A academia está chocada. Do espólio de Fernando Pessoa ontem leiloado em Lisboa, constavam diversas folhas manuscritas pelo poeta, com anotações, correspondência e versões provisórias das suas obras mais tarde celebrizadas. A análise documental do espólio revelou afinal um Fernando Pessoa diferente – mais expansivo, mais aberto, alguns dirão até mais larilas. Em rigoroso exclusivo nacional, o Mãos ao Ar tem o prazer de reproduzir excertos de obras pessoanas, com a respectiva versão politicamente correcta, mais tarde adicionada por um editor sem escrúpulos.
De “Amei-te e por te amar”
Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via... Vi-te sem óculos, vi-te de lunetas
o céu e o mar, Eras o Manel ali do talho
Eras a noite e o dia... E aviavas as costoletas
Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
minha amante... Não eras o talhante
Eras o Universo...
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho. Já te queixas do tamanho
De “Tenho tanto sentimento”
Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me Pelo Júlio da drogaria
De que sou sentimental, Que já me vendeu dois alguidares.
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento, Que quando lhe falei nisso
Que não senti afinal. Tive de dar aos calcanhares.
De “Apontamento”
A lavadeira no tanque
Bate roupa em pedra bem. A modos que me dá calores
Canta porque canta e é triste É nestas alturas que eu lamento;
Porque canta porque existe; Triste sina, a do fanchono,
Por isso é alegre também. Não lhe poder dar uma esfrega
De “O Amor”
Ah, se ela adivinhasse Ah, mas se o Inácio adivinhasse
Se pudesse ouvir o olharO que me passa pela pinha.
E se um olhar lhe bastasseSe Deus me ajudasse,
P'ra saber que a estão a amar.Gostava de lhe saltar à espinha.
Mas quem sente muito, cala; É desta, juro, é de enfiada
Quem quer dizer quanto senteSerá moldado como à plasticina
Fica sem alma nem falaRai's partam a criada
Fica só, inteiramente!Que me escondeu a vaselina!
(tenham paciência, meus senhores, falo de bola para a semana. Quando passar o efeito do medicamento para a cabeça que o senhor doutor, benza-o Deus, me receitou.)
10 Comments:
Larga as drogas, Bulhão, larga as drogas. Herói és tu e não é a heroína.
Humm? Quem disse isso? Estarei a ouvir vozes outra vez?
- O quê, Ofelinha? Já vou, menina, já vou...
Gluppp. Cá vai mais um comprimido para ver se isto melhora.
Queres ver que foi hoje que o homem se revelou formoso e seguro?...
Em bom nível, como sempre, caro Colhão Pasto. Um nível algo abichanado, mas a sugerir uma demarcação das palavras, viris e à macho, do Paulo Bento...
O homem pega fogo à barraca e tu com versos de pega de empurrão!...
Para quando um revisitar de Florbela Espanca e da sua relação secreta com a Dina?...
Saudações e um bom peixinho de Matosinhos...
ah ganda bulhão!
Um abraço
Esclarece apenas este ponto: tu conhecias os poemas de cor ou perdeste a tempo a pesquisá-los?
... Ahem... Poder-se-ia dizer que passei parte significativa do dia de ontem (na repartição, obviamente. Não gasto o meu tempo livre com projectos destes!) a ler poesia e a tentar encontrar rimas de Pessoa para palavras como "espinha" e "esfrega".
Nesse contexto, poder-se-á defender que tenho um estranho sentido das prioridades.
Apreciei sobremaneira a introdução da palavra "alguidares" no léxico pessoano. Pena não me ter deparado com vocábulos de respeito como "lavatório" ou "traineira", por exemplo. Há um longo caminho a percorrer na reinterpretação do génio, está mais que visto.
Caroo Bulhão, não haverá nenhum post dedicado a Queirós, mito incompreendido do futebol mundial?
um abraço
Já que se fala em Queirós, o senhor doutor que não comece a pensar em retirar-te a medicação e fazer-te uma lobotomia, que não é preciso.
Qual Álvaro de Campos, não tarda a termos posts cheios de onomatopéias e tu com a lingua de fora, num lindo colete branco com mangas que apertam nas costas, a fazer brrrrr, brrrr.
Seja como for, Pessoa nunca mais será o mesmo.
Finalmente a expor a sua obra pena que o faça sobre a capa de Pessoa´.
Já conheço este senhor vai para uma decada e desde o tempo do finalmente em que ele tentava mostrar estes versos a todas as suas "amigas". Ainda me lembro do Pato, pois era assim que ele gostava de ser tratado, pois todas diziam que ele tinha um cu que sabia a pato. Gosto do ouvir falar do sr manuel o do talho, ele que tantas vez nos deu a provar do seu famoso salpicão, ah e do Inácio esse matulão guineense que era seu moço de recados na repartição.
Já não deve faltar muito até o Bulhão se assumir como o Goucha, tempos de mudança.
Espero que ele venha a editar todos os seus versos mas agora em nome próprio.
Ora cá vai uma ajudinha que me ficou dos tempos do finalmente...
Eu bem te dizia
Que era grosso
e não cabia
Eu bem te
avisava
que era grosso
e não entreva....
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