Eu também tomei ácido
Em histórico testemunho, o jornal “A Bola” publica hoje seis páginas de entrevista a Fernando Santos, dedicadas ao penetrante tema da espiritualidade na vida do treinador do Benfica ou, nas palavras do próprio, a um caso de clique. Ali, com o espaço que a memorável ocasião proporciona, Santos conta a história da religião em versão futebolística usando metáforas que fariam inveja a Santo Agostinho.
Duvida? Ora comprove a réplica lapidar do treinador quando o informaram que estava convocado para a selecção de Cristo:
- Disseram-me no último dia do curso de cristandade: “Cristo conta contigo”
- E eu respondi: “Pode contar!”
Seco. Peremptório. Decidido. Fernando Santos acatou a convocatória do mister dos misteres, mostrando estar pronto a dar o seu contributo à equipa, mesmo que a substituição já decorra no tempo de compensações ou que o coloquem como acólito, fora da sua posição original.
Esclarecido, Fernando Santos revela também que é contra o aborto. Contra a eutanásia. Contra os partos assistidos e contra a anestesia no tratamento das cáries dentárias. Contra os dálmatas de porcelana nas salas de jantar e contra as pessoas que mudam sílabas nas palavras grandes e dizem “befatada” ou “tufone”. Contra as gaitas presas no fecho éclair das calças de ganga [ele há tragédias inconfessáveis!] e contra os trejeitos contranatura do Ney Matogrosso. Resumindo: em havendo pilhéria, Fernando Casto… perdão… Fernando Santos está contra! Faz algum sentido: a maioria dos benfiquistas que conheço também está contra o Fernando Santos no Benfica!
Conduzida pelo sóbrio José Manuel Delgado, jornalista que junta a pose impecável de estadista a uma atroz ausência de ridículo, a entrevista toca nas questões fracturantes [desta vez, não tem nada a ver com o Petit] da fé e identifica as questões palpáveis [sem qualquer relação com o metier de Carolina Salgado] da religião. Fernando Santos pretende que se pare a guerra no Médio Oriente para que todos possam discutir os respectivos pontos de vista, perspectiva que me parece, não só refrescante, como pragmática. Afinal, nunca ninguém quer conversar com os homens-bomba! Aliás, por trás da barbárie paleolítica de um lançador de rockets – especialidade só por malícia não reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional –, esconde-se uma alma compassiva e meiga, capaz de assistir a uma peça de duas horas da Seiva Trupe sem perfurar o pâncreas com palitos lareine.
Fernando Santos é aquilo que os psicanalistas chamariam um palerma. E eu também não devo estar benzinho porque perdi 20 minutos do meu tempo a lê-lo.
22 Comments:
Vieste à Invicta ver teatro? Faz-te bem, faz-te bem.
Desejo do Fernando Santos para 2007:
"Que haja paz no mundo e que todas as crianças tenham o que comer!"
Profundo... actual... significativo... impactante!
Ao contrário do JJ, não acho que tenha sido violado algum princípio sagrado da religião. É um texto divertido, à maneira do Bulhão, que leva o mais religioso dos leitores à gargalhada, mas que não deixa de fazer passar a mensagem essencial: não cabe à Bola, nem ao Fernando Santos, fazer a evangelização da malta. Se ele não fosse católico ou se ele fosse ateu, alguém gastaria seis páginas com uma discussão sobre fé? Não. E acho que o ponto implícito no post é genial: a Bola gasta páginas de mais com temas que não o merecem. Tenho dito.
Bulhão: és o maior! Já fiz forward do texto para a minha lista de contactos.
Não assinei o comentário de há bocado. Agora já está
Simplesmente genial! 2007 começa bem, aqui no Mãos ao Ar!
Um ano de 2007 cheio de boas notícias pessoais, profissionais e sportinguistas são os votos do Blog O LEÃO DA ESTRELA!
"Que haja paz no mundo e que todas as crianças tenham o que comer!"
Alguém sabe o que leva o Fernando Santos a adoptar o discurso de candidata a "miss Portugal"?
É só lábia da lagartada. Perdem no Restelo e no Bessa e o leãozinho começa a fazer miau miau.
Com o Maestro, ninguém nos pára. 2007 é o ano da águia no calendário chinês.
Por acaso, 2007 é o ano do porco no calendário chinês. É quase igual...
Grande post, entrevista surreal!
Ontem quando passei os olhos pela entrevista pensei logo:" Grande assistência para o Bulhão concretizar!"...Acertei! E logo eu que não acreditava em premonições sem serem as do F. Santos!
Nada com uma entrevista sobre fé na bíblia dos lampiões em época de referendo à interrupção involuntária da gravidez! E com tomadas de posição públicas! A instrumentalização continua...
Jay Jay:
Respondo atrasado, mas ainda a tempo. Julgo que foi o Ricardo Araújo Pereira que sintetizou, com invejável clareza, a posição com a qual me identifico: é das coisas sérias que devemos rir e fazer graça e são os temas mais sombrios que merecem ser aligeirados.
As outras coisas, por definição, já são a brincar.
é o que dá não explicares que o ácido que tomaste não era o fólico...
Olhem os comentários do chalana tão, mas tão a propósito! E a patetice, pelos vistos, não é só do engº, o JJ anda a fazer concorrência!
Adoro a tua escrita, Bulhão.
Ora nem mais Bulhão. Se bem que, voltando a pensar no assunto, tenho alguma dificuldade em encarar o que quer que venha na Bola seriamente... :D
Caro Bulhão Pato
São os chamados 20 minutos à Benfica do Beato do Estoril – futebol chocho, para os lados, desenxabido, enfim, assim uma espécie de canja de galinha morna. Percebo, deste modo, muito bem (e os benfiquistas ainda melhor) essa tua súbita sensação de enjoo…
Mesmo assim parece que conseguimos, é verdade, perder com eles, mas– posso segredar-te aqui em primeira mão, isso fez parte de um plano, sim, isso mesmo, um frio e cínico plano, cujo desenvolvimento foi decidido após o Querido Manha, ter comprovado cientificamente – utilizando raciocínios sustentados em programação não linear, que o Sporting nunca ganhou campeonatos disputados a dois com o FC Porto em que o Benfica se tenha atrasado bastante cedo do par da frente.
Daí que o Custódio e o Ricardo, devidamente instruídos pelo Paulo Bento, tenham liderado a equipa nesta mui difícil proeza (quase única, neste ano…) de conseguir perder em casa com o Benfica… Não foi fácil, mesmo assim, perder o jogo e se não tivesse sido o exemplo do nosso capitão e vice-capitão e uma ajuda do árbitro, não sei se teríamos conseguido concretizar esse nosso (secreto) objectivo…
Um abraço
Leão Bolhão
Tu é que estás cada vez mais palerma, Bulhão Pato. Sou benfiquista e antigamente achava muita piada ao teu blog. Cheguei a recomendar a leitura so mesmo a amigos meus. Mas agora, se calhar pq já te apercebeste que o Sporting vai voltar a ficar de mãos a abanar, estás te a tornar cada vez mais ressabiado. E a piada? Nem vê-la...
Palerma? Isso aleija...
É sempre bom notar que afinal há quem leve a sério este blog :p
Talvez nunca seja demais obrigar todos aqueles que o visitarem a ler sempre e sempre o texto do cabeçalho.
Seguramente, evitará muito comment estapafúrdio (aposto q esta palavra nunca tinha sido usada nesta página, hã?)
Este blog é para rir a bom rir e já sabemos que os lamps ad eternum nos darão motivos para tal. Por isso, força Bulhão e Sancho.
Quanto às opções editoriais da Bola, são perfeitamente normais: é sabido que o jornal é próximo ad benfica.
Quem alega que a Bola entra por temas que não deve, está errado. Não há hoje em dia revista ou jornal temático que não dedique espaço a outros temas, sobretudo quando fazem as chamadas entrevistas biográficas.
Mais: toda a gente vê as libidinosas da última folha do Jogo; mas não sou eu que irei reclamar :)
Perdeu-se um bom sacristão da Paróquia dos Salesianos, mas para gáudio dos anti-lampiões - cada vez vão sendo menos porque os homens não fazem mal a ninguém - ganhou-se um grande entertainer das bancadas do estádio da EDP.
Confesso que achei muita piada ao post... e à entrevista também.
Os caros benfiquistas que frequentam o "Mãos ao Ar", e eu sou um deles, não devem levar o Bulhão tão a sério... de certeza que nem ele o faz.
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