Saber perder
Eu e o Bulhão raramente estamos de acordo, tirando um ou outro caso pontual – e estou a falar meramente no campo desportivo. Partilhamos algumas ideias, temos alguns pontos de vista em comum, mas as desavenças opinativas são frequentes. E ele é teimoso que nem uma mula. E tenho mais anos de bola e de memórias sportinguistas que ele, embora isso não seja atestado de superioridade. As minhas primeiras recordações relacionadas com o Sporting são imagens já um pouco esbatidas pelo tempo: a inauguração do tartan verde do antigo Alvalade, a melhor equipa de hóquei em patins de todos os tempos – e a primeira portuguesa a vencer a taça dos campeões – e, muito escondido na memória, o título de futebol sob o comando de Malcolm Allison. Nessa altura, o Bulhão não era mais que um projecto de futuro indefinido. Alguns anos depois, deu-se a coincidência de nos conhecermos e foi a partir de então que passámos a acompanhar juntos as agruras sportinguistas. Tudo corria normalmente – há 17 anos que o futebol nada ganhava, tirando umas taças de honra e outras merdices – quando, subitamente, o Sporting de Queiroz vence uma Taça de Portugal. O Bulhão, eufórico com este primeiro êxito, armou-se em herói e nem consegui comemorar devidamente. Como um menino traquinas, tralhou de um muro abaixo e fez um rasgão na perna – ainda hoje ostenta, orgulhoso, a cicatriz que ficou para sempre. O pior foi quando Augusto Inácio conduziu o Sporting ao título. Foi uma festa. O Bulhão, desta feita, não estava eufórico, parecia meio atarantado: “Eh pá, isto de ganhar é muita giro. E agora, o que se faz a seguir?” Era a falta de hábito de ganhar. O Bulhão ainda sugeriu perguntar a um amigo portista como é que eles faziam, como é essa coisa de se comemorar um título. Fi-lo desistir da ideia – ser-se sportinguista é estar-se preparado para ter êxitos pontuais e, quando eles acontecem, saber festejá-los sempre com a certeza de que nunca se sabe quando se voltará a ter semelhante alegria. É isso ser-se sportinguista: é amar o clube sabendo antecipadamente que aquela bola que deveria entrar bateu com estrondo no poste; que aquele defesa que nós até não gostamos muito, escorregou quando não devia e deixou isolado o inimigo; é falhar um penalty perto do fim e sofrer um golo na contra-resposta; é jogar, jogar, jogar, dar “show” de bola e o jogo acabar, na melhor das hipóteses, com 0-0; é saber-se, antecipadamente, que com 95 por cento dos árbitros vamos seguramente ser roubados. O Sporting é um clube de drama e de fatalismo. Por isso se despreza a arrogância dos benfiquistas, que pior que não saberem perder, têm ainda um pior ganhar, e com a desprezível política desportiva dos portistas, que nunca se sabe se ganham pelo mérito dos seus jogadores, se pelos cambalachos e corrupção em que pelo menos das suspeitas não se livram. E é por isso que sabe sempre bem ganhar limpamente no Dragão, como sabe ainda melhor ver os arrogantes caírem do seu pedestal.
29 Comments:
É bonito por bem intencionado Urraco, partindo do princípio que não reparaste na componente elitista e sobranceira que impregna o teu discurso - depois queixa-te se te chamar Vestal... De qualquer forma, aparentemente, todos os apreciadores deste blog ficam a achar que é melhor o Sporting não ganhar, sabe-se lá que lesão contrairá o Bulhão nos festejos! :D
Tem toda a razão D. Helena nós aqui na repartição andamos preocupadíssimos. Se ele contrai uma ruptura no pulso quem é que cola as vinhetas e carimba as requisições? Já para não falar na saliva que é preciso para os selos e nos cafezinhos que só ele é que sabe tirar...
Cara Helena, o elitismo é uma das traves-mestras da condição de se ser sportinguista. Há os grunhos, os mentecaptos e os elitistas, eu perfilho esta última. De resto, fica prometido que contarei, em próximos episódios, mais desventuras homéricas do Bulhão - em princípio, lá para Maio
Eu acho graça nestas histórias porque pareço sempre o desgraçadinho. Que me lembre – e cito de memória – já te fui buscar uma vez à esquadra depois de um jogo em Chaves. Já levei um murro de um camelo que te queria bater a ti, depois de um jogo com o Braga em Alvalade. Já tive de explicar ao Fernando Mendes, da Juve Leo, que não, que tu não querias mesmo chamar-lhe lampião, que só estavas nervoso e que as pessoas nervosas, às vezes, cometem excessos.
Ah: e na meia-final da Taça de 1996, nas Antas, no meio de uma multidão de gajos do FC Porto, ia levando nos crns porque sua excelência não se soube conter quando o Jorge Costa empatou o jogo e berrou "Tripeiros fdp".
Acho graça. Talvez amanhã eu conte neste blogue quem é que foi apanhado nos corredores do antigo estádio com uma menina das Ultra Sporting... Oops. Já contei!
Acho de muito mau tom, Bulhão, vires para este espaço público lavar a roupa suja. Alguns dos factos que relataste até podem ter um fundo de verdade, mas não deves querer, mesmo, que eu conte aquele dia em que tu e a Francelina... Enfim, vou conter-me para já.
Um jogo em Chaves Bulhão? O Jogo em Chaves, o da azia do Coroado, de certeza. De resto continuem, não se acanhem, é sempre bonito ver os chiques na peixeirada...
Descansa Helena...Espero que "O mãos ao ar" não se assemelhe ao CDS-PP...
Sim, Capicua, esse parece mais um "peixes ao ar"...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mas afinal estão a quantos pontos?... Ah, ainda estão em 3º a 6 e 5 pontos. Isso é que é lindo, estar no lugar a que têm direito!
de forma limpíssima??!! E o lance do Pepe e do Polga.
Acho que já estão a contabilizar o penalty que não é marcado a favor do Porto em todos os jogos (em 2007 já são 3 ou 4 indiscutíveis). Abraço
Não vamos perder de vista o que interessa...Caro Sancho "com uma menina das Ultra Sporting..."!!!! Mas afinal tu não és gay? pensava que por aí só a lésbica é que gostava de meninas!!!!
Essa "menina" não era a célebre Manela, Bulhão?
... e "mai nada" Sancho! Assino por baixo este post! A nossa condição de leões passa por ser assim!
E lá vamos estar na "arrastadeira" do SL & Merdica (dedicada aqueles que andam com problemas em escrever o nome do nosso clube correctamente) para acabar com as excitações dos campeões antecipados!
Saudações leoninas!
Chamaste lampião ao Fernado Mendes? Lol, e não te deu uma carga de porrada?
Zportemmmmmmmm...!
Vince: não comento...
Anónimo: O Sancho saiu com poucos arranhões da refrega. Hoje, creio que mesmo ele reconhece que poderia ter sido bem pior...
Congressista: ... e o Pires de Lima, repito, o Pires de Lima chamou à Dra. Maria José um nome muito feio, que não vou repetir.
Jornalista da TVI (salivando de antecipação): Diga, diga. Qual foi?
Congressista: Chamou-lhe filha da p***.
Abençoada privatização das televisões, que nos deu espectáculos tão lindos!
Agora longe da tentação de ir off-topic, estamos a deixar os perus inchar para os trinchar na capoeira, ou repetimos a miséria que produzimos contra o Aves?
Aquelas bancadas do estádio da luz fazem-me lembrar as favelas do Rio de Janeiro.Ó meus amigos tudo quanto é cão e gato é do venfica.Aquela bancada por detrás do banco do Fernando Santos parece o Zoológico tal a cambada de chimpazés que se vê aos pulos.
Nas antas temos outro estrato.É mais uma mistura de meninos do cerco com meninas da ribeira.É portanto um conjunto de deliquentes com meninas que fazem hora sextraordinárias...Para pôr ordem nesta cambada tinhamos o guarda Abel e a famosa Carolina...As gorjetas da Carolina no calor da noite eram para pagar uma dentadura nova ao Abel...
Sendo assim só nos resta o Sporting.Um clube diferente e onde não se aceitam transexuais tipo Leonor Pinhão,nem pseudo intelectuais ou pseudo-rabos tipo o Rui Santos...
O King Lion tem razão! Depois do Oceanário de Lisboa e do Fluviário de Mora, também o Bichanário (ou Abichanário) da Luz já é uma realidade! Leonor Pinhão à presidência da Casa do Benfica de Lesbos, já!!
Bom post, Urraco!
Por falar nisto... Por acaso alguém sabe quem foi "aquele tal" que, quando quebrámos el grande jejum, parou o carro no meio da ponte 25Abril e a escalou com uma bandeira verde e branca?
Dão-se alvíssaras e tremoços a quem o identificar.
É verdade que teria sido uma injustiça se o árbitro assinalasse o penalty sobre o Pepe no último lance do jogo, porque o Sporting ganhou com todo o merecimento. Daí até dizer-se que a vitória foi limpissima...
Porque hoje é o Dia Mundial da Água, esse bem tão impressindivel para a sobrevivência humana, e logo para assistir às grandes vitórias do nosso Sporting, aqui fica um poema do Bocage:
A ÁGUA
Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.
Saudações Leoninas
completamente de acordo: "Penso logo "sportingo"".
Grande Barbosa du Bocage.
A água é um bem precioso aos mais diversos níveis. Tenho um amigo chamado Baptista, um grande intelectual oriundo das Beiras que muito gostaria de ler este post.
Já dizia Confúcio: desconfia dos clubes que nunca passaram pelo menos 15 anos sem ganhar um título de campeão, porque isso significa que a vontade e o paixão dos seus adeptos nunca foram testadas a sério. Ou, pegando nas palavras de Nietzche: para vestir de vermelho basta a poltronaria dos fracos; para vestir de verde-e-branco é preciso toda a bravura dos fortes.
Tenho k corrigir k o sportinguista k parou o carro no tabuleiro da 25 de abril e subiu com uma bandeira ao cimo da ponte foi na vitoria da taça com o maritimo e não a festejar o titulo nacional
Obrigado pela dica. Estava mesmo convencido que a cena da ponte tinha sido no título.
Gostava mesmo era de saber quem foi.
Esse homem merece uma estátua... LOL
Enviar um comentário
<< Home