Os Merdinhas - Parte 2
Ao contrário do Bulhão Pato, não venho escarnecer nem destilar ódio para com um jogador que passou do Sporting para o vizinho da segunda circular. Pelo contrário, o jogador em causa teve uma atitude altruísta e que, parecendo uma grande contradição, acabou por demonstrar um profundo amor à camisola verde e branca.
Não, não me refiro ao Marinho, o lateral direito que Queiroz adaptou à inovadora e revolucionária posição de “pau para toda a obra”, embora este também tenha prestado um bom contributo à causa leonina – a contar pelo número de jogos que fez pelos encarnados e respectivas exibições paupérrimas.
O jogador a que me refiro dá pelo nome de Porfírio. Lembram-se? Foi um jogador nado e criado em Alvalade, que somou uns quantos títulos ao longo da sua evolução na “cantera” sportinguista e que, na fase acabou por assomar no plantel principal pela mão, se não estou em erro, de Bobby Robson. Porfírio era franzino mas raçudo, com tanto de mau feitio como de pêlo na venta, mas, gabe-se o engenho, dono de um pé esquerdo que fazia furor. Robson apostou nele ao convocá-lo para o estágio de pré-época na Holanda, em Doorwerth, mas Porfírio destacou-se logo no voo de Lisboa para o aeroporto do Schipol – refugiou-se na parte de trás do avião, camuflado entre outros passageiros, passando as duas horas e meia de viagem a consumir desenfreadamente o maço de SG Gigante – era ainda nos tempos em que havia um espaço reservado para fumadores.
Pois bem, Porfírio manteve-se durante uns tempos no Sporting, oscilando entre a titularidade, o banco de suplentes e a bancada, independentemente dos treinadores que com ele lidaram. Dele, sempre se disse que era um predestinado, um jovem valor e uma promessa. Mas o jovem tinha dois pequenos problemas: a competitividade nessa equipa do Sporting, formada por jogadores de qualidade assinalável, e o problema de “cabecinha”, que era um atributo muito pouco desenvolvido em Porfírio – era doido. Um doido saudável, é verdade, mas não menos doido.
Depois da estagnação no Sporting, veio-lhe uma crise de completa doidice: incompatibilizou-se com o clube e assinou pelos encarnados. Foi recebido na Luz como um herói, como um trofeu resgatado no covil do leão, e surpreendeu-me, admito, quando o vi envergar a camisola da águia com um sorriso de orelha a orelha. Só algum tempo depois percebi aquele sorriso. Porfírio assinara um contrato chorudo, mas a vontade de jogar era nula. Andou pela Luz aos pontapés no esférico até que, para variar, incompatibilizou-se. Com o clube, com os colegas, com os dirigentes. E até com a bola.
Num ápice, ficou a treinar com a equipa B, depois com os juniores e, de seguida, sozinho, às 7 da manhã. Mas vivia feliz: não jogava naquela equipa ranhosa – como ele próprio a definiu – e ainda arrecadava 15 mil contos no final de cada mês. Foi feliz na Luz durante vários anos até que, cansado, lá conseguiu chegar a entendimento para rescindir o contrato. E ainda recebeu uma indemnização.
Não sei o que é feito dele, mas proponho que o ponto alto da sua carreira seja a atribuição do prémio Stromp. Por dedicação à causa leonina, Hugo Porfírio bem o merece.
18 Comments:
Uma vez, em resposta a um inquérito da saudosa Gazeta, o Porfírio respondeu a frase que chocou meio mundo: "Em campo, sou como os nazis. Vou lá para dentro para partir tudo!"
Subscrevo o texto, Sancho. Um stromp para o Porfírio!
E eu que nem sou chamada para este clássico, atrevo-me a acrescentar que, como factor desmoralizador, é brilhante. Arrasa qualquer um...
Há muitos anos atrás também votei num homem que é hoje um ternurento velhote para ser eleito Presidente da República em detrimento de um outrora perigoso fascista agora convertido.
Isto tudo só para dizer que entre o Hugo Porfírio e o Simão não há comparação, sou a favor do Merdinhas 2.
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Não há dúvida que o Porfírio merece, pelo menos, um Rugido de Leão. Mas uma menção honrosa para Marinho, que após algum tempo no Benfica entrou em depressão ('cheguei a perder a alegria de viver') e abandonou o futebol... para regressar pelo Estrela da Amadora.
Rugido absolutamente merecido, Ferenc.
Já agora, não querendo antecipar o Merdinhas número 3 (que será afixado amanhã), tu é que tinhas talento, dados e memória para assinar o texto sobre o Merdinhas número 4 (a publicar no dia do jogo).
Refiro-me, claro, ao Laranjeira, de quem tenho uma vaga memória e que reconheço, sobretudo, pelos insultos que os mais velhos ainda lhe dedicam. Pensa nisso!
Será Dani, será Cadete??
Sá Pinto não é certamente!
E o Futre cabia aqui...
Caro Bulhão, atenção à forma como abordas o Merdinhas 4. É que o Laranjeira, esse grande senhor do bairro da Bica não o merece. Não metas tudo no mesmo saco, senão arranjo-te um 31 e não é o Liedson, ainda é mais perigoso.
Tu sabes do que eu estou a falar.
Concordo plenamente com um prémio oferecido pelo sportem ao Porfirio.
Afinal, o Benfica já fez uma grande homenagem, (até se pensou em colocar uma estátua, ao lado do melhor do mundo) ao grandioso Bruno Caires. Ainda me lembro de o ver a pagar quotas n Luz com o dinheiro que recebia no sportem.
Bom fim de semana. Eh eh eh
Podem ainda apostar noutro tipo de Merdinhas. Aqueles que por mais que os queiramos ver pelas costas, alapam-se e vão-se deixando ficar até que os contratos expirem. Aqueles que pela sua mediocridade, ninguém lhes pega e por causa dessas coisas da democracia e direitos do trabalho, o Sporting não consegue sequer pô-los a tratar da relva, limpar o estádio após os jogos, servir snacks nos camarotes, etc.
Dou como dois exemplos, Quim Berto e Afonso Martins, mas mais haverão.
Oh meus amigos, então e a parte 3? eu não tenho o dia todo! ;)
Isto não é uma fábrica de parafusos, Helena.
Já vai!
:D
Vá lá Bulhão, que ainda tens que ir ao Apre e ao Dianabol ;)
Passo a publicidad, claro!
Pietra, o Khadafi dos Pneus também paga quotas noutros clubes, também o vistes a cumprir esse tão bonito acto?
Sinto-me lisonjeado, caro Bulhão. Vou tentar arranjar alguma coisa mas não sei é se vou ter tempo. Mail?
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vistes?? Ainda falam do LFV...
mas afinal alguem sabe por onde pará o porfírio ou não?
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