O Pé-Frio
José Peseiro é aquilo a que os brasileiros chamam um pé-frio. Ele chega, bem-disposto, risonho, repleto de fair-play, mas, na hora da verdade, comporta-se como o Secretário no estágio da selecção.
Nos jogos de recreio, reminiscências da meninice desportiva, Peseiro era seguramente aquele que ninguém queria na equipa. Não necessariamente pela falta de jeito ou talento. Nesse aspecto, ele é igual a muitos. Simplesmente, Peseiro tem a rara qualidade de perder jogos decisivos. Mal cheira a decisão, o homem mete os pés pelas mãos, abre o manual do pequeno cobarde e perde. Perde irremediavelmente. No rosto, preserva aquela imagem de caniche ensopado, muito triste, muito resignado. O azar, o adversário, os elementos físicos. Ó injustiça suprema! A lista de justificações é interminável.
Peseiro é o tipo de general que perde as batalhas decisivas. Quando a Armada Invencivel luso-espanhola perdeu contra a frota anglo-holandesa tinha seguramente um antepassado de Peseiro a gerir as operações. E seguramente que, nesse triste dia, também estava vento. Também houve azar (aquela bala de canhão que passou mesmo a rasar o navio-almirante). O adversário tinha-nos estudado bem e teve a estrelinha da sorte. Mas, para a história, o que fica é a derrota da Armada Invencível. Ou de Peseiro.
Infelizmente para Peseiro e para o Sporting, o campeonato não se faz só de jogos sem consequências. De vez em quando, é preciso ganhar para passar para a frente. Parece óbvio, hoje, depois dos desaires com o Benfica (para a Taça de Portugal), com o Nacional, Penafiel, Belenenses e Benfica outra vez (para o campeonato do ano passado), com o CSKA (para a Taça UEFA) e com o Nacional (já este ano), que Peseiro nunca será líder do campeonato. Nos dias decisivos, ele treme como gelatina e perde-se em hesitações. Sorri, nervoso, enquanto olha para os jogadores em aquecimento. É lento a tomar opções. Entrega ao sortilégio dos deuses a sua sorte desportiva. E perde, claro.
À quarta jornada, tem o Sporting a oportunidade de chicotear valentemente o seu pé-frio e contratar alguém que não trema perante craques como André Pinto ou Alexandre Goulart. Desenganem-se os sportinguistas: tudo o que Sporting possa ganhar este ano será sempre apesar de Peseiro.
colocado por Bulhão Pato @ 11:09 da manhã
8 Comments:
Desenganem-se os sportinguistas acerca deste rapaz, e recuem no tempo 11 anos, quando também tinhamos um reles professor de ginástica à frente do clube que se chamava Carlos Queirós, e que por mera coincidência também era lampião como este rapazola de Coruche, que nasceu para ser forcado, mas que por ironia do destino os bancos do liceu o levaram a treinadeiro da bola.
Não concordo com quase nada, mas tenho de te dar os parabéns pela prosa, porque está mesmo muito boa.
Muito bem excelente 1º parágrafo mas eu acho que o cancro Ricardo era ainda mais grave que o de Peseiro, com o ricardo ninguém ganha apesar dele, porque ele não deixou quer o Sporting quer a Seleção serem campeões de nada!
Caro Juveneno, o reles professor de ginástica de há onze anos ganhou a Taça de Portugal.
Ao rui e ao Apre, agradeço o feed-back.
Simpático Bulhão Pato, fico grato pela defesa que faz aos professores, numa altura em que tanto se fala na colocação dos mesmos.
Considero a sua atitude digna de um verdadeira democrata, apesar de o seu discurso indiciar que estamos na presença de um neo-liberal.
Embora esteja em desacordo a alguns paragrafos , acho um post de enorme qualidade .
A minha forma de pensar e de estar obriga-me a defender sempre a minha rainha , neste caso o SPORTING , todos os que vestem a camisola do SPORTING merecem respeito , tornando-se por isso mais dificil criticar o meu clube ou quem lá trabalha , o meu esforço concentra-se mais em apoiar o meu clube do que denegri-lo , deixo essa tarefa para clubes de segunda linha como as galinhas , ou para jornais tendenciosos de qualidade distrital .
Não sei porquê, talvez irracionalmente, mas ainda lhe dou o benefício da dúvida. Acredito que ainda nos pode levar aos títulos. Tem é que reformular algumas opções.
Isso mesmo Paparuco, temos que levar a vida a sorrir, ainda para mais agora que nos lembraste que falta menos um dia para nos livrarmos do emplastro do Dias da Cunha.
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