Cabo-esverdeado
Como o Bulhão me denunciou recentemente, não tenho outro remédio se não admitir o meu paradeiro nos últimos tempos e justificar a minha prolongada ausência destas lides.
Com efeito, o arquipélago de Cabo Verde reteve-me durante mais tempo do que o programado, porque acreditem que não é fácil trabalhar e guardar um segredo de Estado naquelas paragens. A ideia era peregrina e pretendia catapultar Portugal para o lugar que já lhe pertenceu por direito próprio na história da humanidade: construir um túnel por baixo do mar que ligasse Lisboa a Cabo Verde, que depois continuaria até São Tomé e Príncipe e que seria desviado, finalmente, para Luanda, com um ramal extensível até ao enclave de Cabinda – uma espécie de metropolitano sub-Atlântico. O projecto era megalómano, mas os planos acabaram por cair por terra porque a mão-de-obra, constituída por 7 trabalhadores locais, 2 palestinianos, 15 portugueses, 436 chineses, um árbitro e dois auxiliares, um representante da UEFA, três elementos da APAF e uma ucraniana, não se entendeu. Cada qual tinha a sua opinião – e a única concordância era em relação às qualidades da Tatiana Vulkova.
Com avanços e recuos (do túnel, não da Tatiana), o projecto teve de ser abandonado: os palestinianos passavam o tempo todo a agredir os chineses, as regras eram subvertidas pelos portugueses, o árbitro queria que os cabo-verdianos abandonassem o terreno porque a última palavra do nome do país lhe causava alergias, e os dois auxiliares, um pouco inexplicavelmente, ganharam o tique de levantar uma bandeirinha sempre que um verdiano (perdão, cabo-verdiano) tentava escapar. Apesar de o observador ter atribuído classificação positiva, perante o estranho júbilo dos elementos da APAF, todos decidiram abandonar a obra e fugir com a Tatiana para Cabeça dos Tarafos, uma incógnita povoação na ilha da Boa Vista.
Tudo isto explica a minha ausência – fui eu que fiquei com a Tatiana… –, mas durante o tempo que passei no arquipélago, deu para constatar algumas diferenças em relação ao dia em que cheguei: os cabo-verdianos continuavam a usar camisolas de clubes de futebol como trajos de gala, mas aqueles que se identificavam com o Benfica só falavam castelhano e vestiam camisolas desbotadas com o nome Eusébio nas costas, o número de adeptos do FC Porto tinha aumentado consideravelmente, sobretudo entre os mais jovens, e os sportinguistas eram constantemente assaltados pelo árbitro, pelos dois auxiliares, pelos três elementos da APAF e pelo observador. Muita coisa tinha mudado – mas a paz podre continuava na mesma.
11 Comments:
Tudo bem no reino da dinamarca...
Tens que viajar mais vezes, Sancho...
Saudações do Andebolino
Até na Liga Intercalar somos gamados!!!
Ó sancho pareces o badaró
Onde joga esse badaró?
Pá, não seja por isso: ofereço-te dez Tatianas pelo Natal - desde que prometas que voltas para Cabo Verde.
Obrigadinho, Diego, mas basta-me a minha. E é sempre com agrado que vou a Cabo Verde...
Não queres ir também? Era um favor que fazias a muita gente...
Este comentário foi removido pelo autor.
Boa prosa Sancho. Fina ironia.
Iiiiiiiiiiiissso, Sancho, muito bem!
A seguir o verde e grená.
P.S. - A Tatiana manda dizer que está a ser muito bem tratada e que amanhã, à noite, tem de fazer compras....de Natal, e tal.
De facto, fina ironia... e a Tatiana era mesmo grossa?...
Saudações!
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