O Rei Vai Nu
Pinto da Costa já não tem o vigor de outrora. Acontece aos melhores, é a força da vida. Tornou-se uma caricatura do que foi, herói mirrado pelo tempo e pelas circunstâncias.
Antigamente, as contratações dos «dragões» eram precisas como um relógio suíço: o FC Porto arrebatava o melhor do mercado nacional e internacional, com operações-relâmpago, sempre sigilosas e bem direccionadas. Na hierarquia das aves de rapina, o FC Porto era um falcão-peregrino.
O início da época de transferências era sentido nos clubes de Lisboa como uma bomba-relógio: onde vai agora o FC Porto atacar e de que forma isso nos vai afectar? Futre, Rui Águas, Sousa, Dito, Jardel, Deco, Maniche – tantos golpes em cheio na jugular dos rivais. Cedo ganhou uma aura mitológica. Cantaram-lhe baladas aos sete ventos, elogiando proezas reais e inventadas. Os seus poderes eram mágicos. A sua infalibilidade desarmava.
Nos anos 1990, o FC Porto era o modelo a seguir – se não na forma, pelo menos no conteúdo. Que charme de homem, suspiravam as senhoras nos corredores, fascinadas pelo declamador de Aleixo e Ferro [sem ligação ao anterior líder do Partido Socialista], em serões perfumados de verbena. Que magnetismo pessoal, invejavam os senhores. Que filho da p***, lamentavam sportinguistas e benfiquistas.
A viragem do século não produziu apenas o crash do milénio. Deve ter afectado também algum circuito interno da capacidade cognitiva do presidente do FC Porto. Em 2001, a aposta em Octávio Machado e em “coisas” como Esnaider ou Pizzi foi um primeiro sintoma. A meio dessa época, desfez-se um dos mitos mais irritantes do futebol português: o FC Porto não despedia treinadores. Pois.… De então para cá, depois de tomar o gosto ao chicote, já marcharam Del Neri, Fernandez e Couceiro. E este estranho Co pode não demorar muito a ser despachado para o Valhala dos treinadores.
É certo que o biénio de Mourinho restabeleceu a aura de invencibilidade, mas o crédito caberá, por muito que isso me custe, ao treinador. As escolhas foram dele. Como aliás se viu no Verão seguinte, logo depois da saída do rasgador de camisolas para Londres.
Pinto da Costa é loucamente aclamado pelos sócios do FC Porto. Vai no quinto ou sexto mandato (é sempre o último…) e continua a ganhar eleições ao bom estilo norte-coreano. O Grande Líder, o Exaltado Líder gosta de votações esmagadoras, mesmo com lista única. Sobretudo num modelo associativo que está desenhado para preservar quem lá está. Salvo raras excepções (olá João Vale e Azevedo), raro é o presidente em exercício num clube que perca a reeleição. É preciso, de facto, ser um grande camafeu (olá João Vale e Azevedo) para perder recandidaturas num clube de futebol.
Apesar disso, é inegável que o rei vai em pelota. E que espectáculo lastimável ele produz! Perdeu qualidades e apresenta-se à sociedade como na verdade é – sem truques, nem liftings: um homem envelhecido, ultrapassado no tempo e nos métodos, com um discurso gasto e monocórdico. Arrasta os pés onde antes corria. Perde tempo com banalidades que em tempos desprezou. Tornou-se terreno. E mortal.
Como as feras na selva pressentem a vulnerabilidade, também os admiradores de antanho dão conta da fraqueza. E, sem um pingo de vergonha, precipitam-se agora para denunciar as fraudes nos relatórios e contas, as debilidades na equipa de futebol, os erros de gestão desportiva. Lançam-se como abutres sobre o moribundo, ainda o corpo está quente.
A Pinto da Costa, resta-lhe, como séquito, meia dúzia de trogloditas dos Super Dragões e um punhado de coristas pagas à hora. É esse o triste destino do homem que teve o mundo [do futebol] na palma da mão.
São transitórias as glórias deste mundo!
9 Comments:
Meu caro Bulhão, essa é a lei da vida, acontece a todos.
E o que ficou para trás?
Independentemente do estilo e da estratégia escolhida, o homem transformou um clubeco de bairro numa semi-potência mundial.
Se tem sido no Sporting tinha uma estátua de 40 metros mesmo no grande circulo... se quisessem jogar á bola jogassem á volta!!
Até podes ter razão na maioria da argumentação, mas o futebol português seria muito menos divertido e interessante, sem o seu admirável sentido de humor.
Já o deram tantas vezes como morto, mas o homem ressuscita sempre. Pinto da Costa fez do FCP uma nação. E isso custa-vos muito.
Não é para ter pena deste mafioso. PC fez muito mal ao futebol português e merece sair em desgraça. E já agora: estou muito espantado. Conseguiste fazer um post sem dizer mal do Glorioso.
Campeões somos nós. SLB4ever
Caro Jay Jay. Não volta a acontecer.
Rui e Apre. Não menosprezo minimamente as conquistas dos últimos 25 anos do FC Porto.
Pinto da Costa foi provavelmente o dirigente mais bem sucedido da história do futebol português. Sempre o vi como um rival de peso e um homem odioso. Mas, na hora da ruína, entristece-me ver o adversário de gatas, sem o vigor e a clareza de outrora.
E no entanto várias pessoas que com ele lidaram privadamente dizem precisamente o contrário.
Dirigente odioso e homem muito peculiar e nos antipodas do que dele conheciam.
Não sei...
Concordo em absoluto com o Bibota: "Já o deram tantas vezes como morto, mas o homem ressuscita sempre."
Este ano, corre sérios riscos de voltar a ser campeão. Mesmo com Co.
Regresso aqui depois de algum tempo de ausência, e garanto que não é para imitar o Seus Lagartos Broncos, porque esse rapaz é exemplar único da espécie humana.
O motivo que me traz aqui é para dar os parabéns ao Bulhão Pato, que fez ressurgir esse "monstro" chamado Vale e Azevedo, podendo começar por aqui o princípio do fim da raça nojenta que habita em frente ao Colombo.
Força Bulhão e Manchester, estou convosco!!!
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