Que Consolo!
Ainda sou do tempo em que "A Bola" tinha quase um metro de altura e, para a folhear em dia de nortada, eram necessários três leitores: um para segurar as páginas da esquerda, outro para agarrar com firmeza as da direita e um terceiro - o especialista - para tentar avançar. "A Bola", como sabem, tinha sido desenhada por um torcionário fanático, que retirava prazer da incapacidade de alguém ler o seu jornal. Quem esquece os memoráveis "continua na pág. 14", que obrigavam a repetir todo o processo para ler um parágrafo que sobejara da página 2?
Nestes tempos, registo, não havia televisão ou, se havia, os resumos dos jogos de futebol tinham dois minutos e eram filmados a sessenta metros de cada área (aquilo que, em cinema, se chama o plano inútil!). Com essa limitação, naturalmente, a televisão não servia para esclarecer controvérsias. "A Bola", sim, era o tira-teimas da nação. Por fantástica coincidência, decerto alheia às preferências clubísticas de jornalistas, administradores, cooperantes, secretárias, contabilistas e pessoal da limpeza do jornal, nesses tempos "A Bola" só se pronunciava sobre lances controversos quando uma arbitragem lesava o Benfica. Por definição, portanto, só o Benfica era prejudicado. E a nação vivia alegremente, dependendo de "A Bola" para se indignar.
Um dia, porém, a televisão começou a prestar atenção ao futebol. Com todos os ângulos potencialmente cobertos pela transmissão, o país deu conta de que, afinal, não precisava de "A Bola". Foi nesse mesmo dia, aliás, por inacreditável coincidência, que outros clubes começaram a ser lesados pela arbitragem.
Como é próprio dos monopólios - sobretudo os do saber -, "A Bola" deu-se mal com a perda de autoridade. Tornou-se risível como um velho que ainda usa polainas sem dar conta do escárnio que provoca.
Todavia, ao contrário de si, leitor, eu não tenho um coração de pedra e ainda me comovo com a decadência do jornal que aprendi a odiar.
Por circunstâncias que para aqui não são chamadas, já vi os dois suplementos de "A Bola" e "Record" dedicados à abertura da temporada futebolística. Nesse capítulo, como em tantos outros, "A Bola" fez história com os célebres Cadernos. Nesse capítulo, como em outros, "A Bola" afundou-se.
É sem prazer que reconheço que os Cadernos de "A Bola" estão para a publicação do "Record" como a Carolina Salgado está para a Eva Longoria, como a Leonor Pinhão está para alguém que consiga articular uma ideia que não seja cretina, como o Manuel Serrão está para... enfim, qualquer criatura de Deus, incluindo as amibas unicelulares que sobrevivem apenas durante meros segundos.
Soou o toque de finados para o modelo empresarial familar que vinga em "A Bola" há décadas. Querem apostar que até final do ano há surpresas?
7 Comments:
A Bolha fechar???? Daqui a pouco, estão a insinuar que o glorigozo pode descer de divisão...
Ou o Oliveirinha também compra a Bolha???
Desde que nos livrem da Leonor Melão e das capas com "manelélés", todos agradecemos...
Houve uma altura em que só entravam jornalistas do Benfica. Òbviamente que se afundou agarrada aos lampiões que só compram jornais quando ganham.
Tal como o Avante, ate os correligionarios chegam a conclusao que comprar "A Bola" so serve para fazer aguentar os amigos dentro do partido e sobreviver mesmo com o descredito que toda a comunidade lhe atribui.
Aquilo nao e um jornal e um manifesto propagandistico do SLB.
Devia ser distribuido gratuitamente nos transportes publicos e locais de movimento para dar realce ao fim que se destina, promover um clube que nada tem para oferecer, mas continua a ser de "parodia Nacional".
A Bola é um verdadeiro deleite para quem acorda de manhã a achar que os lampiões têm uma equipa vulgaríssima, mas que depois de a folhear chega à conclusão que afinal estava errado e que o SLB é verdadeiramente fabuloso, tem um "maestro", ainda por cima jovem, um avançado de categoria internacional como o Micoli, qeu o Petit é um manancial de técnica, etc....
Enfim, tudo isto para dizer que a Bola deve ter muitos mais anos de vida, porque assim os lampiões andam contentes e precisampos de auto-estima num país tão triste. Viva os garrafões e as sandes de courato!
O que acaba por ter mais piada é os lampiões afirmarem que: "A Bola só sabe dizer mal do Benfica" e só se safa "a" (não será "o"?) Leonor Pinhão!
Estás a sugerir que a Bola vai falir?, ou passar a ser isenta?!?
Eu sugiro que A Bola vai deixar de ser uma cooperativa sem fins lucrativos, pelo que o jornal pode ser vendido brevemente a um dos grupos económicos já existentes. O Meios e Publicidade noticiou que a Dra. Margarida Ribeiro dos REis vendeu a sua quota (era uma das maiores) a Argui Lima. Neste momento, um dos entraves históricos para a venda de A Bola esfumou-se: o jornal já não pertence maioritariamente a seis ou sete pessoas. Está concentrado numa quota principal. E de um homem que, ao que dizem, quer mesmo vender.
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