Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sábado, setembro 16, 2006

O Elo Mais Fraco

Conheci o Hélio há mais de dez anos. É daquelas pessoas de que se gosta ao fim de cinco minutos: é directo, objectivo (brutalmente objectivo, diria mesmo) e move-se por paixões. A dele - vá lá compreender-se porquê - é o Vitória. Não é do Sporting, do Benfica ou do FC Porto. É do Vitória.
Um dia, o Hélio contou que tinha alguma pena de não ter aceite os convites do Benfica (no último ano de júnior) e do Sporting (no segundo ano profissional). Não viajara para Lisboa, onde seguramente consolidaria a carreira e a carteira, porque o pai não suportaria vê-lo jogar com outra camisola. Em Setúbal, nascera. Em Setúbal, morreria desportivamente.
No Vitória, tornou-se rapidamente capitão. Subiu e desceu de divisão sempre de verde e branco. Ganhou uma Taça de Portugal que, perdoem os benfiquistas, mereceu mais do que ninguém. Acabou a carreira como a maior figura do futebol do Vitória depois do JJ.
No ano passado, convidaram-no para o lugar do morto deixado vago por Norton de Matos em face da vergonhosa crise financeira do clube. Cego, aceitou de pronto e sem condições prévias. "Ao Vitória não se diz não", disse.
Este ano começou mal. O plantel é limitado, a tesouraria está vazia, a direcção do clube está de mãos atadas depois da demissão do presidente da Câmara, que segurou o barco nos últimos tempos.
Em face de duas derrotas e um empate, o Vitória prescindiu rapidamente do Hélio. Dizem os jornais que ele escutou a notícia, juntou os objectos pessoais num saco de plástico e voltou para casa em lágrimas. A carreira do Hélio como treinador acabou ontem, estou certo.
Acreditem os setubalenses, porque vem de um adepto de um clube que trata tão mal ou pior as suas lendas: o Vitória não podia ter sido mais ingrato!

6 Comments:

At sábado, 16 setembro, 2006, Blogger Felizberto Desgraçadodisse...

Porque o futebol agora é, dizem os iluminados, um "negócio".

Fica no entanto a dúvida:

Como se avalia uma gestão que, ao fim de 2 jogos para a Liga (sim que a UEFA é mais uma competição desestabilizadora que algo para levar a sério) prescinde do técnico que preparou a época?

Se existiam problemas deveriam ter ficado resolvidos antes do arranque da competição e não neste momento.

 
At sábado, 16 setembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Lamentável.

 
At sábado, 16 setembro, 2006, Anonymous Anónimodisse...

Sou do Sporting desde criança. Desde o tempo em que o futebol se jogava aos domingos à tarde e nós, que morávamos longe de Lisboa, ficávamos colados ao rádio a ouvir as emoções que nos eram transmitidas por vozes de nomes como Romeu Correia, Fernando Correia, Ribeiro Cristóvão, Alves dos Santos e outros.
Era o tempo em que os laterais avançavam pelo campo como se fossem extremos...
Era o tempo em que os resumos dos jogos passavam na televisão única aos domingos à noite, a horas certas e sem intermináveis "programas de publicidade" pelo meio...
Era o tempo em que "A Bola" e o "Record" eram jornais publicados a preto e branco, duas ou três vezes por semana, e eram esperados nos quiosques como autênticas relíquias...
Era o tempo em que uma equipa envergava um equipamento numerado de 1 a 11.
Era o tempo em que uma entrevista exclusiva era uma entrevista exclusiva...
Era o tempo em que havia um dia da semana chamado quarta-feira para a realização dos jogos das competições da UEFA, assim nascendo a expressão “quarta-feira europeia”...
Era o tempo em que não havia publicidade a estragar as camisolas...
Era o tempo em que não era preciso ter o nome dos jogadores na camisola, porque eles eram facilmente identificados, pois representavam o mesmo clube anos a fio...
Foi em criança que comecei a ouvir relatos de golos de jogadores talentosos como Eusébio, Chico Gordo, Jacinto João, Vítor Baptista, Nené, Fernando Gomes, Cubillas, Seninho... Mas só conseguia vibrar com o relato das portentosas defesas de Vítor Damas, Botelho ou Conhé, com os eficazes e oportunos cortes e desarmes de Laranjeira, com a espectacular fantasia de Fraguito, e com os golos “sem apelo nem agravo” de Hector Yazalde, de Marinho, de Manoel, de Keita, de Manuel Fernandes, de Rui Jordão. Os golos do Sporting, claro. E não sei por que motivo. Ou até sei. É que uma paixão não se explica. Sente-se e vive-se.
Começou na década de setenta do século passado, quando os títulos começavam a escassear no Sporting, e atravessou intacta o período mais longo da história do clube sem vencer campeonatos, que durou entre 1982 e 2000.
Este blog é um espaço de futebol para os que gostam de futebol, que vai procurar ser atractivo e interessante, transmitindo a visão de um sportinguista a quem quiser passar por aqui, nomeadamente os que gostam do Sporting.
A blogosfera é um espaço indubitavelmente democrático. Como em todos os lados onde há liberdade de expressão, a opinião é livre, sendo certo que os factos são sagrados. E, como tal, os factos podem ser merecedores de aplauso ou assobio, tendo, no entanto, o Sporting como denominador comum. Afinal, a força e o crédito de qualquer opinião também se medem pela sua sinceridade intelectual.
O blog chama-se "O Leão da Estrela". Por nenhum motivo especial. Não tem nada a ver com o filme, embora fosse inspirado nele. É apenas um nome, que tem o "Leão", que é o animal de estimação de qualquer sportinguista, e a "Estrela" de que a equipa principal de futebol do Sporting precisa para conseguir alcançar os seus objectivos.
O sucesso deste blog passa também pela vossa participação, desde logo através da leitura dos conteúdos que aqui serão lançados, mas também com as vossas notícias, curiosidades ou opiniões, sobre o futebol em geral, e o futebol do Sporting em particular, que podem mandar por e-mail. Se tiverem fotos antigas de jogadores, treinadores ou dirigentes do Sporting, agradeço. Críticas e sugestões também serão bem recebidas. Obrigado! E viva o Sporting!...

 
At segunda-feira, 18 setembro, 2006, Blogger Nuno Moraes Bastosdisse...

O Vitória terá, não duvido, a paga da sua insensatez.

A mim, resta-me esperar que o Sporting não siga a mesma via (como amiúde o faz).

Belíssimo texto, como é timbre.

 
At segunda-feira, 18 setembro, 2006, Blogger Diego Armésdisse...

É absolutamente injusto o que fizeram ao Hélio. E o mais chocante é, precismante, o que o Bulhão sublinha no final: dá a impressão que um clube "pequeno", que se quer "da terra", anda a aprender com os exemplos dos grandes, que maltratam constantemente aqueles que se dedicam de corpo e alma. É triste.

PS - Felicidades para o Leão da Estrela.

 
At quinta-feira, 21 setembro, 2006, Blogger Apredisse...

Subscrevo, mais um desempregado em Setubal, de longa duração!

 

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