Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Benfica-Celtic... Boa sorte, sem rancores

Apesar de tudo… estas também são as nossas cores…



Força Celtic

terça-feira, outubro 23, 2007

Refugo

São onze.
Doze, com boa vontade.
Um homem olha para o banco e só vê canastrões... Celsinho. Purovic. Had. Um gasto de espaço no avião.
- É preciso meter alguém.
O montenegrino bom - porque o outro, daqui para a frente, será o montenegrino mau - só dura 45 minutos. No campo, o russo também dá o berro. Os italianos vão por ali fora.
- É preciso meter alguém.
Quem, deus do céu, quem? Paredes... Gladstone.. Felizmente, deixou-se o sueco em Lisboa. O Moutinho já não pode. O Tiago nunca pôde. E aí vêm eles outra vez.
- É preciso meter alguém!
O Djaló é uma sombra do que foi no ano passado. O Romagnoli rebentou.
- É preciso meter alguém!
O Tonel, sem Polga, é como o Benfica sem os árbitros: precisa de muletas. O Veloso, ali, mete dó. Era, de facto, preciso meter alguém, mas... só há onze. Doze, com boa vontade.
O resto é refugo.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Kumbaya, my lord

Pela escadaria decrépita do Estádio do Restelo, passa por mim um adepto do Fátima. Não era “o” adepto”. Era um, porque vieram camionetas deles. Eles muito pacóvios, as calças arregaçadas como se tivessem atravessado o rio, o rosto tisnado de trabalhar de sol a sol, as mãos calejadas das enxadas, de tocar acordeão ou de seja lá o que for que eles fazem na terra e oxalá isso não inclua ovelhas. Elas muito boas... Boas no sentido pio, ó chavascal!… Como se tivessem lugar cativo no reino dos céus.
Este adepto em particular trajava, orgulhoso, uma camisola roxa, evocação natural da aura eclesiástica da terra. Na frente, inscrevera a data e os intervenientes do jogo. Nas costas, gravara a mensagem solene: Super-Pastorinho! Por muito menos do que isso, no meu liceu, apanhava-se valentemente no focinho, enquanto a turba entoaria os versos do Kumbaya, mas o Pastorinho aparentemente resistiu. A Juve Leo está cada vez mais fraquinha. Por este andar, ainda vai adaptar cânticos com músicas do padre Borga.
No relvado, o diabo faz a sua aparição, mas, para quem tanto ouviu discorrer sobre a natureza ardilosa do chifrudo, o disfarce parece demasiado óbvio. O diabo disfarçou-se de Purovic! Está bem visto, mas não engana ninguém. Excepto talvez o livro de cheques do Carlos Freitas.
Quando o montenegrino foi apresentado, Freitas disse que este era um jogador extremamente regular. Hoje, amargamente, confirmo. Purovic é mau quando remata. É mau quando recebe a bola. É mau quando corre. E agora descobrimos que é mau também quando quer oferecer o corpo à bola e toca com as manápulas desproporcionadas no esférico. O ar estupidificado do animal quando o árbitro marcou penalty fica guardado, desde já, como uma das imagens da época.
Um estudo sueco garantia recentemente que os homens altos são mais aptos, recebem melhores salários e são mais felizes do que os homens baixos. Não tenho dúvidas de que Purovic recebe um bom salário. E é seguramente feliz por isso graças ao Carlos Freitas. Mas, caramba, tenho sérias dúvidas de que se possa qualificar como apto. Procuro meter-me na pele de Darwin para responder, o que aliás pode ser muito claustrofóbico porque ele está morto há 125 anos e eu já gostei mais de brincar com esqueletos do que gosto. Se na natureza só sobrevivem os que melhor se adaptam, tem de haver alguma tarefa para a qual o 1,95m de Purovic o torna apto. Adivinho que será um parceiro útil para ir aos figos ou para trocar lâmpadas, mas, num campo de futebol, a sua utilidade escapa-se-me.
Se eu fosse treinador, utilizá-lo-ia num sistema de 4-3-3 em que ele seria a bandeirola de canto. E, mesmo assim, tenho dúvidas de que cumprisse bem o papel.

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Para uma combinação inesquecível, juntou-se-lhe Tiago na baliza. Dizem-me que Tiago não é mau rapaz e até é do Sporting. Pesa-lhe, porém, uma ingenuidade grotesca. Antigamente, lia-se nas notícias que havia pacóvios que compravam a Torre Eiffel ou o Coliseu de Roma a vigaristas mal intencionados, exploradores da sua credulidade. Tiago tem o perfil ideal para cair na trapaça.
Várias vezes.

terça-feira, outubro 09, 2007

Grasna o cisne



O tempo médio de cópula entre cisnes-pretos é de 15 segundos. Não parece muito, é verdade, mas, pelo menos, o cisne macho não tem de se voltar a vestir para transportar a cisne fêmea a casa. E também é verdade que quinze segundos passados na companhia de algumas destas aves palmípedes podem ser muito desagradáveis. Eu, pelo menos, já tentei com um cisne do rio Nabão e achei que a experiência não foi tão gratificante para mim como foi para ele.
O tempo médio entre o final de um jogo do Benfica e a produção de um comentário imbecil por parte de um dos membros da… cúpula directiva é sensivelmente o mesmo. Veja-se o jogo de Leiria. Mal o encontro terminou, o vice-presidente Rui Cunha disparatou com a perícia de um especialista, queixando-se que o árbitro não viu isto e aquilo, que noutros jogos usavam-se as regras do râguebi e que, em Leiria, o campo estava manifestamente inclinado. Recordo que as queixas foram produzidas na mesma semana em que o núcleo pensador do clube – e também a Leonor Pinhão que, não se qualificando propriamente como pensadora, terá algures um núcleo – aplaudiu fervorosamente o modelo de Miguel Sousa Tavares segundo o qual os queixinhas do futebol português são evidentemente os sportinguistas.
Reconheço que só vi o resumo do jogo. Cuidei, a princípio, que a queixa se relacionava com o penalty evidente cometido por Luisão sobre um avançado da União. Aparentemente, não. O Benfica queixa-se de um livre mal marcado à entrada da sua área. E sugere a ilegalidade de um puxão à Amelinha que a televisão não consegue confirmar ou desmentir.
Com a boca já seca, Rui Cunha sublinhou que o campo estava inclinado ou, para usar a expressão por ele a custo balbuciada, in-cuí-na-do. Poderia dar-lhe para pior.
Eu, quando me embriago, começo a ver cisnes. Mmmm... Cisnes.

quarta-feira, outubro 03, 2007

O banho dos cisnes



Pyotr Tchaikovsky, dizem-me, não era ucraniano. Não tinha mesmo nada a ver com o Shaktar Donestk. Aliás, por ter morrido em 1893, é bem provável que não tivesse qualquer ideia sobre o Benfica e o futebol português – muitas vezes, quando morrem, as pessoas perdem contacto com as notícias mais recentes, sobretudo as da piolheira. E Tchaikovsky, embora indefectível leitor do “Notícias Magazine” até ao fim, foi perdendo contacto com a realidade.
Mesmo assim, Piotr Tchaikovsky foi maravilhosamente celebrado no relvado da Luz na noite de hoje. No seu “Lago dos Cisnes”, a princesa Odette é indecentemente transformada em cisne por um feiticeiro. Ora, quando se é princesa, custa muito perder regalias – julgo que é contra a perda desse tipo de direitos adquiridos que os fulanos da CGTP andam aqui na rua a espernear aos megafones logo pela manhã, embora, valha a verdade, a maior parte dos manifestantes não tenha ar de quem vai ao ballet e, se visse um cisne, provavelmente comia-o vorazmente. Mas… disperso-me, como a defesa do Benfica.
No maravilhoso relvado benfiquista, Mircea Lucescu fez de feitceiro Von Rothbart, enquanto a Camacho restou o papel de príncipe Siegried, herdeiro aclamado do trono, sim senhor, mas destinado a passar a hora e meia daquela fantochada atrás de cisnes metamorf... metalomec.... metarform... irra… transformados. Com um golpe de magia, o finíssimo maestro da Damaia transformou-se em mero condutor de charanga, como dizia o Badaró, que, nestas coisas, é sempre uma voz lúcida para desempatar. Com um rápido abracadabra, o dinâmico Cebola foi feito em repolho – mais estático, é verdade, mas nem por isso menos traumático, que eu tenho para mim que a alcunha bulbosa não advém propriamente de fazer os adversários chorar com os seus (raros) golos, mas sim de lhes descascar, camada a camada, os ossos do tornozelo.
Cardoso confirmou em campo a petição que anda por aí, requerendo que Camacho coloque em campo um saco com 9,1 milhões de euros no seu lugar que, pelo menos esse, sabe fazer a posição 9 e sempre se mexe. O “Record” lembrou em Julho que Cardoso é diabolicamente rápido a chegar ao jogador da sua equipa que marca os golos, sendo quase sempre o primeiro a abraçá-lo, mas, não havendo golos, Cardoso confunde-se, como é natural. E os grandes planos do seu rosto não mentem: o paraguaio precisa desesperadamente de um abraço!
Nuno Gomes, honra lhe seja feita, foi o único que não pareceu afectado pela feitiçaria do romeno que dirige o Shaktar. E, valha a verdade, terá o sido o benfiquista a quem o tutu de algodão menos incomodou, como se vestisse uma segunda farda, à medida que os graciosos pliés com que brindou a plateia lhe saíam com naturalidade.
Como Tchaikovsky previra, os cisnes foram ao banho, senhores. E voltaram depenados.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Três contos

I
Um homem é admitido nas urgências de um hospital. Deitado na marquesa, uiva de dor enquanto lhe fazem uma bateria de testes. Diagnóstico feito, é conduzido ao bloco operatório: tem quatro clips, harmoniosamente ligados entre si, enfiados no ouvido interno. O médico de serviço prepara-se para operar quando é interrompido pelo director clínico.
- Caríssimo, este é o senhor Silva. Conheço-o bem: ele seria incapaz de colocar quatro clips no ouvido.
- Mas eu fiz os raios X, fiz as análises, a mulher dele diz que tinha uma caixa de belíssimos clips e agora não a encontra. O paciente apita quando passa pelo detector de metais. Eu próprio já vi os clips com os meus próprios olhos.
- Ah não, não, não. Eu não vi. Por isso, não se opera.
II
Um homem é detido numa operação de controlo de tráfego rodoviário. Depois de uma rápida avaliação, o agente de serviço decide detê-lo e levá-lo à esquadra. Começa a escrever o auto em função das várias infracções cometidas pelo automobilista. É interrompido pelo chefe da esquadra.
- Caríssimo, este é o senhor Silva. Ele é uma jóia de moço. Não pode ser preso.
- Com respeito, chefe, mas ele atropelou quatro pessoas, três das quais de propósito. Destruiu a cabine da portagem, entrou na faixa errada da auto-estrada e disse-nos que só não provou uma colisão frontal porque estava nervoso e falhou o outro carro. Além do mais, é o novo recordista nacional de taxa de alcoolemia.
- Ah não, não, não! Eu não vi. Por isso, não se multa.
III
Um jogador toca com o braço na bola. Não o queria fazer, não tinha vontade nenhuma disso, o relvado estava molhado, a sua sogra estava constipada e, em casa, até o gato andava murcho com a crise económica, o que muito agravou a sua preocupação. Mas, na verdade, tocou com o braço na bola dentro da área. De frente para o lance, o árbitro auxiliar viu. Assinala, como lhe compete. No camarote de imprensa, dois jornalistas de “A Bola” sofrem aquilo que os especialistas chamam um chimbalau. O árbitro dirige-se ao auxiliar.
-Caríssimo, este é o Katsouranis. Conheço-o bem: ele seria incapaz de tocar a bola com a mão dentro da área.
- Com respeito, senhor, mas ele ajeitou a bola com a mão. E estava dentro da área. Nestes casos, assinala-se penalty. Pelo menos, lá fora.
- Ah, não, não, não! Eu não vi. Por isso, não se marca.