150 gramas de narcisismo
Um comentário no post sobre o plágio do jornalista de “A Bola” (ver aqui) motiva reflexão séria deste vosso criado. Em primeiro lugar, a jornalista que assina a réplica defende que o caso em análise não se tratou de plágio, mas sim de um esforçado processo de documentação. É um argumento que convence pela convicção. Nem quero dizer mais nada para não estragar, mas não resisto a uma gracinha: “solidariedade corporativa” escreve-se com “o” ou com “u”?
Mas o verdadeiro pontapé de saída para a discussão é o repúdio sentido pela profissional de jornalismo em relação aos blogues, esses antros viscosos do submundo da Internet. Eu também penso assim. Aliás, penso nos blogues como covis de gente narcisista, mal-educada e deslumbrada porque subitamente alguém a leva a sério. E estou só a pensar no meu colega Sancho.
Mais a sério: não tenho ilusões quanto à pseudo-revolução produzida pela blogosfera. Não somos os arautos da liberdade de criação nem nos tornámos, com um passe de mágica, em finos produtores de conteúdos, independentes das organizações institucionalizadas de comunicação. Não somos porta-estandartes dos amanhãs que cantam, nem franqueámos as portas que Abril abriu – mais dois versos do Manuel Alegre e desato a chorar…
Dito isto, porém, há algumas brincadeiras permitidas pelos blogues que são inéditas. E que pontualmente moem os media enraizados. Uma delas é a confirmação da célebre tirada do poeta satírico Juvenal: Quis custodiet ipsos custodes?
Quem é Juvenal, perguntam? E como se explica a aposta no Custódio? De bola, já se vê, Juvenal percebia pouco, mas o senhor até tinha visão de jogo e perguntou à posteridade: quem policiará os polícias? Resposta: para alguns, a brigada de trânsito! Para outros (espero que para a maioria), os blogues. Nós somos vigilantes. Não produzimos nada de jeito, mas vigilamos... ahem... vigiamos, com olhos de condor, com astúcia de raposa, com córneas de lince – metáforas finíssimas! Finíssimas! – o trabalho dos media. E denunciamos, normalmente aos urros e ameaçando com pancada, que o rei vai nu e os jornais se enganam. Metem a pata na poça. Publicam mentiras e meias verdades. Insinuam calúnias e boatos. Não distinguem notícias de opinião. Copiam textos uns dos outros. São refúgio de colunistas cujos raciocínios parecem produzidos por microcéfalos. E, mais grave do que todas estas tropelias, FAVORECEM O BENFICA!
Dirá a jornalista que os senhores é que têm o treino, a especialização para formatar a informação em pacotes consumíveis. Sempre que escuto esse argumento, lembro-me do João Querido Manha e não consigo parar de rir. Esforçando-me por conter a gargalhada gutural, argumento que a tarimba jornalística é um desses conceitos mal definidos, que se usam para justificar tudo e mais alguma coisa, mas que são indetectáveis e não resistem a uma análise de senso comum. Um pouco como o "cheiro de balneário", a "mística do Benfica", "o passivo do Sporting", a "imparcialidade dos árbitros" ou "a heterossexualidade do Nuno Gomes".
Sugere-se ainda na resposta da jornalista que os blogues são o espaço privilegiado dos narcisistas. Aí estou disposto a conceder o ponto: sou bastante vaidoso. Aliás, eu sou o meu motivo favorito de conversa. Ainda hoje, na missa, quando o padre invocou o todo-poderoso que está no céu, eu perguntei ao fulano que se senta ao meu lado: "O que é que o gajo da batina me quer?".
Acrescento uma última achega à vaca fria (e não veja aqui qualquer insulto, menina, que isto é uma expressão idiomática da nossa terra!). Os blogues, com todos os seus defeitos e maníacos (basta passar pelo blogue do Pedro Neto para perder qualquer fé na evolução darwinista), são escrutináveis. Têm contadores precisos de audiência e não necessitam de fabricar dados de circulação ou audiência. São o que são: chegam a algumas dezenas de maluquinhos e não têm de fingir que representam a sociedade civil. Quantos jornais conhece que podem dizer o mesmo?
27 Comments:
O senhor prior também deve ter dito: abençoados os pobres de espírito, pois deles é o reino do céu.
É assim um caminho fácil para a redenção. Basta ser-se medíocre jornalista e caso se seja de A Bola então as portas de S. Pedro escancaram-se.
Só não concordo consigo num ponto Bulhão, e é na microcefalia. Para mim, microcefalia é o que faz espreitar o blog do Pedro Neto (sem ofensa para si que sei que espreitou). No caso destes ilustres jornalistas é mesmo caso de acefalia total.
Afinal, compará-los com uma mosca (essa sim com um cérebro minúsculo) é uma ofensa à própria mosca. Pelo menos foi o que li na NG Magazine...
Retribuo o "cumprimento" mas já começo a pensar que é perseguição... continuas a enxovalhar-me mas vais ao Encarnados pelo menos uma vez por semana! Sim, os registos são infalíveis, está revelado o teu segredo (riso, alarve, de vilão).
Curiosidade mórbida "à portuguesa", tens uma paixão secreta, e mal resolvida, pelo Benfica ou as duas coisas? :)
Saudações Encarnadas!
Reconheço a custo que vou pontualmente ao... Encarnados! Mas é só para espiar, para minar e para deixar insultos anónimos.
Vejam lá isso!
Judas!!!!!
Bulhão Pato: o blogue do Pedro Neto tem muita qualidade. Não me interessa discutir isso aqui por isso nem vale a pena responderes.
Na leitura que fazes dos blogues, estou contigo. Caricaturando, é mesmo isso. Uns egos mais ou menos inflamados, mais ou menos necessitados do conforto da concordância dos comentadores/leitores.
No resto não concordo contigo. É demasiado fácil tomar a parte pelo todo. É demasiado fácil apontar o dedo aos jornalistas que têm uma profissão considerada, nos dias de hoje e no contexto futebolístico, social e político, de alto risco.
Quando falamos numa reportagem, simples e sem pretensões a "laureamento", podemos falar mesmo em "romance". O jornal existe para isso mesmo, também.
Quantas imprecisões existem na reportagem d'A Bola? Quantos portugueses passam os olhos pela NG? E pel'A Bola?
O jornalismo antigamente era bem mais dado a este tipo de reportagens. Hoje não há tempo para isso. As caixas de texto encolhem (sei do que falo), as frases encolhem também e, com isto, a percepção perde-se. O conflito das palavras agudiza-se. E o jornal vende mais. Mas acredita: "tu" percebes menos.
Mas este é o nosso mundo, não é particular dos jornalistas. Se o chefe quer as facturas do almoço do vizinho na contabilidade da empresa, nós anuímos e contabilizamos.
O resto são lérias.
Mencionar Pedro Neto, ja demonstra um gosto pouco recomendavel, mas espreitar um Blog do dito,(mas ele tem mesmo um blog, e tem escrita reconhecivel por seres inteligentes? ) estou de acordo com lionheart, é mesmo caso de acefalia total, e isso so permitido aos indefectiveis acefalos do clube galinacio.
Bulhao Pato fiquei bastante apreensivo consigo, esses desvios teem de ser revistos.
O Bulhão tem toda a pinta de ter sido aluno do Carvalhas. Dispara em todas as direcções e não gosta de nada.
Parece-me incrível que o autor do texto acredita no que escreveu. Seguramente que os jornais e jornalistas não têm só defeitos. Se não, por que motivo os lê?
Gosto muito do seu estilo de escrita, mas poderia tentar ser mais construtivo.
... esqueci-me de referir a pornografia. Não fossem os blogues e onde encontraríamos novas remessas de pornografia gratuita? No site d' A Bola? Não me parece.
Pedir ao Bulhão para ser construtivo é o mesmo que pedir ao Nuno Gomes para deixar de usar gel, seja marca "genérica" ou não.
Arrefinfa-lhes Bulhão, que só se perdem as que cairem ao chão.
Tu... és grande!! Lindíssimo. Pena eu não ser sportinguista para apreciar ainda mais.
Enquanto sportinguista encontro aqui no Mãos ao Ar um recanto de paz e reconciliação com os jornais desportivos, caros jornalistas disso.
Consigo entender que entre o "meio cheio" e o "meio vazio" seja irresistível dar alegrias a essa maioria de consumidores - os encarnados. Mas farto-me de esbarrar com dualidades que não me deixam de revoltar.
Esta semana é até exemplar para se fazer uma tese acerca do tratamento que recebem Sporting e Benfica nos jornais e televisões - vejam-se os jogos e depois analize-se o que foi passado ao público (sobre cada um e comparativamente) acerca de "tremideira", "limpeza da vitória", "declarações VS razões de queixa sobre os árbitros", por exemplo.
Veja-se a "antena" que é dada para agigantar ou apouquizar, fazer pouco - sobre cada um e comparativamente.
Enfim, a lucidez e isenção do Mãos ao Ar é de louvar. Bem-hajam
(peço desculpa por alguma falta de qualidade no texto mas, enfim, eu não sou jornalista)
Lúcidos? Isentos?
Há aqui um terrível equívoco...
.-)))))))))))))))
não será exactamente equivoco, chamar-lhe-ia rigor expressivista de termos. não acredito na isenção - não existe. daí, conhecendo a perspectiva da fonte (bulhão e sancho) posso (posso?) chamar-lhe (assim) isento... enfim e em suma:
bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum (como num estádio, interpretado com vozes e tambores)
GOSTO!
Fica no ouvido: Bulhão pum pum! Bulhão pum pum!
Vamo' lá, toda a gente: Bulhão pum pum! Bulhão pum pum!
Com esta conversa toda fiquei curioso com o blog do pedro neto, mas não consigo entrar.
Ao tentar entrar o meu computador dá o erro :
"FATAL ERROR - LAMPS WEB SITE"
bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum bu-lhão pum pum pum
Eu gosto muito de jornais e por consequência, de jornalistas. Afinal, se não fossem eles como saberia eu que o livre do Ronny tinha sido um petardo a 222 km hora (e que uma diagonal não é uma linha recta)? Como saberia eu que se pode requerer um indeferimento tácito? Quando é que a minha criatividade veria um Tonel de ataque? Ah pois é!
Bem visto pessoal.
Ainda hoje de manhã ouvi uma notícia da SIC dizendo que a procuradora adjunta tinha recebido um mandado para investigar. Não foi do meu ouvido porque o mesmo texto apareceu em inserção. Era "mandado" mesmo.
É uma pérola pessoal. Afinal de contas, se a senhora pode ser mandada, não farão mesmo falta os mandatos para nada.
Mas se alguma vez imaginaram qual é a expressão de um boi a olhar para um palácio, perguntem a um jornalista qual é a diferença entre lucros e receitas. Pode até ser um comentador económico (se é que o conceito existe).
É de chorar a rir!!!
E a jornalista Patrícia M. ainda nos ficou de esclarecer se defendia a classe, o jornalista visado ou a ela própria quando se dedica à práctica da kalkitage.
Quando a Patrícia diz “...tenha caído em tentação e aproveitado, para pintalgar...”, só para nós termos uma referência, quer-nos dar o conceito que entende por “pintalgar”? Pintalgar? Uma pintinha aqui, outra ali, o que acho que, todos nós, não jornalistas, entendemos? Ou tantas pintas que essas mesmas pintas passam a ser predominantes e a ocultar o trabalho do jornalista?
Acredita que 7 (sete) pontos em comum em que os mesmos pormenores (estes já não tive para os contar, porque são muitos) são salientados, é pura coíncidência e mero trabalho de investigação na internet por parte do jornalista? Se acredita, peça ao seu editor que a ponha na edição da página daquele pessoal que deixou de beber e de fumar, vulgo, página da necrologia. Se não acredita, está no bom caminho. No caminho em que os jornalistas pensam por eles, têm opinião própria, não induzida, e não se sujeitam a operações para remoção de espinha dorsal. Já agora, uma garrafa de whisky na redacção, vai ver que é deveras inspirador, tal como um director aos gritos para deixar-se de internet e ir atrás do que realmente se passa, a notícia.
Concordo consigo num ponto, quando diz “Ora então alguém acredita mesmo que o jornalista da NG viu His Highness Sheik Mohammed bin Rashid Al Maktoum... passear a pé pelas docas?”. Obviamente que se o repórter d’A Bola não o viu, quem mais é o que iria ver? Um qualquer repórter do NG que às tantas até poderia ter gravado em video e um dia destes entrar-nos pela TV adentro num qualquer canal, incluíndo os canais públicos? Tempos houve em que comparar a instituição “A Bola” (jornal) com a instituição “National Geographic” (eu sei lá o que raio é que esses gajos mais fazem por esse mundo fora) era considerado blasfémia. Felizmente, não foram os meus tempos. Nem os seus.
Por fim, quando a Patrícia diz “crucificar o escriba desse pasquim avermelhado que é A Bola” está a defender o seu clube, e como tal, a malhar no Bulhão, ou é simplesmente a esposa do Gonçalo Guimarães?
Patrícia M.,
O Bulhão também não tem razão! Hein, quem é amigo, Patrícia, quem é?!
Ó Bulhão, estás redondamente enganado quanto à opinião que tens dos blogs, e como tu referiste, não posso ir pela tua modéstia (AHAHAHAH), mas a verdade é que os blogs revolucionaram e de que maneira! Há muito blogueador que, se tivesse uma oportunidade, e deixasse a modéstia de lado (não o Bulhão, que esse é um herege e até vota não ao aborto só para irritar o padre liberal do bairro dele) já andava aí nas redacções de jornais a dar cartas...nem que fôsse à bisca dos 7. Os Fedorentos, o Mexia, até o Pacheco Pereira (voltou-se a ouvir falar nele ou não?), etc., foi assim que apareceram e mais virão em outras áreas. Na área da informação, nunca estivémos tão bem informados. Há informação que nos permite ver que de facto a Besta anda aí. O Mafarrico está entre nós. O Belzebu tenta conquistar-nos. O Capeta até on-line nos tenta atormentar. O Chifrudo até pôe gente a botar discurso na impoluta televisão. O Rabudo faz trinta por uma linha para nos entrar em casa em forma de papel.
É por isso que não compro “A Bola”.
Este post devia ser publicado ao lado da coluna plagiada, muito bem.
Isso de se chamar Bulhão tem alguma coisa a ver com o facto do scp levar muitas vezes na bilha?
Bem, esta coisa da internet parece-me mesmo ser fantástica!!! então se o jornalista consegue fazer todo o trabalhinho em frente ao computador para que é que o raio do jornal foi gastar uma fortuna com um "enviado especial" ao local????? ia ao quiosque da esquina comprar a NG e já estava... ou então, para ficar com a noção que o gajo era "enviado especial" para qualquer lado, enviava-o ao ciber-café mais próximo e o gajo fazia o serviço lá!!!! ora esta... se o pancrácio foi ao Dubai exclusivamente fazer (e escrever) aquilo que qualquer pessoa minimamente inteligente (ou seja, não adepto do clube do bairro) e com acesso à internet podia fazer não fez anda mais que um mau trabalho. E que tal se tivesse realmente reportado algo de novo, algo de interesante e que fosse do desconhecimento da maioria das pessoas??? (podia ter visitado a prisão onde o num-sei-das-quantas esteve preso por ter fumado um charro!!! LOL)
oque toda a gente se esquece é que os jornalistas não foram rfazer reportagens sobre o Dubai, mas acompanhar uma equipa de futebol. E que escreviam cinco páginas por dia.
Aconselho a leitura integral dos dois trabalhos para uma comparação honesta.
É possível colocá-los num post para toda a gente ler e tirar as suas conclusões?
O que diz faz sentido e, de facto, não posso oferecer outra garantia aos leitores para lá da minha honestidade intelectual.
Porém, não vou ser eu a copiar 20 páginas da NG e uma página de texto "A Bola" só para demonstrar que não trunquei pedaços significativos dos dois textos.
Já agora, respondo a outro tópico que me aborrece: não pedi, de forma alguma, a cabeça do jornalista. Não o conheço, nem quero. Percebo perfeitamente que ele não foi lá só escrever aquela página. E, se calhar, até assinou boas notícias.
Da parte que me toca, acho que toda esta publicidade foi castigo mais do que suficiente. Ponto final nesta história.
O Bulhão está magoada porque foi ele que fez a tradução portuguesa do NG e nem um crédito teve!
Devemos afirmar que é bem feito por andares nos "encornados"....
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