O Elo Mais Fraco
Conheci o Hélio há mais de dez anos. É daquelas pessoas de que se gosta ao fim de cinco minutos: é directo, objectivo (brutalmente objectivo, diria mesmo) e move-se por paixões. A dele - vá lá compreender-se porquê - é o Vitória. Não é do Sporting, do Benfica ou do FC Porto. É do Vitória.
Um dia, o Hélio contou que tinha alguma pena de não ter aceite os convites do Benfica (no último ano de júnior) e do Sporting (no segundo ano profissional). Não viajara para Lisboa, onde seguramente consolidaria a carreira e a carteira, porque o pai não suportaria vê-lo jogar com outra camisola. Em Setúbal, nascera. Em Setúbal, morreria desportivamente.
No Vitória, tornou-se rapidamente capitão. Subiu e desceu de divisão sempre de verde e branco. Ganhou uma Taça de Portugal que, perdoem os benfiquistas, mereceu mais do que ninguém. Acabou a carreira como a maior figura do futebol do Vitória depois do JJ.
No ano passado, convidaram-no para o lugar do morto deixado vago por Norton de Matos em face da vergonhosa crise financeira do clube. Cego, aceitou de pronto e sem condições prévias. "Ao Vitória não se diz não", disse.
Este ano começou mal. O plantel é limitado, a tesouraria está vazia, a direcção do clube está de mãos atadas depois da demissão do presidente da Câmara, que segurou o barco nos últimos tempos.
Em face de duas derrotas e um empate, o Vitória prescindiu rapidamente do Hélio. Dizem os jornais que ele escutou a notícia, juntou os objectos pessoais num saco de plástico e voltou para casa em lágrimas. A carreira do Hélio como treinador acabou ontem, estou certo.
Acreditem os setubalenses, porque vem de um adepto de um clube que trata tão mal ou pior as suas lendas: o Vitória não podia ter sido mais ingrato!
6 Comments:
Porque o futebol agora é, dizem os iluminados, um "negócio".
Fica no entanto a dúvida:
Como se avalia uma gestão que, ao fim de 2 jogos para a Liga (sim que a UEFA é mais uma competição desestabilizadora que algo para levar a sério) prescinde do técnico que preparou a época?
Se existiam problemas deveriam ter ficado resolvidos antes do arranque da competição e não neste momento.
Lamentável.
Sou do Sporting desde criança. Desde o tempo em que o futebol se jogava aos domingos à tarde e nós, que morávamos longe de Lisboa, ficávamos colados ao rádio a ouvir as emoções que nos eram transmitidas por vozes de nomes como Romeu Correia, Fernando Correia, Ribeiro Cristóvão, Alves dos Santos e outros.
Era o tempo em que os laterais avançavam pelo campo como se fossem extremos...
Era o tempo em que os resumos dos jogos passavam na televisão única aos domingos à noite, a horas certas e sem intermináveis "programas de publicidade" pelo meio...
Era o tempo em que "A Bola" e o "Record" eram jornais publicados a preto e branco, duas ou três vezes por semana, e eram esperados nos quiosques como autênticas relíquias...
Era o tempo em que uma equipa envergava um equipamento numerado de 1 a 11.
Era o tempo em que uma entrevista exclusiva era uma entrevista exclusiva...
Era o tempo em que havia um dia da semana chamado quarta-feira para a realização dos jogos das competições da UEFA, assim nascendo a expressão “quarta-feira europeia”...
Era o tempo em que não havia publicidade a estragar as camisolas...
Era o tempo em que não era preciso ter o nome dos jogadores na camisola, porque eles eram facilmente identificados, pois representavam o mesmo clube anos a fio...
Foi em criança que comecei a ouvir relatos de golos de jogadores talentosos como Eusébio, Chico Gordo, Jacinto João, Vítor Baptista, Nené, Fernando Gomes, Cubillas, Seninho... Mas só conseguia vibrar com o relato das portentosas defesas de Vítor Damas, Botelho ou Conhé, com os eficazes e oportunos cortes e desarmes de Laranjeira, com a espectacular fantasia de Fraguito, e com os golos “sem apelo nem agravo” de Hector Yazalde, de Marinho, de Manoel, de Keita, de Manuel Fernandes, de Rui Jordão. Os golos do Sporting, claro. E não sei por que motivo. Ou até sei. É que uma paixão não se explica. Sente-se e vive-se.
Começou na década de setenta do século passado, quando os títulos começavam a escassear no Sporting, e atravessou intacta o período mais longo da história do clube sem vencer campeonatos, que durou entre 1982 e 2000.
Este blog é um espaço de futebol para os que gostam de futebol, que vai procurar ser atractivo e interessante, transmitindo a visão de um sportinguista a quem quiser passar por aqui, nomeadamente os que gostam do Sporting.
A blogosfera é um espaço indubitavelmente democrático. Como em todos os lados onde há liberdade de expressão, a opinião é livre, sendo certo que os factos são sagrados. E, como tal, os factos podem ser merecedores de aplauso ou assobio, tendo, no entanto, o Sporting como denominador comum. Afinal, a força e o crédito de qualquer opinião também se medem pela sua sinceridade intelectual.
O blog chama-se "O Leão da Estrela". Por nenhum motivo especial. Não tem nada a ver com o filme, embora fosse inspirado nele. É apenas um nome, que tem o "Leão", que é o animal de estimação de qualquer sportinguista, e a "Estrela" de que a equipa principal de futebol do Sporting precisa para conseguir alcançar os seus objectivos.
O sucesso deste blog passa também pela vossa participação, desde logo através da leitura dos conteúdos que aqui serão lançados, mas também com as vossas notícias, curiosidades ou opiniões, sobre o futebol em geral, e o futebol do Sporting em particular, que podem mandar por e-mail. Se tiverem fotos antigas de jogadores, treinadores ou dirigentes do Sporting, agradeço. Críticas e sugestões também serão bem recebidas. Obrigado! E viva o Sporting!...
O Vitória terá, não duvido, a paga da sua insensatez.
A mim, resta-me esperar que o Sporting não siga a mesma via (como amiúde o faz).
Belíssimo texto, como é timbre.
É absolutamente injusto o que fizeram ao Hélio. E o mais chocante é, precismante, o que o Bulhão sublinha no final: dá a impressão que um clube "pequeno", que se quer "da terra", anda a aprender com os exemplos dos grandes, que maltratam constantemente aqueles que se dedicam de corpo e alma. É triste.
PS - Felicidades para o Leão da Estrela.
Subscrevo, mais um desempregado em Setubal, de longa duração!
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