A Odisseia dos Sete - Parte 4
Encerram-se hoje as comemorações da Odisseia dos Sete. Mais que uma odisseia homérica, mais que uma saga escandinava, mais que uma epopeia medieval e mais que uma gesta lusitana, o jogo do nosso contentamento, o tal dos 7-1 (ou, como toda a gente diz, dos “setaúm”), perdurará para sempre na gaveta mais limpinha do nosso arquivo de memória. Todos recordam as peripécias que envolveram o jogo, todos têm as suas histórias pessoais para contar, alguns, de peito cheio e orgulho inflamado, podem bradar “Eu estive lá!”, outros arrependem-se para o resto das suas vidas e lamentam-se de não terem lá estado.
Os 7-1 são um marco no futebol português, mesmo que não tenha sido a maior goleada infligida pelo Sporting ao velho rival da Luz. Como diz o Bulhão, o Sporting não ganhou o campeonato, mas também eu não trocava o título por esta goleada. Soletrem comigo: “Se-te-a-um”, se-te-a-um”, “se-te-a-um”. A frase ribomba como um martelo na cabeça de cada benfiquista em qualquer parte do mundo.
Qualquer epílogo não ficaria bem se não se recordassem os personagens principais. Pois bem, nessa bela tarde de 14 de Dezembro, o Sporting alinhou com Vítor Damas na baliza, o quarteto defensivo era formado por Gabriel, Venâncio, Virgílio e Fernando Mendes; Oceano jogou a “trinco”, a linha média contou com Litos, Zinho (emprestado pelo Braga) e Mário Jorge, e os atacantes de serviço eram Meade e Manuel Fernandes. Manuel José (o tal que foi posteriormente despedido do Benfica por “incompetência”) ainda fez entrar Silvinho e Duílio.
Os outros heróis do jogo foram Silvino, Veloso, Dito, Oliveira, Álvaro, Shéu, Chiquinho Carlos, Diamantino, Carlos Manuel, Wando e Rui Águas. Não deixa de ser curioso atentar no percurso dos jogadores benfiquistas, e estou a citar de memória: Silvino, hoje no Chelsea, andou alguns anos pelo FC Porto; Veloso, além do momento alto de ter falhado um penalty em Estugarda, tem como coroa de glória ter um filho que é jogador do Sporting; Dito deve estar a cumprir acções de formação em psicologia em Braga; Oliveira é fiel seguidor do “capitão” Manuel Fernandes; Álvaro está a treinar um clube que equipa à Sporting; Shéu deve ser secretário-qualquer-coisa no Benfica; Chiquinho Carlos deve ter desaparecido, tal como aquele com o bizarro nome de Wando; Diamantino, relembro-o de leão (ainda não tinha sido inventado o galgo) ao peito quando treinava o Sporting Clube Campomaiorense; Carlos Manuel arrependeu-se do seu passado de vilão e juntou-se aos heróis de Alvalade uns anos depois; e Rui Águas ainda merece algum crédito depois de se ter mudado com armas e bagagens para o FC Porto.
Por fim, a actriz principal: a bola do jogo. Manuel Fernandes, mal acabou o desafio, agarrou-se a ela e não mais a largou – ainda tinha as marcas dos quatro golos que apontou. Hoje, encontra-se no Mundo Sporting, o museu de Alvalade. Eu, venero-a mais do que a relíquia de Buda (nesta caso um osso) que roubei num templo de Myanmar e que faz parte do meu espólio pessoal. Está lá, é meu, tal como guardo religiosamente as imagens dos melhores 90 minutos da minha vida.
E pronto, chegou ao fim a semana de festividades, mas não fiquem tristes nem desmoralizem – para o ano há mais e o Mão ao Ar vai comemorar condignamente, com pompa e circunstância, a efeméride.
9 Comments:
Deixem-me rir! Quatro dias gastaram vocês para recordar uma vitória inútil. Vocês não valem um caracol. Campeões somos nos. SLB4ever.
Acabou? Até que enfim. Vejam lá se também querem comemorar empates de 0-0 ou 1-1. Ou de 3-6.
Vê lá se o Alvaro equipado à sporting não te faz hoje a foilha.
É com muito gosto e satisfação que vejo que os nossos "amigos dos "setaúm" se apressaram a comentar o "post".
Sejam muito bem-vindos, amigos da confraria encarnada!
Já nem me lembrava do peixe chamado Wando.
Sancho, estás em maré de azar.
Os teus posts têm a particularidade de serem muito bons mas de só serem comentados por inúteis, fúteis, lampiões e afins...
Enfim, estás a dar pérolas a porcos
Eu orgulho-me de ter estado lá, mas arrependo-me de não ter guardado nenhuma lembraça física que possa venerar...ao menos podia ter guardado o canhoto do Dia de Clube...
Exactamente. Evocações de um tempo em que a excepção era os sócios pagarem, agoiro jr.
Pena é não se terem guardado as brasas dos cartões de sócio que se queimaram para aquecerem o estádio da luz. O calor era tanta que aquela merda pegava fogo.
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