Aliança Luso-Britânica
Aproxima-se o ansiado duelo dos quartos-de-final entre Portugal e a Inglaterra. Depois do passeio na fase de qualificação e depois da tranquilidade da primeira fase, só após a batalha de Nuremberga se ficou a conhecer as potencialidades do seleccionado luso. Mais do que ter ganho uma equipa – esse espírito já havia transparecido na união familiar promovida por Scolari desde o Euro’2004 – ganhou-se a confiança de um povo. Mas vai ser o confronto com os ingleses que vai dizer o que esta equipa é capaz: ou fica por aqui e fica-se com a noção do dever cumprido, ou passa às meias-finais e abre perspectivas que poucos se atreveriam a sonhar.
Nos últimos tempos, os ingleses têm sido uns gajos porreiros. No último Europeu não perderam, é verdade, mas também não ganharam – foram eliminados nos penalties em que o mais improvável jogador se tornou duplo herói: Ricardo. Antes, no Euro’2000, deixámo-los acreditar que seria fácil: demos dois de avanço para de repente, numa penada épica, enfiarmos três na baliza de David Seaman – Figo, João Pinto e Nuno Gomes selaram a reviravolta. Depois, é preciso recuar no tempo, até ao Mundial do México’86: ficámos num grupo com ingleses, polacos e marroquinos. Fizemos o mais difícil ganhando aos ingleses, mas, depois, após a eclosão do caso-Saltillo, afundámo-nos com a Polónia de Lato e Mlynarzik e com Marrocos de Bouderbala e uns quantos pernetas e pastores nómadas do Alto Atlas. Perante estes indicadores, “já” estamos nas meias-finais face ao Gana ou França (ou até, mais improvavelmente, Espanha ou Brasil).Posso garantir, aliás, que está tudo combinado e que vamos mesmo ganhar.
Tudo começou em 1373, quando se assinou um tratado entre Portugal e Inglaterra, a mais antiga aliança da Europa. Inicialmente, parecia um acordo comercial, que metia a lã inglesa e os vinhos portugueses. Os tintos lusitanos tiveram tanto êxito (quem diria que, volvidos tantos séculos, seria substituído pela cerveja nas preferências britânicas...) que, ainda sob o efeito dos vapores etílicos, os ingleses vieram ajudar-nos na batalha de Aljubarrota. Mandaram uns quantos condenados à morte e presidiários com prisão perpétua e disseram-lhes “Vão lá a Portugal ajudá-los contra os castelhanos. Mesmo com vocês, a desproporção é de quatro para um". Consta que os ingleses recusaram, que preferiam morrer ou ficar prisioneiros para sempre do que vir aturar as nossas guerrinhas, mas lá os convenceram que Aljubarrota era mesmo ao lado da Praia da Rocha e eles vieram. Não eram precisos, bastava uma simples padeira para despachar os castelhanos, mas viemos a sofrer as consequências: D. João I teve mesmo de casar com a horripilante Filipa de Lencastre, que o rei inglês não conseguia impingir a mais ninguém – nem mesmo aos príncipes do Togo. Depois, foi só renovar o tratado, desde o de Metween, em que o vinho do Porto (mais uma vez o vinho) tinha preferência no marcado britânico, até que os ingleses se chatearam e nos forçaram a assinar o mapa cor-de-rosa. Uma cor que lança suspeitas sobre a masculinidade dos súbditos de sua majestade: primeiro, a cor deste mapa, depois, o símbolo que aqueles sujeitos boçais e brutamontes do râguebi usam ao peito: uma rosa, ai.
Por questões históricas, os ingleses estão, portanto, obrigados a ajudarem-nos. Eriksson e Scolari são os D. João I e as D. Filipa de Lencastre dos tempos modernos. Eriksson, claro, faz de Filipa, Scolari, obviamente, vai fazer de Felipão.
4 Comments:
Lindo. Um tratado, meu caro, um tratado.
Ena. Sejas bem aparecido. Em grande, Sancho, em grande.
Muito bom! já agora, podia-se incluir aqui os jogos entre clubes ingleses e portuguesas nas competições europeias. Também aí os "bifes" estão sempre a "enfardar": Midlesborough, Newcastle, Man Utd, Liverpool...
Entretanto passaram pelo vinho da Madeira, onde um tal "Garajau", em contrapartida, continua a "ensaboar" o juízo ao Alberto João eh eh eh
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