquesa?, Aquela de Bovary, Essa não era a Simone?, Ela nunca mais cantou, pois não?, Quem?, A Simone, coitadinha, que bem que ela cantava “Ai chega, chega, a minha agulha”, Essa era a Beatriz Costa, imbecil, E com isto fecho o parágrafo, Cá vai. Rggghhnnn.
(pausa para recompor)
(dão-se alsivaras… alvirassas... alravissas... ahem... recompensas a quem ler a frase anterior sem deslocar um brônquio)
Pois no pesadelo em causa estou quase a transpor o Letes, o rio dos mortos, quando uma voz me traz à vida. É o Venceslau Fernandes que, por algum motivo, berra desalmadamente aos meus ouvidos, acentuando a sílaba tónica: “Correeeee, Bulhãaaaao. Resiiiiste. Ai, que ainda me dá uma coisa, vamos a eles, Vaneeeeesssa.” O xinfrim é de tal maneira que lá acordo, esbaforido, do sono dos mortos e atrasado para o trabalho dos vivos, embora, na repartição, sejamos cada vez menos e a dona Palmeiro, a meio da manhã, entra em modo de screen saver e dormita uns minutitos sem ninguém dar por isso.
Lembrei-me desta história hoje, ao saber que o Hospital dos Lusíadas ameaça os utentes com tratamentos punitivos na Suite Benfica. A notícia não vem na imprensa séria, aquela de sobrolho franzido como o “Expresso” ou o “Record”, mas, mesmo assim, parece verdadeira. No hospital, o doente é atormentado com posteres na parede do quarto, Piçarra no rádio de serviço, o sibilar do Sílvio Cervan na televisão, a “Mística” se quiser leitura e roupa de cama estampada com motivos alegóricos. Dizem que, no leito da morte, mesmo o mais empedernido facínora confessa os seus pecados. Pois ficam a saber que, se me tocar em sorte um tratamento destes, podem chamar um padre que eu confesso o que os senhores quiserem.
Não me admiraria, porém, que a extrema unção ainda fosse dada pelo Fernando Seara.
Diz que quem vestiu a sotaina uma vez nunca mais esquece.
* A parte do "nu integral" era só para vender mais.
...tu és doente...muito doente...e essas vozes que ouves são reais...
ResponderEliminartu és um génio! obra-prima!
ResponderEliminarJá é a 3ª vez que aqui venho para deixar um comentário e não consigo. Mas vou tentar.
ResponderEliminarComo sabes eu vivo cá em cima. E durante muito tempo pensei que o Cemitério de Benfica era a alcunha do estádio da luz e até fazia sentido para mim, porque só é benfiquista quem já nasce meio morto. Foi preciso morrer-me uma tia abastada para perceber que ali se enterravam, além treinadores e jogadores, todos os que por aquelas bandas faleciam. Tive pena da sra. coitada, já não é fácil morrer e ainda por cima ficar num cemitério com um nome daqueles.
Depressa me passou a pena, quando percebi que da avultada herança não sobrou o suficiente para pagar o fato Hernani (pareceu-me Armani no escuro do barraco do Miguel Cigano) e uns sapatos mais brilhantes que a careca do Gabi(ru) que agora fala aos jornalistas sempre que está com a vesícula às voltas. Bebe água, diria a minha tia, se não tivesse falecido entretanto.
Deve ser por estas que ainda sou convictamente a favor do SNS. Um Hospital destes não pode ser boa noticia. Seguramente que, a ser verdade o que agora me contas,- é de certeza, - fará parte do relatório da Aministia Internacional a denúncia das suas práticas de tortura. O sibilar do Cerban (é assim que se diz, faz favor) é um upgrade da anciã e temida tortura chinesa e consta que já gravações da sua participação no "dia seguinte" para quando apanharem o Dalai Lama. Coitado, nunca o apelido lhe fará tanto sentido, se tal suceder.
Balente, caro Bulhão. Balente!
ResponderEliminarNada como um pouco de apneia literária pra me trazer à tona essa imagem do velho Lau!...
Saudações!
Então e ninguém quer ser presidente da colectividade?!...
Eu até tinha dormido bem, mas já me vejo a acordar todo suado à noite e a gritar "Nããããoooo!"!!!
ResponderEliminarBasta pensar na tortura do "Ser Benfiquista" nos altifalantes do quarto...
NNNNNNNããããããããoooooo!!!!!
"Bai Banééééssa ataca agora na becicleta! É a sofrer é a sofrer! Bai Bai!"
ResponderEliminarAi ganda Lau!!!
Ai ganda Bulhão!!!
E do insólito que contas, ocorreu-me que à noite nos canais lá para a frente aparece o orelhas de cabedal a abocanhar o Man10milhõestorras
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Bulhão, se eu mandasse juntava aqui o teu estaminé com o impróprio para cardiacos e fazia-se um grande blog...
ResponderEliminarAnónimo:
ResponderEliminarVoto contra. Poderia acontecer o contrário de alguns maus casamentos: estragavam-se 2 boas casas para ficarmos apenas com uma.(que o seria seguramente).
E depois eu gosto de posts à Bulhão Pato e da patine do Sancho Urraco.
Como diz o Soares Franco, não posso comentar cenários. O Sete é um grande jogador, mas o Mãos ao Ar só fala de negócios confirmados.
ResponderEliminarAté porque tem nos quadros um jogador que está a recuperar de lesão (o Sancho), embora a lesão resulte da velhice, o que torna a recuperação mais improvável. Recordo que o Sancho vem da cantera e nós usamos os jogadores da formação porque não podemos ir ao mercado como outros.
Mas não posso comentar cenários.
Para isso (comentar cenários) temos o Pedro Vais com Selos, o cineasta e comentador ou paineleiro como ora se diz.
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